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PODER JUDICIÁRIO

APELAÇÃO CÍVEL N° 177611-67.2014.8.09.0051 (201491776110)


Comarca de Goiânia
1º Apelante: Irenice Umbelino do Nascimento
2º Apelante: Banco Itaú S/A
1º Apelado: Banco Itaú S/A
2º Apelado: Irenice Umbelino do Nascimento
Relator: Juiz Sérgio Mendonça de Araújo

RELATÓRIO

Trata-se de duplo recurso de apelação cível interpostos


por Irenice Umbelino do Nascimento e Banco Itaú S/A, inconformados
com a sentença de fls. 89/93, cujo relatório adoto e a este incorporo, da
lavra do MM. Juiz da 2ª Vara Cível da comarca de Goiânia, Dr. Eduardo
Perez Oliveira que, nos autos de ação declaratória de inexistência de
débito c/c indenização por danos morais julgou procedentes os pedidos
exordiais, assim decidindo, verbis:

“Ante o exposto, nos termos do art. 269, I, do


Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTE os pedidos
inaugurais para: declarar a inexistência de débitos da
autora em favor da ré; e em razão da negativação indevida
do nome/CPF da autora nos servições de proteção ao
crédito, CONDENO o réu ao pagamento de indenização por

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danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a


ser corrigido monetariamente pelo IGPM a partir da data
da publicação desta sentença, nos termos da Súmula 362 do
STJ, e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir
do evento danoso, nos termos da Súmula 54, também do STJ.
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios que fixo em 15% (quinze por
cento) do valor da condenação, nos termos do art. 20, §3º
do CPC” - (fls. 93).

No primeiro recurso (fls. 94/99), a apelante Irenice


Umbelino do Nascimento entende que a indenização referente aos
danos morais fixada pela r. sentença é insatisfatória, levando-se em
conta a gravidade da ofensa e o porte econômico da empresa/ré. Neste
sentido, busca o parcial provimento do recurso, para que o quantum seja
arbitrado em valor mais condizente com a gravidade do caso em análise.
Não houve recolhimento do preparo em face da
concessão de assistência judiciária à apelante (fls. 54).
No segundo apelo (fls. 104/118), o apelante Banco Itaú
S/A sustenta, inicialmente, a nulidade absoluta em visto a ausência de
intimação, tanto para contestar quanto para recorrer da decisão
monocrática. Que o recurso deve ser considerado tempestivo, já que a
partir da sentença recorrida não houve nenhuma intimação da parte ré.
Ainda em preliminar, alega sua ilegitimidade passiva ad
causam, porquanto agiu como mero mandatário em contrato de cobrança
simples de títulos de crédito mantido junto à Empresa Factoring FM Ltda,
que emitiu o título.
Que a ação deve ser julgada improcedente pois a parte

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autora não levou o comprovante de quitação da dívida em cartório de


protesto para que providenciasse a respectiva baixa, já que o
cancelamento do protesto é da responsabilidade do devedor, conforme
dispõe as Leis 6.690/79 e 9.492/97.
Afirma, também, que o mero descumprimento contratual
não é passível de indenização por danos morais, já que os meros
aborrecimentos ou dissabores da vida moderna em sociedade não estão
sujeitos à indenização.
Alega a inexistência de ato ilícito a justificar a reparação
por danos morais.
Subsidiariamente, aduz que o arbitramento da indenização
se mostra excessivo, devendo, pois, ser reduzido a patamar mais
condizente com a dimensão da lesão sofrida, a fim de não servir ao
enriquecimento sem causa do ofendido.
Ao final, requer o provimento da súplica, de modo a que
seja modificada a sentença recorrida, com julgamento de improcedência
dos pedidos iniciais ou redução da quantia imposta pelos danos morais
invertendo-se, via de consequência, os ônus sucumbenciais.
Requer também seja os juros fixados a partir da citação,
bem assim, a correção monetária seja computada a partir da publicação
do v. Acórdão que julgar o recurso de apelação.
Preparo efetivado às fls. 122.
Foram oferecidas as contrarrazões pelo 2º apelante, tendo
a 1ª apelante – Irenice Umbelino do Nascimento quedado inerte,
conquanto tenha sido devidamente intimada (fls. 137).
É, em síntese o relatório.
Encaminhem-se os autos à Secretaria da 4ª Câmara Cível

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para os fins do disposto no artigo 934 do Código de Processo Civil


(inclusão do feito em pauta).
Goiânia, 05 de setembro de 2.016

Dr. Sérgio Mendonça de Araújo


Juiz Substituto em 2º Grau

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APELAÇÃO CÍVEL N° 177611-67.2014.8.09.0051 (201491776110)


