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13º Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais

:: ANAIS ::
ISSN: 2236-4366

23 a 26 de maio de 2017
Curitiba-PR/Brasil

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A NAIS DO XIII S IMPÓSIO I NTERNACIONAL DE C OGNIÇÃO
E A RTES M USICAIS

23 a 26 de maio de 2017

A SSOCIAÇÃO B RASILEIRA DE C OGNIÇÃO E A RTES M USICAIS


U NIVERSIDADE F EDERAL DO PARANÁ
U NIVERSIDADE E STADUAL DO PARANÁ

editado por
Luis Felipe Oliveira

C URITIBA – 2017
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais

Relações de afinação entre sons resultantes e sistemas de afinação

Ricardo Dourado Freire


UnB
freireri@unb.br

Resumo: O fenômeno dos sons resultantes foi abordado inicialmente pelo organista Sorge (1703-
1778) e pelo violinista Tartini(1692- 1770) baseado em suas experiências práticas. Helmholtz
fortaleceu o conhecimento teórico e tornou-se a referência nas áreas de acústica e psicoacústica a
partir dos seus estudos sobre sons combinatórios. Howard e Angus (2009) consideram que relação
musical entre sons resultantes e notas musicais depende do sistema de afinação em uso e este artigo
teve o objetivo de identificar as relações de afinação entre sons resultantes gerados a partir dos
intervalos produzidos entre a nota Lá4 e Lá3. As notas resultantes foram analisadas a partir dos
valores das frequências nos sistemas de afinação Igual, Pitagórica e Justa. O estudo foi realizado a
partir de uma metodologia quantitativa que investigou os valores das frequências tendo como
referência o modelo matemático de Roederer (2008) e das razões para Afinação Pitagórica e Justa
propostos por Gunther (2008). Resultados mostram que cada tabela de afinação apresenta intervalos
com valores que podem ser exatos com um sistema de afinação ou diferir em até meio tom em outro.
Palavras-chave: Percepção Musical, Sons resultantes, Sistemas de Afinação. Performance
Musical, Acústica .

Tunning relationships between combination tones and temperaments


Abstract: Combination tones have been identified by Sorge (1703-1778) and Tartini (1692- 1770)
based on their instrumental experiences. Helmholtz established the theoretical framework for further
studies up to today and Howard & Angus (2009) consider the musical relationship of combination
tones to notes played therefore depends on the tuning system in use. This article aimed to identify
the combination tones present in intervals within the octave based on Equal, Pythagoric and Just
temperaments. This study analyses combination tones frequencies based on Roederer mathematical
model. The tuning tables were based on ratios indicated by Gunther (2008). Results show that
combination notes can be exact in one temperament or differ up to a semitone in another
temperament.
Key-words: Music Perception, Tuning, Combination Tones, Music Performance, Acoustics.

Introdução
O resultado do fenômeno psicoacústico que ocorre quando duas frequências de alta
intensidade soam simultaneamente atraiu a atenção de músicos, físicos, matemáticos e
psicólogos. A presença de uma terceira frequência, de característica não direcional, instigou a
busca da compreensão deste fenômeno chamado sons resultantes na literatura em português.
Desde o séc. XVIII, compositores, intérpretes e construtores de instrumentos realizam
investigações na busca do enriquecimento do resultado musical decorrente da associação entre
sons geradores e sons resultantes. Estudos de Helmholtz(1895) demonstraram que o
processamento dos sons resultantes ocorre na cóclea, o que permite que seja considerado um
fenômeno psicoacústico e objeto de estudo da área de cognição musical.
A ideia de sons resultantes me interessou desde meus estudos na graduação, quando tive
aulas música de câmera com um violinista muito experiente que mencionou que era importante
afinar as cordas duplas no violino a partir da audição dos sons resultantes. Desde então uma
questão importante ficou: Como afinar as notas pelos sons resultantes? Após vinte cinco anos

