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A GRAVIDADE E A FORMA DA TERRA

Elipsoide vs. Geoide

Todos os processos tectónicos são conduzidos pela força da


gravidade, na presença de diferenças em densidade

Geodesia – Ramo da Geologia que trata da forma e dimensões


da Terra

 A força da gravidade não é igual em toda a superfície da Terra


devido às irregularidades da densidade na Terra

Densidade = Massa por unidade de volume (g/cm3)

O conhecimento da distribuição da massa na Terra permite a


determinação precisa da forma da superfície do nível do mar e a
localização dos diferentes tipos de rocha abaixo da superfície

Interdependência:
Distribuição de massa ↔ Forma ↔ Gravidade

Elipsoide de referência – é uma forma geométrica, com um raio polar diferente


do raio equatorial, que serve de referência à forma da Terra

Raio polar da Terra  6357 Km dimensões do Elipsoide de referência


Raio equatorial da Terra  6378 Km

Raio médio da Terra = 6371 Km – a partir do conhecimento do perímetro da Terra,


calculando uma circunferência com base no método de Eratóstenes e
substituindo na fórmula:

C = 2R
C – perímetro da circunferência
R – raio
Isaac Newton (1642 – 1727) – LEI DA ATRAÇÃO UNIVERSAL
ou
LEI DA GRAVITAÇÃO UNIVERSAL

Fg = G m1m2 /r2

Fg  força gravitacional
A direção une os centros das massas m1 e m2 que se encontram à
distância r uma da outra

G  6,67 x 10-8 cm3 /g.seg2 (determinado experimentalmente)

O CODATA (comité interdisciplinar do Conselho Internacional de Ciência,2008) recomenda


para a constante de gravitação universal, G, o valor de:

G = 6,67428(67) x 10-11 m3 kg-1 s-2

Obs.: A constante de gravitação universal G não deve ser


confundida com g (em minúsculas), que é o símbolo normalmente
associado à variável que representa a intensidade da aceleração da
gravidade terrestre ( ou de outro astro) junto à superfície

g está relacionado com G segundo a expressão:

M e r representam respetivamente a massa e o raio do astro


esférico.
Para a Terra a aceleração da gravidade é g = 9,81 m/s 2.
Relação entre a Lei da Gravitação Universal e a forma da Terra

Se as partículas se movessem livremente, relativamente uma


às outras, as forças gravitacionais conduziriam a um
aglomerado de partículas formando uma esfera

Valor da força gravitacional, Fg, à superfície da Terra:

Fg = 2 m z / t 2

m – massa de um dado corpo


z – altura a que o corpo é lançado, deixando-o cair na superfície da
Terra
t – tempo da queda

1 grama cai uma distância de 100 cm até atingir a superfície da


Terra em cerca de 0,452 segundos  uma força gravitacional de
980 dynes, na massa de um grama

1 dyne é a força necessária para acelerar a massa de um grama à


taxa de 1 cm /s2

g → aceleração da gravidade = 9,8m s-2 (ou 9,8m/s2)

Força centrífuga:
Fc = m v2 / d

d – raio da trajetória curvilínea


Fc – força centrífuga
v – velocidade linear de uma massa
m – massa, movendo-se numa trajetória curvilínea

Cada partícula à superfície da Terra segue uma trajetória circular em


torno do eixo de rotação
 A força centrífuga atua sobre uma partícula numa direção
perpendicular ao eixo de rotação e no sentido exterior

 Em 24 horas, partículas localizadas acima e abaixo do


Equador descrevem distâncias mais curtas do que ao
longo do Equador
Movem-se a velocidade inferior para trajetórias de
menor raio

 Nos pólos, a velocidade e o raio da trajetória atingem o


valor zero e a força centrífuga desaparece

Elipsoide

A Terra aproxima-se da forma de um elipsoide devido à combinação


da força da gravidade e da força centrífuga:

 A força da gravidade atua de maneira a formar uma esfera


 A força centrífuga, sendo nula nos pólos e máxima no equador,
conduz a um achatamento da esfera e forma um elipsoide

Fc- força centrífuga


Fg – força gravitacional
RE – raio do Equador Resultant
Rp – raio nos pólos e

Geoide
Por convenção, a superfície equipotencial (sobre a qual o
valor da aceleração da gravidade, g, é constante) designa-se
por GEOIDE e corresponde ao nível médio dos mares