Comarca de Goiânia
1º Apelante: Irenice Umbelino do Nascimento
2º Apelante: Banco Itaú S/A
1º Apelado: Banco Itaú S/A
2º Apelado: Irenice Umbelino do Nascimento
Relator: José Carlos de Oliveira
Juiz de Direito Substituto em Segundo Grau

VOTO DO RELATOR

Anoto, inicialmente, que embora o segundo recurso não


tenha sido interposto no prazo de 15 (quinze) dias, isso se deve ao fato
de que não houve intimação do procurador do 2º apelante – Dr. Carlos
Alberto Miro da Silva (fls. 85) pois foi decretada a sua revelia.
Todavia, verifico que apesar da contestação ter sido
apresentada de forma intempestiva o instrumento de procuração foi
juntado aos autos (fls. 85), a partir de então deveria haver intimação do
seu procurador, não obstante a revelia. Veja:

“De acordo com o art. 322, correrão os prazos


independentemente de intimação se o revel não tiver
advogado nos autos. Assim, se o réu comparecer
extemporaneamente ao juízo, por ex., apresentando
contestação intempestiva, ou se apenas opuser exceção
de incompetência de foro, sem contestar, terá havido

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intervenção do réu no processo e, diante disso,


deverá ser intimado acerca dos atos processuais que
vierem a ser realizados. Decidiu-se que, se “a
contestação não foi admitida, e permanecendo nos
autos o instrumento de procuração, não obstante
revel, impunha-se as intimações posteriores à ré, na
pessoa de seu advogado, de todos os atos processuais
subsequentes” (STJ – REsp 15.449/SP, 3ª Turma, rel.
Min. Waldemar Zveiter, DJ 18/12/1991, no mesmo
sentido, STJ REsp 876.226/RS, rel. Min. Luiz Fux, DJ
25/03/2008).

Logo, ambos os recursos preenchem os requisitos de


admissibilidade, razão por que deles conheço.
Por uma questão didática e cronológica passo à análise
do segundo recurso (fls. 104/118), interposto pelo apelante Banco Itaú
S/A.
Cumpre analisar antes de mais nada, a preliminar de
ilegitimidade passiva ad causam, porquanto segundo alega, agiu como
mero mandatário em contrato de cobrança simples de títulos de crédito
mantido junto à Empresa Factoring FM Ltda, a empresa responsável pela
emissão do título.
Verifico, contudo, que a alegação não procede.
Como se percebe trata-se de relação jurídica regida pelo
Código de Defesa do Consumidor, o qual possibilita dirigir a reparação do
dano contra qualquer um de seus agentes causadores, direta ou
indiretamente (§único, art. 7º CDC).
É que se vê da jurisprudência deste Egrégio Tribunal de
Justiça:

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AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS C/C PEDIDO
DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. NEXO DE CAUSALIDADE. AUSÊNCIA
DE ARGUMENTO NOVO. 1. Impende seja desprovido o
agravo regimental que não traz, em suas razões,
qualquer elemento novo que justifique a modificação
da decisão monocrática anteriormente proferida,
mormente, porque o endossatário mandatário responde
pelos atos que praticar no cumprimento do mandato,
conf.; art. 70, III, do CPC. 2. O
Agravante/Instituição Financeira possui legitimidade
para figurar no polo passivo da ação que objetiva a
nulidade do título, quando deixar de adotar as
cautelas devidas à verificação da duplicata
apresentada para cobrança, respondendo solidariamente
com o suposto credor. 3. Presentes os pressupostos de
obrigação de indenizar, cristalina se mostra a
ocorrência do dano moral pelo protesto de duplicata,
devidamente paga, posto que o protesto indevido
desta, já é causa suficiente para configurar o dano
moral, devendo responder objetivamente e pelo dano
moral daí advindo. Agravo Regimental conhecido e
desprovido. (TJGO, APELACAO CIVEL 10538-
29.2012.8.09.0152, Rel. DES. OLAVO JUNQUEIRA DE
ANDRADE, 5A CAMARA CIVEL, julgado em 05/03/2015, DJe
1746 de 13/03/2015);

AGRAVO INTERNO NA APALECAO CIVEL. DECISAO


MONOCRATICA. ACAO DECLARATORIA DE INEXISTENCIA DE
DEBITO C/C DANOS MORAIS. PROTESTO INDEVIDO. DUPLICATA
SEM ACEITE. LEGITIMIDADE PASSIVA DA INSTITUICAO
FINANNCEIRA. DANO MORAL E DEVER REPARATORIO