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pensando sobre o tema, iniciei investigações que me levaram a questão principal para este
artigo: Qual a relação entre notas resultantes e os distintos sistemas de afinação? O objetivo
deste artigo foi identificar as frequências dos sons resultantes decorrentes dos intervalos
formados dentro de uma oitava e compará-los com as frequências das notas nos sistemas de
Afinação Igual, Afinação Pitagórica e Afinação Justa.
A identificação do fenômeno dos sons resultantes aparece inicialmente na literatura
musical em 1745, na obra Vorgemach der musicalischen Composition, do organista e
compositor alemão Georg Andreas Sorge (1703-1778). No entanto, o fenômeno dos sons
resultantes tornou-se conhecido a partir do Trattato di Musica, de 1754, do violinista e
compositor italiano Giuseppe Tartini (1692- 1770), que identificou a presença de“Il terzo
suono”, ou seja, um terceiro som presente na performance de determinados intervalos. A
aplicação dos sons resultantes na composição e performance de suas obras permitiu que o
fenômeno fosse também denominado como “sons de Tartini”. (Peterson, 1908)
A literatura teórica em língua inglesa apresenta uma terminologia específica para o
fenômeno dos sons resultantes, distintas da tradução utilizada na língua portuguesa. Trabalhos
de Helmholtz (1895), Peterson (1908), Roederer (2008) e Howard e Angus (2009) utilizam o
termo sons combinatórios (combination tones). Helmholtz (1895) propõe a divisão do
fenômeno em dois conceitos específicos: sons diferenciais (differential tones) para indicar os
sons resultantes mais graves, e sons somatórios (summational tones) para indicar sons
resultantes mais agudos.
No contexto da performance musical, o termo sons resultantes necessita ser especificado
para definir não apenas sons ou frequências, mas para identificar notas musicais específicas.
Neste caso, as notas identificadas precisam estar definidas dentro de um sistema de afinação,
pois observações de Roederer (2008), Howard e Angus (2009) e Hjetermann (2013) indicam
que as notas resultantes de determinados intervalos apresentam problemas de afinação quando
se utiliza o sistema de Afinação Igual.

Metodologia
O presente estudo utilizou uma metodologia quantitativa de análise dos dados a partir do
modelo matemático de Roederer (2008) e dos sons resultantes presentes em determinados
intervalos musicais indicados por Helmholtz (1895). Foram identificadas as frequências das
notas resultantes presentes nos intervalos de uma escala cromática entre Lá 3 – Sol# 4, tendo a
nota Lá 4 como nota aguda de referência para formação dos intervalos. Os resultados
permitiram a identificação das notas resultantes em cada intervalo e também indicaram as

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diferenças de frequência entre as notas resultantes e suas notas correspondentes em cada sistema
de afinação. Foram realizados três estudos com os valores das frequências das notas no Sistema
Igual, Sistema Pitagórico e Sistema Justo.
Roederer (2008) define que resultantes como:
sensações de altura que surgem quando dois sons puros de frequências f1 e f2 soando
conjuntamente, sendo percebidos com maior facilidade quando apresentados com
grande intensidade. Os sons resultantes não estão presentes no estímulo original e
surgem como resultado da distorção não-linear do sinal acústico dentro do ouvido.
(Roederer, 2008)

A relação entre intervalos e sons resultantes pode ser representada pela equação: fS =
f1 – f2, na qual f1 indica a frequência da nota aguda, enquanto f2 indica a frequência da nota
grave. A relação entre frequências e sons resultantes de Roederer (2008) está representada na
figura 1. Roederer (2008) também apresenta um exemplo musical com os intervalos: Lá3-Dó#4
(3aM), Lá3-Ré4 (4ªJ), Lá3-Ré# (4ª Aum) e Lá3-Mi4 (5ª J) no qual existe a indicação das notas
resultantes, com uma nota observando que as notas resultantes a serem ouvidas têm alturas
aproximadas. Além disso, Roederer explica que “alguns sons diferenciais são gerados
desafinados por causa do sistema de Afinação Igual do instrumento”. (Roederer, 2008, p.46)

Figura 1 – Representação gráfica das relações na formação de sons resultantes, retirado de Roederer (2008)

De acordo com Howard e Angus (2009) os sons resultantes são facilmente identificados
quando dois instrumentos iguais tocam notas agudas com intensidade forte, principalmente
quando o intervalo corresponde a notas consecutivas da série harmônica de um som gerador
comum. No entanto, os autores observam que o sistema igual não apresenta notas que tenham
frequências de acordo com a série harmônica e que “a relação musical entre sons resultantes e
notas musicais depende do sistema de afinação em uso.” (Howard e Angus, 2009, p. 259)
Para Hjetermann, os sons resultantes devem estar vinculados “a qualquer estrutura
derivada da série harmônica, e não devem estar vinculados a escalas ou sistemas de afinação”.

