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3 BRASIL X ROMANCE CONTEMPORÂNEO: FACES DO INACABADO

O romance é algo cultural, perpassando épocas e realidades diversas, se fortalecendo com


suas diversas maneiras de refazer-se. O romance está ligado ao livro, mesmo com a chegada tão
forte da tecnologia, o contato com ele gera uma conivência maior, referentes a uma boa literatura.
Para que se possa entender a literatura na contemporaneidade, é necessário entender os anos
seguintes de ditadura militar, pois nele aconteceram transições políticas, culturais, avanços
tecnológicos, porém tudo isso não foi capaz de conter as desigualdades sociais que muito
aumentaram com o sistema capitalista vigente. A mídia muito influenciou esse período, pois trazia
para as pessoas informações rápidas. Vale salientar também o aumento do crescimento urbano,
interferiu diretamente no país, marcando a passagem de uma sociedade rural para urbana. Várias
outras mudanças também foram notáveis para o país. Tudo isso mostra o quão difícil foi essa
transição para a população brasileira, que bastante sofre com sua instável economia. Com toda essa
globalização, o Brasil vive uma “era digital” muito forte, onde cada vez mais, os ciberespaços
ganham força, onde com a quantidade de informações disponíveis todos os dias, é gerada uma
carência de atenção, isso tudo também atinge o romance, que sofre com o oscilante paralelo do
muito e pouco.

Para a cultura, as atuais décadas possibilitaram um aumento de faculdades de Letras e uma


disseminação de diferentes tipos de leituras para diferentes obras, sendo a internet um meio para
divulgação literária, fazendo com que o leitor possa está mais próximo da obra; com toda essa
modernização, vale lembrar que o clímax da criação de contos foi a década de 70, assim como o da
MPB e o desenvolvimento de tantas movimentos, o que fez com que o romance se tornar cada vez
mais algo plurificado. Toda a transição política que ocasionou tantas outras mudanças, interferiu
diretamente na literatura, que passou a usar cada vez mais elementos populares em suas obras,
aumentando a interligação entre a criatura e criador, e mostrando as duas faces da globalização; a
cidade torna-se palco dos romance contemporâneos .

O término da Guerra Fria foi um marco com significado histórico e geográfico, isso porque
foi depois dele passou-se a vivenciar um outro momento com transformações ideológicas e
politicas. No século XXI, mesmo com toda a evolução e desenvolvimento, sucedeu um aumento
das desigualdades sociais em todo o mundo, isso porque um número pequeno de pessoas, de
famílias, que tem o poder sobre a maior parte da renda mundial, só está preocupada com a
exploração, e com tudo que o sistema capitalista os oferecem, desconhecendo assim todo e qualquer
direito humano. Toda essa desorganização social, financeira influencia totalmente no romance
contemporâneo, que tanto explora essa dura realidade, retratada muitas vezes pela tendência da
“literatura marginal”.

Fisher (2006) relata que o romance brasileiro das últimas décadas traz um vínculo entre o
individual e o global, por meio da proximidade trazida pela tecnologia, mostrando vários elementos
que configuram esse feito. Ocorrendo depois desse período de redemocratização uma explosão da
literatura, lembrando de destacar Clarice Lispector, Guimarães Rosa, entre outros que nos anos 70
usaram o gênero como um meio de protestar e se engajar politicamente. Recentemente, o diálogo
entre o literário e o tecnológico, também possibilitou sua propagação. Para que se possa explorar o
romance brasileiro das últimas décadas precisa-se ter consciência que este vivenciou dois
momentos, onde o primeiro ele se posta frente a repressão e no segundo ele se aproxima da
democratização e da globalização, o livro Feliz ano novo de Rubem Fonseca marca bem esses
momentos.

O romance que se possibilita renovar, na atualidade, se fragmenta com outros gêneros


narrativos, possibilitando entre quem o faz e quem o ler um relacionamento tanto de prazer, quanto
de dor visto que esse retrata a atual conjuntura mundial; no Brasil ele não está mais conectado aos
movimentos estéticos e ideológicos e sim por uma imensa diversidade, sendo inumeráveis seus
temas e formas, conquistando seu lugar mais uma vez, através de diferentes visões.
4. FISIOGNOMIA DA CONTEMPORANEIDADE EM ELES ERA MUITOS CAVALOS,
DE LUIZ RUFFATO

A cidade tornou-se espaço para os grandes romances brasileiros, visto que essa era sinônimo
de modernidade, as pessoas saem de somente o físico para conjunto também de linguístico e virtual;
mas apesar dessa modernização aparecem também os efeitos, muitas vezes não tão positivos, de tal
feito. Em diversas obras brasileiras é possível notar uma associação entre o linguístico e o corporal,
que apesar de mostrar todos os avanços da vida moderna também questiona uma serie de
divergências existentes na época. Ruffato em sua obra Eles eram muito cavalos traz a sociedade
urbana como fonte do seu fazer literário, explicitando as inúmeras mudanças ocorridas nela através
do tempo, mostrando também a desordenada vida contemporânea.

São Paulo, que é visto como um importante núcleo econômico, move a economia devido a
sua força perante a indústria e comércio. Segundo Saskia Sassen (2006), a cidade passou de
metrópole para megacidade, que corresponde a áreas urbanas com uma maior quantidade de
habitantes do planeta, estas são as responsáveis por estabelecer a conjuntura econômica do planeta,
mas em contrapartida possui muita pobreza e marginalização, em meio ao desenvolvimento típico
de uma megacidade vem como consequência falta de assistência básica para toda a população; com
todo esse crescimento, a cidade é palco do multiculturalismo.

Em seu romance, o autor procura mostrar toda a desigualdade existente na megacidade, sua
narrativa tem características intensa e desordenada, explicitando a interpretação dos traços dessa
cidade. Para ele a modernidade leva ao consumismo, onde o foco está voltado para a mercadoria;
nessa sociedade consumista está inserido o narrador flânuer que está voltado para o fetiche, o blasé
faz o papel contrário, este não se deixa levar por todos esses “encantamentos” e por fim, o zappuer,
que varia em diversas imagens da cidade com um olhar instável; esse último serve de objeto para o
romance de Ruffato, possibilitando através desse tipo de narração mostrar diferente modos de ver a
obra em seus fragmentos.

Na obra, tem-se a cidade como algo vivo e variante, o foco está voltado para a própria
cidade, existe uma vinculação entre fotografia, literatura e cinema. Nela São Paulo é retratada como
uma cidade com diferentes níveis sociais, que muda a cada emoldura da narração, que muito está
voltada para a individualidade, típica do sistema capitalista, se perdendo de uma coletividade, ela
está entre mover-se e paralisar-se, que se exibe por diversas faces. Diferente dos espaços, nem todos
os personagens são nomeados, mostrando mais uma vez que o foco da narrativa está voltado para a
cidade.

No que refere à linguagem do romance, uma serie de características é posta, começando com
o título que traz algo enigmático que retratam diversos acontecimentos. Na obra, também
encontramos em alguns momentos textos que não são literários sobre inúmeros assuntos; religião e
política também são manifestadas no romance. Sua pontuação influencia para um entendimento do
tempo de um pensamento para outro, dando uma ideia de movimento. Percebe-se uma variedade
linguística, onde a linguagem também retrata o consumismo, uma crise de valores que essa
contemporaneidade trouxe, a literatura nessa obra se constrói e reconstrói a cada instante. Vale
lembrar também que esse é considerado um romance urbano, visto que procura nas irregularidades
da cidade sua própria constituição.

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