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CONFIGURADOS. 1 - COMPETINDO AO REU O ONUS DEMONSTRAR


SUA ILEGITIMIDADE PASSIVA, SOB O ARGUMENTO DE QUE
ENVIOU AS DUPLICATAS PARA PROTESTO NA CONDICAO DE
MERO MANDATARIO, ONUS DA QUAL SE DESINCUMBIU,
PREVALECE A PRSSUNCAO DE QUE AS RECEBEU MEDIANTE
ENDOSSO MANDADO. 2 - AGE COM IMPRUDENCIA E
NEGLIGENCIA A INSSTITUUICAO FINANCEI RA QUE, POR
FORCA DA OPERACAO DENOMINADA 'DESCONTO BANCARIO',
RECEBE DUPLICATA DESPROVIDAS DE ACEITE, SEM ANTES SE
CERTIFICAR DA EXISTENCIA DA EFETIVA E VENDA, QUE, DE
FATO, NAO OCORREU, VINDO, EM SEGUINDA, A PROTESTA-LAS
EM RAZAO DE NAO HAVEREM SIDO PAGAS PELO SACADO. NESTE
CASO, DEVE RESPONDER PELOS DANOS MORAIS CAUSADOS AO
CONSUMIDOR, QUE INDEPENDEM DE PROVA E QUE SE
PRESUMEM_NEGATIVACAO. 4 - AO INTERPOR AGRAVO INTERNO
DA DECISAO QUE DESACOLHE A APELACAO OUTRORA AVIADA
QUE DESACOHE A APELACAO OUTRORA AVIADA, O RECORRENTE
DEVE DEMOSTRAR O DESACERTO DOS FUNDAMENTOS DO DECISUM
RECORRIDO. SE ASSIM NAO FAZ, E DE SER DESPROVIDO O
AGRAVO INTERNO. (TJGO, APELACAO CIVEL 144034-
16.2005.8.09.0051, Rel. DES. ZACARIAS NEVES COELHO,
2A CAMARA CIVEL, julgado em 19/07/2011, DJe 879 de
11/08/2011);

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AFASTADA. DUPLICATA
ORIGINADA DE AUTO DE INFRAÇÃO LAVRADO NO EXERCÍCIO
DO PODER DE POLÍCIA DO ÓRGÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ESTADUAL. PROTESTO INDEVIDO. ENDOSSO-MANDATO. ATO
ILÍCITO CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR. VALOR NÃO
RAZOÁVEL. 1 - A instituição financeira endossatária
possui legitimidade para figurar no polo passivo da
ação que objetiva a nulidade do título, quando esta

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deixa de adotar as cautelas devidas à verificação da


higidez da duplicata apresentada para cobrança. 2 -
Incabível a emissão de duplicata mercantil
objetivando a cobrança de multa arbitrada em auto de
infração lavrado por órgão da Administração Pública
Estadual, eis que em casos tais não há qualquer
transação de cunho mercantil ou prestação de serviço
que autorize a emissão de uma duplicata. 3 -
Evidenciada a nulidade do auto de infração, a
impossibilidade de emissão de duplicata com lastro em
auto de infração, bem como a negligência na
consecução da tarefa de mandatário assumida pelo
Banco do Brasil, os danos experimentados pelo apelado
e o nexo de causalidade, nos termos dos artigos 186
c/c 927, ambos do Código Civil, patente o dever de
indenizar. 4 - Deve ser reduzido o valor arbitrado a
título de dano moral se sopesadas as especificidades
do caso, bem como as circunstâncias dos autos,
manifestar-se exagerado, de modo que o instituto
cumpra sua função e não seja fonte de enriquecimento
ilícito. RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.
SENTENÇA REFORMADA.(TJGO, APELACAO CIVEL 14115-
31.2004.8.09.0011, Rel. DES. NORIVAL SANTOME, 6A
CAMARA CIVEL, julgado em 10/05/2011, DJe 823 de
20/05/2011).

Descabida, portanto, a preliminar questionada.


Quanto à alegação do apelante de que cabia à autora
providenciar o cancelamento dos títulos protestados, igualmente não lhe
assiste razão.
No caso, a autora questiona a inexistência de débito ou
seja, não cabe a ela produzir prova negativa de uma relação jurídica

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inexistente.
Bem afirmou o magistrado de primeiro grau que: “(...)
caberia ao requerido provar a relação contratual, trazendo aos
autos, pelo menos, o contrato que originou o débito e a
respectiva inscrição nos cadastros creditícios, haja vista que
ao autor seria impossível ou de dificuldade intransponível,
satisfazer o ônus de provar uma negação ou um fato negativo,
isto é, a inexistência da contratação do serviço. Insta
salientar, ainda, que nas ações declaratórias negativas de
crédito, como e caso dos autos, o ônus da prova incumbe à parte
requerida, vez que não se pode exigir da parte autora a

realização da prova negativa da relação jurídica” - (fls. 91).