 O Geoide é uma superfície equipotencial de gravidade

 O Geoide corresponde à superfície do nível do mar→


ajustamento da forma do nível do mar às irregularidades
da densidade

 O Geoide é descrito pela sua altitude acima ou abaixo do


elipsoide de referência

 O Geoide é uma superfície irregular devido à correção


das anomalias

Na figura, as setas indicam a


direção do fio de prumo

O fio de prumo é perpendicular à


curva em cada ponto

A direção do fio de prumo


é defletida na direção
de massas mais
densas

Elipsoide vs.
Geoide
O ELIPSOIDE é uma superfície geométrica correspondente à
figura de equilíbrio de um fluido homogéneo em rotação, em
relação ao qual se determina o valor teórico da aceleração da
gravidade em qualquer ponto do globo. É uma aproximação
do GEOIDE

O Geoide real é estabelecido relativamente à aproximação do


Elipsoide

Anomalias gravimétricas

A força da gravidade varia com:

♦ a latitude – mais elevada nos pólos do que no equador


♦ a altitude – menor nos locais mais elevados (mais afastados do
centro da Terra)
♦ a presença de massas de uma dada densidade

Anomalia de ar livre  devida ao efeito da variação com a altitude

Anomalia de Bouguer  devida ao efeito da massa rochosa


associado à altitude

As anomalias de Bouguer nos continentes são diferentes das


anomalias nos oceanos → são o resultado de grandes diferenças na
espessura e na composição da crusta
Medições no Everest
Os Himalaias causam um desvio do fio de prumo menor do que o
esperado tendo em atenção a grande massa e a topografia das
montanhas  presença de massa de rocha em profundidade

(a) Desvio esperado do fio de prumo


(b) Desvio observado do fio de prumo

 O desvio real é inferior ao esperado devido à deficiência


de massa em profundidade, sob a montanha

Conceções de J.H. Pratt (1854) e de G.B. Airy (1855)


Modelos de Pratt e de Airy para a compensação isostática

Ambos sugeriram que a uma dada profundidade, a várias dezenas


de kms abaixo do nível do mar, a pressão deveria ser a mesma

 A massa de rocha diretamente acima de um ponto àquela


profundidade deve ser igual à massa diretamente acima de
qualquer ponto à mesma profundidade

Pratt e Airy tinham diferentes conceções quanto à densidade das


rochas acima da profundidade de igual pressão, designada por
superfície de compensação

Pratt – Matemático
Airy - Astrónomo

Nos dois modelos, a pressão depende da densidade e da


espessura dos blocos crustais
 A pressão torna-se igual, à profundidade e abaixo da
superfície de compensação

Superfície de compensação – superfície abaixo da qual há uma


repartição homogénea de massas

 O valor de "g" medido é igual ao valor de "g" calculado

Abaixo da superfície de compensação todas as pressões são


consideradas de tipo hidrostático

A superfície de compensação poderá corresponder à descontinuidade


de Mohorovicic ou à zona de baixa velocidade das ondas sísmicas

Pressão litostática num dado ponto no interior da Terra:


P=gz
- densidade média do material acima do ponto
g – aceleração devida à gravidade (~ 9.8 m / s 2)
z – profundidade do ponto

Modelos de Pratt e de Airy:


P=gh
P – pressão exercida pelo bloco crustal
- densidade do bloco
h – espessura do bloco

 Nos dois modelos a pressão deve ser a mesma em qualquer


ponto da superfície de compensação e abaixo dela

Validade dos modelos de Pratt e de Airy

Modelo de Pratt

 As montanhas resultam de fenómenos de dilatação da


crusta
 O volume é tanto maior quanto mais baixa for a massa
(e consequentemente a densidade)
 Admite variações laterais de densidade (maior
densidade no centro da montanha)
 Válida para camadas em profundidade
 Utilização na medição da gravidade nas cristas médio-
oceânicas
 Superfície de compensação a cerca de 100 Km de
profundidade

Modelo de Airy
 Todo o material da crusta tem a mesma densidade e
flutua sobre um substrato mais denso
 O relevo é compensado em profundidade por raízes
mergulhadas no material mais denso
 Válida para medições da gravidade próximo da
superfície, em montanhas

⇒ Ambas as hipóteses são utilizadas para estudar a isostasia a nível


local, isto é, quando consideramos estruturas com comprimentos de
onda da ordem das dezenas a centenas de km (baixos c. onda).

Em geral, estruturas de pequeno comprimento de onda (< 50 - 100


km) não estão isostaticamente compensadas.

