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RESUMO

No começo do século XIX, a vinda da família real portuguesa ao Brasil trouxe para o país os famosos
cantores Castrati. Os castrati foram personagens importantes para o panorama musical europeu dos
séculos XVII e XVIII. A prática de castração adentrou a europa por influência árabe através da Espanha,
e aos poucos essas personagens ganharam espaço nos coros das igrejas e posteriormente na ópera,
mas foi a Itália o lugar de sua consolidação. A castração consistia na retirada dos testículos, inibindo
assim a produção dos hormônios necessários para a muda vocal masculina. O resultado dessa
intervenção cirúrgica foi uma voz andrógina, uma mistura do timbre agudo típico das vozes infantis e
femininas somado ao desenvolvimento da caixa toráxica masculina, o que possibilitou maior potência
sonora. Como as mulheres foram proibidas de cantar nos coros das igrejas e nos palcos, os homens as
substituíram. Primeiro com os contratenores falsetistas, e depois com os próprios castratis. No livro
Francisco Manuel da Silva e seu tempo, Ayres de Andrade descreve muito da atividade musical do Rio
do Janeiro no período joanino e a chegada dos castrati ao Brasil. Ao citá-los, aparece uma personagem
peculiar que se difere um tanto das demais, um suposto cantor castrado chamado Bento Fernandes das
Mercês de origem portuguesa vindo de portugal por volta de 1840, e posteriormente, cantor da real
capela do Rio de Janeiro. Tal informação acerca de sua identidade vocal é posta em dúvida por outros
trabalhos, e em outros documentos se mostra contraditória. O presente trabalho procura por meio de
fontes históricas extrair informações dessa personagem e criar um comparativo entre elas a fim de
deduzir sua real identidade e descobrir se realmente houve um cantor castrado de origem portuguesa.

OBJETO DE PESQUISA

Bento Fernandes das Mercês foi copista pessoal do Pe. José Maurício Nunes Garcia , arquivista,
professor de musica, chefe de capela e cantor da real capela do Rio de Janeiro. Graças a ele, grande
parte das composições de Pe. José Maurício foram preservadas e copiadas. Apesar de vários
documentos que o citam convergirem a respeito dessas ocupações, é em sua atividade como cantor que
há certa discordância. Ayres de Andrade em seu livro o cita como um cantor castrado português vindo de
Lisboa com a coroa lusitana por volta de 1840. Cleofe Person de Mattos em sua biografia sobre o Pe.
José Maurício Nunes Garcia traz uma descrição mais detalhada de Bento das Mercês, mas afirma que o
mesmo nasceu em Minas Gerais e que era um cantor “falsetista soprano”. Em outros livros, Bento é
mencionado como tenor e até como contralto.

HIPÓTESE

Ayres de Andrade se refere a Bento das Mercês como soprano castrado, e ainda afirma que o mesmo
chegou ao Brasil por volta de 1840. Tal afirmativa sobre sua vinda ao Brasil pode ter sido feita por causa
do período de atuação de Bento das Mercês na real capela do Rio de Janeiro, que data a mesma época
e pela escassez de documentos sobre suas origens. Talvez Andrade tenha confundido sua nacionalidade
por causa da contratação de outros músicos lusitanos no mesmo período. O mesmo pode ter sido o caso
da afirmação sobre sua voz. A capela real do Rio de Janeiro em 1840 contava apenas com cantores do
sexo masculino. Os castrati vindos de Portugal também ali atuaram. Bento Fernandes das Mercês já foi
citado como “falsetista”, “contralto” e “tenor”, e pode ter sido confundido por Andrade como um castrado
de fato, por ter cantado nos naipes de soprano e contralto.
METODOLOGIA

Pesquisa qualitativa de revisão bibliográfica e de documentos históricos. A maior parte dos documentos
que citam Bento das Mercês são biografias e trabalhos sobre a vida e obra de Pe. José Maurício Nunes
Garcia.

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