Logo, o cancelamento de protesto indevido, originário de


um débito inexistente não é de responsabilidade da autora promover sua
baixa, mas sim daquele que protestou os títulos inadvertidamente.
No mérito, propriamente dito, cumpre assentar que a
controvérsia deve ser analisada à luz das normas consumeristas, in
casu, o art. 14 da Lei nº 8.078/1990, que prevê a responsabilidade
objetiva do fornecedor na prestação dos serviços.
Com efeito, a responsabilidade do apelante é objetiva,
configurando-se independentemente da demonstração de culpa,
consoante estabelecido no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor,
somente afastável mediante prova da presença de causa exoneradora
ligada à inexistência do defeito, fato exclusivo do consumidor ou de
terceiro, ou fortuito externo.
É de ressaltar, outrossim, que, à conta do risco que
caracteriza suas atividades no mercado de consumo, a Resolução nº
2025/93, do Banco Central do Brasil, impõe às instituições financeiras o

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dever de averiguarem a autenticidade dos documentos e informações


que lhes são passados quando da pactuação de negócios jurídicos, com
o escopo de evitar potenciais defeitos na execução dos serviços,
capazes de acarretar lesão não apenas patrimonial, mas também de
ordem moral aos usuários.
Nesse sentido, discorre Yussef Said Cahali:

“Tanto nas passivas como nas acessórias, o cuidado


do Banco na prestação avençada deve ser redobrado, pois
qualquer falha, mínima que seja, poderá causar dano ao
cliente, ou originando assim a responsabilização
bancária, oriunda do inadimplemento do contrato.
A teoria do risco profissional, iniciada por
Josseland e Saleilles e sustentada, no direito pátrio,
por vários juristas, funda-se no pressuposto de a
responsabilidade civil deve sempre recair sobre aquele
que extrai maior lucro da atividade que deu margem ao
dano - ubi emolumentum ibi onus.” (in Responsabilidade
Civil, Doutrina e Jurisprudência, São Paulo: Saraiva,
1984. p. 271).

Desta forma, demonstrado que as partes não celebraram


qualquer transação comercial, é patente a negligência do banco, pois
certamente não identificou de maneira eficaz a pessoa com quem
contratou. Descuidou-se, por corolário, do seu dever de cautela,
traduzido na rigorosa conferência dos dados antes da efetivação do
serviço, devendo, por conseguinte, responder por sua incúria.
E ainda que tal evento danoso, tenha sido causado por ato
de terceiro (fraude), não tem o condão de isentar o recorrente de sua

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responsabilidade pelos fatos dos serviços que prestou.


Com efeito, o ato delituoso de terceiro, que se utiliza de
documentos de outrem, não constitui hipótese excludente de
responsabilidade civil, na forma do art. 14, § 3º, do CDC, cuidando-se, ao
revés, de fortuito interno próprio dos mecanismos administrativos dos
estabelecimentos bancários.
Portanto, mesmo que o apelante tenha sido também
vítima do ardil, esse risco não pode ser transferido ao consumidor,
máxime porque a irregularidade era possível de ser detectada com a
simples adoção de uma atitude mais rígida na avaliação dos seus
potenciais clientes e da documentação que por eles é apresentada.
Como bem pontua o jurista Enio Santarelli Zuliani:

"Os bancos são vítimas de golpes aplicados com


documentos falsos e sofrem danos diretos e indiretos,
estes classificados com a diluição do prestígio da marca,
sempre que o nome do banco se relaciona com assuntos do
gênero. Essa situação não o livra do dever de indenizar a
pessoa que sofre com o uso do seu nome, pelos documentos
falsos, que é, em relação ao banco, a maior prejudicada.
O banco se aventura em aumentar sua carteira de clientes
e não age com a severidade que se requer no controle do
cadastro, negligenciando diligências efetivas na
confirmação dos dados do candidato, o que constitui ponto
vulnerável de sua defesa em relação terceiro que sofre
com a falha bancária, porque nada de concreto e positivo
realiza para evitar o sucesso do golpe."
(Responsabilidade Civil na Área Bancária. In: Regina
Beatriz Tavares da Silva (coord.). Responsabilidade Civil
e sua Repercussão nos Tribunais. 2ª ed. São Paulo:

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Saraiva, 2009, p. 144/145).

