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Curso de Teologia Sistemática

Curso de Teologia Sistemática

Instrutora e Responsável pela Edição do Material Didático


Missionária e Capelã Cristiane Leite

Conteúdo Programático

Bibliologia Hamartiologia

Teologia Soteriologia

Cristologia Eclesiologia

Pneumatologia Angelologia

Antropologia Escatologia

Volume I - Bibliologia Página 2


Curso de Teologia Sistemática

Índice
1. Deus se Revelou ................................................................................................ 5
1.1. A Bíblia ensina que Deus se revelou ........................................................... 5
1.2. A Revelação de Deus .................................................................................. 5
1.3. Maneiras de Deus se revelar ....................................................................... 6
2. O Registro da Revelação: A Bíblia ...................................................................... 7
2.1. Que é a Bíblia? ............................................................................................ 7
2.2. Nomes da Bíblia .......................................................................................... 8
2.3. A Escrita da Bíblia e Sua Estrutura .............................................................. 8
O vocábulo “Bíblia” .............................................................................................. 8
A escrita da Bíblia ............................................................................................... 8
Materiais Empregados na Redação da Bíblia ...................................................... 8
Instrumentos para a Escrita ................................................................................10
As Formas dos Livros Antigos ............................................................................10
As Línguas da Bíblia ..........................................................................................11
3. A Constituição da Bíblia .....................................................................................13
3.1. Usando a Bíblia ..........................................................................................13
3.2. Como procurar um texto na Bíblia ..............................................................13
3.3. Os Livros da Bíblia......................................................................................14
Livros da Bíblia em Ordem Cronológica .............................................................24
4. O Cânon das Escrituras e os Livros Apócrifos ...................................................26
4.1. O Cânon: Antigo e Novo Testamento .........................................................26
O cânon do Antigo Testamento (A.T.) ................................................................26
O cânon do Novo Testamento (N.T.): .................................................................30
4.2. Livros Apócrifos ou Não Canônicos ............................................................33
Significado de Apócrifo .......................................................................................33
Os Livros Apócrifos do Antigo Testamento (A.T.) ...............................................33
Os Livros Apócrifos do Novo Testamento (N.T.).................................................36
5. O Período Interbíblico ........................................................................................38
6. A Veracidade da Bíblia. .....................................................................................40
6.1. Significado. .................................................................................................40
6.2. Provas. .......................................................................................................40
Estabelecida por considerações negativas. ........................................................40
Estabelecida por considerações positivas. .........................................................40
7. Inspiração ou Autoridade da Bíblia ....................................................................43
7.1. O Sentido da Inspiração .............................................................................43
7.2. O Elemento Humano na Inspiração ............................................................43

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7.3. A Inspiração Executada Milagrosamente ....................................................44


7.4. Métodos na Inspiração ...............................................................................44
7.5. A Extensão da Inspiração ...........................................................................45
7.6. Provas da Inspiração Verbal .......................................................................45
8. Principais Traduções da Bíblia...........................................................................48
Targuns .................................................................................................................48
Septuaginta............................................................................................................48
Vulgata Latina ........................................................................................................48
Peshita...................................................................................................................48
Os Manuscritos do Mar Morto e Qumran ...............................................................49
O Conteúdo Dos Manuscritos.............................................................................49
Sua Grande Importância ....................................................................................49
The King James Version ........................................................................................49
Tradução de Lutero................................................................................................50
Textos Massoréticos ..............................................................................................50
Versão de Antônio Pereira de Figueiredo ..............................................................51
Versão de João Ferreira de Almeida ......................................................................51
Outras Traduções em Português ...........................................................................52

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1. Deus se Revelou
1.1. A Bíblia ensina que Deus se revelou
“O homem foi feito à imagem de Deus e, portanto, sendo um ser intelectual, moral e
imortal, é a coisa mais natural esperar que o Criador sustente relações pessoais com
aqueles que criou à sua própria imagem. Também é de se esperar que Deus mantenha
comunicação pessoal com os homens” (G. H. Lacy). Na Palavra lemos:
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de
muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos
nestes últimos dias pelo Filho”. Hebreus 1.1
Este versículo nos ensina três verdades a respeito da revelação:
1) Deus desenvolveu um processo de revelação de si mesmo ao longo da história;
2) Que Deus se valeu de diferentes modos para se revelar;
3) Que Deus completou, culminou sua revelação na pessoa de Jesus Cristo, seu
Filho eterno. Assim sendo, para conhecermos Deus precisamos crer que ele
existe, crer que Jesus é o seu Filho, e que ele veio como revelação final de Deus.
Além disso, é preciso crer que a Bíblia é o registro dessa revelação que durou
vários séculos.
É claro que existe o conhecimento interior de Deus, porque desde que o Espírito
Santo passa a habitar na pessoa que crê em Jesus como Filho de Deus, se arrepende e
o confessa como Senhor e Salvador, a convivência com o próprio Deus se torna real e
consciente. Mas isso é resultado da fé na revelação exterior, na revelação que foi
registrada nas Escrituras Sagradas. O apóstolo Paulo diz que “a fé vem pelo ouvir e o
ouvir pela Palavra de Deus” (Rm 10.17). Primeiro, o homem toma conhecimento das
informações a respeito de Deus, que ele mesmo transmitiu aos homens santos que
escolheu para sua revelação (2 Pedro 1.21) 1 e, finalmente, ao ser regenerado mediante
a fé em Jesus, passa a conhecer Deus por experiência interior. João diz que “quem crê
no Filho de Deus em si mesmo tem o testemunho” (I Jo 5.10a)

1.2. A Revelação de Deus


Toda a nossa fé, tanto sob o aspecto de convicção individual no evangelho, como
sob o aspecto de sistema de doutrinas em que cremos, origina-se da certeza que temos
de que Deus se revelou ao homem, e de que a Bíblia é o fiel registro de sua revelação.
1. Que é a revelação? “Etimologicamente, revelação é toda e qualquer manifestação do
que está oculto. Em sentido religioso, revelação é a manifestação do oculto feita por
um poder superior, concretamente Deus. A revelação implica alguém que se
manifesta e alguém que recebe a manifestação da verdade manifestada” (Brugger,
Dicionário de Filosofia).
Na revelação bíblica, a pessoa que se manifesta, estando oculta, é Deus; e as
pessoas que receberam sua manifestação foram, no Antigo Testamento, os profetas, e
no Novo Testamento, os discípulos de Jesus, marcadamente os apóstolos. Todos, tanto
os do Antigo Testamento, como os do Novo, no dizer do apóstolo Pedro, eram homens
santos, escolhidos por Deus (2 Pe 1.21). Quanto à verdade revelada, é o acúmulo de
tudo quanto ficou registrado nas Escrituras a respeito de Deus e de sua atuação para
cumprimento de seus desígnios. A pessoa que se destaca, no Novo Testamento, como a

1
“Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”. 2 Pedro
1:21

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pessoa que tem a primazia na revelação, é Jesus Cristo, que é o próprio Deus que se fez
carne. Ele é chamado de “Emanuel” que significa “Deus conosco” (Is 7.14; Mt 1.23)2, e no
dizer do apóstolo Paulo, é a “imagem do Deus invisível” (Cl 1.15)3.
A revelação cristã é a revelação que Deus fez por meio do Filho, Jesus Cristo, e pela
inspiração do Espírito Santo, por intermédio dos seus discípulos, os quais primeiro
transmitiram oralmente o que tinham visto e ouvido, para edificação das igrejas que iam
se formando e, depois, passaram a escrever para orientação das igrejas. O apóstolo
João destaca este assunto, ao escrever: “O que era desde o princípio, o que ouvimos,
o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos
tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e
testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi
manifestada); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também
tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho
Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra. (1
João 1:1-4).

1.3. Maneiras de Deus se revelar


O autor da carta aos Hebreus referiu-se ao fato de Deus haver se manifestado
“muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas”. Podemos mencionar
algumas dessas maneiras registradas na Bíblia:
1) Aparecendo e falando pessoalmente - Deus fala com Adão e Eva diariamente,
no Éden (Gn 2.15 a 4.15); Deus fechou a porta da arca (Gn 7.16); visitou Abraão
e a Ló, seu sobrinho, e operou em presença deles atos normais de homens,
como alimentar-se e conversar (Gn 18 e 19); lutou em forma de homem com Jacó
(Gn 32.24); fez passar diante de Moisés sua bondade, aparecendo-lhe em forma
humana pelas costas, porque se Moisés visse seu rosto morreria (Ex. 33.18-23)
2) Por meio de visões - como, por exemplo, quando se revelou a Moisés em Midiã,
na sarça ardente, e o mandou ao Egito para libertar seu povo (Ex 3); quando
comissionou a Isaías para pregar ao povo de Israel (Is 6); mas os casos do
profeta Ezequiel, do rei Nabucodonosor e do apóstolo João na ilha de Patmos.
3) Falando por meio de sonhos – Ou falando por voz audível, como foi o caso da
chamada de Samuel (1Sm 3)
4) Por meio da pessoa de Jesus Cristo – Usando os profetas como instrumentos
de sua revelação, Deus foi-se revelando, através da história do povo hebreu, até
que, na plenitude dos tempos (Gl 4.4), revelou-se na pessoa do próprio Filho
Unigênito, cuja vida, milagres e ensinamentos foram registrados pelos discípulos
e transmitidos aos que se iam se convertendo e formando igrejas por todo o
mundo.

2
“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
“(Isaías 7:14); “Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco.”
(Mateus 1:23)
3
“O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”; (Colossenses 1:15)

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2. O Registro da Revelação: A Bíblia


A Bíblia é a Palavra de Deus porque é o registro de sua manifestação ou revelação
ao homem. Esse registro, no seu todo, é a Palavra de Deus como revelação de sua
existência, de sua natureza, de seu caráter, de seus propósitos, de seus planos, de seus
métodos de atuação e natureza de seu relacionamento com os homens.
A Bíblia é a única regra de fé e comportamento merecedora de nossa total confiança
e obediência por ser a Palavra de Deus. Por esta razão, só aceitamos a Bíblia como
autoridade para firmar tudo o que cremos.

2.1. Que é a Bíblia?


A Bíblia é um livro singular, inspirado por Deus. Escribas, Sacerdotes, Reis, Profetas
e Poetas, homens das mais diversas culturas a escreveram, num período aproximado de
1.500 anos. Foram mais de 40 pessoas a escreverem as páginas da Bíblia e
notadamente vê-se a mão de Deus na sua unidade. Estes textos foram copiados e
recopilados de geração para geração em diversos idiomas, tais como: Hebraico,
Aramaico e grego; até chegar a nós. A Bíblia em sua forma original é desprovida das
divisões de capítulos e versículos. Para facilitar sua leitura e localização de "citações” a
divisão da Bíblia em capítulos foi feita em 1250, pelo cardeal Hugo de Saint Cher, abade
dominicano e estudioso das escrituras. Apenas mais tarde foi dividido em versículos. Em
1445 o A.T. foi dividido em versículos pelo Rabino Nathan. O N.T. foi em 1551 por Robert
Stevens, um impressor de Paris. Até a invenção da gráfica por Gutenberg, a Bíblia era
um livro extremamente raro e caro, pois eram todos feitos artesanalmente (manuscritos)
e poucos tinham acesso às Escrituras.
A Bíblia é composta de 66 livros, 1.189 capítulos, 31.173 versículos, mais de 773.000
palavras e aproximadamente 3.600.000 letras. Encontra-se traduzida em mais de 1000
línguas e dialetos, o equivalente a 50% das línguas faladas no mundo. Há uma estimativa
que já foi comercializado no planeta milhões de exemplares entre a versão integral e o
NT. Mais de 500 milhões de livros isolados já foram comercializados. Afirmam ainda que
a cada minuto 50 Bíblias são vendidas, perfazendo um total diário de aproximadamente
72 mil exemplares!
O estudo da Bibliologia auxilia grandemente a compreensão dos fatos bíblicos. Ela
nos mostra, por exemplo, como a Bíblia chegou até nós. Pela Bíblia Deus fala em
linguagem humana, para que o homem possa entendê-lo. Por isso ela faz alusão a tudo
que é terreno e humano. Ela menciona países, rios, mares, plantas, comércio, dinheiro,
produtos, costumes, raças, usos, línguas, etc. O autor da Bíblia é Deus, mas os
escritores foram homens. Na linguagem figurada de diversas partes da Bíblia o próprio
Deus age e é descrito como homem. É comum, por exemplo, encontrarmos na Bíblia
antropopatismos (Ato de atribuir sentimentos humanos a Deus. Ex.: A ira de Deus, Deus
arrependeu-se, etc.) e antropomorfismos (Ato de atribuir formas humanas a Deus. Ex: Os
olhos de Deus, a mão do Senhor, etc.). A Bíblia chega a esse ponto para que o homem
melhor compreenda o que Deus quer lhe dizer.
A Bibliologia estuda a Bíblia sob os seguintes aspectos:
 Sua estrutura, considerando sua divisão, classificação dos livros, capítulos,
versículos, particularidades e tema central.
 A Bíblia como livro divino.
 O Cânon sagrado: sua formação e transmissão até nós.
 A preservação e tradução do texto bíblico. Isso aborda as línguas originais e
os manuscritos bíblicos.

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 Inclui também elementos de história geral da Bíblia, inclusive o período


interbíblico, e auxílios externos no estudo da Bíblia: geografia bíblica, usos e
costumes orientais, sistemas de medida, peso e moeda, história das nações
antigas, estudo dos personagens e dificuldades bíblicas.

2.2. Nomes da Bíblia

2.3. A Escrita da Bíblia e Sua Estrutura


O vocábulo “Bíblia”
O vocábulo “Bíblia” vem do grego, língua original do Novo testamento. Deriva do
vocábulo grego “Biblos”. Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado “Biblion”, e
vários destes eram uma “Bíblia”. Portanto, literalmente, a palavra Bíblia quer dizer
“coleção de livros pequenos”.

A escrita da Bíblia
A Bíblia foi originalmente escrita em forma de rolo, sendo cada livro um rolo. Assim,
vimos que os livros sagrados não estavam unidos como os temos hoje. Isso só foi
possível com a invenção do papel no século II pelos chineses, bem como a invenção do
prelo (prensa) em 1450 pelo alemão Gutenberg. Os livros antigos tinham forma de rolo
(Jr 36.2)4. Eram feitos de papiro ou pergaminho. Ainda hoje, devido aos ritos tradicionais,
os rolos sagrados das escrituras hebraicas continuam em uso nas sinagogas judaicas.

Materiais Empregados na Redação da Bíblia

Papiro
O papiro é uma planta aquática que cresce junto a rios, lagos e banhados no oriente,
cuja entrecasca servia para escrever. Essa planta ainda existe no Sudão, na Galiléia
superior e no vale de Sharom. Seu uso na escrita vem de 3.000 a.C. A impossibilidade de
recuperar muitos dos antigos manuscritos (um manuscrito é, neste sentido, uma cópia à
mão das Escrituras) se deve basicamente aos materiais perecíveis empregados na
escrita da Bíblia. Dentre os antigos materiais de escrita, o mais comum era o papiro, feito
da planta do mesmo nome. Esse junco crescia nos rios e lagos de pouca profundidade,
existentes no Egito e na Síria. Grandes carregamentos de papiros eram despachados
através do porto sírio de Byblos. Supõe-se que a palavra grega para livro (biblos) tenha
origem no nome desse porto. A palavra portuguesa "papel" vem da palavra grega
papyros, isto é, papiro. The Cambridge History of the Bible (A História da Bíblia, de

4
“Toma o rolo de um livro, e escreve nele todas as palavras que te tenho falado de Israel, e de Judá, e de todas as nações, desde o
dia em que eu te falei, desde os dias de Josias até ao dia de hoje.” Jeremias 36:2

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Cambridge) relata como se preparava o papiro para a escrita: “Retiravam-se as películas


que envolvem o caule. Essas películas eram cortadas no sentido longitudinal em fitas
estreitas, sendo então socadas e prensadas em várias camadas, sendo que cada
camada era disposta perpendicularmente em relação à camada de baixo. Quando seca,
a superfície esbranquiçada era polida com uma pedra ou outro objeto. Plínio menciona
diversos tipos de papiro que foram achados, de diferentes espessuras e superfícies,
produzidos antes do período do Novo Império, quando as folhas eram frequentemente
bem delgadas e translúcidas". O mais antigo fragmento de papiro de que se tem notícia é
de 2400 antes de Cristo. Os mais antigos manuscritos foram escritos em papiro, e era
difícil a preservação de qualquer um desses papiros, exceto em regiões secas, como as
áreas desérticas do Egito, ou em cavernas semelhantes às de Qumran, onde foram
achados os rolos do mar Morto. O uso do papiro era bem comum até por volta do século
terceiro depois de Cristo.

