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Os córregos ocultos e a rede de espaços públicos urbanos (1)

Vladimir Bartalini
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.106/64

“[...] uma série de vantagens tanto do ponto de vista ambiental, quanto recreativo e
de organização da paisagem urbana.
Os benefícios ambientais são óbvios, porquanto as áreas verdes marginais
garantiriam a um só tempo a permeabilidade do solo e a proteção das margens
a custos baixos. Do ponto de vista da recreação pública, áreas verdes situadas
junto aos cursos d’água, por serem lineares, oferecem maiores possibilidades de
acesso à rede de espaços equipados para o lazer, pois intrometem-se com maior
eficiência no tecido urbano do que grandes superfícies concentradas (2). Se
encarados sob o aspecto da organização da paisagem, os espaços verdes junto
aos talvegues destacam visualmente as linhas definidoras do sítio urbano.
Assim, conjugam-se e reforçam-se mutuamente os proveitos que podem advir da
sobreposição das áreas verdes à rede hídrica.”

“De fato, ao longo da nossa história, as calhas e as planícies dos nossos principais
rios foram comprometidas pela monofuncionalidade das avenidas, em obediência a
uma visão pragmática de alcance inversamente proporcional às dimensões das vias
nelas implantadas. Não que tenham faltado idéias de associar os rios às áreas
verdes. Urbanistas como Saturnino de Brito, Ulhoa Cintra e Prestes Maia,
sucessivamente, propuseram extensos parques ao longo do rio Tietê no seu trecho
paulistano.”

“... antes da hidrofobia contaminar os valores urbanísticos dos responsáveis pela


administração dos espaços públicos.”

“Quando não entaladas pelas pistas das avenidas, as margens dos rios
serviram de chão para os mais pobres, desatendidos pela política
habitacional. Nos casos de remoção, observa-se a regra de construir vias de
automóveis o mais rente possível do canal para evitar futuras ocupações.
Teria sido possível revegetar as margens desocupadas, implantar parques
lineares? Decidiu-se sempre pelo não, com o argumento de que as áreas
verdes são alvos fáceis para novas invasões.”

“Só o fato de inscrever as áreas verdes nas várzeas dos rios que ainda estão livres
de projetos viários já é um ganho, pelo menos porque as compromete de antemão.
São pedras no caminho da fúria viária, removíveis, sim, mas que podem dar um
certo trabalho e que permitem ganhar tempo, enquanto uma nova mentalidade em
relação aos rios urbanos toma corpo na opinião pública e se torna hegemônica no
meio técnico.”

“Tratando-se de áreas verdes, parece que o conceito de rede é mais apropriado do


que o de sistema. Rede tem a ver com continuidade, espraiamento espacial,
entrelaçamento, comunicação, eqüidade na distribuição, o que não deve ser
interpretado como apologia do homogêneo, do genérico, pois a rede não implica a
anulação das especificidades, antes possibilita a versatilidade dos papéis dos
diferentes parques que vierem a constituí-la.”

“As vantagens resultantes têm componentes pedagógicos – na medida em que


intervenções que ali ocorram ajudarão a explicitar elementos básicos do suporte
físico das cidades com os quais, conscientemente ou não, nos relacionamos
cotidianamente – bem como de dignificação de espaços relegados ao abandono,
recuperando-os para uma efetiva apropriação pública.”

“Vivem anonimamente, escondidos, e só na época das chuvas alguns deles emitem


sinais.”

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