Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Notas
• Background:
◦ Historinha da antropologia
◦ Na psicologia e áreas afins, colapso do paradigma behaviorista, e revolução cognitivista
◦ Na antropologia, mais ou menos no mesmo período desta revolução, ocorria a mudança do
foco nas instituições sociais para o estudo dos sistemas simbólicos
• Capítulos 2, 3, 4 e 5:
◦ Estes capítulos dizem respeito ao desenvolvimento inicial da antropologia cognitiva – em
termos breves, o desenvolvimento de um aparato teórico e metodológico para tratar de
domínios “cognitivos” do mundo nativo, como parentesco e conhecimentos “biológicos”
classificatórios. É um bocado de formalismo, e não muito de interessante. Segue um
apanhado geral:
▪ Influência da linguística estrutural: análises que buscavam entender alguns dominios do
conhecimento nativo como sistemas, partindo do entendimento das características
distintitivas de seus termos. Inicialmente isto foi aplicado aos sistemas de parentesco,
com resultados que foram julgados bons.
▪ Na medida em que as análises foram constituindo múltiplos modelos internamente
coerentes de aspectos do conhecimento nativo, surgiu a questão da realidade psicológica
destes modelos: os modelos criados realmente correspondem a forma como os nativos
pensam e operam a partir daquele domínio do conhecimento? Foram desenvolvidas
maneiras para testar quais modelos seriam mais próximos ao conhecimento de fato
empregado pelos nativos.
▪ As descobertas também se aproximaram de questões relativas à memória de curto prazo.
O autor descrevo próximo de condensação (chunking) de características em um único
termo, analogias e etc.
▪ Outras técnicas de pesquisa foram desenvolvidas, e a preocupação passa das
características distintivas dos termos (aquelas que marcam a diferença dos termos no
sistema) para as características que de fato importam para as pessoas no seu pensamento
e operações cotidianas.
▪ Outra parte importante diz respeito ao estudo das taxonomias nativas(folk taxonomies):
• As taxonomias nativas compreendem o estudo de sistemas classificatórios nativos –
seres vivos, cores, etc.
• Taz algumas ideias sobre como são formados os objetos do pensamento, e como são
ordenados. Foco muda das características dos objetos para como são formados.
• Descobertas importantes desta parte:
◦ Existem diferenças cognitivas entre diferentes níveis hierárquicos nas
classificações (taxonomias). Termos de níveis mais altos tem geralmente poucas
características, e estas são de caráter formal e esquemático (o que configura uma
forma eficiente de produzir distinções amplas. Simplificação pela redução do
número de atributos. Já nos níveis inferiores, os objetos tem grande quantidade
de características, consdensadas em blocos que eles chama de gestalts
configuraicionais (configurational gestalts). Objetos organizados assim seriam
objetos de nível “básico”.
◦ Padrões de atributos identificados a partir da habilidade de produzir gestalts
configuracionais permitiriam a classificação de objetos em “tipos”.
◦ Outro resultado importante está ligado à noção de objetos prototípicos: objetos
de uma dada categoria que possuem o maior número de atributos em comum
com objetos da mesma categoria são tomados como representação cognitiva da
categoria. Como se fossem os melhores exemplos daquela categoria. Uma
rolinha em um tucano estão na categoria pássaros, mas lembramos sempre
primeiro da rolinha (ou de outro animal similar, como um coleirinho, um sabiá,
sei lá) quando a categoria pássaros é acionada.
◦ It is as if the human cognitive system were a structure seeking device. At the
appropriate level of detail, it finds which attributes of a class of instances are
most strongly correlated, and creates generic or basic level objetcs by forming a
gestalt configuration of these attributes. As a result, the cultural and individual
systems of thought are made up of more than just a list of features or attributes
varying in salience. Features are grouped togheter in to object-like things,
makig for a greater cognitive efficiency in categorization. Once formed, these
objects can then be extended to cover instances wich have some commonality
with the prototypic exemples of the category. p.120
▪ A definição de “esquema” e “não esquema” é uma questão de grau, e não uma distinção
binária. Definição de D’Andrade desta questão:
• To say that something is a "schema" is a shorthand way of saying that a distinct and
strongly interconnected pattern of interpretive elements can be activated by minimal
inputs. A schema is an interpretation which is frequent, well organized, memorable,
which can be made from minimal cues, contains one or more prototypic
instantiations, is resistant to change, etc. While it would be more accurate to speak
always of interpretations with such and such a degree of schematicity, the
convention of calling highly schematic interpretations "schemas" remains in effect
in the cognitive literature. p.142
• Sendo uma distinção gradual, haverão esquemas mais fracos, e esquemas mais fortes
– ou seja, com mais capacidade de criar correlações ilusória, organizar memória,
permitir o raciocínio, etc. p. 142
• As redes neurais tem suas limitações, não são uma implementação totalmente
satisfatória da teoria dos esquemas. p. 143
◦ Entre estas limitações, está a incapacidade de completar tarefas de
reconhecimento de padrões de correspondência ou diferença (matching and
oddity), do tipo: Diante de três estímulos, dois iguais e um diferente, selecione o
diferente. Este tipo de tarefa pode ser apredido por alguns animais (corvos
conseguem, pombos não, por exemplo), que o executam com destreza e rapidez
após alguma experiência. p. 142-123
◦ As redes neurais, assim com animais que tem dificuldade nesta tarefa,
conseguem resolver as tarefas uma de cada vez, com o tempo apropriado, mas
não melhoram seu desempenho com a experiência. Ou seja, elas não conseguem
formar um esquema para diferenças deste tipo (oddity schema) p. 143
◦ Não se sabe se a capacidade dos humanos e dos corvos de resolver este problema
envolve uma rede neural mais complexa, ou um tipo de arquitetura neural
diversa.