Pergaminho
O pergaminho é de pele de animais geralmente cabra ou carneiro e seu uso é mais
recente; vem dos primórdios da era cristã. É um material gráfico superior ao papiro. Essa
palavra designa "peles preparadas de ovelhas, cabras, antílopes e outros animais".
Essas peles eram "tosadas e raspadas" a fim de se obter um material mais durável para
a escrita. F.F. Bruce escreve que a palavra "pergaminho” tem origem no nome da cidade
de Pérgamo, na Ária Menor, pois a produção desse material para escrita esteve, numa
certa época, especialmente associada ao local".

Velino
Era o nome dado à pele de filhotes de diversos animais. Frequentemente o velino era
atingido de púrpura. Alguns dos manuscritos que temos hoje em dia são velino cor-de-
púrpura. Geralmente os caracteres escritos sobre o velino purpúreo eram prateados ou
dourados. Os mais antigos rolos de peles de animais são de aproximadamente 1500
antes de Cristo.

Outros Materiais para Escrita


Ôstraco - Fragmento de cerâmica não esmaltada, bastante usado entre o povo em
geral. Esses fragmentos têm sido encontrados em abundância no Egito e na Palestina
(Jó 2.8).
Tabletes de argila - Inscritos com um instrumento pontiagudo e, então, secados a
fim de se ter um registro definitivo (Jeremias 17.13; Ezequiel 4.1). Eram os mais baratos
e um dos mais duráveis materiais para escrita.
Tabletes de cera - Um estilete de metal era usado para escrever num pedaço plano
de madeira recoberto com cera.

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Instrumentos para a Escrita


Cinzel - Um instrumento de ferro para entalhar as pedras.
Estilete de Metal - "Usava-se o estilete, um instrumento triangular com uma cabeça
plana, para fazer marcas nos tabletes de argila e de cera".
Pena - Era feita de "juncos (juncus maritimis), com 15 a 40 centímetros de
comprimento, sendo que uma das extremidades era cortada de modo a produzir o
formato de cinzel achatado, a fim de que se pudessem fazer traços grossos ou finos com
as beiradas largas ou estreitas. A pena de junco esteve em uso na Mesopotâmia desde o
início do primeiro milênio (a.C), sendo que é bem possível que tenha sido adotada em
outros lugares, enquanto que a ideia de uma pena de ave parece ter vindo dos gregos,
no século três a.C. (Jeremias 8.8). A pena era usada para escrever em velino,
pergaminho e papiro. A tinta geralmente era uma mistura de "carvão, cola e água".

As Formas dos Livros Antigos

Rolos
Eram folhas de papiro coladas uma ao lado da outra,
formando longas tiras, e, então, enroladas num bastão. O
tamanho do rolo era limitado por causa da dificuldade de
seu uso. Geralmente se escrevia só de um lado. Um rolo
escrito dos dois lados tem o nome de "opistógrafo"
(Apocalipse 5.1). Conhecem-se alguns rolos com 43 metros
de comprimento, mas em geral, os rolos tinham entre seis e
dez metros. Não é de surpreender que a pessoa cuja função consistia em catalogar os
livros da biblioteca de Alexandria, tenha dito que "um livro grande é um grande
transtorno".

Forma de códice ou livro


A fim de tornar a leitura mais fácil e menos desajeitada,
as folhas de papiro foram montadas em forma de livro, sendo
escritas em ambos os lados. Greenlee afirma que o
cristianismo foi o principal motivo para o desenvolvimento de
formato do códice, ou volume manuscrito antigo. Os
escritores clássicos escreveram em rolos de papiro até
aproximadamente o século três depois de Cristo.
Tipos de Escrita

Escrita uncial
Constituía-se de letras grandes, arredondadas que,
mesmo conservando a forma das maiúsculas, já
prenunciavam as minúsculas carolinas. É por
excelência a grafia dos codex adaptada à pena. Com o
advento da imprensa, desapareceu definitivamente do
uso corrente.
Os manuscritos unciais (escritos em koiné
maiúsculo) destacam-se em relação aos manuscritos
na escrita cursiva (escritos em minúsculas) devido principalmente ao fato de serem mais
antigos e portanto mais próximos dos originais “autógrafos”. Suas letras eram bem juntas
umas das outras a fim de economizar espaço no pergaminho. Há pelo menos 170
porções de unciais no Novo Testamento, sendo 44 delas escritas em folhas de
pergaminho e não em rolos de papiro.

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Minúscula Carolina
"Uma escrita de letras menores, cursivas,
criadas com vistas à produção de livros". A
mudança de unciais para minúsculas teve início
no século nove. Os manuscritos gregos eram
escritos sem quaisquer espaços entre as
palavras. (Até 900 AD. o hebraico era escrito
sem vogais, quando os massoretas5
introduziram a vocalização.) Bruce Metzger
responde o seguinte àqueles que falam da
dificuldade de um texto contínuo: "Não se deve,
todavia, pensar que essas ambiguidades ocorram com muita frequência no grego. Nessa
língua a regra é que, com bem poucas exceções, as palavras vernáculas só podem
terminar em vogai (ou em ditongo) ou em uma dentre três consoantes: n, r e s (ni, rô e
sigma) Além do mais, não se supõe que a escrita contínua apresentasse dificuldades
excepcionais na hora da leitura, pois, na antiguidade, aparentemente era costume ler em
voz alta, mesmo quando se estivesse sozinho. Assim, apesar da inexistência de espaço
entre as palavras, ao pronunciar, sílaba por sílaba, o que estava lendo, a pessoa logo se
acostumava a ler o texto em escrita contínua".

As Línguas da Bíblia
O estudo das diversas línguas é interessante e de muito proveito. As línguas estão
sempre se modificando e mudando com o desenvolvimento dos povos e inter-
relacionando as nações. Originalmente a Bíblia fora escrita em três línguas, a saber:
hebraica, aramaica e grega. Esta era a língua do Novo testamento. Alguns comentadores
dizem que provavelmente Abraão deixou de usar a velha língua semítica — A caldaica—
a qual era a da sua própria terra (Gn 12.1-5), quando saiu de Ur, e adotou a língua dos
cananeus, em cujo meio foi morar. A sua descendência — os hebreus — mais tarde,
durante o cativeiro em Babilônia, deixou de falar a língua hebraica e adotou a caldaico -
aramaica, a qual continuou a ser falada até os tempos de Jesus Cristo. Esta língua
cananéia, que Abraão usou, era, provavelmente, a mesma ou alguma forma dela, que foi
conhecida mais tarde como hebraica. Parece que a língua hebraica foi chamada “a língua
de Canaã” (Is 19.18)6. Algumas das tabuinhas de Tel-el-Amarna, descobertas em 1887
no Egito, assim chamadas pelo nome do lugar em que foram achadas, com data de 400
anos mais ou menos depois de Abraão, são escritas em boa língua cananéia ou língua
hebraica.

5
escribas judeus que se dedicaram a preservar e cuidar das escrituras que atualmente constituem o Antigo Testamento.
6
Naquele tempo haverá cinco cidades na terra do Egito que falarão a língua de Canaã e farão juramento ao Senhor dos Exércitos; e
uma se chamará: Cidade de destruição. (Isaías 19:18)

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A Língua do Velho Testamento


Com poucas exceções, o Velho Testamento foi escrito na língua hebraica. Esta era a
língua do povo de Israel e é chamada “a língua judaica” (II Reis 18.26). Esta língua
continuou a ser falada e escrita pelos hebreus até o cativeiro, quando adotaram a
aramaica ou siríaca, a qual é um dialeto da hebraica. Devido a esta mudança de língua,
os versados na língua hebraica podem descobrir três períodos em que se divide a história
do desenvolvimento dela. Cada período é distinguido pelo seu estilo e idioma. O período
em que foi escrito o Pentateuco, é o da língua hebraica falada no tempo de Moisés. O
período em que a língua alcançou o ponto do seu maior desenvolvimento em pureza e
refinamento. Neste foram escritos os livros de Juízes, Samuel, Reis, Crônicas, Salmos dê
Davi, Provérbios e os demais livros de Salomão e as profecias de Isaías, Oséias, Joel,
Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum e Habacuque. O período em que foram escritos
os demais livros de profecias, assim como os de Ester, Esdras e Neemias. Durante esta
época, palavras, frases e idiotismos de línguas estrangeiras tinham sido incorporados à
hebraica da segunda época, em consequência da comunicação dos judeus com as
nações vizinhas. As passagens do Velho Testamento que não são escritas em hebraico
são as seguintes: Esdras 4.8 a 6.18 e 7.12-26, Jeremias 10.11 e Daniel 2.4 a 7.28. Estas
são escritas no dialeto caldaico. Este fenômeno se explica pela residência de Daniel e
Esdras na Babilônia e as suas relações com os governadores desses países.

A Língua do Novo Testamento


Os livros do Novo Testamento foram escritos originalmente na língua grega,
conhecida como helênica, porque os gregos eram chamados helenos ou o povo de
Helas. Depois da grande conquista de Alexandre Magno, rei da Macedônia, filho de Filipe
e de Olímpia, a língua grega, numa forma helênica, espalhou-se em toda parte do Egito e
do Oriente, e tornou-se a língua vernácula dos hebreus que residiam nas colônias de
Alexandria e outras partes.

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3. A Constituição da Bíblia
A Bíblia se divide em duas coleções de livros, uma de 39 livros chamada de Velho ou
Antigo Testamento, e outra, com 27 livros chamada Novo Testamento.
A Bíblia Sagrada foi dividida em capítulos pelo inglês Stephen Langhton, teólogo,
Bispo de Canterbury - Inglaterra, e professor da Universidade de Paris - França, entre
1234 e 1242.
A divisão do Antigo Testamento hebraico, em versículos foi concluída entre os
séculos IX e X pelos "massoretas", estudiosos judeus das Escrituras Sagradas. Com
hábitos monásticos e ascéticos, os massoretas dedicavam suas vidas à recitação e cópia
das Escrituras, bem como à formulação da gramática hebraica e técnicas didáticas de
ensino do texto bíblico. Influenciado pelo trabalho dos massoretas no Antigo Testamento,
um impressor francês, que morava em Gênova, Itália, chamado Robert d’Etiénne,
concluiu a divisão do Novo Testamento em versículos no ano de 1551.
A primeira Bíblia a ser publicada incluindo integralmente a divisão de capítulos e
versículos foi a Bíblia de Genebra, lançada em 1560, na Suiça. Os primeiros editores da
Bíblia de Genebra optaram pela sua divisão em capítulos e versículos, porque chegaram
a um consenso de que isso seria muito útil para a memorização, a localização, e a
comparação de assuntos bíblicos.

3.1. Usando a Bíblia


Capítulos e Versículos: Cada livro está subdividido em capítulos e versículos.
Abreviaturas: Numa referência bíblica, os livros encontram-se frequentemente em
forma abreviada.
Aqui estão alguns exemplos:
Mt.=Mateus; Mc.=Marcos; Lc.=Lucas; Gn.=Génesis; Sl.=Salmos;
Is.=Isaías; etc.
Quase todas as Bíblias têm à frente uma lista dos livros com as respectivas
abreviaturas.

3.2. Como procurar um texto na Bíblia


1. O ponto ou Dois pontos separa capítulo de versículo.
Exemplo: Mateus Capítulo 5. Versículo 13 = Mt 5. 13 ou Mt 5:13
2. O ponto e vírgula separa capítulo e livros.
Exemplo: Gn 5. 1-7; 6. 8; Ex 2. 3 que se lê: Livro do Gênesis, Capítulo 5, Versículos
de 1 a 7. Capítulo 6, Versículo 8. Livro do Êxodo, Capítulo 2, Versículo 3.
3. A vírgula separa versículos de versículos, quando não seguidos.
Exemplo: Mc 3. 2,5,7-9 que se lê: Livro de Marcos, Capítulo 3, Versículo 2. Versículo
5 e Versículos de 7 a 9.
4. O hífen indica sequência de capítulos ou de versículos.
Exemplo: Jo 3-5; 2Tm 2.1-6 que se lê: Evangelho de João, Capítulos de 3 a 5.
Segunda Carta de Timóteo, Capítulo 2, Versículos de 1 a 6.
Exercite você agora, procurando na Bíblia:
Lc 10. 2
Jo 13. 34-35

Volume I - Bibliologia Página 13


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Mc 10, 14
Mt 5. 13-17
Jo 1:2,2:4;Dt 28:2,15
Livros Duplos: Em alguns casos há dois livros com o mesmo nome. Estes são
distinguidos pelo número “1"ou “2" antes do nome do livro, como 2 Coríntios, II Coríntios
ou Segundo Coríntios.
Referências Cruzadas: As letras ou números pequeninos que aparecem no texto
dum versículo referem-se às notas (às vezes estas se encontram numa coluna no centro,
às vezes no fim da página ou numa margem). Nestas notas você encontrará mais
informações ou referências que tratam do mesmo assunto.
A Concordância: Uma concordância é uma lista em ordem alfabética das palavras
chaves da Bíblia e as referências onde estas se encontram. Ela ajuda a localizar uma
certa palavra ou a seguir um tema através da Bíblia.

3.3. Os Livros da Bíblia


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Capítulos

ANTIGO TESTAMENTO

PENTATEUCO
Os cinco primeiros livros da Bíblia são chamados de Pentateuco. Para os judeus, esses livros são
chamados de Torá. Neles encontramos desde a criação do mundo até a Lei de Deus dada por Moisés ao
povo de Israel. Todos os livros foram escritos por Moisés com datas que variam de 1445 a 1405 a.C.

Gênesis 50 Moisés O livro das origens. A origem do universo, do gênero


humano, etc. Em grande parte é um registro
histórico das origens do povo escolhido.

Êxodo 40 Moisés O cativeiro, a libertação, e as origens da história de


Israel em seu caminho a Canaã, sob a liderança de
Moisés.

Levítico 27 Moisés O livro de leis acerca de moralidade, limpeza,


alimento, etc. Ensina o acesso a Deus através de
sacrifícios.

Números 36 Moisés O livro das peregrinações de Israel, o vaguear de 40


anos pelo deserto.

Deuteronômio 34 Moisés É uma repetição das leis dadas pouco antes da


entrada de Israel em Canaã.

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Capítulos

HISTÓRICOS
Os livros históricos narram a história do povo de Israel na conquista da palestina, a terra prometida.
Histórias de grandes Reis como Davi e Salomão, as guerras entre o povo israelita e os povos inimigos
de Deus, entre outros.
O estudo desses livros é importante para termos uma melhor compreensão não só sobre os conflitos
atuais entre Israel e Palestinos, bem como quem é Israel e o que ele representa para as demais nações do
mundo.

Josué 24 Indeterminado, É um registro da conquista de Canaã sob a


provavelmente liderança de Josué e da divisão da terra entre as
Josué doze tribos.

Juízes 21 Desconhecido; a É a história das seis servidões de Israel e das várias


tradição atribui o libertações da terra através dos quinze juízes.
livro a Samuel

Rute 4 Desconhecido, É a bela história de Rute, uma ascendente de Davi e


possivelmente de Jesus Cristo.
Samuel

1,2 Samuel 31 e 24 Desconhecido É a história de Samuel, com as origens e os


primeiros anos da monarquia em Israel sob os
reinados de Saul e Davi.

1,2 Reis 22 e 25 Desconhecido. É a história das origens do reino de Israel e mais


tarde do reino dividido. Aparecem as personalidades
heróicas de Eliseu e Elias.

1,2 Crônicas 29 e 36 Indeterminado. 1 e 2 Crônicas são um só livro no texto hebraico. Em


Crê-se que grande parte é um registro dos reinados de Davi,
tenha sido Salomão, e dos reis de Judá até à época do
revisado por cativeiro.
Esdras

Esdras 10 Desconhecido. Geralmente se crê que Esdras, embora não tenha


sido o autor de todo o livro, tenha sido o compilador
das partes que não escreveu. Esdras, de
descendência sacerdotal, foi um judeu exilado em
Babilônia. É um registro do regresso dos judeus do
cativeiro e da reconstrução do templo.

