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HTTPS://WWW.BRASIL247.COM/PT/247/MUNDO/338845/BOAVENTURA-LULA-ERA-
INACEIT%C3%A1VEL-PARA-O-IMPERIALISMO-AMERICANO.HTM
25 DE JANEIRO DE 2018
Para alguém, como eu e tantos outros que estiveram atentos aos objectivos das
forças reaccionárias brasileiras e do imperialismo norte-americano no sentido
de voltarem a controlar os destinos do país, como sempre fizeram mas
pensaram que desta vez as forças populares e democratas tinham prevalecido
sobre eles, este é um momento de algum desalento. As emoções fortes são
preciosas se forem parte da razão quente que nos impele a continuar, se a
indignação, longe de nos fazer desistir, reforçar o inconformismo e municiar a
resistência, se a raiva ante sonhos injustamente destroçados não liquidar a
vontade de sonhar. É com estes pressupostos que me dirijo a vós. Uma palavra
de análise e outra de princípios da acção.
Porque estamos aqui? Este não é lugar nem o momento para analisar os
últimos quinze anos da história do Brasil. Concentro-me nos últimos tempos. A
grande maioria dos brasileiros saudou o surgimento da operação Lava Jato
como um instrumento que contribuiria para fortalecer a democracia brasileira
pela via da luta contra a corrupção. No entanto, em face das chocantes
irregularidades processuais e da grosseira selectividade das investigações, cedo
nos demos conta de que não se tratava disso mas antes de liquidar, pela via
judicial, não só as conquistas sociais da última década como também as forças
políticas que as tornaram possíveis. Acontece que as classes dominantes
perdem frequentemente em lucidez o que ganham em arrogância. A destituição
de Dilma Rousseff, a Presidente que foi talvez o Presidente mais honesto da
história do Brasil, foi o sinal que a arrogância era o outro lado da quase
desesperada impaciência em liquidar o passado recente. Foi tudo tão
grotescamente óbvio que os brasileiros conseguiram afastar momentaneamente
a cortina de fumo do monopólio mediático. O sinal mais visível da sua reacção
foi o modo como se entusiasmaram com a campanha pelo direito do ex-
Presidente Lula da Silva a ser candidato às eleições de 2018, um entusiasmo
que contagiou mesmo aqueles que não votariam nele, caso ele fosse candidato.
Tratou-se pois de um exercício de democracia de alta intensidade.
A unidade das forças de esquerda deve ser pragmática, mas feita com
princípios e compromissos detalhados. Pragmática, porque o que está em causa
é algo básico: a sobrevivência da democracia. Mas com princípios e
compromissos, pois o tempo dos cheques em branco causou muito mal ao país
em todos estes anos. Sei que, para algumas forças, a política de classe deve ser
privilegiada, enquanto para outras, as políticas de inclusão devem ser mais
amplas e diversas. A verdade é que a sociedade brasileira é uma sociedade
capitalista, racista e sexista. E é extremamente desigual e violenta. Entre 2012
e 2016 foram assassinadas mais pessoas no Brasil do que na Síria
(279.000/256.000), apesar de este último país estar em guerra e o Brasil estar
em "paz". A esquerda que pensar que só existe política de classe está
equivocada, a que pensar que não há política de classe está desarmada.