A propósito, vale conferir a jurisprudência deste Tribunal


de Justiça em situações similares; verbis:

“AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO NEGOCIAL.
INSCRIÇÃO INDEVIDA JUNTO AO SPC. INAPLICABILIDADE DA
SÚMULA 385 DO STJ. DEVER DE INDENIZAR. FIXAÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1) - O banco, como fornecedor
de serviço bancário, responde, independente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços. 2) - Mostra-se indispensável por parte
da instituição financeira o cuidado na averiguação da
autenticidade dos documentos necessários para
concessão de crédito, isto porque se porventura
ocorrer falsificação, concedendo-se importância a quem
não solicitou, o banco é obrigado a reparar o prejuízo
moral infligido à vitima que teve seu nome inserido no
rol de inadimplentes por uma dívida inexistente. (...)
6) - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJGO, 4ª Câm.
Cív., AC. nº 126259-12.2010.8.09.0051, Rel. Dr.
Roberto Horacio de Rezende, julg. em 26/04/2012, DJe
1061 de 14/05/2012 - grifei);

“AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. DIREITO


DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. FATO
DO SERVIÇO. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. ATIVIDADE DE
FALSÁRIOS. TEORIA DO RISCO NEGOCIAL. INOCORRÊNCIA DE
CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. DANO MORAL PRESUMIDO.
JUROS MORATÓRIOS. CORREÇÃO MONETÁRIA. INCIDÊNCIA. I -
A responsabilidade decorrente da relação consumerista

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é objetiva, ou seja, independe do elemento subjetivo


do agente (dolo ou culpa), de modo que as instituições
financeiras devem responsabilizar-se por atos
praticados por falsários que causem danos a terceiros,
mesmo que adotem todas as cautelas necessárias para
evitar o evento danoso. II - Em razão da aplicação da
Teoria do Risco Negocial, segundo a qual os
fornecedores responsabilizam-se pelos danos causados
aos consumidores efetivos ou equiparados, decorrentes
de ausência de segurança dos serviços oferecidos, não
há que se falar em culpa exclusiva da vítima ou de
terceiro decorrente da conduta de falsário que se
utiliza da fragilidade dos serviços bancários para
abrir conta em nome da vítima. (…) APELAÇÕES
CONHECIDAS, DESPROVIDA A PRIMEIRA E PROVIDA
PARCIALMENTE A SEGUNDA.” (TJGO, 6ª Câm. Cív., AC. nº
16364-75.2010.8.09.0097, Rel. Des. Fausto Moreira
Diniz, julg. em 09/10/2012, DJe 1168 de 18/10/2012 -
grifei);

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C AÇÃO


DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS. CONCESSÃO DE CRÉDITO.
INSCRIÇÃO INDEVIDA. RESPONSABILIDADE DO
ESTABELECIMENTO COMERCIAL. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
1 - Age com negligência os estabelecimentos comerciais
ao não diligenciarem no sentido de se averiguar a
veracidade das informações que lhes são fornecidas,
cabendo-lhes responder pelos danos causados a
terceiros em razão da concessão de crédito com base em
documentos falsos e consequente inclusão indevida do
nome deste nos órgãos restritivos de crédito. 2 -
Caracterizada conduta desonrosa dos réus/apelados que
implique em abalo à honra e efeitos reflexos no âmbito

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das relações comerciais e bancárias do apelante,


impõe-se a advertência corretiva na forma de
indenização dos danos extrapatrimoniais resultantes.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.” (TJGO, 6ª
Câm. Cív., AC. nº 153116-0/188, Rel. Des. Jeová
Sardinha de Moraes, julg. em 18/02/2010, DJe 532 de
05/03/2010 - grifei);

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS


MORAIS. TEMPESTIVIDADE. ABERTURA DE CONTA CORRENTE COM
NOME ALHEIO. RESPONSABILIDADE CIVIL. REDUÇÃO DO
QUANTUM. TERMO INICIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. I -
Omissis. II -Restando comprovado nos autos que a
recorrente utilizou de documentos da vitima,
falsificando assinatura para abertura e movimentação
de conta bancária, a reparação do dano moral deve ser
impositiva, resultando na obrigação de indenizar. II -
As instituições financeiras devem zelar pela
veracidade e autenticidade dos documentos a si
apresentados quando da abertura de conta corrente, sob
pena de responderem civilmente por eventual fraude
cometida por terceiro. (...) RECURSOS CONHECIDOS.
PRIMEIRO IMPROVIDO E PARCIALMENTE PROVIDO O SEGUNDO.”
(TJGO, 1ª Câm. Cív., AC. nº 124278-9/188, Rel. Des.
Leobino Valente Chaves, julg. em 27/01/2009, DJe 284
de 27/02/2009 - grifei).