Neemias 13 Indeterminado. É um relato da reconstrução dos muros de


Muitos eruditos Jerusalém e do restabelecimento das ordenanças
consideram sagradas
grande parte do
livro como uma
autobiografia de
Neemias

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Capítulos

Éster 10 Desconhecido É a história da libertação dos judeus pela rainha


Éster do complô de Hamã, e do estabelecimento da
festa de Purim.

POÉTICOS
O termo poético é devido ao gênero desses livros. São compostos por Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes e Cantares de Salomão.
O livro de Jó traz um grande exemplo de paciência e esperança em Deus. Salmos é repleto de louvores
que expressam a grandeza e a misericórdia de Deus. Provérbios e Eclesiastes são livros que contém
ensinamentos e conselhos para nossa vida.

Jó 42 Desconhecido O problema do sofrimento, mostrando a maldade de


satanás, a paciência de Jó, a vaidade da filosofia
humana, a necessidade da sabedoria divina, e a
libertação final do sofrimento.

Salmos 150 A maioria (73) é É uma coleção de cento e cinquenta cânticos


atribuído a Davi. espirituais, poemas, e orações usadas através dos
séculos pelos judeus e pela igreja para adoração e
devoção.

Provérbios 31 Acredita-se É uma coleção de máximas e dissertações sobre a


geralmente que sabedoria, temperança, justiça, etc.
Salomão
escreveu um
grande número
dos provérbios,
ainda que talvez
estes possam
ao ter sido
originalmente
seus

Eclesiastes 12 Indeterminado, São reflexões sobre a frivolidade da vida e nossos


ainda que deveres e obrigações perante Deus.
comumente se
aceite que tenha
sido Salomão.

O Cântico dos 8 Salomão, de É um poema religioso que simboliza o amor mútuo


Cânticos acordo com a entre Cristo e a igreja.
tradição

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Capítulos

PROFÉTICOS
Há uma divisão dos livros proféticos em profetas maiores e profetas menores. Esta divisão é feita com
base no tamanho da obra e não na relevância ou importância deles. Também não é levando em conta a
importância da mensagem, já que todos foram inspirados pelo Espírito Santo, ocorre que os profetas
maiores, profetizaram mais ou deixaram mais escritos sobre as suas profecias.
PROFETAS MAIORES

Isaías 66 O grande É um livro rico em profecias messiânicas, mesclado


profeta da com maldiçoes pronunciadas sobre as nações
redenção pecadoras

Jeremias 52 Jeremias Viveu desde os tempos de Josias até o cativeiro.


Tema principal: a reincidência, o cativeiro e a
restauração dos judeus.

Lamentações 5 Jeremias São uma série de clamores de Jeremias,


lamentando as aflições de Israel.

Ezequiel 48 Ezequiel É um livro de impressionantes metáforas que


descrevem claramente a triste condição do povo de
Deus e o caminho, a exaltação e a glória futura.

Daniel 12 Daniel Daniel esteve cativo em Babilônia, onde foi instruído


na língua e nas ciências babilônicas (caldaicas). É
um livro de biografia pessoal e visões apocalípticas
acerca dos ensinamentos de história secular e
sagrada.

PROFETAS MENORES

Oséias 14 Oséias, o filho Um conterrâneo de Isaías e Miquéias. Sua


de Beeri mensagem foi dirigida ao reino do norte. Foi
conterrâneo de Isaías e Miquéias. Pensamento
central: a apostasia de Israel caracterizada como
adultério espiritual. O livro está cheio de
impressionantes metáforas que descrevem os
pecados do povo.

Joel 3 Joel, um profeta Muito pouco se sabe acerca dele. Foi um profeta de
de Judá Judá. Tema principal: o arrependimento da nação e
suas bênçãos. "O dia do Senhor", um tempo de
juízos divinos pode ser transformado em um período
de bênçãos.

Amós 9 Amós Amós de Tecoa, na tribo de Judá, foi boiadeiro e


recolhedor de figos silvestres. Amós, o profeta
pastor, foi um reformador valente, que denunciava o
egoísmo e o pecado. O livro contém uma série de
cinco visões.

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Capítulos

Obadias 1 Desconhecido A condenação de Edom e a libertação final de Israel.

Jonas 4 Jonas Jonas natural da Galiléia, foi um dos primeiros


profetas. É a história do "missionário relutante", a
quem Deus ensinou, através de uma experiência
amarga, a lição da obediência e a profundidade da
misericórdia divina.

Miquéias 7 Miquéias Miquéias, natural de Moresete, em Judá, profetizou


durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias. Foi
conterrâneo de Isaias. É o relato sombrio da
condição moral de Israel e de Judá, mas é também
a predição do estabelecimento do reino messiânico
no qual prevalecerá a justiça.

Naum 3 Naum A destruição de Nínive. Deus promete libertar Israel


da opressão assíria.

Habacuque 3 Habacuque Habacuque, que para muitos era um cantor no


templo. Foi escrito no período babilônico ou caldeu.
Os mistérios da providência. Como pode um Deus
justo permitir que uma nação pecadora oprima a
Israel?

Sofonias 3 Sofonias Sofonias, um descendente direto do rei Ezequias.


Embora de tom sombrio e cheio de ameaças,
termina numa visão de glória futura de Israel.

Ageu 2 Ageu Ageu, o "profeta do templo", cativo durante setenta


anos na Babilônia, e colega de Zacarias. Foi colega
de Zacarias. Repreendeu ao povo por negligenciar a
construção do segundo templo, mas prometeu a
volta da glória de Deus quando o edifício estivesse
construído.

Zacarias 14 Zacarias Zacarias, filho de Baraquias. Pouco se sabe acerca


deste profeta. Conterrâneo de Ageu, ajudou a
animar aos judeus a reconstruírem o templo. Teve
uma série de oito visões e viu o triunfo final do reino
de Deus.

Malaquias 4 Malaquias. Nada se sabe acerca da vida do profeta. É uma


descrição gráfica dos últimos períodos da história do
Antigo Testamento, que mostra a necessidade de
reformas antes da vinda do Messias.

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Capítulos

NOVO TESTAMENTO

EVANGELHOS
Os quatros evangelhos foram escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Cada um deles foi destinado a
um povo, levando em conta o conhecimento que cada povo tinha de Deus ou de Jesus Cristo.
 O evangelho de Mateus foi escrito para os judeus e tinha como propósito mostrar que Jesus
era o messias enviado por Deus.
 O Evangelho de Marcos foi escrito para os romanos e apresenta Jesus como servo.
 O Evangelho de Lucas foi escrito para os gentios e teve como propósito mostrar Jesus como o
Salvador.
 O Evangelho de João foi escrito para a igreja. Este Evangelho é o mais recente, foi escrito no
final do primeiro século e teve como propósito mostrar que Jesus é o filho de Deus.

Mateus 28 Mateus Mateus, também chamado de Levi, um dos doze


apóstolos. Foi sem dúvida um judeu que também
era publicano romano. Este evangelho cita muitos
textos do Antigo Testamento. Ele se destinava
primordialmente ao público judeu, para o qual
apresentava Jesus como o Messias prometido nas
Escrituras do Antigo Testamento. Mateus narra a
história de Jesus desde o seu nascimento até sua
ressurreição e põe ênfase especial nos
ensinamentos do Mestre.

Marcos 16 Marcos Marcos, também chamado de João Marcos, o filho


de Maria, de Jerusalém. Marcos escreveu um
Evangelho curto, conciso e cheio de ação. Seu
objetivo era aprofundar a fé e a dedicação para a
qual ele escrevia.

Lucas 24 Lucas, o médico Neste evangelho é enfatizado como a salvação em


amado. Jesus está ao alcance de todos. O evangelista
Também é o mostra como Jesus estava em contato com as
autor de "Atos pessoas pobres, com os necessitados e com os que
dos Apóstolos". são desprezados pela sociedade.

João 21 João, o apóstolo O Evangelho de João, pela sua forma, se coloca à


parte dos outros três. João organiza sua mensagem
enfocando sete sinais que apontam para Jesus
como Filho de Deus. Seu estilo literário é reflexivo e
cheio de imagens e figuras.

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Capítulos

O Livro Histórico
O livro de Atos é um relato do inicio da igreja de Jesus Cristo na terra.

Atos dos Apóstolos 28 Autor: Lucas, o O livro é, em certo sentido, uma continuação do
médico amado. Evangelho de Lucas, e está dirigido à mesma
pessoa, a Teófilo. Quando Jesus deixou os seus
discípulos, o Espírito Santo veio habitar com eles.
Este livro foi escrito por Lucas para ser um
complemento ao seu Evangelho. Ela relata
eventos da história e da ação da igreja cristã
primitiva, mostrando como a fé se propagou no
mundo mediterrâneo de então.

Cartas de Paulo
As cartas de Paulo são ensinamentos valiosíssimos para a igreja atual. Nela encontramos um vasto
ensino sobre a salvação, o papel da igreja e não poucas vezes exortações sobre como ter uma vida santa
perante Deus.

Romanos 16 O Apóstolo Nesta importante carta, Paulo escreve aos romanos


Paulo sobre a vida no Espírito, que é dada pela fé aos que
crêem em Cristo. O apóstolo reafirma a grande
bondade de Deus e declara que, através de Jesus
Cristo, Deus nos aceita e nos liberta de nossos
pecados.

1 Coríntios 16 O Apóstolo Esta carta trata especificamente dos problemas que


Paulo a igreja de Corinto estava enfrentando: dissensão,
imoralidade, problemas quanto à forma da adoração
pública e confusão sobre os dons do Espírito.

2 Coríntios 13 O Apóstolo Nesta carta o Apóstolo Paulo escreve sobre seu


Paulo relacionamento com a igreja de Corinto e as
dificuldades que alguns falsos profetas haviam
trazido ao seu ministério.

Gálatas 6 O Apóstolo Esta carta expõe a liberdade da pessoa que crê em


Paulo Cristo com respeito à lei. Paulo declara que é
somente pela fé que as pessoas são reconciliadas
com Deus.

Efésios 6 O Apóstolo O tema central desta carta é o propósito eterno de


Paulo Deus: Jesus Cristo é a cabeça da igreja, que é
formada a partir de muitas nações e raças.

Filipenses 4 O Apóstolo A ênfase desta carta está no gozo que o crente em


Paulo Cristo encontra em todas as circunstâncias da vida.
O Apóstolo Paulo a escreveu quando estava
encarcerado

Colossenses 4 O Apóstolo Nesta carta o Apóstolo Paulo diz aos cristãos de


Paulo Colossos que abandonem suas superstições e que
Cristo seja o centro de sua vida.

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Capítulos

1 Tessalonicenses 5 O Apóstolo O Apóstolo Paulo dá orientações aos cristãos de


Paulo Tessalônica a respeito da volta de Jesus ao mundo.

2 Tessalonicenses 3 O Apóstolo Como em sua primeira carta, o Apóstolo Paulo fala


Paulo do retorno de Jesus ao mundo. Também trata de
preparar os cristãos para a vinda do Senhor.

1 Timóteo 6 O Apóstolo Esta carta serve de orientação a Timóteo, um jovem


Paulo líder da igreja primitiva. O Apóstolo Paulo lhe dá
conselhos sobre a adoração, o ministério e os
relacionamentos dentro da igreja.

2 Timóteo 4 O Apóstolo Nesta carta, escrita pelo Apóstolo Paulo, ele lança
Paulo um último desafio a seus companheiros de trabalho.

Tito 3 O Apóstolo Tito era ministro em Creta. Nesta carta o Apóstolo


Paulo Paulo o orienta sobre como ajudar os novos
cristãos.

Filemon 1 O Apóstolo É uma carta particular de intercessão escrita,


Paulo provavelmente em Roma, por Paulo, e enviada a
Filemom, em Colossos. Filemom é instado a perdoar
seu escravo, Onésimo, que havia fugido. Filemom
deveria aceita-lo de volta como a um amigo em
Cristo.

Cartas de Outros Apóstolos


Com exceção de Hebreus, que alguns acreditam ter sido escrita também por Paulo, essas cartas tem
como autores os demais Apóstolos de Jesus Cristo, a saber: Pedro, João, Tiago e Judas.

Hebreus 13 A carta é Tem sido atribuída a Paulo, Barnabé, Lucas, Apolo,


anônima entre outros. Esta carta exorta os novos cristãos à
não observarem mais rituais e cerimônias
tradicionais, pois, em Cristo, eles já foram
cumpridos.

Tiago 5 Indeterminado Há, no Novo Testamento, três personagens


preeminentes chamados Tiago. Em geral, aceita-se
que o Tiago, chamado por Paulo de "o irmão do
Senhor" (Gálatas 1:19), foi o autor da carta. Tiago
aconselha os cristãos a viverem na prática a sua fé
e, além disso, oferece idéias como isso pode ser
feito.

1 Pedro 5 O Apóstolo Esta carta foi escrita para confortas os cristãos da


Pedro igreja primitiva que estavam sendo perseguidos por
causa de sua fé.

2 Pedro 3 O Apóstolo Nesta carta o Apóstolo Pedro adverte os cristãos


Pedro sobre os falsos mestres e os estimula a continuarem
leais a Deus.

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Capítulos

1 João 5 O Apóstolo João Esta carta explica verdades básicas sobre a vida
cristã com ênfase no mandamento de amarem uns
aos outros.

2 João 1 : O Apóstolo Esta carta, dirigida à "senhora eleita e aos seus


João filhos" [alguns crêem que o Apóstolo se refere a uma
senhora cristã e sua família, que viviam em Éfeso;
outros, que é a personificação de uma igreja e seus
membros], adverte os cristãos quanto aos falsos
profetas.

3 João 1 O Apóstolo João Em contraste com sua segunda carta, esta fala da
necessidade de receber os que pregam a Cristo.

Judas 1 Provavelmente Se isso é verdade, ele pode ter sido um irmão de


Judas, irmão de nosso Senhor (Marcos 6:3 – Gálatas 1:19). Judas
Tiago adverte seus leitores sobre a má influência de
pessoas alheias à irmandade dos cristãos.

O Livro Profético
Apocalipse é o último livro da Bíblia e foi escrito por João, o mesmo que escreveu o Evangelho
segundo João e as três cartas I, II e III João. João foi um dos três apóstolos mais ligados a Jesus (Pedro,
Tiago e João) e escreveu este livro já no final de sua vida, no final do primeiro século.
É um livro de difícil compreensão, mas de uma importância enorme, já que mostra como será o final dos
tempos, o julgamento de todas as nações, a salvação dos justos e a condenação dos pecadores.

Apocalipse 22 O Apóstolo João Este livro foi escrito para encorajar os cristãos que
estavam sendo perseguidos e para firmá-los na
confiança de que Deus cuidará deles. Usando
símbolos e visões, o escritor ilustra o triunfo do bem
sobre o mal e a criação de uma nova terra e um
novo céu.

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Livros da Bíblia em Ordem Cronológica

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4. O Cânon das Escrituras e os Livros Apócrifos


A Bíblia é uma coleção de escritos detentores de autoridade infalível para a fé e vida
da igreja. Mas quais escritos compõem a Bíblia? Como e por quem foram eles reunidos?
É possível ter certeza de que nenhum escrito foi incluído por engano ou inadvertidamente
omitido? Perguntas como essas e outras afins constituem o problema do cânon.
A palavra cânon deriva fundamentalmente de uma palavra semita que significa junco,
de onde vem o sentido figurado de vara de medir ou régua. Daí deriva o sentido geral de
norma ou padrão e, por fim, lista ou rol Aplicado à Bíblia, cânon refere-se à lista de
escritos reconhecidos pela igreja cristã como única regra de fé e prática.
É importante que esclareçamos o processo canônico. Este é às vezes apresentado
como uma evolução por meio da qual certos escritos religiosos foram sendo cada vez
mais aceitos com o passar do tempo até atingirem a condição ímpar de inclusão no
cânon. Segundo essa visão, a canonicidade é contemplada como uma condição
conferida ao material presente na Bíblia.
É melhor, porém, olhar para a formação do cânon como a resposta humana diante da
autoridade divina inerente aos escritos bíblicos desde o princípio. Ao definir o cânon,
reunindo, preservando e alistando os vários livros, o povo de Deus confessou que esses
escritos em particular eram a Palavra de Deus. Eis outra forma levemente distinta de
afirmar isso: a principal base da formação do cânon não está na decisão da igreja (ou da
sinagoga), mas na inspiração divina das Escrituras.