ISOSTASIA – teoria pela qual a litosfera flutua na astenosfera


mais densa, e as elevações à superfície da Terra são em
grande parte o resultado de variações da densidade e da
espessura da crusta

⇒ Quer o modelo de Pratt quer de Airy assumem isostasia


local

A compensação ocorre diretamente abaixo da carga – o


material suporte comporta-se como um líquido, como se não
tivesse rigidez

Contudo, a maioria dos materiais geológicos são em parte


rígidos, sendo o efeito de carga distribuído de acordo com a
rigidez flexural do material subjacente que suporta a carga
Isostasia local – quando não há rigidez ⇒ a compensação ocorre
diretamente abaixo da carga

Isostasia regional – quando materiais rígidos são fletidos,


distribuindo-se o peso ao longo de uma região mais alargada –
modelo de placa elástica

Todos os mecanismos de compensação são idênticos quando a


compensação isostática é total. Apenas estruturas de grande
comprimento de onda (centenas a milhares de km) se podem
considerar totalmente compensadas

A isostasia corresponde ao comportamento flutuante das rochas


causado pelas diferenças de densidade – as rochas flutuam sobre um
substrato mais denso (analogia com o gelo que flutua na água)
 Quanto mais elevada for a montanha mais profunda é a sua
raíz – as montanhas possuem raízes que se prolongam até
ao manto

 Há um equilíbrio entre a litosfera, menos densa, e o


manto, mais denso e líquido, correspondente à
astenosfera

 Sob as montanhas há um déficit de massa que compensa o


facto de a litosfera ser mais espessa

 O fundo dos oceanos, mais denso, é menos espesso do que


a crusta continental
Flutuações do nível do mar:
globais - Eustáticas
locais - Isostáticas

A erosão e a deposição são dois processos intrinsecamente ligados


ao nível de base, que por sua vez é controlado pelo nível do mar.

O abaixamento do nível do mar provoca a erosão


A subida do nível do mar promove a deposição

As mudanças no nível do mar à escala global, mundial, designam-se


por movimentos eustáticos e ocorrem nas seguintes situações:

- sempre que se verificam flutuações no volume da água no oceano


ou,
- quando ocorrem mudanças na dimensão da bacia oceânica

As modificações no volume decorrem do clima (por exemplo


associadas a glaciações ou à fusão de glaciares) enquanto que as
dimensões da bacia oceânica são conduzidas pela taxa de movimento
das placas e pela isostasia.

O evento climático mais importante que influencia o nível do mar é


glaciação : baixa quando os glaciares atingem o seu máximo e sobe
quando ocorre a sua fusão.
Variações eustáticas do nível do mar estão também relacionadas
com a expansão dos fundos oceânicos e com a subducção. Taxas
elevadas dos movimentos (mais rápidos) conduzem a mais crusta
flutuante no fundo dos oceanos e bacias menos profundas. Por outro
lado, taxas mais lentas dos movimentos de expansão e subducção
promovem uma percentagem mais elevada de crusta oceânica, mais
antiga, mais densa e bacias mais profundas.

As mudanças no nível isostático do mar são flutuações relativas


locais, relacionadas com ajustamentos isostáticos do continente.
Por exemplo, a formação rápida de um glaciar pode causar um
abaixamento relativo do nível do mar, localmente, mesmo que o nível
eustático do mar esteja a subir, globalmente.
Consequências isostáticas da Tectónica de Placas:

Relação entre o geoide e o levantamento de montanhas , “uplift”, na


orogenia:

 deslocação das montanhas em relação a uma superfície


equipotencial de gravidade: o geoide

→ O levantamento das montanhas é em grande medida o resultado


do espessamento da crusta continental

Anomalia positiva – excesso de rochas de elevada densidade


Anomalia negativa – deficit de massa ⇒ excesso de rochas de baixa
densidade – exemplo: Escandinávia (degelo)

A agregação de continentes diminui, naturalmente, a área de plataforma continental envolvente e acaba
por aumentar, deste modo, por aumento da profundidade média, a capacidade das bacias oceânicas. 
Daqui decorre uma descida do nível do mar.
Pelo contrário, a existência de processos de rifting com intumescência térmica e elevação dos fundos 
oceânicos na área das dorsais acaba por produzir uma diminuição da capacidade das bacias oceânicas e
transgressões generalizadas (A. Hallam, 1992). Trata­se de processos muito lentos. A taxa de variação 
do nível do mar por causas tectono­eustáticas anda à volta de 1cm por cada 1000 anos. As variações 
eustáticas devidas a estes fenómenos podem atingir valores entre 100 e 300m.

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