Quanto ao dano, é inegável que a inscrição ilegítima do


nome de consumidor em cadastro de restrição creditícia macula a
imagem daquele, abalando a confiança dos demais credores e
dificultando o acesso ao crédito. Tais dificuldades geram, por si só, lesão
de ordem moral in re ipsa, pelo que prescindível a produção de prova de

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prejuízo concreto, consoante a jurisprudência pacífica. Veja:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO, CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA JUNTO AO SERVIÇO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. CONDUTA ILÍCITA. FRAUDE
PERPETRADA POR TERCEIROS. DEVER DE INDENIZAR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. 1- O fornecedor responde
objetivamente por danos ocasionados ao consumidor, em
casos de inscrição indevida, inclusive na hipótese de
fraude de terceiros. 2 - Tratando-se de inscrição
indevida nos órgãos de proteção ao crédito, dispensa-
se a comprovação do dano moral, porquanto o abalo à
honra, em tais circunstâncias, é presumido. APELAÇÃO
CONHECIDA E DESPROVIDA.” (TJGO, 6ª Câm. Cív., AC. nº
83314-06.2010.8.09.0117, Rel. Des. Fausto Moreira
Diniz, julg. em 11/09/2012, DJe 1149 de 20/09/2012 -
grifei);

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


INCLUSÃO NO CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. INSCRIÇÃO
INDEVIDA. CONTRATAÇÃO NÃO REALIZADA. RELAÇÃO DE
CONSUMO. CULPA OBJETIVA. DANO MORAL. VALOR
INDENIZAÇÃO. 1 - A inclusão nos cadastros de proteção
ao crédito, por débitos inexistentes, causa dano moral
presumido, conforme orientação do Superior Tribunal de
Justiça. 2 - Omissis. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.” (TJGO, 2ª Câm. Cív., AC. nº 422791-
54.2009.8.09.0001, Rel. Dr. Carlos Roberto Favaro,
julg. em 21/08/2012, DJe 1139 de 05/09/2012);

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


OCORRÊNCIA. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DA PARTE NOS

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CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO


DO DEVER DE INDENIZAR. QUANTUM INDENIZÁVEL. I - Não
se desincumbindo do ônus que competia ao réu, de
provar a existência de fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor, nos termos do art.
333 do CPC, a procedência do pedido autoral é medida
imperativa. II - O dano moral decorrente da inscrição
indevida em banco de dados de órgão de proteção ao
crédito é considerado in re ipsa, isto é, não requer
prova do prejuízo, conquanto presumido e decorrente do
próprio fato. (…) Apelo conhecido e parcialmente
provido.” (TJGO, 3ª Câm. Cív., AC. nº 130592-
13.2010.8.09.0049, Rel. Des. Walter Carlos Lemes,
julg. em 03/07/2012, DJe 1104 de 17/07/2012- grifei).

Diante desse contexto, indubitável é o dever de reparar o


dano moral resultante do comportamento negligente da casa bancária
apelante à vista das regras de cautela e segurança, que ensejou a
inscrição desabonadora do nome do apelado nos órgãos de proteção ao
crédito (doc. 19, fls. 47).
Segue-se, então, a verificar se o quantum indenizatório,
fixado pelo juízo a quo em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), objeto de
questionamento não só do 1º recurso de apelação (fls. 94/99), mas
também no 2º recurso (fls. 104/118), alegações que passo a analisar
conjuntamente.
Sobre o tema, já firmado o entendimento para considerar
como lícita a indenização concedida a título de danos morais, em casos
de falha no serviço de inscrição indevida do nome do consumidor,
mormente quando inexiste débito a ser resgatado ou mesmo a sua
permanência após a quitação da dívida.

10/ac 177611-67.2014/rv 13
PODER JUDICIÁRIO

No caso, entendo que razão, em parte, assiste ao


apelante.
Assim é que, de acordo com as circunstâncias do caso
concreto, deve-se levar em conta a extensão ou o prejuízo do dano
provocado, a condição econômica das partes envolvidas e, por fim, o
caráter pedagógico da penalidade pecuniária a ser aplicada.
Ora, na situação dos autos, a inscrição indevida nos
serviços de proteção ao crédito originou-se de contratos celebrados pela
empresa onde a apelante exercera o seu ofício, utilizando seu nome para
celebrar empréstimos bancários sem a sua autorização.
Reputo assim, que o valor fixado pelo julgador singular,
deve ser majorado, por não atender as circunstâncias deste caso em
particular e compensar a autora de forma mais justa.
Acerca da necessidade de observância de tais
parâmetros, eis a jurisprudência do STJ:

“(...) Admite a jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça, excepcionalmente, em Recurso Especial,
reexaminar o valor fixado a título de indenização
por danos morais, quando ínfimo ou exagerado.
Hipótese, todavia, em que o valor foi estabelecido
na instância ordinária, atendendo às circunstâncias
de fato da causa, de forma condizente com os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade
(...)”. (STJ, 4ª Turma, AgRg no AgRg no Ag
796688/SP, Rela. Mina. Maria Isabel Gallotti, Dje
04/05/2011).