4.1. O Cânon: Antigo e Novo Testamento


O sentido desta palavra tem diversas aplicações, dentre elas, Escrituras Sagradas,
consideradas como regra de fé e prática. A palavra cânon é de origem grega. Empregou-
se, nesta acepção pelos primeiros doutores da Igreja, mas a ideia é mais remota. Para
que um livro tivesse lugar entre os outros livros da Bíblia, precisava ser canônico; outro
livro, sem os requisitos necessários para tal fim, chamava-se não canônico.

O cânon do Antigo Testamento (A.T.)


A literatura sagrada evoluiu gradativamente e foi cuidadosamente vigiada.
Os dez mandamentos escritos em tábuas de pedra, e que eram a constituição de
Israel, foram guardados em uma arca, Ex 40.20. Os estatutos foram registrados no livro
do pacto, 20.23, até cap. 23.33; 24.7. O livro da lei, escrito por Moises, era colocado ao
lado da arca, Dt 31.24-26. A esta coleção se ajuntaram os escritos de Josué, Js 24. 26.
Samuel escreveu a lei do reino e a depositou diante do Senhor, 1Sm 10. 25. No
tempo do rei Josias, o livro da lei do Senhor, o bem conhecido livro, foi encontrado no
Templo e reconhecido pelo rei, pelos sacerdotes, pelo povo, pelas autoridades e pelos
anciãos, 2Rs 22.8-20.
Do Livro encontrado se tiraram cópias, Dt 17.18-20. Os profetas reduziram as suas
palavras a escrito, Jr 36.32, e eram familiarizados reciprocamente com os seus escritos
que os citavam como padrões autorizados, Is 2.2-4; Mq 4.1-3.
A lei e os profetas eram tidos como produções autorizadas; inspiradas pelo Espírito
Santo, e cuidadosamente guardadas por Jeová, Zc 1.4; 7.7,12.
A lei de Moisés compreendendo os cinco primeiros livros da Bíblia, circulava como
uma porção distinta da literatura sagrada no tempo de Esdras em cujas mãos esteve, Ed
7.14, sendo douto no conhecimento dela, 6,11. A pedido do povo, ele leu publicamente
no livro da Lei, Ne 8.1,5,8. Por este tempo, e antes do cisma, entre os judeus e os
samaritanos, chegar a seu termo, o Pentateuco foi levado para Samaria.

Volume I - Bibliologia Página 26


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O colecionamento dos profetas menores em um grupo de doze, é confirmado por


Jesus, filho de Siraque, como em voga, no ano 200 A.C. Sua linguagem dá a entender a
existência do grande grupo formado pelos livros de Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías,
Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores, que formavam a segunda divisão do
cânon hebreu, caps. 46-49.
A existência da tríplice divisão das Escrituras em “Lei, Profetas e os outros que os
acompanharam”; ou “a Lei, os Profetas e os outros livros”, ou, “a Lei, os Profetas e o
resto dos livros”, é confirmada já no ano 182 A.C. juntamente com a existência de uma
versão grega da mesma época, atestada pelo neto de Jesus, filho de Siraque.
O judeu Filo, que nasceu em Alexandria no ano 20 A.C. e ali morreu no reinado de
Cláudio, possuía o cânon, e citou quase todos os livros, com exceção dos Apócrifos.
O Novo Testamento cita as “Escrituras” como escritos de autoridade religiosa, Mt
21.42; 26.56; Mc 14.49; Jo 10.35; 2Tm 3.16, como livros santos em Rm 1.2; 2Tm 3.15, e
como Oráculos de Deus, em Rm 3.2; Hb 5.12; 1Pe 4.11; e menciona a tríplice divisão em
Moisés, Profetas e Salmos, em Lc 24.44, cita e faz referências a todos os outros livros,
exceto Obadias e Naum, Esdras, Ester, Cântico dos Cânticos e Eclesiastes.
Josefo que foi contemporâneo do apóstolo Paulo, cujos escritos datam do ano 100
A.D., falando do seu povo, diz: “Nós temos apenas 22 livros, contendo a história de todo
o tempo, livros em que “nós cremos”, ou segundo geralmente se diz, livros aceitos como
divinos”, e o mesmo escritor exprime em termos bem fortes, afirmando a exclusiva
autoridade destes escritos, e continua, dizendo: “Desde os dias de Artaxerxes até os
nossos dias, todos os acontecimentos estão na verdade escritos; ma estes últimos
registros não têm merecido igual crédito, como os anteriores, por causa de não
mencionarem a sucessão exata dos profetas. Há uma prova prática do espírito em que
tratamos as nossas Escrituras; apesar de ser tão grande o intervalo de tempo decorrido
até hoje, ninguém se aventurou a acrescentar, a tirar, ou a alterar uma única sílaba; faz
parte da natureza de cada judeu, desde o dia em que nasce, considerar estas Escrituras
como ensinos de Deus; confiar nelas, e, se for necessário, dar alegremente a vida, em
sua defesa”.
Josefo apresenta o conteúdo das Escrituras sob três divisões:
1. “Cinco livros pertencem a Moisés, e contêm as suas leis e as tradições sobre a
origem da humanidade, até a sua morte.”
2. Desde a morte de Moisés até Artaxerxes, escreveram os profetas que viveram
depois dele, os fatos de seu tempo, em treze livros.” Josefo acompanhou o arranjo feito
nos livros da Escritura pelos tradutores de Alexandria. Os treze livros são provavelmente,
Josué, Juizes com Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras com Neemias, Ester, Jó, Daniel,
Isaias, Jeremias com as Lamentações, Ezequiel e os doze Profetas Menores.
3. Os quatro livros restantes, contêm hinos a Deus e preceitos de conduta para a vida
humana. Sem dúvida ele se refere aos Salmos, ao Cântico dos Cânticos, aos Provérbios
e ao Eclesiastes.
Havia uma tradição corrente, que o cânon fora arranjado no tempo de Esdras e de
Neemias. Josefo, já citado, fala da crença universal de seus patrícios de que nenhum
livro havia sido acrescentado desde o tempo de Artaxerxes, isto é, desde Esdras e
Neemias.
Uma extravagante legenda do fim do primeiro século da era cristã deu curso a uma
tradição de que Esdras havia restaurado a lei, é mesmo o Antigo Testamento inteiro por
se haverem perdidos os exemplares guardados no Templo, Ne 14.21,22,40. Afirma a tal
legenda que os judeus da Palestina, naquela época, reconheciam os livros canônicos,
como sendo vinte e quatro.

Volume I - Bibliologia Página 27


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Uma passagem de duvidosa autenticidade e de data incerta, talvez escrita 100 anos
antes de Cristo em 2Macabeus 2.13, alude à atividade de Neemias em conexão à
segunda e terceira divisão do cânon.
Ireneu transmite a tradição assim: “Depois que os sagrados escritos foram
destruídos, no exílio, sob o domínio de Nabucodonosor, quando os judeus, depois de
setenta anos, voltaram do cativeiro para a sua pátria, Ele (Deus) nos dias de Artaxerxes,
inspirou a Esdras, o sacerdote, da tribo de Levi, para arranjar de novo todas as palavras
dos profetas dos dias passados, e restaurar para uso do povo a legislação de Moisés.”
Elias, levita, escrevendo em 1588, fala da crença que o povo tinha, dizendo: “No
tempo de Esdras os 24 livros ainda não estavam unidos em um volume. Esdras e seus
associados fizeram deles um volume dividido em três partes, a lei, os profetas e a
hagiógrafa.” Esta tradição contém verdades. Se pode ser aceita em todos os seus
particulares, isso depende de determinar a data em que certo, livros foram escritos, tais
como Neemias e Crônicas.
O Pentateuco, como trabalho de Moisés, compreendendo a incorporação das leis
fundamentais da nação, formou uma divisão do cânon, e com direitos firmados na
cronologia, ocupou o primeiro lugar na coleção dos livros.
A segunda divisão dos livros teve a designação de proféticos por serem escritos
pelos seus autores assim chamados. Estes livros eram em número de oito, Josué, Juizes,
Samuel, e Reis, denominados os primeiros profetas, e Isaias, Jeremias, Ezequiel e os
doze profetas menores, denominados os últimos profetas.
O núcleo da terceira divisão é formado de seções de livros de Salmos e Provérbios.
Tinham duas feições distintas: eram essencialmente poéticos e os seus autores não
eram oficialmente profetas. Atraíram para si todas as outras produções de literatura
semelhante. A oração de Moisés no Salmo 90, não foi escrita por profeta, mas foi
colocada nesta divisão dos livros da Escritura por ser produção poética. Pela mesma
razão, as Lamentações de Jeremias, escritas por profeta, e sendo poesia, entraram na
terceira divisão do cânon hebreu. Uma razão adicional existiu para separá-las de
Jeremias, é que eram lidas por ocasião dos aniversários da destruição de ambos os
templos, e por isso, foram postas com os quatro livros menores que eram lidos por
ocasião de outros quatro aniversários, Cânticos, Rute, Eclesiastes e Ester, e formavam
os cinco rolos, ou Megilloth. O livro de Daniel foi incluído nesta parte por ter sido escrito
por homem que, posto dotado de espírito profético, não era oficialmente profeta. Com
toda a probabilidade, as Crônicas foram escritas por um sacerdote e não profeta, e por
esta razão, foram postas na terceira divisão do cânon.
Não sabemos por que estes livros se acham nesta divisão, quando é certo que
alguns deles e partes deles que agora se acham nela, já existiam antes de Malaquias e
Zacarias na segunda divisão.
É conveniente que se diga que, conquanto o conteúdo das diversas divisões do
cânon permanecessem inalteráveis, a ordem dos livros da terceira divisão variou de
tempos em tempos; e mesmo na segunda divisão o Talmude dá Isaias entre Ezequiel e
os Profetas Menores. Esta ordem dos quatro livros proféticos, Jeremias, Ezequiel, Isaías,
e os Profetas Menores, foi evidentemente determinada pelo tamanho, dando a prioridade
aos de maior volume.
Logo no fim do primeiro século da nossa era, o direito de certos livros figurarem na
terceira divisão do cânon, foi disputado. Não havia dúvida em pertencerem ao cânon. As
discussões versaram sobre o conteúdo dos livros e sobre as dificuldades de harmonizá-
los entre si. Estes debates, porém, eram meras exibições intelectuais. Não havia intenção
de excluir do cânon qualquer destes livros, e sim tornar bem claro o direito que ele tinham
aos lugares que ocupavam.

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O cânon do Novo Testamento (N.T.):


A igreja apostólica recebeu da igreja judaica a crença em uma regra de fé escrita.
Cristo mesmo confirmou esta crença, apelando para o Antigo Testamento como a
palavra de Deus escrita, Jo 5.37-47; Mt 5.17,18; Mc 12.36; Lc 16.31, instruindo os seus
discípulos nela, Lc 24.45.
Os apóstolos habitualmente referem-se ao Antigo Testamento como autoridade, Rm
3.2,21; 1Co 4.6; Rm 15.4; 2Tm 3.15-17; 2Pe 1.21.
Em segundo lugar, os apóstolos baseavam o seu ensino, oral ou escrito na
autoridade do Antigo Testamento, 1Co 2.7-13; 14.37; 1Ts 2.13; Ap 1.3, e ordenavam que
seus escritos fossem lidos publicamente, 1Ts 5.27; Cl 4.16,17, 2Ts 2.15; 2Pe 1.15; 3.1-2,
enquanto que as revelações dadas à Igreja pelos profetas Inspirados, eram consideradas
como fazendo parte, juntamente com as instruções apostólicas, do fundamento da Igreja,
Ef 2.20.
Era natural e lógico que a literatura do Novo Testamento fosse acrescentada à do
Antigo, ampliando deste modo o cânon de fé. No próprio Novo Testamento se vê a intima
relação entre ambos, 1Tm 5.18; 2Pe 3.1,2,16.
Nas épocas pós-apostólicas, os escritos procedentes dos apóstolos e tidos como tais,
foram gradualmente colecionados em um segundo volume do cânon, até se completar o
que se chama o Novo Testamento.
Porquanto, desde o princípio, todo livro destinado ao ensino da Igreja em geral,
endossado pelos apóstolos, quer fosse escrito por algum deles, quer não, tinha direito a
ser incluído no cânon, e constituía doutrina apostólica. Desde os primeiros três séculos
da Igreja, era baseado neste principio que se ajuntavam os livros da segunda parte do
cânon.
A coleção completa fez-se vagarosamente, por varias razões. Alguns dos livros só
eram conhecidos como apostólicos em algumas Igrejas. Somente quando esses livros
entraram no conhecimento do corpo cristão em todo o Império Romano, é que eles foram
aceitos como de autoridade apostólica.
O processo adotado foi lento, por causa ainda do aparecimento de vários livros
heréticos e escritos espúrios, com pretensões de autoridade apostólica.
Apesar da sua lentidão, os livros aceitos por qualquer igreja, eram considerados
canônicos porque eram apostólicos. O ensino dos apóstolos era regra de fé, e lido nas
reuniões do culto público.
Já no principio do segundo século, os escritos apostólicos eram chamados
Escrituras. Os evangelhos segundo Marcos e Lucas entraram na Igreja pela autoridade
de Pedro e Paulo, de que foram companheiros. Logo começaram os comentários a estes
escritos, cuja fraseologia saturou a literatura da idade pós-apostólica.
São dignos de nota os seguintes fatos para explicar a rapidez com que a coleção dos
Livros se estendeu a toda a Igreja.
Os quatro evangelhos entraram nas igrejas desde o principio do segundo século. A
segunda epístola de Pedro, cap. 3.16, mostra-nos que as epistolas de Paulo já haviam
formado uma coleção de escritos familiares aos leitores das cartas de Pedro.
Muito cedo aparecem as expressões “evangelho” e “apóstolos” designando as duas
partes do novo volume. A evidência sobre a canonicidade dos Atos Apostólicos, leva-nos
à primeira metade do segundo século. Alguns livros, é certo, sofreram contestações por
parte de certos grupos de igrejas, mas serve para provar que tais livros entraram no
cânon depois de evidentes provas de sua autenticidade.

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Finalmente, vê-se que a Igreja da Síria, no segundo século, recebeu como canônicos
todos os livros de que se compõe o atual Novo Testamento, exceto o Apocalipse, a
epístola de Judas, a segunda de Pedro, a segunda e a terceira de João.
A Igreja Latina aceitou todos os livros, menos as epístolas de Pedro, a de Tiago, a
terceira de João; a Igreja africana do norte aceitou todos os livros, exceto a epístola aos
Hebreus, a segunda de Pedro e talvez a de Tiago. As coleções recebidas pelas
mencionadas igrejas somente continham os livros que elas haviam recebido formalmente,
como de autoridade apostólica, mas isto não prova a não existência de outros livros de
igual procedência e autoridade.
Os restantes eram universalmente aceitos no curso do terceiro século, apesar de
opiniões diferentes a respeito de alguns deles.
No decorrer dos tempos, e quando entramos na época dos concílios, o Novo
Testamento aparece na lista dos livros canônicos como hoje o temos. No quarto século,
dez dos padres da Igreja e dois concílios deixaram listas dos livros canônicos. Em três
destas listam omitem o Apocalipse, contra o qual se levantaram objeções que
desapareceram diante dos testemunhos abundantes em seu favor. As outras listas dão o
Novo Testamento como hoje o temos. Em vista destes fatos, deduzimos:
1.Apesar de a formação do N. T. cm um volume ter sido morosa, nunca deixou de
existir a crença de ser ele livro considerado como regra de fé primitiva e apostólica.
A história da formação do cânon do N. T. serve apenas para mostrar como se chegou
gradualmente a conhecer os direitos que eles tinham para entrar no rol dos livros
Inspirado..
2.As diferenças de opinião sobre quais os livros canônicos e sobre os graus de
certeza em favor deles, veem-se nos escritos e nas Igrejas do segundo século. Este fato,
pois, mais uma vez vem afirmar o cuidado e o escrúpulo das Igrejas em receber livros
como apostólicos sem evidentes provas. Do mesmo modo se procedeu com referência
aos livros espúrios.
3.A prova em favor da canonicidade dos livros do Novo Testamento é a evidência
histórica. Quanto a isto, o juízo da Igreja primitiva em favor dos nossos vinte e sete livros
é digno de inteira fé, enquanto não for provado o contrário. Não os devemos aceitar como
tais, só porque os concílios eclesiásticos os decretaram canônicos, nem por causa do
que eles dizem. A questão versa só e unicamente sobre a sua evidencia histórica.
4.Finalmente se nota que a palavra cânon não se aplicou à coleção dos livros
sagrados antes do quarto século. Não obstante, existia, a noção que representa, isto é,
que os livros sagrados eram regra de fé, contendo a doutrina apostólica.

