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PSICOPATA & REFÉM

Ana Rosa

INT. SALA DE ESTAR - DIA


Dia nublado. A sala é pouco decorada, apenas com uma mesa e uma
cadeira. Na mesa está um retrato emoldurado de uuma mulher. Ecoam
os sons dos carros e as buzinas no exterior.
PSICOPATA, um homem sério na casa dos 30, lê o jornal sentado
na cadeira.
O Psicopata é moreno, atraente e veste camisa branca e calça
preta.
Ecoa o folhear do jornal, juntamente com os sons da rua, o som
de uns saltos altos a caminhar perto do Psicopata e de sussurros
oriundos da mente do Psicopata, vozes femininas e masculinas...
PSICOPATA
(a ler o jornal)
Sim...
(pausa)
Amanhã vai estar bom tempo... se a Mãe
quiser, vamos passear...
(pausa)
Podemos ir ao jardim da cidade... ou
fazer um picnic...
(pausa)
O Psicopata vira a folha.
No jornal lê-se:
"Rapariga de 22 anos desaparecida desde Terça.
Luísa, estudante de Psicologia, foi vista pela última vez no
campus da Faculdade. As autoridades estão a investigar."
Os sussurros tornam-se cada vez mais altos. O Psicopata treme.
Tensão. Enraivecido, o Psicopata começa a ouvir os saltos altos
a caminharem cada vez mais perto. O Psicopata fecha os olhos e
leva a mão à testa, esfregando-a.
De repente, ouve-se o som de alguém a sentar-se na cadeira ao
lado do Psicopata. Insano, o Psicopata desvia o seu olhar do
jornal para a cadeira, vazia. Em frente, encontram-se um par de
saltos altos.
Ecoa o som de vidro a partir, oriundo da cave. Os sussurros voltam
ao som normal. O Psicopata fecha o jornal e pousa-o com força
sobre a mesa e olha para a escadaria. Pausa.
Irritado, levanta-se rápidamente.
Serrando os dentes, caminha em passos largos em direção à cave,
e desce as escadas.

INT. CAVE - DIA


A luz é fraca. O som da rua é substituído por uma melodia clássica
vinda de um gira-discos, que toca em loop.
REFÉM, uma rapariga na casa dos 20, encontra-se encostada à
parede com cordas à volta dos tornozelos e dos pulsos, com uma
expressão de medo na sua cara.
A Refém tem o seu cabelo loiro atado em coque e veste um vestido
azul, sujo, e no pé esquerdo tem um salto alto calçado. O outro
salto encontra-se mais afastado da Refém.
A Refém chora e soluça, suavemente. Há medo na sua cara. A melodia
continua a tocar.
Troca de olhares. Tensão. Os sussurros da cabeça do Psicopata
páram.
O Psicopata repara no projetor de luz partido no chão. Calmo,
caminha até ao projetor e levanta-o do chão, pontapeando os
vidros partidos para debaixo de uma cómoda próxima.
A Refém dobra os joelhos até ao seu peito. O Psicopata desvia
o olhar para o pé descalço da Refém.
O Psicopata pega no salto alto que estava no chão e agacha-se
em frente da Refém, e coloca o salto alto no pé da Refém,
calçando-a.
O Psicopata aproxima-se ainda mais da Refém e beija-a com ternura
na testa. A expressão facial da Refém grita medo, desespero,
nojo, socorro...
O Psicopata afasta-se. Troca de olhares. Tensão.
PSICOPATA
Agora sim, está bonita.
O Psicopata sorri. A Refém chora, soluça, e mexe os tornozelos
e os braços a tentar escapar das cordas. Ecoa o choro, os soluços,
o som das cordas, juntamente com o som da melodia.
Pensador e insano, o Psicopata leva as mãos à cabeça. Os
sussurros voltam. Os dedos do Psicopata entrelaçam-se no seu
cabelo, nervoso, fora de si...
Determinado, o Psicopata larga os seus cabelos e caminha até uma
mesa próxima, onde se encontra uma faca. A Refém acalma-se. O
Psicopata pega na faca e roça a lâmina na mesa, sob o olhar atento
da Refém. O Psicopata caminha até à Refém, olhando para a faca
e mexendo na lâmina.
O Psicopata olha a Refém nos olhos. Tensão. Os sussurros páram.
A música toca. A respiração do Psicopata é calma enquanto a
respiração da Refém é ofegante. O Psicopata aproxima-se da
Refém.
O gira-discos encrava e a música trava. Tensão.
O Psicopata respira ofegantemente enquanto a respiração da Refém
acalma. O Psicopata larga a faca, fazendo a mesma cair no chão,
perto da sua bota. Nervoso e ansioso, o Psicopata corre para o
piso de cima. A Refém suspira de alívio. Os sussurros voltam.

INT. SALA DE ESTAR - DIA


O Psicopata leva as suas mãos à cabeça, agarrando nos cabelos
com força. Os sussurros aumentam de volume e uma voz feminina
salienta-se das outras. Existe tristeza, desespero, raiva na sua
expressão.
Os sons da rua misturam-se com os sussurros. O Psicopata está
à beira de um ataque.
De repente, os olhos do Psicopata encontram os olhos da mulher
na fotografia em cima da mesa. O Psicopata aproxima-se e pega
na fotografia. Tensão. O Psicopata olha nos olhos da mulher na
fotografia, a sua mãe falecida.
Há ternura, amor, saudade no olhar do Psicopata... a fotografia
acalma-o.
Ecoa o barulho da agulha do gira-discos a desencravar. A melodia
retorna a tocar. O Psicopata desvia o olhar da fotografia e
dirige-o à escadaria. A raiva voltou.
Decidido, o Psicopata pousa o retrato na mesa e volta a descer
as escadas. O som da rua desvanece e o som da melodia ecoa pela
casa. Os sussurros mantém-se.
Ouve-se um grito.
FIM.

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