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(Hjetermann, 2013, p.) Ele afirma que o Sistema Igual não possui nenhum intervalo em comum
com a série harmônica e que alguns compositores preferem o uso de intervalos justos, pois os
sons resultantes podem reforçar a tonalidade de maneira ampla. Por outro lado, o sistema de
Afinação Igual cria sons resultantes que não apresentam relação com os intervalos geradores.
Portanto, o Sistema Igual pode oferecer problemas para a utilização de sons resultantes no
contexto musical enquanto os intervalos justos possibilitam o uso intencional dos sons
resultantes no contexto composicional com indicações para variação na afinação de notas
específicas.
A coleta de dados consistiu na identificação das frequências das notas resultantes
presentes nos intervalos dentro de uma oitava. A escolha de intervalos como elemento de
análise baseia-se no exemplo apresentado por Helmholtz (1895, p.156) para as notas resultantes
dos intervalos mais comuns no contexto diatônico (Figura 2). Os intervalos de 2ª m, 2ª M, 7ª m
e 7ª M não foram especificados por Helmholtz e neste caso, foram considerados os valores das
frequências das notas mais próximas em cada sistema de afinação.

Figura 2 – Tabela com as Razões e sons resultantes dos intervalos (Helmholtz, 1895)

Notas resultantes e sistemas de Afinação


A primeira análise foi realizada com os valores das frequências das notas no sistema de
Afinação Igual, pois a literatura indica que existem problemas de afinação sem especificá-los.
Neste caso, faz-se necessário identificar as diferenças nos valores das frequências das notas
resultantes em relação às notas equivalentes no sistema de Afinação Igual. (Figura 3)

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Figura 3 – Intervalos e notas resultantes de acordo com o sistema de Afinação Igual.

A partir da Figura 3, é possível observar que todas as notas resultantes apresentam


frequências diferentes das frequências das notas equivalentes no sistema de Afinação Igual.
Merecem atenção os desvios de afinação nos seguintes intervalos: 6ª Maior (7,56 Hz), 3ª Maior
(6,96 Hz), 3ª menor (-6,85 Hz), 7ª menor (-5,90 Hz), 6ª menor (-4,01 Hz) e 4ª Aumentada (-
3,90 Hz).
Em uma análise inicial as frequências da 3ª Maior e da 3ª menor ficaram muito distantes
das notas indicadas por Helmholtz, sendo que cada nota resultante ficou mais próxima de uma
nota com um semitom de diferença. A 3ª Maior no intervalo Lá 4 (884 Hz)- Fá 4 (701,63 Hz)
apresentou como nota resultante a frequência 182,37 Hz, que está mais próximo da nota Fá# 2
(185,84 Hz), com diferença de apenas -3,47 Hz. No caso do intervalo de 3ª menor, Lá 4 (884
Hz) - Fá# 4 (743,35 Hz), o som resultante 140,65 Hz fica apenas 1,43 Hz acima da nota Dó# 2
(139,22 Hz).
A partir dos dados apresentados, nos quais as notas resultantes de todos os intervalos
apresentam valores que diferem das frequências das notas do sistema igual, confirmam-se as
afirmações de Roederer, Howard & Angus (2009) e Hjetermann (2013) que indicam que as
notas resultantes apresentam frequências que criam batimentos dentro do sistema de Afinação
Igual. Torna-se importante destacar que as notas resultantes nos intervalos de 3as e 6as ficam
extremamente desafinadas.

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O Sistema de Afinação Pitagórico baseia-se nos princípios de afinação das quintas com
razão 3/2, sendo que todas as quintas e quartas justas são puras. Desta maneira, estão indicadas
as razões de afinação para as frequências das notas na Tabela 1, tendo a nota Lá como centro
tonal e de acordo com a descrição das razões indicadas por Gunther (2008, p. 376).