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4.2. Livros Apócrifos ou Não Canônicos


Significado de Apócrifo
A palavra Apócrifo , do grego apokrypha, escondido, nome usado pelos escritores
eclesiásticos para determinar, 1) Assuntos secretos, ou misteriosos; 2) de origem
ignorada, falsa ou espúria; 3) documentos não canônicos.

Os Livros Apócrifos do Antigo Testamento (A.T.)


Estes não faziam parte do Cânon hebraico, mas todos eram mais ou menos aceitos
pelos judeus de Alexandria que liam o grego, e pelos de outros lugares; e alguns são
citados no Talmude. Esses livros, a exceção de 2 Esdras, Eclesiástico, Judite, Tobias, e 1
dos Macabeus, foram primeiramente escritos em grego, mas o seu conteúdo varia em
diferentes coleções.
Eis os livros apócrifos pela sua ordem usual:
I (ou III) de Esdras: é simplesmente a forma grega de Ezra, e o livro narra o declínio
e a queda do reino de Judá desde o reinado de Josias até à destruição de Jerusalém; o
cativeiro de Babilônia, a volta dos exilado, e a parte que Esdras tomou na reorganização
da política judaica. Em certos respeitos, amplia a narração bíblica, porém estas adições
são de autoridade duvidosa. O historiador Josefo é o continuador de Esdras. Ignora-se o
tempo em que foi escrito e quem foi o meu autor.
II (ou IV) de Esdras: Este livro tem estilo inteiramente diferente de 1º de Esdras. Não
é propriamente uma história, mas sim um tratado religioso, muito no estilo dos profetas
hebreus. O assunto central, compreendido nos caps. 3-14, tem como objetivo registrar as
sete revelações de Esdras em Babilônia, algumas das quais tomaram a forma de visões:
a mulher que chorava, 9.38, até 10.56; a águia e o leão, 11.1 até 12.39; o homem que se
ergueu do mar, 13.1-56. O autor destes capítulos é desconhecido, mas evidentemente
era judeu pelo afeto que mostra a seu povo. (A palavra Jesus, que se encontra no cap.
7.28, não está nas versões orientais.) A visão da águia, que é expressamente baseada
na profecia de Daniel (2º Esdras 12.11), parece referir ao Império Romano, e a data de
88 A.D. até 117 A.D. é geralmente aceita. Data posterior ao ano 200 contraria as citações
do v. 35 cap. 5 em grego por Clemente de Alexandria com o Prefácio: “As­sim diz o
profeta Esdras.” Os primeiros dois e os últimos dois capítulos de 2º Esdras, 1 e 2, 15 e 16
são aumentos; não se encontram nas versões orientais, nem na maior parte dos
manuscritos latinos. Pertencem a uma data posterior à tradução dos Setenta que já
estava em circulação, porquanto os profetas menores já aparecem na ordem em que
foram postos na versão grega, 2º Esdras, 1.39, 40. Os dois primeiros capítulos contêm
abundantes reminiscências do Novo Testamento e justificam a rejeição de Israel e sua
substituição pelos Gentios, 2º Esdras, 1.24,25,35-40; 2.10,11,34), e, portanto, foram
escritos por um cristão, e, sem dúvida, por um judeu cristão.
Tobias: Este livro contém a narração da vida de certo Tobias de Neftali, homem
piedoso, que tinha um filho de igual nome, O pai havia perdido a vista. O filho, tendo de ir
a Rages na Média, para cobrar uma dívida, foi levado por um anjo a Ecbatana, onde fez
um casamento romântico com uma viúva que, tendo-se casado sete ve-zes, ainda se
conservava virgem. Os sete maridos haviam sido mortos por Asmodeu, o mau espírito
nos dias de seu casamento. Tobias, porém, foi animado pelo anjo a tornar-se o oitavo
marido da virgem-viúva, escapando à morte, com a queima de fígado de peixe, cuja
fumaça afugentou o mau espírito. Voltando, curou a cegueira de seu pai esfregando-lhe
os escurecidos olhos com o fel do peixe que já se tinha mostrado tão prodigioso. O livro
de Tobias é manifestamente um conto moral e não uma história real. A data mais
provável de sua publicação é 350 ou 250 a 200 A.C.
Judite: E a narrativa, com pretensões a história, do modo por que uma viúva judia,
de temperamento masculino, se recomendou às boas graças de Holofernes,
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comandante-chefe do exército assírio, que sitiava Betúlia. Aproveitando-se de sua


intimidade na tenda de Holofernes, tomou da espada e cortou-lhe a cabeça enquanto ele
dormia. A narrativa está cheia de incorreções, de anacronismos e de absurdos
geográficos. É mesmo para se duvidar que exista alguma cousa de verdade; talvez que o
seu autor se tenha inspirado nas histórias de Jael e de Sisera, Jz 4.17-22. A primeira
referência a este livro, encontra-se em uma epístola de Clemente de Roma, no fim do
primeiro século. Porém o livro de Judite data de 175 a 100 A. C., isto é, 400 ou 600 anos
depois dos fatos que pretende narrar. Dizer que naquele tempo Nabucodonosor reinava
em Nínive em vez de Babilônia não parecia ser grande erro, se não fosse cometido por
um contemporâneo do grande rei.
Ester: Acréscimo de capítulos que não se acham nem no hebreu, nem no caldaíco.
O livro canônico de Ester termina com o décimo capítulo. A produção apócrifa acrescenta
dez versículos a este capitulo e mais seis capítulos, 11-16. Na tradução dos Setenta, esta
matéria suplementar é distribuída em sete porções pelo texto e não interrompe a história.
Amplifica partes da narrativa da Escritura, sem fornecer novo fato de valor, e em alguns
lugares contradiz a história como se contém no texto hebreu. A opinião geral é que o livro
foi obra de um judeu egípcio que a escreveu no tempo de Ptolomeu. Filometer, 181-145
A.C.
Sabedoria de Salomão: Este livro é um tratado de Ética recomendando a sabedoria
e a retidão, e condenando a Iniquidade e a idolatria. As passagens salientam o pecado e
a loucura da adoração das imagens, lembram as passagens que sobre o mesmo assunto
se encontram nos Salmos e em Isaías (compare: Sabedoria 13.11-19, com Salmos 95;
135.15-18 e Isaias 40.19-25; 44.9-20). É digno de nota que o autor deste livro, referindo-
se a incidentes históricos para ilustrar a sua doutrina, limita-se aos fatos recordados no
Pentateuco. Ele escreve em nome de Salomão; diz que foi escolhido por Deus para rei do
seu povo, e foi por ele dirigido a construir um templo e um altar, sendo o templo feito
conforme o modelo do tabernáculo. Era homem genial e piedoso, caracterizando-se pela
sua crença na imortalidade. Viveu entre 150 e 50 ou 120 e 80, A.C. Nunca foi
formalmente citado, nem mesmo a ele se referem os escritores do Novo Testamento,
porém, tanto a linguagem, como as correntes de pensamento do seu livro , encontram
paralelos no Novo Testamento (Sab. 5.18-20; Ef 6.14-17; Sab. 7.26, com Hb 1.2-6 e Sab.
14.13-31 com Rm 1.19-32).
Eclesiástico: também denominado Sabedoria de Jesus, filho de Siraque. É obra
comparativamente grande, contendo 51 capítulos. No capítulo primeiro, 1-21, louva-se
grandemente o sumo sacerdote Simão, filho de Onias, provavelmente o mesmo Simão
que viveu entre 370 - 300, A.C. O livro deveria ter sido escrito entre 290 ou 280 A.C., em
língua hebraica. O seu autor, Jesus, filho de Siraque de Jerusalém, Eclus 1.27, era avô,
ou, tomando a palavra em sentido mais lato, antecessor remoto do tradutor. A tradução
foi feita no Egito no ano 38, quando Evergeto era rei. Há dois reis com este nome,
Ptolonmeu III, entre 247 a 222 A.C., e Ptolomeu Fiscom, 169 a 165 e 146 a 117 A.C. O
grande assunto da obra e a sabedoria. É valioso tratado de Ética. Há lugares que fazem
lembrar os livros de Provérbios, Eclesiastes e porções do livro de Jó, das escrituras
canônicas, e do livro apócrifo, Sabedoria de Salomão. Nas citações deste livro, usa-se a
abreviatura Eclus, para não confundir com Ec abreviatura de Eclesiastes.
Baruque: Baruque era amigo do Jeremias. Os primeiros cinco capítulos do seu livro
pertencem à sua autoria, enquanto que o sexto é intitulado “Epístola de Jeremias.”
Depois da introdução, descrevendo a origem da obra, Baruque 1.1,14, abre-se o livro
com três divisões, a saber:
1) Confissão dos pecado. de Israel e orações, pedindo perdão a Deus, Baruque 1.15,
até 3.8. Esta parte revela ter sido escrita em hebraico, como bem o indica a introdução,
cap. 1:14. Foi escrita 300 anos A.C.
2) Exortação a Israel para voltar à fonte da Sabedoria, 3.9 até 4.4.
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3) Animação e promessa de livramento, 4.5 até 5.9. Estas duas seções parece que
foram escritas em grego, pela sua semelhança com a linguagem dos Setenta. Há
dúvidas, quanto à semelhança entre o cap. 5 e o Salmo de Salomão, 9. Esta semelhança
dá a entender que o cap. 5 foi baseado no salmo, e portanto, escrito depois do ano 70,
A.D., ou então, que ambos os escritos são moldados pela versão dos Setenta. A epístola
de Jeremias exorta ou judeus no exílio a evitarem a idolatria de Babilônia. Foi escrita 100
anos A.C.
Adição à História de Daniel:
O cântico dos três mancebos (jovens): Esta produção foi destinada a ser Intercalada
no livro canônico de Daniel, entre caps. 3.23,24. É desconhecido o seu autor e ignorada a
data de sua composição. Compare os versículo, 35-68 com o Salmo 148.
A história de Suzana: É também um acréscimo ao livro de Daniel, em que o seu autor
mostra como o profeta, habilmente descobriu uma falsa acusação contra Suzana, mulher
piedosa e casta. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome de seu autor.
Bel e o dragão: Outra história introduzida no livro canônico de Daniel. O profeta
mostra o modo por que os sacerdotes de Bel e suas famílias comiam as viandas
oferecidas ao ídolo; e mata o dragão. Por este motivo, o profeta é lançado pela segunda
vez na caverna dos leões. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome do autor.
Oração de Manassés, rei de Judá quando esteve cativo em Babilônia. Compare, 2º
Cr 33.12,13. Autor desconhecido. Data provável, 100 anos A. C.
Primeiro Livro dos Macabeus: E um tratado histórico de grande valor, em que se
relatam 05 acontecimentos políticos e os atos de heroísmo da família levítica dos
Macabeus durante a guerra da Independência judaica, dois séculos A.C. O autor é
desconhecido, mas evidentemente é judeu da Palestina. Há duas opiniões quanto à data
em que foi escrito; uma dá 120 a 106 A.C., outra, com melhores fundamentos, entre 105
e 64 A.C. Foi traduzido do hebraico para o grego.
Segundo Livro dos Macabeus: É inquestionavelmente um epítome da grande obra
de Jasom de Cirene; trata principalmente da história Judaica desde o reinado de Seleuco
IV, até à morte de Nicanor, 175 e 161 A.C. É obra menos importante que o primeiro livro.
O assunto é tratado com bastante fantasia em prejuízo de seu crédito, todavia, contém
grande soma de verdade. O livro foi escrito depois do ano 125 A.C. e antes a tomada de
Jerusalém, no ano 70 A.D.
Terceiro Livro dos Macabeus: Refere-se a acontecimentos anteriores à guerra da
independência. O ponto central do livro e pretensão de Ptolomeu Filopater IV, que em
217 A.C. tentou penetrar nos Santo dos Santos, e a subseqüente perseguição contra os
judeus de Alexandria. Foi escrito pouco antes, ou pouco depois da era cristã, data de 39,
ou 40 A.D.
Quarto Livro dos Macabeus: É um tratado de moral advogando o império da
vontade sobre as paixões e ilustrando a doutrina com exemplos tirados da história dos
macabeus. Foi escrito depois do 2º Macabeus e antes da destruição de Jerusalém.
É, talvez, do 1º século d.C. Ainda que os livros apócrifos estejam compreendidos na
versão dos Setenta, nenhuma citação certa se faz deles no Novo Testamento. É verdade
que os Pais muitas vezes os citaram isoladamente, como se fossem Escritura Sagrada,
mas, na argumentação, eles distinguiam os apócrifos dos livros canônicos. S. Jerônimo,
em particular, no fim do 4º século, fez entre estes livros uma claríssima distinção. Para
defender-se de ter limitado a sua tradução latina aos livros do Cânon hebraico, ele disse:
“Qualquer livro além destes deve ser contado entre os apócrifos. Sto. Agostinho, porém
(354-430 à.C.), que não sabia hebraico, juntava os apócrifos com os canônicos como
para os diferençar dos livros heréticos. Infelizmente, prevaleceram as idéias deste
escritor, e ficaram os livros apócrifos na edição oficial (a Vulgata) da Igreja de Roma. O
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Concilio de Trento, 1546, aceitou “todos os livros... com igual sentimento e reverência”, e
anatematizou os que não os consideravam de igual modo. A Igreja Anglicana, pelo tempo
da Reforma, nos seus trinta e nove artigos (1563 e 1571), seguiu precisamente a maneira
de ver de S. Jerônimo, não julgando os apócrifos como livros das Santas Escrituras, mas
aconselhando a sua leitura “para exemplo de vida e instrução de costumes”.

Livros Pseudo-epígrafos
Nenhum artigo sobre os livros apócrifos pode omitir estes inteiramente, porque de
ano para ano está sendo mais compreendida a sua importância. Chamam-se Pseudo-
epígrafos, porque se apresentam como escritos pelos santos do Antigo Testamento. Eles
são amplamente apocalípticos; e representam esperanças e expectativas que não
produziram boa influência no primitivo Cristianismo. Entre eles podem mencionar-se:
Livro de Enoque (etiópico), que é citado em Judas 14. Atribuem-se várias datas,
pelos últi-mos dois séculos antes da era cristã.
Os Segredos de Enoque (eslavo), livro escrito por um judeu helenista, ortodoxo, na
primeira metade do primeiro século d.C.
O Livro dos Jubileus (dos israelitas), ou o Pequeno Gênesis, tratando de
particularidades do Gênesis duma forma imaginária e legendária, escrito por um fariseu
entre os anos de 135 e 105 a.C.
Os Testamentos dos Doze Patriarcas: é este livro um alto modelo de ensino moral.
Pensa-se que o original hebraico foi composto nos anos 109 a 107 a.C., e a tradução
grega, em que a obra chegou até nós, foi feita antes de 50 d.C.
Os Oráculos Sibilinos, Livros III-V, descrições poéticas das condições passadas e
futuras dos judeus; a parte mais antiga é colocada cerca do ano 140 a.C., sendo a porção
mais moderna do ano 80 da nossa era, pouco mais ou menos.
Os Salmos de Salomão, entre 70 e 40 a.C.
As Odes de Salomão, cerca do ano 100 da nossa era, são, provavelmente, escritos
cristãos.
O Apocalipse Siríaco de Baruque (2º Baruque), 60 a 100 a.C.
O Apocalipse grego de Baruque (3º Baruque), do 2º século, a.C.
A Assunção de Moisés, 7 a 30 d.C.
A Ascensão de Isaias, do primeiro ou do segundo século d.C.

