Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
* * *
* * *
É evidente que a atualidade está a exigir uma nova (ou renovada) concepção do
que seja Pedagogia.
Professores devem ampliar a definição de pedagogia, para expandi-la de uma
ênfase limitada e majoritária de técnicas e metodologias. Isto deveria habilitar
estudantes a entender a pedagogia como a configuração de prática textual,
verbal e visual que procura engajar o processo mediante o qual pessoas
compreendam a si próprias e os possíveis caminhos pelos quais possam engajar
outros e a comunidade. Pedagogia representa uma forma implicada de produção
cultural e criticamente atenta em como o poder e seus mecanismos são
empregados na construção e organização de conhecimentos, desejos, valores e
identidades. Neste sentido, a pedagogia não é reduzida a meramente promover
habilidades e técnicas. Mais apropriadamente, ela é definida como uma prática
cultural responsável ética e politicamente pelas estórias que produz, as
reivindicações que faz na memória social e as imagens de futuro que julga
legitimáveis. Como objeto de crítica e como método de produção cultural, a
pedagogia recusa-se a esconder-se atrás de reivindicações de objetividade, e
trabalha vigilantemente para delinear teoria e prática no interesse de expandir as
possibilidades para vivências democráticas. (GIROUX, 1996, p.52)1
1
Tradução: R. Gross
2
Tradução: R. Gross
3
Tradução: R. Gross
Elas devem ser capazes de se movimentar em diferentes culturas, bem como
apreciar e apropriar-se de códigos e vocábulos de diferentes tradições culturais
que lhes permitam expandir o conhecimento, habilidades e insights necessários
para definir e configurar, antes que simplesmente servir no mundo moderno.
(Ibid, p.246)4
4
Tradução : R. Gross
F – no que se refere aos conteúdos a serem estudados nas instituições escolares, estes
devem: - incorporar conteúdos críticos, como movimentos de renovação e mudança do
operariado, das mulheres, dos oprimidos em geral, relações entre drogas e capitalismo,
entre este e a ética, entre o consumismo e formação cultural, o resgate da cultura de
minorias marginalizadas, a ecologia, dentre outros conteúdos que induzam à auto-reflexão,
e sejam eliciadores da conscientização, da libertação, da maioridade;
G - que os educadores, se conscientizem, eles mesmos, através de reflexões inter-subjetivas
dos fenômenos de alienação e reificação presentes no cotidiano de salas de aulas e de
ambientes escolares; a diminuição da alienação dos educadores lhes permitirá distinguir
entre falsa consciência, ou a “consciência ingênua” e a conscientização emancipadora;
H – a avaliação, de conhecimentos e de atitudes deve ser efetuada sob a ótica da
descolonização racional, deixando de ser opressora, alienante, instrumental, positivista; que
a avaliação escolar, mediante ações potencialmente comunicativas e educativas, se
desvincule das ações instrumental e estratégica, e que permitam ao estudante, em sua
maturidade, ser alguém que atue autonomamente e que aja em prol da autonomia de outros;
I - as salas de aulas não devem representar “o horizonte perdido de mundos possíveis e o
texto delimitado da liberdade” (McLAREN, 1999, p.217), onde silenciosos e alinhados, os
alunos vêem a vida passar; mas que sejam elas próprias, salas vivas, abertas para o mundo,
para a novidade, para a curiosidade, para a diversidade, para o sonho e a utopia;
J – uma educação emancipadora será sempre uma busca processual formativa. Busca
porque sempre incompleta e nunca encontrada. Processual, por ser dialética entre a
objetivação formal da razão e a subjetivação não reificada do conhecimento. E formativa
por ser paidêutica. Estas três categorias envolvem uma inevitável forma nova de pensar em
todos os atores do ato educativo. Os pensadores modernos ancoravam-se na utopia da
transformação política do mundo pela via da razão. Por sua vez, na conteporaneidade, crê-
se que o mundo alcançará sua maioridade libertadora pela via da técnica e da tecnologia. A
Paideia Crítica aponta a inadequação de ambas as formas de pensar – há que se colocar a
razão e a técnica à serviço da humanização do ser humano, já que ambas contribuíram para
a sua alienação e desumanização. Um pensamento crítico dialético, que brote, não da
competição, mas da cooperação, não da exploração mas da comunhão entre os homens.
K – a priorização de procedimentos metodológicos que se utilizam da racionalidade
comunicativa e que despertem no educando as potencialidades e pleitos emancipatórios,
para atuarem como agentes ativos na sua história pessoal e na história propriamente. “O
que pode ser opressivo num ensino não é finalmente o saber ou a cultura que ele veicula,
são as formas discursivas através das quais ele é proposto”. (BARTHES, 2002, p.43)
Formas discursivas hegemônicas, tão de agrado de educadores autoritários, em nada
contribuem para construção da autonomia moral e racional. Antes, contribuem para a
perpetuação do caráter de classe da educação burguesa. Por isso, ao educador crítico “só
pode haver uma possibilidade: colocar seu trabalho educacional a serviço de uma luta
política que supere esta contradição.”(SCHMIED-KOWARZIK, 1983,p.108)
* * *
Referências
ADORNO, Theodor W.. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2002.
GIROUX, Henri. Border crossings: cultural workers and the politics of education. New
York: Routledge, 1993.
GROSS, Renato. Paidéia: as múltiplas faces da utopia em pedagogia. 2005. 171p. Tese
(Doutorado em Educação) Unicamp. Campinas, SP.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro:
Ed 34, 1994.