Afinação Pitagórica
Lá Sib Si Dó Dó# Ré Mib Mi Fá Fá# Sol Sol# Lá
256/24 32/2 81/6 729/51 128/8 27/1 243/12
1/1 9/8 4/3 3/2 16/9 2
3 7 4 2 1 6 8
-
2 27,63 29,10 31,08 32,74 34,96 36,83 39,33 41,44 43,65 46,62 49,11 52,44 55,25

- 110,5
1 55,25 58,21 62,16 65,48 69,93 73,67 78,67 82,88 87,31 93,23 98,22 104,89 0
110,5 124,3 130,9 139,8 147,3 165,7 186,4 196,4 221,0
1
0 116,41 1 6 5 3 157,33 5 174,62 7 4 209,78 0
221,0 248,6 261,9 279,7 294,6 331,5 372,9 392,8 442,0
2
0 232,82 3 3 0 7 314,67 0 349,23 4 9 419,55 0
442,0 497,2 523,8 559,4 589,3 663,0 745,8 785,7 884,0
3 465,65 629,33 698,47 839,11
0 5 5 1 3 0 8 8 0
Tabela 1 – Valores das frequências das notas no sistema de Afinação Pitagórica a partir do centro tonal Lá.

O Sistema Pitagórico foi analisado a partir valores das notas resultantes mais próximas
na Tabela 1 demonstrados na Figura 4.

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Figura 4 – Intervalos e notas resultantes de acordo com o sistema de Afinação Pitagórica.

A partir da figura 4 é possível observar que os intervalos: 5ªJ, 4ªJ e 2ªM apresentam as
notas resultantes com frequências iguais às frequências das notas correspondentes no sistema
Pitagórico. No entanto, as notas dos intervalos de 7ªm (-6,14 Hz), 6ªM (10,91 Hz), 6ªm (-6,91
Hz) e 4ªAum (6,04 Hz) apresentam notas resultantes com valores divergentes das frequências
no Sistema Pitagórico. Observa-se que o intervalo Lá 4- Fá 4 apresenta um som resultante com
diferença de apenas -0.94 Hz, mas esta frequência corresponde a nota Fá# 2 que está um
semitom acima da nota indicada por Helmoltz para o intervalo de 3ª M. Situação semelhante
ocorre no intervalo Lá 4- Fá# 4 que apresenta uma diferença de -1,73 Hz, a qual corresponde à
nota Dó# 2 que está um semitom abaixo da nota proposta por Helmoltz.
O sistema de Afinação Justa baseia-se na série harmônica de uma nota específica para
encontrar as razões que representam os intervalos puros, ou seja, sem batimentos. Desta
maneira, foi elaborada uma tabela (Tabela 2) para identificação das frequências de cada nota, a
partir do centro tonal Lá e de acordo com a descrição de Gunther (2008, p. 376).

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Afinação Justa
Lá Sib Si Dó Dó# Ré Mib Mi Fá Fá# Sol Sol# Lá
1/1 16/15 9/8 6/5 5/4 4/3 7/5 3/2 8/5 5/3 9/5 15/8 2/1
-1 55,25 58,93 62,16 66,30 69,06 73,67 77,35 82,88 88,40 92,08 99,45 103,59 110,50

1 110,50 117,87 124,31 132,60 138,13 147,33 154,70 165,75 176,80 184,17 198,90 207,19 221,00
2 221,00 235,73 248,63 265,20 276,25 294,67 309,40 331,50 353,60 368,33 397,80 414,38 442,00
3 442,00 471,47 497,25 530,40 552,50 589,33 618,80 663,00 707,20 736,67 795,60 828,75 884,00
Tabela 2 – Valores das frequências das notas no sistema de Afinação Justa a partir do centro tonal Lá.

O sistema de Afinação Justa apresenta dez intervalos nos quais as frequências das notas
resultantes correspondem exatamente às frequências das notas do sistema de afinação (Figura
5). Os únicos intervalos que apresentam valores distintos são a 7ª Maior (-1,84 Hz) e 7ª menor
(-11,05 Hz), no entanto estes intervalos apresentam pouco valor prático, pois apresentam notas
muito próximas à nota mais grave do intervalo gerador.

