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A Importância do Estudo do Escoamento Bifásico Anular (Core

Annular Flow) na Indústria de Petróleo & Gás

Luís Carlos Demetrio Laranjeira (1);


Deovaldo Moraes Jr. e Aldo Ramos Santos (2).

(1) Mestrando em Engenharia Mecânica na UNISANTA, Santos, BR;


(2) Professores Doutores do Curso de Mestrado em Engenharia Mecânica
na UNISANTA, Santos, BR.

Resumo
O Escoamento Bifásico Anular, também conhecido como CAF (Core Annular
Flow), consiste no fluxo de dois fluidos imiscíveis, com diferentes densidades e
viscosidades (como no caso de água e óleo), de forma que o fluido menos
viscoso (nesse caso, a água) forme um anel lubrificante em torno do outro,
diminuindo o atrito com as paredes do tubo e consequentemente, a energia
necessária para o seu escoamento. A redução da energia necessária traz duas
consequências: a redução das potências requeridas nas máquinas motrizes
(geralmente bombas) e a possibilidade de produção de óleos economicamente
inviáveis por outros métodos. O presente artigo pretende demonstrar a
importância do desenvolvimento de estudos mais aprofundados que permitam
a aplicação do CAF tanto no transporte como na elevação de óleos pesados.
Palavras chave
Escoamento bifásico anular, Potência requerida, Produção de óleos pesados.

The Importance of Study of Two-Phase Flow Abort (Core Annular Flow) in


Oil & Gas Industry
The two-phase annular flow, also known as CAF (Core Annular Flow) consists
of two immiscible fluids flow with different densities and viscosities (such as oil
and water), so that the less viscous fluid (in this case, water) to form a ring
around the other lubricant, reducing friction with the walls of the tube and hence
the energy required for its disposal. The reduction in the energy required has
two consequences: lowering the power required in the motors (usually pumps)
and the possibility of producing oil by other methods economically unfeasible.
This article seeks to demonstrate the importance of developing further studies
to enable the implementation of CAF in both transmission in lifting heavy oils.
Keywords
Two-phase annular flow, Core Annular Flow, Power required.
Introdução
A produção de óleos pesados vem se apresentando como uma necessidade,
diante dos complexos cenários apresentados pela Indústria de Petróleo & Gás.
Por um lado, a dificuldade de descobertas de novas reservas em áreas de fácil
operação (terrestres e águas rasas), vem empurrando as empresas mar
adentro, com lâminas d’água¹ cada vez maiores, na mesma proporção em que
aumentam os custos.

Os custos aumentam por conta da necessidade de materiais e equipamentos


cada vez mais sofisticados, da maior qualificação requerida para a mão de
obra, bem como das dificuldades logísticas enfrentadas pelas operadoras.

Fig. 1: O aumento da lâmina d’água em função do tempo


http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/perfil/atividades/exploracao-producao-petroleo-gas/
(acesso em 14/06/2013).

Por outro lado, o desenvolvimento de novas técnicas vem permitindo a


produção de energias concorrentes, como o Shale Gas, que no médio prazo
fará com que os Estados Unidos deixem de ser importadores e passem a ser
exportadores de energia, o que ocasionará consequências econômicas
mundiais, empurrando para baixo os preços do petróleo.

O Shale Gas é o gás natural produzido a partir da formação rochosa intitulada


“folhelho”, que é uma rocha sedimentar formada durante a era geológica
Devoniana, há cerca de 300 a 400 milhões de anos, a partir da lama existente
em águas rasas.
¹Lâmina d’água = distância entre a superfície e o fundo do mar.
Embora não seja uma novidade, essa matéria prima energética ganhou enorme
relevância após a combinação de duas técnicas que permitem a viabilidade
técnica e econômica para a sua produção: o fraturamento hidráulico e a
perfuração horizontal.
O fraturamento hidráulico é um método de estimulação utilizado para aumentar
a produtividade do poço e consiste na injeção de fluidos na rocha com pressão
superior à de fechamentos da fratura, de forma a provocar uma rede de
fissuras por onde os hidrocarbonetos podem fluir até o poço.

Já a perfuração horizontal consiste na técnica de perfurar verticalmente o poço


até determinada profundidade, a partir da qual o ângulo de perfuração segue
para 90° em relação à posição vertical. Essa técnica permite que uma área
maior do reservatório fique exposta aos equipamentos de extração.