Os Livros Apócrifos do Novo Testamento (N.T.)


Sob este nome são algumas vezes reunidos vários escritos cristãos de primitiva data,
que pretendem dar novas informações acerca de Jesus Cristo e Seus Apóstolos, ou
novas instruções sobre a natureza do Cristianismo em nome dos primeiros cristãos. Entre
os Evangelhos Apócrifos podem mencionar-se:
O Evangelho segundo os Hebreus (há fragmentos do segundo século);
O Evangelho segundo S. Tiaqo, tratando do nascimento de Maria e de Jesus
(segundo século);
Os Atos de Pilatos.(Segundo século).
Os Atos de Paulo e Tecla (segundo século).
Os Atos de Pedro (terceiro século).
Epístola de Barnabé (fim do primeiro século).

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Apocalipses, o de Pedro (segundo século).


Ainda que casualmente algum livro não canônico se ache apenso a manuscritos do
N.T., esse fato é, contudo, tão raro que podemos dizer que, na realidade, nunca se tratou
seriamente de incluir qualquer deles no Cânon.

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5. O Período Interbíblico
O tempo entre a última parte do Velho Testamento e a aparição de Cristo é
conhecido como o período intertestamentário (ou entre os testamentos). Porque não teve
nenhuma palavra profética de Deus durante esse período, alguns o chamam de “400
anos de silêncio”. A atmosfera política, religiosa e social da Palestina mudou
significantemente durante esse período. Muito do que aconteceu foi predito pelo profeta
Daniel (veja Daniel capítulos 2,7,8 e 11 e compare os eventos históricos).
Israel estava sob controle do Império Persa entre 532-332 A.C. Os Persas deixaram
os judeus praticarem sua religião com pouca interferência. Eles até tiveram permissão
para reconstruir e adorar no templo (2 Crônicas 36:22-23; Esdras 1:1-4). Esse período
inclui os últimos 100 anos do período do Velho Testamento e mais ou menos os primeiros
100 anos do período intertestamentário. Esse período de paz e contentamento relativos
foi calmo bem antes da tempestade.
Alexandre o Grande derrotou Dário da Pérsia, trazendo o reinado grego ao mundo.
Alexandre foi um aluno de Aristóteles e era bem educado na filosofia e política gregas.
Ele exigiu que a cultura grega fosse promovida em todo território conquistado. Como
resultado, o Velho Testamento hebraico foi traduzido ao grego, tornando-se a tradução
conhecida como a Septuaginta. Alexandre permitiu liberdade religiosa aos judeus, apesar
de fortemente promover estilos de vida gregos. Isso não foi uma boa direção dos eventos
para Israel, já que a cultura grega era uma ameaça a Israel por ser muito humanística,
mundana e que não agradava a Deus.
Depois que Alexandre morreu, a Judéia foi reinada por uma série de sucessores,
culminando com Antióquio Epifanes. Antióquio fez muito mais do que apenas recusar
liberdade religiosa aos judeus. Mais ou menos 167 A.C., ele aboliu a linha do sacerdócio
e profanou o templo com animais impuros e um altar pagão (veja Marcos 13:14). Isso foi
uma espécie de estupro religioso. Eventualmente a resistência judaica a Antióquio
restaurou os sacerdortes e resgatou o templo. O período que seguiu, no entanto, foi um
de guerra e violência.
Mais ou menos 63 A.C, Pompeu de Roma conquistou a Palestina, colocando toda
Judéia sob o controle de César. Isso eventualmente fez com que o imperador romano e
senado fizessem de Herodes o rei da Judéia. Essa seria a nação que muito exigiu dos
judeus, controlando-os demasiadamente e eventualmente executando o Messias na cruz
romana. As culturas romana, grega e hebraica agora estavam misturadas na Judéia, com
todas as três línguas faladas comumente.
Durante o período de ocupação grega e romana, dois grupos políticos e religiosos
bastante importantes passaram a existir. Os Fariseus adicionaram à Lei de Moisés
através de tradição oral – eventualmente considerando suas próprias leis como sendo
mais importantes (veja Marcos 7:1-23). Enquanto as ensinamentos de Cristo
frequentemente concordavam com os dos fariseus, Ele era contra seu legalismo e falta
de compaixão. Os Saduceus representaram os aristocratas e ricos. Os Saduceus, os
quais tinham bastante poder através do Sinédrio (algo parecido com a Suprema Corte),
rejeitaram todos os livros do Velho Testamento menos os Mosáicos. Eles se recusaram a
acreditar na ressurreição, e eram como uma sombra dos gregos, a quem admiravam
grandemente.
Essa coleção de eventos que preparam o palco para a vinda de Cristo teve uma
grande influência no povo judeu. Os judeus e pagãos de outras nações estavam
descontentes com religião. Os pagãos estavam começando a questionar a validez do
politeísmo. Romanos e gregos se afastaram de suas mitologias em direção às Escrituras,
as quais podiam ser lidas em grego e Latim. Os judeus, no entanto, estavam
desanimados com a situação. Mais uma vez eles foram conquistados, oprimidos e

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poluídos. A esperança estava nas últimas, fé mais ainda. Eles estavam convencidos de
que a única coisa que podiam salvar a eles e a sua fé era a aparição do Messias.
O Novo Testamento conta a história de como a esperança surgiu, não só para os
judeus, mas para o mundo inteiro. A realização de Cristo das profecias foi antecipada e
reconhecida por muitos que O procuraram. As histórias do centurião romano, dos reis
magos e do fariseu Nicodemos mostram como Jesus foi reconhecido como o Messias por
aqueles que viveram no Seu tempo. Os “400 anos de silêncio” foram quebrados pela
história mais maravilhosa jamais contada – o Evangelho de Jesus Cristo!

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6. A Veracidade da Bíblia.
6.1. Significado.
Por veracidade das Escrituras queremos dizer que seus registros são verazes, e que
assim podem ser aceitos como declarações dos fatos.
O caráter canônico das Escrituras, incluindo a genuinidade de sua autoria, fica assim
demonstrado como fato estabelecido; porém, a questão de sua veracidade ainda precisa
ser corroborada. Um livro pode ser genuíno quanto à sua autoria, e, contudo, não ser
crível quanto ao seu conteúdo. Por exemplo, entre as obras de ficção, possuímos as de
Dickens, Shakespeare e Stevenson, com provas incontestáveis de sua autoria. Nenhuma
pessoa inteligente, entretanto, tentaria estabelecer a veracidade de suas narrativas. São
universalmente reconhecidas como ficção. Seria esse o caso da Bíblia, ou ela é ao
mesmo tempo genuína e veraz?

6.2. Provas.
A veracidade de qualquer afirmação ou série de afirmações pode ser testada
mediante comparação com os fatos, desde que tais fatos estejam disponíveis. A
veracidade das afirmações bíblicas pode ser e tem sido testada mediante fatos
descobertos pela investigação científica e pela pesquisa histórica.

Estabelecida por considerações negativas.


(1) Não contradizem quaisquer fatos científicos bem estabelecidos.
Quando corretamente interpretados, suas afirmações se harmonizam com todos os
fatos conhecidos a respeito da constituição física do universo e com o mistério dos
mundos planetário e estrelar; com a constituição do homem e com sua complexa
natureza e seu ser; com a natureza dos animais inferiores, e com suas várias espécies
na escala da existência; com a natureza das plantas e com o mistério da vida vegetal; e
com a constituição da terra e suas formas e forças materiais.
Frequentemente é levantada a questão da exatidão científica das afirmações bíblicas.
Algumas vezes essa questão é aliada com a alegação que a Bíblia não é um livro
científico. Apesar, porém, de ser verdade que a Bíblia não tem como tema uma questão
secundária como a ciência natural, mas antes, trata da história da redenção, inclui,
contudo, em seu escopo, todo o campo da ciência. Em todas as suas afirmações,
portanto, a Bíblia deve falar e realmente fala com exatidão.
(2) Não contradizem as conclusões filosóficas geralmente apoiadas
concernentes aos fatos do universo.
A Bíblia se opõe a certo número de conceitos filosóficos do mundo e refuta-os: o
ateísmo, o politeísmo, o materialismo, o panteísmo e a eternidade da matéria (Gn. 1:1);
porém, não entra em conflito ou debate comaqueles pontos de vista que têm sido
provados como cientificamente sãos.

Estabelecida por considerações positivas.


(1) Integridade topográfica e geográfica.
As descobertas arqueológicas provam que os povos, os lugares e os eventos
mencionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras os
localizam, no local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas descritas na Bíblia.

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O Dr. Kyle diz que os viajantes não precisam de outro guia além da Bíblia quando
descem pela costa do Mar vermelho, ao longo do percurso seguido no Êxodo, onde a
topografia corresponde exatamente à que é dada no relato bíblico.
“Sir William Ramsey, que iniciou suas explorações na Ásia Menor como pessoa que
duvidava da historicidade do livro de Atos, dá testemunho da sua maravilhosa
exatidão quanto às particularidades geográficas, conhecimento das condições
políticas, que somente alguém vivo naquela época e presente em cada localidade
poderia saber. Ficou ele tão impressionado com essas fotos que se tornou ardente
advogado da historicidade do livro de Atos.” – Hamilton.
(2) Integridade etnológica ou racial.
Todas as afirmações bíblicas concernentes às raças a que se referem, têm sido
demonstradas como harmônicas com os fatos etnológicos revelados pela arqueologia
“Trata-se de fato bem confirmado pela pesquisa arqueológica que, sempre que as
Escrituras mencionam um povo ou suas relações raciais, sua origem ou seus
costumes, ou afirmam que governaram ou serviram outras nações, ou se trate de
outro fato qualquer, pode-se confiar que essas afirmações estão exatamente de
acordo com as revelações da arqueologia. Por conseguinte, a única teoria que um
historiador pode sustentar, em face de tais fatos, é que o autor da genealogia dos
povos, em Gênesis 10, deve ter tido diante de si, quando escrevia, informações
originais de primeira ordem.” – Hamilton.
(3) Integridade cronológica.
A identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o período de sua
ocorrência é corroborada pela cronologia síria e pelos fatos revelados pela arqueologia.
A Bíblia possui um sistema real pelo qual fica demonstrado como correto o período
ao qual é atribuído cada acontecimento, ficando também demonstrado que a ordem dos
acontecimentos é a ordem correta da sua ocorrência, e que as circunstâncias
acompanhantes são corretamente colocadas no tempo e dispostas. Os primeiros
elementos de uma história digna de confiança são encontrados nos documentos bíblicos.
Os lugares onde se afirma que os acontecimentos ocorreram, são localizados com
exatidão, os povos mencionados nesta ou naquela localidade, estavam realmente ali; e o
tempo dos acontecimentos registrados é o tempo exato em que devem ter acontecido.
Isso fornece o arcabouço da história inteira do Antigo Testamento.
(4) Integridade histórica.
O registro bíblico dos nomes e títulos dos reis está em harmonia perfeita com os
registros seculares, conforme estes têm sido trazidos à luz pelas descobertas
arqueológicas.
O Dr. R. D. Wilson, professor de línguas semíticas, diz que os nomes de quarenta e
um dos reis citados nominalmente no Antigo Testamento, desde o tempo de Abraão até o
fim do período do Antigo Testamento, também são encontrados nos documentos e
inscrições contemporâneos, escritos no tempo daqueles reis e geralmente sob a
orientação dos mesmos, em seus próprios idiomas.
(5) Integridade canônica.
A aceitação pela Igreja em toda a era cristã, dos livros incluídos nas Escrituras que
hoje possuímos, representa o endosso de sua integridade.
 Concordância de exemplares impressos, do Antigo e do Novo Testamentos
datados de 1488 e 1516 D.C., com exemplares impressos atuais das
Escrituras.

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“Esses exemplares impressos, ao serem comparados, concordam nos seus


aspectos principais com as Escrituras impressas que possuímos hoje em dia,
e assim provam, de uma vez, que tanto o Antigo como o Novo Testamento,
na forma em que os possuímos agora, já existiam há quatro centos anos
passados.” – Evans.
 Aceitação da integridade canônica à base de 2000 manuscritos bíblicos
possuídos por eruditos no século XV, em confronto com a aceitação de
escritos seculares à base de uma ou duas dezenas de exemplares.
“Quando essas Bíblias foram impressas, certo erudito tinha em seu poder
mais de 2.000 manuscritos. Kennicott reuniu 630 manuscritos e DeRossi
mais 743 para a edição crítica da Bíblia hebraica. Acima de 600 outros
manuscritos foram coligidos para a edição do Novo Testamento grego. Esse
número é sem dúvida suficiente para esta belecer a genuinidade e
autenticidade do texto sagrado. Têm servido para restaurar ao texto sua
pureza original, e também nos fornecem absoluta certeza e proteção contra
corrupções futuras.
“A maioria desses manuscritos foram escritos entre 1.000 e 1.500 D.C.
Alguns remontam ao século IV. O fato de não possuirmos manuscritos
anteriores ao século IV explica-se sem dúvida pela destruição em massa dos
livros sagrados no ano de 302 D.C. por ordem do imperador Diocleciano.” –
Evans.
 Confirmação por parte das quatro Bíblias mais antigas, datadas entre 300 e
400 D.C. e escritas em diferentes partes do mundo, que em conjunto contêm
as Escrituras como as possuímos atualmente.

O conteúdo verídico das Escrituras tem sido plenamente comprovado


apelando-se para os registros regulares e para os fatos reais revelados pela
pesquisa científica.

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7. Inspiração ou Autoridade da Bíblia


Temos visível evidência que a Bíblia é uma revelação de Deus. E nos é dito na Bíblia
que Deus deu a revelação por inspiração. Se a Bíblia é a revelação de Deus, justo é
deixá-la falar por si mesma sobre a sua própria natureza. É nosso propósito, então,
inquirir neste capítulo do sentido e da natureza da inspiração, segundo o propósito
testemunho da Bíblia.
No curso que estamos seguindo aqui observamos a razão no seu sentido mais
elevado. Mostrou-se que a razão requer uma crença na existência de Deus. E apontou-
se, além disso, que é razoável esperar uma revelação escrita de Deus. É da competência
da razão, então, em relação à revelação, antes que tudo, examinar as credenciais de
comunicações que professam ser uma revelação de Deus. Se essas credenciais forem
satisfatórias, deve então a razão aceitar as comunicações como vindas de Deus; daí,
aceitar as coisas apresentadas como sendo verdadeiras. "A revelação é o vice-rei que
apresenta primeiro suas credenciais à assembleia provincial e então preside" (Liebnitz).
Na maneira precitada "a razão mesma prepara o caminho para uma revelação acima da
razão e pede uma confiança implícita em tal revelação quando uma vez dada" (Strong).
Acima da razão não é contra a razão. É o racionalismo mais cru possível que rejeita
tudo que não pode aprofundar ou demonstrar racionalmente. "O povo mais irracional do
mundo é aquele que depende unicamente da razão, no sentido mais limitado" (Strong). O
mero raciocínio ou o exercício da faculdade lógica não é tudo da razão. A razão, no
sentido amplo, compreende toda força mental para reconhecer a verdade. A razão só
pode rejeitar justamente aquilo que contradiz fatos conhecidos. E então, para estar
seguro, a razão deve estar "condicionada em sua atividade por um santo afeto e
iluminada pelo Espírito Santo" (Strong). A semelhante razão a Escritura não apresenta
nada contraditório, conquanto ela faz conhecido muito além do poder desajudado do
homem para descobrir ou compreender completamente.

7.1. O Sentido da Inspiração


Quando Paulo disse: "Toda a Escritura é dada por inspiração de Deus" (II Timóteo
3:16), ele empregou a palavra grega "theopneustos" com a ideia de inspiração. A palavra
grega compõe-se de "theos", significa Deus, e "pneu", significando respirar. A palavra
composta é um adjetivo significando literalmente "respirado por Deus". Desde que é o
fôlego que produz a fala, esta palavra proveu um modo muito apto e impressivo de dizer
que a Escritura é a palavra de Deus.