Figura 5 – Intervalos e notas resultantes de acordo com o sistema de Afinação Justa.

Observa-se que as notas resultantes nos intervalos 5ª J, 4ªJ, 3ªM e 2ªm reforçam uma
das notas do intervalo gerador. Em outros casos, a nota resultante completa a tríade maior (6ªM,
6ªm, 3ª m) ou a tríade diminuta (4ª Aum). O intervalo de 2ªM também deve ser observado, pois
mesmo apresentando a nota resultante com diferença de frequência igual a zero, a nota Fá 1 é

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uma nota diferente das notas no intervalo gerador, situação que cria uma nota dissonante de
difícil afinação.

Conclusão
As notas resultantes são um fenômeno psicoacústico que podem auxiliar na afinação de
determinados intervalos. Intervalos que apresentam notas resultantes que coincidam com as
notas do intervalo gerador permitem a identificação mais rápida e maior precisão no ajuste da
afinação durante a performance musical. Após a coleta de dados, foi possível observar que o
sistema de Afinação Igual demonstrou ser o modelo com maiores divergências entre sistema de
afinação e notas resultantes. Todos os intervalos apresentaram notas resultantes desafinadas em
relação ao intervalo principal.
O sistema de Afinação Justa demonstrou o maior grau de exatidão na relação entre notas
resultantes e sistemas de afinação, pois foi possível observar que as notas resultantes afinam
perfeitamente nos intervalos de 6ªM, 6ªm, 5ª J, 4ªJ, 3ªM, 2ª M e 2ªm. Neste caso, quando dois
instrumentos tocam um intervalo agudo e fazem os ajustes necessários, o som resultante irá
demonstrar que os intervalos nas vozes superiores estão afinados.
O sistema de Afinação Pitagórica apresenta um intervalo com nota resultante de valor
exato que oferece uma nova possibilidade de afinação. A 2ªM no intervalo Lá4-Sol4 apresenta
Sol 1 como nota resultante. Neste caso, a nota mais grave do intervalo é reforçada e oferece
melhor referência para a afinação do intervalo. A utilização da razão 16/9 para a 2ª Maior torna-
se uma opção para a afinação do intervalo que enriquece o contexto tonal em situações
específicas. Caberá ao músico escolher qual a razão, e consequentemente qual nota resultante
oferece melhor resultado musical para sua execução em cada contexto específico.
Este foi um estudo inicial que apresentou a aplicação da fórmula matemática na
identificação de notas resultantes. No entanto, é necessário um estudo mais aprofundado com
outros modelos incluindo resultantes de segunda e terceira ordem, bem como a identificação
dos sons resultantes realizados com diversos instrumentos. Desta maneira, será possível avaliar
possibilidades práticas para utilização deste conceito e atividades perceptivas para trabalho de
afinação coletiva, como conjuntos de câmara ou orquestra. O processo cognitivo de percepção
e identificação dos sons resultantes pode auxiliar tanto músicos quanto compositores no
desenvolvimento de procedimentos para enriquecimento da sonoridade de intervalos e acordes,
buscando “sensações de sons” específicas inspiradas pelas ideias e propostas de Helmholtz.

Referências

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Gunther, L. (2008). The Physics of Music and Color. New York: Springer.
Helmholtz, Hermann von (1895). On the Sensations of Tone as a Physiological Basis for the
Theory of Music, 3ª edição inglesa, traduzida por Alexander J. Ellis. London: Longmans,
Green, and Co.
Hjetermann, B. (2013). Combination Tones as Harmonic Material. Tese de Doutorado não
publicada. Northwestern University, Evanston.
Howard, D. , Angus, J. (2009). Acoustics and psychoacoustics (4th ed.). London: Focal Press,
p. 259 – 260.
Peterson, J. (1908). Combination Tones and Other Related Auditory Phenomena. Tese de
Doutorado não publicada. University of Chicago, Chicago.
Roederer, J. (2008). The Physics and Psychophysics of Music: An Introduction (4th Edition).
New York: Springer.

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