Logo, estipular valor indenizatório muito baixo é negar

10/ac 177611-67.2014/rv 14
PODER JUDICIÁRIO

reparação e fixá-lo em valor estratosférico, é dar margem ao


locupletamento indevido.
Na hipótese, entendo que a quantia arbitrada pela r.
Sentença de Primeiro Grau, na importância de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), não atende aos critérios da proporcionalidade e da razoabilidade
previstos para o caso em questão.
Sobre a matéria eis o entendimento jurisprudencial:

“(...) INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO


CRÉDITO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO RAZOÁVEL (…) Quantum indenizatório
arbitrado em R$ 10.000,00 (dez mil reais), o que não
se distancia dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, nos termos da orientação
jurisprudencial desta Corte (…).” (STJ, decisão
monocrática nº AREsp 914640, publicação do dia
01/07/2016, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


RELAÇÃO JURÍDICA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS CADASTROS
DE INADIMPLENTES (…) QUANTUM REPARATÓRIO ARBITRADO
RAZOÁVEL (…) 3. Mostra-se razoável para o caso em
apreço a manutenção dos danos morais fixados na
sentença em R$ 10.000,00 (dez mil reais) (…).” (TJGO,
AC nº 24082-41.2012.8.09.0134, Rel. Des. Nelma Branco
Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, DJe 2057 de
29/06/2016).

“Apelação Cível. Ação Declaratória de Inexigibilidade


de Operação Bancária e Inexistência de Débito cumulada
com Indenização por Danos Morais. Inscrição do nome em
órgãos de proteção ao crédito (…) Quantum

10/ac 177611-67.2014/rv 15
PODER JUDICIÁRIO

indenizatório. Observância dos princípios da


razoabilidade e proporcionalidade. Manutenção. O valor
do dano moral deve se adequar às peculiaridades do
caso concreto, atendendo, desta forma, a tríplice
finalidade: satisfativa para a vítima, dissuasório
para o ofensor e de exemplaridade para a sociedade,
evitando-se, assim, o enriquecimento ilícito da parte.
No presente caso, deve ser mantida a verba
indenizatória fixada no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), por se tratar de valor justo que satisfaz o
real prejuízo sofrido (…).” (TJGO, AC nº 107749-
09.2014.8.09.0051, Rel. Des. Carlos Alberto França, 2ª
Câmara Cível, DJe 2063 de 07/07/2016).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA c/c REPARAÇÃO DE


DANOS MORAIS. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. DANOS MORAIS.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO. JUROS DE MORA. TERMO
INICIAL (SÚMULA 54, STJ). CORREÇÃO MONETÁRIA.
INEXISTÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. VALOR DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ACRESCIDOS. 1. O juiz, ao
valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que,
de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível
com a reprovabilidade da conduta ilícita, a
intensidade e duração do sofrimento experimentado pela
vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as
condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias
que se fizerem presentes. Estipulado valor
indenizatório em valor ínfimo, sua majoração é medida
imperativa. 2. Os juros moratórios, em se tratando de
responsabilidade extracontratual, incidem desde a data
do evento danoso, na forma da Súmula n. 54/STJ. 3.
Carece a parte de interesse recursal se e quando o
capítulo da sentença se harmoniza à sua pretensão. 4.
Considerando o grau de zelo do profissional, a
natureza da decisão, a importância da causa, o

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PODER JUDICIÁRIO

trabalho realizado, bem como o tempo exigido para o


serviço, os honorários advocatícios sucumbenciais
merecem ser majorados para remunerar condignamente o
trabalho desempenhado pelo causídico, observando-se os
critérios adotados pelo art. 20, § 3º, “a” e “c”,
CPC/73 (art. 85, § 2º, I, IV, CPC/2015). 5. APELAÇÃO
CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. (TJGO,
APELACAO CIVEL 289867-21.2012.8.09.0051, Rel. DR(A).
SERGIO MENDONCA DE ARAUJO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em
11/08/2016, DJe 2093 de 19/08/2016)