7.2. O Elemento Humano na Inspiração


No entanto, foi somente em casos especiais que as palavras a serem escritas foram
ditadas por via oral para os escritores da Bíblia. Na maioria dos casos as mentes dos
escritores tornou-se o laboratório em que Deus converteu o seu fôlego, por assim dizer,
em linguagem humana. Isso não foi feito por um processo mecânico. A personalidade e
temperamento dos escritores não foram suspensas. Estes são manifestos nos escritos.
Assim lemos Gaussen: "Ao sustentar que toda a Escritura é de Deus, estamos longe de
pensar que o homem não é nada... Nas Escrituras todas as palavras são do homem,
como lá, também, todas as palavras são de Deus.... Em certo sentido, a Epístola aos
Romanos é ao todo uma carta de Paulo e, em um sentido ainda maior, a Epístola aos
Romanos é totalmente uma carta de Deus”(Theopneustia, um livro altamente aprovado
por CH Spurgeon) E assim lemos também de Manly:." A origem divina e a autoridade da
a Palavra de Deus não são para ser afirmadas de modo a excluir ou dificultar a realidade
da autoria humana, e as peculiaridades daí decorrentes. A Bíblia é a Palavra de Deus ao
homem, na sua totalidade, mas, ao mesmo tempo, é verdade e completamente a
composição de um homem. Nenhuma tentativa deve ser feita e vamos certamente fazer
nada para anular ou ignorar o "elemento humano" das Escrituras, que inequivocamente é

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bem aparente, ninguém deve desejar assim ampliar o divino ao ponto de elimina-lo, em
parte ou sua totalidade. Este é um dos erros que os homens honestos têm cometido. [A
citação a seguir é muito para o ponto aqui: "Às vezes, pode ser francamente admitido,
zelo pela autoridade divina e inerrância das Escrituras pode ter levado a teorias
insustentáveis e modos de expressão, que tenham obscurecido a verdade. Para dizer,
por exemplo, que os escritores foram apenas instrumentos passivos nas mãos do
Espírito, ou na melhor das hipóteses amanuenses escritos ao ditado, a adotar, em outras
palavras, a teoria da mecânica, é injustificada e maliciosa. Não faz parte da doutrina, e
nunca foi geralmente realizada " (Nova Guia Bíblico, Urquhart, vol. 8, página 175).] Deixai
ambos serem admitidos, reconhecidos, aceitos com gratidão e regozijo, cada um
contribuindo para tornar a Bíblia mais completamente adaptado às necessidades
humanas como o instrumento da graça divina, e guia para fracos e almas humanas
errantes. A palavra não é do homem, quanto à sua origem, nem dependendo do homem,
quanto à sua autoridade. É por e através do homem como seu meio; ainda não apenas
simplesmente como o canal ao longo do qual ele é executado, como a água através de
um tubo sem vida, mas através do homem como agente voluntário ativo "e inteligente na
sua comunicação. Ambos os lados da verdade são expressos na linguagem bíblica:
"Homens santos de Deus falaram inspirados (carregados) pelo Espírito Santo. ” ( 2 Pe
1:21) Os homens falaram, o impulso e a direção são de Deus” (A Doutrina Bíblica da
Inspiração). "As Escrituras contêm um ser humano, bem como um elemento divino, de
modo que, enquanto eles constituem um corpo de verdade infalível, esta verdade é
moldada em moldes humanos e adaptados à inteligência humana comum" (Strong)

7.3. A Inspiração Executada Milagrosamente


O elemento humano na Bíblia não afeta a sua infalibilidade, assim como a natureza
humana de Cristo não afetou Sua infalibilidade. A inspiração foi realizada milagrosamente
assim como o nascimento virginal de Cristo foi realizada por milagre, e assim como os
homens são levados ao arrependimento e fé milagrosamente. Arrependimento e fé são
atos voluntários do homem, mas porque são feitas nele pelo Espírito Santo. Deus
realizou o milagre da inspiração providencialmente preparando os escritores de seu
trabalho e assim revelando Sua verdade para eles e assim permitindo, orientando e
supervisionando-os na gravação de como nos dar através deles uma exata e transmissão
completa de tudo o que Ele desejava revelar.
"Apesar do Espírito Santo não ter selecionado as palavras para os escritores, é
evidente que Ele o fez através dos escritores" (Bancroft, Teologia Elementar).

7.4. Métodos na Inspiração


O elemento miraculoso na inspiração, sem dúvida, não pode ser explicado. E não
temos nenhum desejo que o homem possa explicá-lo. Mas até certo ponto, no mínimo,
podemos discernir das Escrituras, os métodos que Deus usou na inspiração. Um estudo
dos métodos empregados deveria levantar nossa apreciação da inspiração.
(1) Inspiração por meio da revelação objetiva.
Algumas vezes foi dada uma revelação direta e oral para ser escriturada, tal como foi
o caso ao dar-se a Lei mosaica (Ex. 20:1) e tal como foi o caso, algumas vezes, com
outros escritores (Dn. 9:21-23; Ap. 17:7).
(2) Inspiração por meio de visão sobrenatural.
Noutros casos deu-se uma visão sobrenatural com ou sem uma interpretação dela,
como foi o caso com João na Ilha de Patmos.
(3) Inspiração por meio de Passividade.

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Noutras vezes, quando não se nos dá evidencia de uma revelação externa de


espécie alguma, os escritores foram tão conscienciosos e passivamente movidos pelo
Espírito Santo que ficaram sabidamente ignorantes do impacto daquilo que escreveram,
como foi o caso com os profetas quando escreveram de Cristo (1 Pedro 1:10).
(4) Inspiração por meio de iluminação divina.
Algumas vezes foi dada aos escritores tal iluminação divina como para capacita-los a
entenderem e aplicarem a verdade contida em prévias revelações, mas não feitas
inteiramente claras por eles; como foi o caso com escritores do Novo Testamento ao
interpretarem e aplicarem a Escritura do Velho Testamento (Atos 1:16, 17, 20; 2:16-21;
Rom. 4:1-3; 10:5-11).
(5) Inspiração por meio da direção de Deus.
Em alguns casos os escritores foram meramente de tal modo guiados e guardados
para recordarem infalivelmente fatos históricos segundo Deus se agradou de faze-los,
quer fossem esses fatos pessoalmente conhecidos deles, ou obtidos de outros, ou
revelados sobrenaturalmente. Todos os livros históricos são exemplos oportunos aqui.
(6) Inspiração por meio de revelação subjetiva.
Noutras vezes foi a verdade revelada através dos escritores por tal vivificação e
aprofundamento do seu próprio pensar como para habilitá-los a perceber e registrar
infalivelmente a nova verdade, como parece ter sido o caso com Paulo em muitas das
suas epístolas.
Somando tudo, podemos dizer que o processo de inspiração consistiu de tais meios e
influências como aprouve a Deus empregar, segundo as circunstâncias, para poder dar-
nos uma revelação divina, completa e infalível de toda a verdade religiosa de que
precisamos durante esta vida. Ou podemos dizer com A. H. Strong: "Pela inspiração das
Escrituras queremos significar aquela influência divina especial sobre as mentes dos
escritores sagrados em virtude da qual suas produções, à parte de erros de transcrição,
quando justamente interpretadas, constituem juntas uma regra de fé e prática infalível e
suficiente".

7.5. A Extensão da Inspiração


Ver-se-á que a inspiração verbal está implicada no que já dissemos; mas, como
também já foi dito, isto não destrói o elemento humano na Escritura. A Escritura é, toda
ela, a Palavra de Deus; ainda assim, muitíssimo dela é também a palavra do homem. Os
escritores diferem em temperamento, linguagem e estilo, diferenças que estão
claramente manifestas nos seus escritos, ainda que suas produções são tão verdadeiras
e completamente a Palavra de Deus - como qualquer expressão oral de Jesus.

7.6. Provas da Inspiração Verbal


Como prova de fato que a Bíblia é inspirada em palavra e não meramente em
pensamento, chamamos a atenção para as evidencias seguintes:
(1) A Escritura inspirada envolve necessariamente a inspiração verbal.
É nos dito que a Escritura é inspirada. A Escritura consiste de palavras escritas.
Assim, necessariamente, temos inspiração verbal.
(2) Paulo afirmou que ele empregou palavras a ele ensinadas pelo Espírito
Santo.
Em 1 Cor. 2:13, ao referir-se às coisas que ele conheceu pelo Espírito Santo, disse:
"Quais coisas falamos, não nas palavras que a humana sabedoria ensina, mas que O
Espírito Santo ensina". É isto uma afirmação positiva da parte de Paulo que ele não foi
deixado a si mesmo na seleção de palavras. [Alguns acusam que em Atos 23:5, 1 Cor.
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7:10,12, Paulo admite a não inspiração. Em Atos 23:5 Paulo diz a respeito do Sumo
Sacerdote: "Não sabia, irmãos, que era o Sumo sacerdote". Isto "pode ser explicado tanto
como a linguagem de ironia indignada: "Eu não reconheceria tal homem como Sumo
Sacerdote"; ou, mais naturalmente, como uma confissão atual de ignorância e falibilidade
pessoais, o que não afeta a inspiração de qualquer dos ensinos ou escritos finais de
Paulo" (Strong). Inspiração não significa que os escritores da Bíblia foram sempre
infalíveis no juízo ou impecáveis na vida, mas que, na sua capacidade de mestres oficiais
e interpretes de Deus, eram conservados do erro.
Nas passagens da primeira epístola aos Coríntios diz Paulo no caso de um
mandamento: "Mando eu, todavia não eu, mas o Senhor"; ao passo que no caso de
outros mandamentos diz ele: "O resto falo eu, não o Senhor". Mas notai que no fim das
últimas séries de exortações ele diz: "Penso... que eu tenho o Espírito de Deus" (1 Cor.
7:40). Aqui, portanto, Paulo distingue... não entre os seus mandamentos próprios e
inspirados, mas entre aqueles que procediam de sua própria (inspirada de Deus)
subjetividade e os que Cristo mesmo supriu por Sua palavra objetiva" (Meyer, in Loco).]
(3) Pedro afirmou a inspiração verbal dos seus próprios escritos como dos
outros apóstolos.
Em 2 Pedro 3:1,2,15,16 Pedro põe os seus próprios escritos e os de outros apóstolos
em nível com as Escrituras do Velho Testamento. E desde que Pedro creu que as
Escrituras do Velho Testamento eram verbalmente inspiradas (Atos 1:16), segue-se,
portanto, que ele considerava os seus escritos e os de outros apóstolos como
verbalmente inspirados. [A questão pode ser levantada como a dissimulação de Pedro
em Antioquia, onde temos uma "negação prática de suas convicções, separando-se
retirando-se dos cristãos gentios (Gl 2,11-13) " (Strong). "Aqui não era o ensino público,
mas a influência do exemplo particular. Mas nem neste caso, nem o referido acima (Atos
23:5), Deus permitiu o erro ser estabelecido. Por meio da atuação de Paulo, o Santo
Espírito define o correto" (Strong)]
(4) Citações no Novo Testamento tiradas do Velho provam a inspiração verbal
dos escritores do Novo Testamento.
Os judeus tinham um respeito supersticioso pela própria letra da Escritura.
Certamente, então, os judeus devotos, se deixados a si mesmos, seriam extremamente
cuidadosos ao citar as Escrituras, como está escrito. Mas nós encontramos no Novo
Testamento 263 citações diretas do Antigo Testamento, e destes, segundo Horne, oitenta
e oito são citações verbais da Septuaginta, sessenta e quatro são emprestados a partir
dele; trinta e sete têm o mesmo significado, mas palavras diferentes; dezesseis
concordam mais perto com o hebraico, e vinte diferem tanto do hebraico como da
Septuaginta. Todos os escritores do Novo Testamento, exceto Lucas, eram judeus, mas
eles não escrevem como os judeus. O que pode explicar isso, se eles não estavam
conscientes de sua sanção divina de cada palavra que escreveram? Alguns bons
exemplos de citações do Antigo Testamento pelos escritores do Novo Testamento, onde
um novo significado é posto em que as citações se encontram em Rm. 4:6,7, que é uma
citação de Salmos. 32:1 e Rm. 10:6-8, que é uma citação de Dt. 30:11-14
(5) Mateus afirma que o Senhor falou através dos profetas do Velho
Testamento.
Veja a Versão Revisada de Mt. 1:22 e 2:15.
(6) Lucas afirmou que o Senhor falou pela boca dos santos profetas. Lucas
1:70.
(7) O escritor aos hebreus afirma o mesmo (Hb. 1:1).
(8) Pedro afirmou que o Espírito Santo falou pela boca de Davi. Atos 1:16.

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(9) O argumento de Paulo em Gl. 3:16 implica inspiração verbal.


Neste lugar Paulo baseia um argumento no número singular da palavra "semente" na
promessa de Deus a Abraão.
(10) Os escritores do Velho Testamento implicaram e ensinaram
constantemente a autoridade divina de suas próprias palavras.
As passagens em prova disto são numerosas demais para precisarem de menção.
(11) A profecia cumprida é prova da inspiração verbal.
Um estudo da profecia cumprida convencerá qualquer pessoa esclarecida que os
profetas foram necessariamente inspirados nas próprias palavras que enunciaram; do
contrário, não podiam ter predito algo do que eles souberam muito pouco.
(12) Jesus afirmou a inspiração verbal das escrituras.
Jesus disse: "A Escritura não pode ser anulada" (João 10:35), o que Ele quis dizer
que o sentido da Escritura não pode ser afrouxada nem sua verdade destruída. Sentido e
verdade estão dependendo de palavras para sua expressão. Sentido infalível é
impossível sem palavras infalíveis.

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8. Principais Traduções da Bíblia


Targuns
Quando o povo de Israel voltou do exílio babilônico, já não sabia mais falar o
hebraico. E, para que as Escrituras fossem entendidas, surgiu a necessidade de se ler o
texto em hebraico e se explicar em aramaico.
Targum é a palavra hebraica que significa “tradução”, mas na prática traduções,
paráfrases e comentários do Antigo Testamento têm sido assim chamados. Os Targuns
não são traduções literais do texto original, mas explicações e comentários que os
rabinos faziam em aramaico para compreensão do texto.
Os Targuns mais importantes que temos são os de Jônatas e de Ônquelos. Embora
não tenham a autoridade de uma tradução, os Targuns ajudam a entender algumas
passagens obscuras e difíceis do Antigo Testamento e também dão uma boa
contribuição no conhecimento da história da interpretação. Em um comentário sobre a
passagem bíblica que fala do rei Assuero e da rainha Vasti, o Targum diz que a única
coisa que a rainha deveria vestir para se apresentar aos seus convidados seria a coroa,
ou seja, estaria inteiramente nua.

Septuaginta
Septuaginta é a versão grega do Antigo Testamento. Foi feita no século III a.C.
para que judeus que viviam fora de Israel pudessem ler as Escrituras no idioma universal
da época, o grego. Diz a lenda que 70 ou 72 anciãos eruditos fizeram a tradução em 72
dias. Daí o nome Septuaginta. Não cremos que a tradução foi feita neste tempo record.
A Septuaginta é a tradução mais importante do Antigo Testamento. Jesus e os
escritores do Novo Testamento fizeram muitas citações da Septuaginta. Além disso, ela
foi base para muitas traduções. Esta tradução também foi importante para expandir o
conhecimento das Escrituras, visto que o hebraico era um idioma morto na época da
escrita do Novo Testamento.

Vulgata Latina
A palavra vulgata, originalmente, vem de vulgo, palavra que se refere àquilo que
é do povo. Foi uma tradução da Bíblia inteira feita por Sofrônio Eusébio Jerônimo no fim
do século IV d.C. para o latim. A princípio, a tradução geral do Antigo Testamento deixou
de lado os livros apócrifos, porque ele não queria que os mesmos fossem incluídos,
embora ele houvesse traduzido os livros de Judite e Tobias.
Ele traduziu o Antigo Testamento do texto hebraico e fez uma revisão da versão do
Novo Testamento chamada Vetus Latina. A tradução foi feita por ordem do Bispo de
Roma Damaso. Jerônimo também usou textos gregos para basear a sua tradução.
Com a invenção (ou aperfeiçoamento) da imprensa por Guttemberg e com a Reforma
Protestante, a Bíblia passou a ser mais popular. Até este tempo, um exemplar da Bíblia
era muito caro, não sendo acessível ao povo de uma forma geral. A Vulgata Latina foi o
primeiro livro impresso por Guttemberg, uma grande Bíblia com 1282 páginas, onde cada
página tinha duas colunas com 42 linhas cada coluna. Recebe o nome de Vulgata, pois
foi traduzida na língua do povo (vulgo). A Vulgata foi bastante criticada quando foi feita,
mas com o tempo a sua importância foi reconhecida.