Desenvolvimento

Diante desse cenário, torna-se oportuna a produção de óleos pesados, em


reservas já explotadas, tanto em terra quanto no mar.
A produção em alguns desses campos pode se tornar técnica ou
economicamente inviável, devido à quantidade de energia requerida para o
escoamento do petróleo.
Óleo pesado, segundo a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis) é o que apresenta densidade entre 10º e 22º graus API.
O grau API (American Petroleum Institute) é o sistema de unidades utilizado
pela indústria de petróleo para representar a densidade do óleo, em quatro
classes, como se pode observar na Tabela 1:
Tabela 1: Classificação ºAPI por algumas instituições (SOUZA JR., 2008)

Segundo a ANP, os principais campos que contém óleos pesados no Brasil


são: Marlim (19,60º API) e Albacora Leste (18,20º API), ambos na Bacia de
Campos – RJ. Também segundo a ANP, a produção de óleos pesados
representou 26,6% da produção total no Brasil no mês de abril de 2013.
Devido à alta viscosidade do óleo e elevadas tensões interfaciais entre os
fluídos do reservatório, aproximadamente 70% do óleo fica retido no
reservatório, sendo necessário a utilização de métodos especiais para a
recuperação.
A alta viscosidade também é responsável pela aderência do óleo às paredes
dos tubos, durante o escoamento, o que traz perdas de carga e aumenta a
necessidade de aporte de energia para a preservação do fluxo.
A técnica CAF
A primeira menção à técnica pertence a Isaacs & Speed (1904), mas só na
segunda metade do século que os estudos ganharam mais consistência.
O CAF se apresenta como uma boa alternativa na recuperação de óleos
pesados, seja pela redução do aporte de energia motriz necessária, como pela
facilidade de escoamento, tudo em consequência da redução do atrito entre o
óleo e as paredes internas do tubo de condução (o que inclui oleodutos, risers,
flowlines e colunas de produção).
A logística do petróleo começa no reservatório, onde, em meio a um diferencial
de pressões, ocorre o fluxo no meio poroso denominado “recuperação”; os
fluidos então alcançam a coluna de produção (instalada no interior do poço) e
sobem até a superfície (cabeça do poço) no processo intitulado “elevação”; daí,
escoam até a instalação de processamento primário (plataforma) num processo
denominado “coleta”, de onde seguem posteriormente para uma refinaria, em
etapas denominadas de “transporte”.
O atrito viscoso existe em todas as etapas de fluxo, o que torna o CAF
aplicável em todas elas.
De acordo com Prada (1999), essa configuração de escoamento anular é
possível porque existe uma forte tendência no escoamento de dois líquidos
imiscíveis a arranjar-se de tal forma que o líquido de menor viscosidade se
localize na região de maior deformação (nas paredes da tubulação),
lubrificando, portanto, o escoamento do óleo. Desta maneira, há uma redução
da perda de carga por atrito em mais de 1000 vezes em relação ao
escoamento monofásico do óleo, se aproximando, portanto, ao escoamento
monofásico da água.

Mello (2012) observou, em experimento de bancada, uma redução de 24 vezes


na perda de carga e a consequente (e significativa) redução de 16% na
potência requerida no motor da bomba de óleo.

Os próprios autores do presente estudo constataram, em experimento na


mesma bancada (fig. 2), a redução de 59% na pressão de operação,
concomitantemente com um aumento de 233% na vazão.
Fig. 2: Unidade Experimental para estudo do CAF - UNISANTA (Barbosa Filho et al, 2013)

Conclusão

Os estudos existentes demonstram a aplicabilidade do CAF como alternativa


para a produção e transporte de óleos pesados, com a consequente redução
de custos proporcionada pela menor necessidade de aporte de energia motriz
e pela possibilidade de recuperação em reservas maduras (campos que
apresentam depleção que em parte é causada pela dificuldade do escoamento
de óleos pesados).

Esse entendimento leva à conclusão de que se deve aprofundar os estudos na


área, notadamente, na elevação, ponto crítico no processo de produção de
petróleo.

Referências Bibliográficas
BARBOSA FILHO, Paulo Canuto et al. Determinação Teórica e Experimental
de um Sistema em Operação com Escoamento Monofásico e Bifásico
(Água/Óleo). Jun 2013. Trabalho de Conclusão de Curso. Orientador: Prof. Dr.
Deovaldo de Moraes Jr. Curso de Engenharia Química – Faculdade de
Engenharia – UNISANTA – Santos – SP.
MELLO, Luis Roberto Santini. Transporte de mistura bifásica óleo-água em
unidade de bancada experimental. Science and Technology, p. 43 - 47 , Vol. 1,
No 2, 2012 – UNISANTA – Santos –SP.
PRADA, José Walter Vanegas. Estudo Experimental do Escoamento Anular
Óleo-Água (“Core Flow”) na Elevação de Óleos Ultraviscosos. 1999.
Dissertação de Mestrado. Orientador: Antonio Carlos Banwart. Depto. De Engª
de Petróleo – Faculdade de Engª Mecânica – UNICAMP – Campinas – SP.
SOUSA JUNIOR, C.S. Tecnologia de Óleos Pesados e Ultrapesados. Jan.
2008. 209p. Dissertação de Mestrado. Orientadora: Cheila Gonçalves Mothé.
Escola de Química – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
– RJ.

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