Nesses termos, a restrição de crédito no mercado por


uma dívida considerada inexistente, ofende diretamente e em grau
superlativo, os direitos da personalidade da parte, revelando o abuso do
poder econômico do apelado e má-fé da empresa onde aquela laborava.
Logo, tenho por necessária a majoração do valor da
indenização por danos morais para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), que se afigura mais adequado, razoável, proporcional e equânime.
Registra-se, ademais, que o arbitramento da
indenização em referida quantia não oportuniza à vítima um
enriquecimento sem causa, o que é vedado pelos arts. 884 a 886, do
Código Civil, mas admoesta adequadamente a empresa privada pela
prática do ato ilícito, a fim de propiciar-lhe a redenção para que não mais
pratique atos dessa natureza, seja com o próprio demandante ou com
terceiros.
Por fim, quanto à incidência dos juros e da correção
monetária e o seu termo inicial, nenhuma reparação a ser feita, posto
que fundamentado no que dispõe as Súmulas 54 e 362, ambas do STJ.
Neste aspecto, conheço de ambos os recursos e dou

10/ac 177611-67.2014/rv 17
PODER JUDICIÁRIO

provimento ao primeiro apelo para reformar a r. Sentença e elevar o


valor da condenação por danos morais para R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Nego provimento ao segundo apelo, restando
confirmada a r. Sentença quanto aos demais fundamentos.
É o meu voto.
Goiânia, 29 de setembro de 2.016

José Carlos de Oliveira


Juiz de Direito Substituto em Segundo Grau
Relator

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PODER JUDICIÁRIO

APELAÇÃO CÍVEL N° 177611-67.2014.8.09.0051 (201491776110)


Comarca de Goiânia
1º Apelante: Irenice Umbelino do Nascimento
2º Apelante: Banco Itaú S/A
1º Apelado: Banco Itaú S/A
2º Apelado: Irenice Umbelino do Nascimento
Relator: José Carlos de Oliveira
Juiz de Direito Substituto em Segundo Grau

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PROTESTO
DUPLICATAS. COMPRAS NÃO REALIZADAS PELO
TITULAR. LEGITIMIDADE PASSIVA DO MANDATÁRIO.
REPARAÇÃO DEVIDA. DANO MORAL PRESUMIDO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR INSUFICIENTE.
MAJORAÇÃO POSSIBILIDADE. 1- A Apelante/Instituição
Financeira possui legitimidade para figurar no polo
passivo da ação que objetiva a nulidade do título, quando
deixar de adotar as cautelas devidas à verificação da
duplicata apresentada para cobrança, respondendo
solidariamente com o suposto credor. 2- O cancelamento
de protesto indevido, originário de um débito inexistente
não é de responsabilidade da autora promover sua baixa,
mas sim daquele que protestou os títulos
inadvertidamente. 3- À conta do risco que caracteriza
suas atividades no mercado de consumo, as instituições
financeiras possuem o dever de averiguar a
autenticidade dos documentos e informações que lhes

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PODER JUDICIÁRIO

são passados quando da pactuação de negócios jurídicos,


com o escopo de evitar potenciais defeitos na execução
dos serviços, capazes de acarretar lesão não apenas
patrimonial, mas também de ordem moral aos usuários.
3 - A inscrição ilegítima do nome de consumidor em
cadastro de restrição ao crédito gera por si só lesão de
cunho moral indenizável, pelo que prescindível a
produção de prova do prejuízo, conforme jurisprudência
pacífica. 4 - Verificando que a quantia arbitrada foi
fixada em valor muito baixo, que não atende aos
critérios da proporcionalidade e da razoabilidade para o
caso, nada obsta que o tribunal venha impor sua
majoração. 5- A indenização, contudo, não deve servir de
enriquecimento indevido daquele que busca a reparação
do dano. 6- Conhecidos ambos os recursos para dar
provimento ao primeiro e negar provimento ao segundo.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de


Apelação Cível nº 177611-67.2014.8.09.0051 (201491776110), da
comarca de Goiânia.
ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora
da Quarta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de
Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer das apelações, dando
provimento ao primeiro recurso e negando provimento ao segundo,
nos termos do voto do relator.

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PODER JUDICIÁRIO

VOTARAM, além do relator, o Dr. Sebastião Luiz Fleury,


substituto da Desembargadora Nelma Branco Ferreira Perilo e o
Desembargador Carlos Escher. Ausente justificadamente a
Desembargadora Elizabeth Maria da Silva.
PRESIDIU a sessão o Desembargador Carlos Escher.
PRESENTE a ilustre Procuradora de Justiça, Dra. Márcia
de Oliveira Santos.
Custas de lei.
Goiânia, 29 de setembro de 2.016

José Carlos de Oliveira


Juiz de Direito Substituto em Segundo Grau
Relator

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