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Domingo, 02/08/2009
NEOPAGANISMO EVANGÉLICO
Colunista da Folha
Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente
como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel
devolver uma parte para que a igreja continuasse no seu trabalho
mediador. Em suma, doar era uma questão de justiça entre o fiel e
Deus.
Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é
tão só como dádiva divina, troca fora do mercado, como se operasse
numa sociedade sem classes. Isso marca uma diferença com os antigos
movimentos protestantes, em particular o calvinismo, para os quais o
trabalho é dever e a riqueza, manifestação benfazeja do bom
cumprimento da norma moral.
ANTICALVINISMO
Além de negar a tradicional concepção calvinista e protestante do
trabalho, esse novo crente não mantém com a igreja e seus pares uma
relação amorosa, não faz do amor o peso de sua existência.
Nada mais tem a ver com a ideia judaico-cristã do pecado original. Não
se resolve naquela mácula, naquela ofensa, que somente poderia ser
lavada pela graça de Deus e pela morte de Jesus, mas sempre requerendo
a anuência do pecador.
Se resulta de uma fraqueza, desaparece quando o crente se fortalece,
graças ao trabalho de purificação exercido pelo sacerdote. O fiel
fraquejou na sua fidelidade, cedeu ao Diabo cheio de artimanhas e
precisa de um mediador que, em nome de Deus, combata o Demônio. O
exorcismo é descarrego, batalha entre duas potências que termina com a
vitória do bem e a purificação do fiel.
PAGANISMO
Compreende-se, então, a função social do combate ao candomblé: traduz
um antigo ritual cristão numa linguagem pagã. Os pastores dão pouca
importância ao conhecimento das Escrituras, servem-se delas como
relicário de exemplos. Importa-lhes mostrar que o Diabo, embora tenha
sido criado por Deus, depois de sua queda se levanta como potência
contra Deus e, para cumprir essa missão, trata de fazer o mal aos
seres humanos.
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