◦ Outra incapacidade destas redes neurais é a dificuldade de discrimar entre uma
instance e uma variável, ou entre um tipo e um token (Exemplo da diferença na
página 143) p.143
• No entanto, estas incapacidades das redes neurais não são um grande problema para
a teoria dos esquemas – é possível usar o conhecimento da teoria sem poder simulá-
lo por completo. p. 143
• A parte adiante trata das implicações da teoria dos esquemas (e de sua simulação em
redes neurais) para o estudo da cultura. p. 143
• Uma das questões principais é a noção de que a cultura para formada por regras
(regras morais, de jogos, de sistemas de paretensco, etc). Estas regras são
consideradas implícitas – as pessoas em certa medida as seguem, mas não podem
defini-las se questionadas.
◦ Uma rede neural, quando processando um certo input, parece seguir regras – a
relação entre o input recebido e o output produzido pode ser descrito como uma
série de regras formais. No entanto, não existem regras definidas na rede neural,
existem apenas conexões com pesos distintos. p. 143
◦ A questão aqui é que por vezes antropólogos definem “regras” seguidas pelos
atores, quando descrevem o comportamento de um ator, que supostamente
derivaria daquelas regras. No entanto, pode ser que não hajam regras sendo
seguidas pelo ator – apenas redes de um dado tipo. p. 144
◦ Existe uma diferença entre o aprendizado de uma rede neural, e o aprendizado
de processamento serial de simbolos. O aprendizado serial é mais rápido
normalmente – uma regra aprendida por meios seriais é memorizada
rapidamente, o aprendizado por rede neural exige uma quantidade grande de
experiencia. Também é mais fácil mudar aprendizado serial, pelo mesmo motivo.
Além disso, o aprendizado baseado em rede neural se torna mais rápido e
automático – uma vez aprendido, não é preciso pensar sobre ele para acioná-lo,
apenas reagir a situações aprendidas sem pensar. p. 144
▪ Exemplos na páginas 144
◦ As distinções acima parecem espelhar outra distinção, feita por George Mandler,
entre memória automática e não-automática. Detalhes na página 144.
◦ Nota pessoal: O aprendizado serial parece estar ligado a memorização de regras
que podem ser declaradas verbalmente, enquanto o aprendizado neural parece
estar ligado a um conhecimento mais “incoporado”.
◦ Alguns comportamentos podem ser misturas de redes neurais e conhecimento
declarativo, verbal. Em outros casos, estes dois tipos de conhecimento podem se
chocar. Em uma situação de reação rápida, o conhecimento neural, incorporado
toma precedência, embora a resposta adequada poderia vir do conhecimento
declarativo p.145
◦ Exemplo de um Americano dirigindo na Inglaterra, onde a mão é diferente ( mão
inglesa). Embora ele tenha memorizado as regras do trânsito inglês, ainda assim
seus reflexos e ações podem ser definidos por seu conhecimento de rede neural,
definido por horas e horas dirigindo no trânsito americano. p. 145
◦ É difícil saber quando da cultura se dá por conhecimento “connectionist”
(connectionist, rede neural), e quando se dá por regras verbalmente declaráveis.
p. 145
▪ Coisas que são aprendidas com o mínimo uso de regras declaradas e greande
quantidade de exposição a encontras com instâncias específicas
provavelmente são aprendidas por meios “connectionist”. Exemplos:
habilidades artísticas, interação social, etc. p. 145
▪ Outros domínios involvem mais regras verbais. Exemplos, aprendizado
escolar, sistemas formais de leis, ética, e etiquetas, etc. p. 145.
