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Análise, Yu-Gi-Oh!

Primeira Temporada
A princípio, como quase qualquer animação que tenha como público alvo, o
público infantil/jovem, ou que, atenda e aprecie qualquer idade, é vista como
uma narrativa superficial e pobre de análises e coesões reflexivas, muito
menos, filosóficas.
Claro que esta leitura sobre as produções fantásticas e suas animações, não
passa de um mero equívoco. Basta termos um pouco mais de intimidade para
com essas produções, para se perceber suas inúmeras nuances e
perspectivas.
No anime Yu-Gi-Oh!, primeira temporada – por exemplo – nos deparamos com
críticas ao lado negro do mundo empresarial, contrastes entre fé e insanidade,
e construções de personalidades seus valores e ideais.

A Sujeira do Mundo Corporativo;


Logo no primeiro episódio, Seto Kaiba que é tido até então como campeão
mundial em monstros de duelo, perde para Muto Yugi, um adolescente novato
no jogo. Essa perda, desemboca uma série de danos para as ações da
empresa de Seto, no sentido que, ele não tinha mais sucesso em suas vendas
como antes, já que o fato do êxito que os seus negócios tinham até então,
estava atrelado ao fato de que ele era campeão mundial, o que agregava status
a tudo que sua empresa produzia. Afinal, todos querem se comportar e portar
dos acessórios do “melhor”.
Rapidamente, Pegasus J. Crawford (Maximillion Pegasus, na versão
americana) faz contato com os “Big 5”, que são cinco grandes acionistas da
corporação Kaiba, para juntos dele armarem uma cilada para Seto e seu irmão
Mokuba, e tomarem as ações da empresa, afim de se enriquecerem e
fortalecerem os negócios de Pegasus, que vive a disputar com Seto o número
um em vendas.
Para tal, raptam Mokuba, e enviam capangas para assassinarem Seto, que por
pouco escapa a salvo, e vai em busca de resgatar seu irmão, no “Reino dos
Duelistas”, a ilha que é também morada de Pegasus, ganhando no meio desse
percurso o apoio de seu maior rival Muto Yugi nessa empreitada.
Mesmo que esse cenário do mundo empresarial na estrutura da narrativa seja
apenas um pano de fundo, e não o foco, permite nos questionar sobre várias
posições deste mundo corporativo que é bem presente em nossa
contemporaneidade. Incorporamos qualidades inexistentes a produtos,
somente por admirarmos pessoas na mídia que os usam, o que não
necessariamente faz desses produtos melhores do que aqueles que não tem
seu marketing tão divulgado nessa mesma medida. Nos negócios, quando tudo
vai bem, todos estão contigo, e se denominam uma equipe. Mas basta uma
pequena queda nos lucros, para te deixarem de escanteio, ou até mesmo se
aliarem seu rival em troca de algumas barganhas materiais. Sem contar, os
meios sujos que há por trás de todo esse rosto bonito e apresentável que
aparentemente as empresas costumam vender.

Insanidade e Fé;
Enquanto os “Big 5”, tem como objetivo ao tentar derrubar Seto, receber lucros
e ações empresariais, Pegasus pretende ao se enriquecer com as tecnologias
da corporação Kaiba, e uni-las com o poder de todas as relíquias milenares,
conseguir ressuscitar sua amada esposa.
Sabendo que o menino Yugi, tem consigo uma das relíquias, Pegasus cria um
campeonato de monstros de duelo, onde força Muto Yugi participar uma vez
que rouba a alma de seu avô, e caso ele não vença o campeonato não a
libertará jamais. O mesmo faz com a alma de Mokuba para obrigar Seto a
duelar com ele para salvar seu irmão, apostando a sua alma também, que
infelizmente vem adquirir ao vencer o duelo. Restando assim a Yugi, resgatar
a alma de seu avô, e dos irmãos Kaiba.
Muto Yugi, aliás, vive um sentimento paradoxal em relação ao seu espírito, já
que no seu enigma do milênio, repousa a alma de um faraó do antigo Egito que
desperta quando o menino monta o enigma. Daí surge essa dualidade de
espírito, de uma criança se descobrindo e moldando sua personalidade, tendo
de dividir o corpo com uma alma adulta, que busca resgatar suas memórias do
passado. E como tudo que é novo, gera medo e confusão, Yugi sofre muito
incialmente para lidar com esses paralelos, mas a fé e conexão que Yugi tem
para com seus amigos, lhe ajuda a lapidar um equilíbrio com o faraó sem nome,
e lhe ajudar-lhe com recordar suas memórias do passado.
Enquanto, Yugi vivendo esse embaraço que é a transição da infância para as
revelações de uma juventude, unido de uma dificuldade de ter que dividir os
equívocos de uma vida com outra já adulta, mas cheia de questões, se une
aos laços de amizade e fé que tem para com seus amigos para lidar com as
adversidades e constrói nas experiências pilares de sustento para se reeguer.
Temos, Pegasus, que não conseguindo lidar contra a dor da perca de um ente
querido, se lança as cascatas de uma obsessão, a ponto de vir a machucar
outras pessoas, e separa-las de quem as ama na tentativa de desafiar uma
realidade já imposta.

Personalidades e Suas Construções;


Mai Valentine, que é uma personagem bastante orgulhosa e ríspida num
primeiro momento, e cheia de verdades e estereótipos, tem sua personalidade
totalmente modificada ao longo da narrativa, onde ao se permitir se ter uma
relação próxima e amigável com Yugi, Katsuya Jônouchi (Joey Wheeler na
versão americana), Anzu Mazaki (Téa Gardner na versão americana), e Hiroto
Honda (Tristan Taylor na versão americana), cria laços significantes com essas
pessoas que não só lhe demonstram a possibilidade de existir carinho e
respeito mútuo, como também demonstram em suas ações como há muitos
estereótipos e preconceitos sem fundamento algum nos cercando a todo
instante.
Katsuya Jônouchi (Joey Wheeler na versão americana), sem dúvida alguma, o
personagem mais carismático de todos, tem um anseio muito grande por
evoluir enquanto pessoa, amigo e duelista. Assim, como lutar para ajudar sua
família que é muito humilde, e sua irmã que necessita de uma grande quantia
em dinheiro para fazer uma operação nos olhos, antes que perca a visão.
O interessante está na dúvida do personagem durante todo este percurso em
como melhorar em todos esses aspectos, e perceber no fim que entre todos
os seus medos e aflições, que não se vive nada idealizando, mas sim se
expressando. E que basta coragem para seguir em frente, já que não importa
muito o começo ou o fim, mas a caminhada.

“A vida é assim:
esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”

Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa.

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