Peshita
A Peshita é a versão siríaca do Antigo Testamento hebraico e também do Novo
Testamento. O termo Peshita significa simples, comum. Foi feita por eruditos do hebraico,
que provavelmente eram cristãos, e fizeram esta tradução para os cristãos da Síria. No

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Novo Testamento, são excluídos desta tradução os seguintes livros: II Pedro, II e III João,
Judas e Apocalipse. Alguns acreditam que a tradução foi feita por Jerônimo.
É tida como uma versão importante e como um trabalho muito bem feito. Hoje
existem mais de 300 manuscritos desta versão, um número bem significativo.

Os Manuscritos do Mar Morto e Qumran


Foram descobertos, provavelmente, no ano de 1947, em uma série de cavernas da
margem ocidental do Mar Morto. O Mar Morto é um grande lago salgado. É chamado de
Mar Morto pelo fato de neste lago não haver vida, devido à grande quantidade de sal.
Está entre Israel e a Jordânia, cerca de vinte e quatro quilômetros a leste de Jerusalém.
É um lago que tem uma média de profundidade de 300 metros e seu trecho mais
profundo chega a 410 metros (RN Champlin).
Alguns destes manuscritos foram achados em cavernas de Qumran, que fica,
aproximadamente, a 16 quilômetros a oeste de Jerusalém. As primeiras descobertas
foram feitas por um homem que procurava sua cabra perdida. A partir daí, os
arqueólogos vasculharam outras cavernas e, em alguns anos, acharam muitos outros
manuscritos.

O Conteúdo Dos Manuscritos


Contém fragmentos dos livros de todo o Antigo Testamento, exceto o livro de Ester.
Muitos manuscritos contém as regras de disciplina religiosa da comunidade de Qumran.
Alguns acreditam ser os essênios, pois contém regras de rigor ascético e mostram uma
comunidade separatista, uma espécie de remanescente. É interessante notar como as
seitas e algumas igrejas-seitas-evangélicas tomam para si o título de “remanescente fiel”.
Foram achados manuscritos bem conservados de Daniel e dos Salmos e um targum
em aramaico do livro de Jó, datado do século I a.C. Também foram descobertos
manuscritos em más condições, com trechos dos livros de Reis, Lamentações e
Deuteronômio.
Os fragmentos do livro de Samuel, que são os mais antigos encontrados, datam de
225 a.C. Dos manuscritos encontrados na primeira caverna, o mais importante é um rolo
de Isaias. Foram achados também manuscritos com cânticos, trechos de livros apócrifos
e obras apocalípticas extra-bíblicas.

Sua Grande Importância


(1) Os manuscritos de Qumram são mais antigos do que os mais antigos
fragmentos do Antigo Testamento existentes e preenchem a lacuna que havia, no estudo
do hebraico, quanto à história da evolução da sua escrita e do seu modo de soletrar.
(2) Há nova luz sobre a interpretação de passagens difíceis do Velho Testamento.

The King James Version


A versão do Rei Tiago (The King James Version) foi feita no ano de 1611, por
influência dos puritanos (grupo de protestantes ingleses radicais) e patrocinada pelo Rei
Tiago, que subiu ao trono da Inglaterra em 1603. Esta versão é baseada na tradução de
William Tyndale, esta feita a partir dos originais hebraicos e gregos. Foi proposta por um
homem chamado John Reynolds, da universidade de Oxford, que deseja ver uma
tradução da Bíblia bem feita para o inglês.
A reforma protestante, com sua pregação de que o povo deveria ter acesso às
Escrituras, criou uma demanda por bíblias muito grande. Homens como Lutero, Calvino,
John Huss, Savonarola, Knox e outros acenderam uma chama nos corações do povo
europeu que a corrupção do clero havia apagado. Desde o século XII grupos protestantes

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como os petrobrussianos, os valdenses e os albigenses vinham se opondo à atitude da


igreja de omitir as Escrituras do povo e pregar doutrinas que eram (e ainda são)
baseadas na tradição.
A Versão do Rei Tiago (assim chamada por nós) foi feita por um grupo de 47
pessoas, as quais foram divididas em 6 grupos, sendo 3 responsáveis pela tradução do
Velho Testamento, dois pelo Novo Testamento e um pelos livros apócrifos. O trabalho foi
terminado depois de 4 anos e dedicado ao Rei Tiago. Com o passar dos anos, esta
versão se tornou a mais popular tradução de língua inglesa. Alguns séculos depois a King
Version sofreu revisões, o que no começo não foi aceito, mas acabou sendo feito devido
à necessidade de atualização pelo desenvolvimento e mudança do idioma e da
descoberta de manuscritos mais antigos. A publicação da revisão se deu na metade do
século XX.

Tradução de Lutero
Martinho Lutero é considerado o principal dos reformadores. Ele estava no lugar
certo e na hora certa. Se tivesse vivido nos séculos XIII ou XIV, provavelmente teria
morrido como mártir. Tendo vivido, porém, no século XVI, usufruiu da imprensa recém
inventada por Guttemberg e aproveitou-se dos diversos movimentos de “pré-reforma”
feitos por grupos anteriores.
Foi um grande teólogo e escritor. Lutou contra a corrupção da igreja e não negou a
sua fé. É um dos responsáveis pela nossa liberdade de expressão religiosa, conquistada
em grande parte pelos reformadores. O nosso hábito de consultar a Bíblia e lê-la em
nossos cultos é um costume herdado da reforma, o qual Lutero tem grande parte.
Uma das grandes obras de Lutero é a sua tradução da Bíblia para o idioma alemão.
Lutero não foi a primeira pessoa a traduzir a Bíblia para o alemão, pois já existiam
versões baseadas na Vulgata. Ele, porém, buscou uma tradução de melhor qualidade,
mais adequada a língua do povo e também baseada no grego e no hebraico, não no
latim. Lutero primeiro traduziu o Novo Testamento, terminando-o em 1522, e em 1532
publica o Antigo Testamento. Além disso, ele ficou por cerca de 12 anos trabalhando no
aperfeiçoamento da tradução, mesmo após o término do trabalho.
A tradução de Lutero, além de dar acesso ao povo às Escrituras, contribuiu para o
desenvolvimento do idioma alemão e se tornou base para as seguintes traduções: sueca,
holandesa, finlandesa, dinamarquesa e outras. Além da tradução da Bíblia para o
alemão, Lutero escreveu livros teológicos e compôs algumas músicas, sendo a mais
conhecida delas “Castelo Forte”.

Textos Massoréticos
O termo massoreta significa “guardiões da tradição”. Os massoretas foram um grupo
de rabinos (mestres da lei judaica) que tiveram o cuidado de pegar os textos hebraicos do
Antigo Testamento das Escrituras e inserir vogais. Iniciaram este trabalho em 500 d.C. e
continuaram por cerca de 1.000 anos. Já no ano 900 d.C., o termo “massorético” passou
a ser usado para designar o texto do Antigo Testamento produzido por este grupo.
No alfabeto hebraico não havia vogais. E, ao ler um texto, a interpretação das
palavras ficava confusa, principalmente para quem não tinha grande habilidade no
hebraico. Os massoretas fizeram este árduo trabalho, lendo e interpretando o texto, e
inserindo vogais nos mesmos, para que a leitura se fizesse mais prática e fácil para as
pessoas.
Após o cativeiro babilônico os judeus perderam a habilidade de falar o hebraico.
Passaram a falar o aramaico. E, com o tempo, o hebraico foi se tornando um idioma
morto. Com isso, houve um receio dos judeus de que a língua morresse e os escritos
passassem a serem lidos de forma errada. Este também foi um dos motivos que levou os

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massoretas a fazerem este trabalho importante e conversarem a leitura correta dos textos
do Antigo Testamento.

Versão de Antônio Pereira de Figueiredo


Antônio Pereira de Figueiredo foi um padre nascido em Portugal, no ano de 1725.
Neste momento, a igreja católica queria mais uma tradução de Bíblia para o seu povo,
sentimento bem diferente ao da Idade Média. Antes de sua tradução, D. Diniz, rei de
Portugal (127-1325 d.C.) traduziu os 20 primeiros capítulos de Gênesis para o Português,
utilizando a Vulgata como base. D. João I (1385-1433 d.C.), mandou traduziu os
evangelhos, atos e as epístolas paulinas, utilizando também a Vulgata.
O padre Figueiredo não tinha conhecimento das línguas originais da Bíblia, o
hebraico, o aramaico e o grego. Por isso, não poderia fazer uma tradução baseada
nas línguas originais. Este fato levou-lhe a basear sua tradução de Bíblia para o
português na Vulgata Latina (tradução feita por Jerônimo no século IV). O trabalho de
tradução e revisão levou cerca de 18 anos. O Novo Testamento foi publicado no ano de
1778 e o Antigo Testamento nos anos de 1783 e 1790.
Alguns eruditos apresentam falhas na tradução de Figueiredo que são comuns em
traduções de tradução. Se em uma tradução já ocorrem vários erros, imaginem em uma
tradução de outra tradução! Além disso, a versão de Figueiredo é tida como tendenciosa
em certas partes. Em I Pe 5:5, que na versão de Almeida diz “Sede sujeitos aos mais
velhos”, Figueiredo traduziu por “apoiando honra aos padres”. Ele também traduz a
expressão “sacerdotes”, em Jo 11:57, por pontífice. Embora para alguns isto tenha a
intenção de facilitar a leitura, para quem tem um certo conhecimento da Teologia isto soa
como algo tendencioso. Jamais pode-se traduzir o termo grego “presbyteros” por padres,
como ele o fez. Anula a ideia dos textos originais e traz engano ao leitor.

Versão de João Ferreira de Almeida


João Ferreira de Almeida nasceu na cidade de Torres de Tavares, em Portugal, em
cerca do ano 1628. Se converteu do Catolicismo ao Protestantismo aos 14 anos de
idade, quando saiu de Portugal e foi viver na Malásia.
Aos 16 anos, em 1644, iniciou o processo de tradução da Bíblia para a língua
portuguesa. Porém, não se baseou em manuscritos gregos e hebraicos, mas sim em
uma versão espanhola e traduções latina, francesa e italiana. Nesta época Almeida não
conhecia o grego e o hebraico. Esta tradução não foi da Bíblia inteira, mas dos
evangelhos e das epístolas do Novo Testamento. Este trabalho levou aproximadamente
1 ano. Almeida também trabalhou na tradução de outros livros para a língua portuguesa e
se opôs a algumas idéias do romanismo.
Tendo terminado o Novo Testamento, foram feitas revisões e correções, o que levou
cerca de 10 anos. A tradução do Novo Testamento foi concluída em 1676, continuação
daquilo que fez em sua juventude. O Novo Testamento foi revisado por ele após ter
aprendido o grego, tendo como base o Textus Receptus, produzido por Erasmo no século
XVI. A partir de 1681 começou a trabalhar na tradução do Antigo Testamento. Almeida
faleceu entre 8 e 10 de outubro de 1691, tendo traduzido o Antigo Testamento até
Ezequiel 48:21.
Para enriquecer o nosso texto, a Sociedade Bíblica do Brasil, em seu site
www.sbb.org.br, diz sobre esta tradução: “Os princípios que regem a tradução de
Almeida são os da equivalência formal, que procura seguir a ordem das palavras que
pertencem à mesma categoria gramatical do original. A linguagem utilizada é clássica e
erudita. Em outras palavras, Almeida procurou reproduzir no texto traduzido os aspectos
formais do texto bíblico em suas línguas originais – hebraico, aramaico e grego – tanto no
que se refere ao vocabulário quanto à estrutura e aos demais aspectos gramaticais”.

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Outras Traduções em Português


O povo brasileiro tem sido privilegiado na quantidade e na qualidade das
traduções da Bíblia. Não só na variedade da linguagem, como também nas Bíblias de
estudo, concordâncias, dicionários, mapas, comentários, etc. Uma pena que, com
tamanho privilégio, as pessoas não aproveitam.
O site da Sociedade Bíblica do Brasil, www.sbb.org.br, nos fornece um
interessante quadro, comparando três versículos de três traduções desta instituição, a
ARC (Almeida Revista e Corrigida), a ARA (Almeida Revista e Atualizada) e a NTLH
(Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Vejamos:
 Almeida Revista e Corrigida
 Almeida Revista e Atualizada
 Nova Tradução na Linguagem de Hoje
A ARC é uma versão antiga, feita numa linguagem rebuscada. Lá o leitor pode
verificar que são utilizadas palavras como “undécimo” e “duodécimo”, ao invés de
“décimo primeiro” e “décimo segundo”. Derradeiro é empregado em lugar de último. É
comum as pessoas não entenderem o que leem nesta versão, pois muitas palavras
utilizadas na ARC não são usadas no dia-a-dia. Temos que levar em conta que a versão
original de Almeida utilizava uma linguagem difícil. Entretanto, esta tradução, a ARC, é de
grande importância para o público evangélico brasileiro.
A ARA mudou alguns termos, mas é bastante semelhante à ARC. A palavra
“caridade”, por exemplo, é substituída por “amor”. A NTLH, porém, é bem diferente das
duas versões e utiliza uma linguagem bem mais popular, o que, naturalmente, facilita a
leitura da Bíblia para o grande público, que não está acostumado a ler textos difíceis.
A NVI (Nova Versão Internacional) também tem sido uma tradução amplamente
divulgada no Brasil. Sua linguagem acessível tem contribuído para que os brasileiros que
leem as Escrituras a procurem. Vejamos um versículo: “Cuidado com os falsos profetas.
Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas…” (Mt 7:15). O leitor atento observa que,
diferentemente das outras versões, que utilizam a palavra “vós”, a NVI usa “vocês”. Mais
um: “…para não dizer que você me deve a própria vida”. Na ARA, o texto fica assim: “Eu,
Paulo, de meu próprio punho o escrevo, eu o pagarei, para não te dizer que ainda a ti
mesmo a mim te deves”. Com certeza o versículo fica muito mais claro na NVI. A NVI
costuma utilizar notas de rodapé quando insere no texto bíblicos versículos que
costumam não estar nos manuscritos mais antigos ou até mesmo dizendo que há
divergências de expressões nos textos gregos, quando é o caso. Além disso, as medidas
e pesos estão convertidos na nossa forma de uso. Isso a fez substituir côvados por
metros ou centímetros e talentos por quilos.
Temos também a Bíblia Ecumênica, uma boa tradução católica. Utiliza uma
linguagem mais fácil, mas não muito informal. O versículo de Filemon 19 fica assim nesta
versão: “Eu não preciso recordar-te que tu também tens comigo uma dívida, que és tu
mesmo”. Na NVI o pronome de tratamento empregado é “você”, enquanto na Bíblia
Ecumênica permanece o “tu”. De qualquer forma, o versículo fica mais fácil de entender
nestas duas versões do que na ARC ou na ARA. Um versículo polêmico fica assim na
B.E.: “Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e meus companheiros de cativeiro. Eles
são apóstolos eminentes e pertenceram a Cristo mesmo antes de mim” (Rm 16:7).
Vejamos como fica na ARA: “Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus
companheiros de prisão, os quais são bem conceituados entre os apóstolos, e que
estavam em Cristo antes de mim”. Qual a diferença? Na Bíblia Ecumênica, claramente
Andrônico e Júnias são chamados de apóstolos. Tal tradução, se estiver correta,
revolucionaria a ideia sobre o ministério feminino de liderança, já que Júnias, uma

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mulher, é tratada como apóstola. A ARA, porém, dá uma ideia totalmente diferente, como
se ela fosse bem conceituada entre os apóstolos, não fazendo parte deles.
O seguinte versículo é omitido na Bíblia Ecumênica: “Porquanto um anjo descia
em certo tempo ao tanque, e agitava a água; então o primeiro que ali descia, depois do
movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse” (Jo 5:4). Na realidade,
tal versículo não se encontra nos manuscritos mais antigos e, provavelmente, a atitude
de omiti-lo é correta, talvez representando o texto original.

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