▪ Vários domínios da cultura possivelmente são amalgamas complexas entre
aprendizado de rede neural e aprendizado de regras verbalmente declaradas,
juntando a vatagem dos dois tipos de aprendizado (mais rápido de aprender
que aprendizado puro de rede neural, com performance mais rápida que
aprendizado serial). p. 145
◦ É preciso entender a cultura como mais que um conjunto de regras declarativas,
incluindo domínios do conhecimento que são aprendidos por meios de
aprendizado de rede neural. p.145
◦ Exemplos de um aprendizado que parece se dar por rede neural (seleção de lenha
por um fazendeiro de Madagascar) p. 145-146
• Outra implicação importante dos modelos neurais para a forma como se pensa a
cultura envolve a relação entre as estruturas na mente e as estruturas no mundo.
p.146
◦ A partir da década de 50, a cultura passou a a ser pensada por grande parte dos
antropólogos como um fenômeno puramental mental – composta de significados,
conhecimentos, valores, crenças, etc. As estruturas existententes no mundo físico
– os sons padronizados da linguagem, comportamento associado a funções,
cultura material, realização de rituais, etc – seriampensamentos produzidos na
mente, e como que externalizadas como reflexo destas estruturas culturais
mentais. p. 146
◦ No entanto, esta noção de reflexo é complicada pelas redes neurais – o
aprendizado de uma estrutura pela rede neural exisge que hava uma estrutura
clara presente no input. Ou seja, a “mente” - no caso da rede neural - é
fortemente afetada pela estrutura fisica. Assim, em alguma medida, as estruturas
presentes na mente são reflexos de estruturas fisicas. p. 146
◦ Esta causa e efeito circula (estrutura física – estrutura mental) também ocorre no
que diz respeito ao entendimento (understanding). As estruturas externas que são
representações físicas dependem da capacidade do sistema cogntivo de dar
significado representacional. Pelo outro lado, o sistema cognitivo não pode
expressar e comunicar significados sem formas físicas externas de expressão –
como a fala, a escrita, o ritual, etc). p. 146
◦ O problema com a definição puralmente mental da cultura é que ela legimitimiza
o estudo de estruturas mentais mas deslegitimiza oestudo de extruturas externas.
p. 146
▪ Uma solução para a questão é proposta por Edwin Hutchins: One solution to
this definitional problem, developed by Ed Hutchins, is to shift the whole
ontological basis of the concept and define culture as process rather than
content and consider both mental structures and physical structures as a
result or residue of the process of cultural transmission and adaptation
(Hutchins 1994). p. 146
▪ Outra solução de D’Andrade, é usar a definição de cultura clássica, de
Taylor, e ser específico na definição de coisas culturais, distinguindo
estruturas mentais (esquemas, entendimentos, etc) de estruturas externas
(cultura material, práticas, etc). p. 146
• Outra implicação dos modelos de rede neural diz respeito à plasticidade – mudança e
fixidez – da cultura. p. 147
◦ Várias críticas foram dirigidas a noção de cultural como algo estanque, unificado
e não contestado (uncontested). No entanto, os autores(ou autoras?) Quinn e
Strauss apontam que a definição de uma cultura que é totalmente diversa, nunca
aceita, e nunca a mesma também traz problemas. A questão é criar uma teoria
que dê conta da unidade e desunidade, da mudança e da permanência, do
consenso e do incoformismo na cultura. p.147
◦ Para isso, segundo Quinn e Strauus, é necessário uma teoria psicológica do
aprendizado a partir da experiência, para descobrir o que aquele que aprende
internaliza. Elas dizem que a teoria dos esquemas/redes neurais seria uma
solução. p. 147
◦ As autoras comparam a noção de esquema cultural com a noção de Bourdieu de
habitus.
▪ A noção de habitus foi criada para promover um meio do caminho entre dois
extremos da teoria social: a ação dos atores determinada apenas pelas
estruturas sociais, de um lado, e a ação dos atores determinada somente pelos
seus interesses, sem impacto cultural. p. 147
▪ Definição da noção de habitus, segundo Quinn & Strauss: Bourdieu's
alternative is not to say that sometimes humans enact learned structures and
sometimes we are "free." Instead, he argues, we are always constrained by
the dispositions learned from our experiences, but our habitual responses
rest on knowledge that is not learned from or cognitively represented as
rules. Our internalized (in his words "incorporated" or "embodied")
knowledge is looser and fuzzier than rules. This forpl of internalization
enables people to react flexibly to new contexts instead of enacting the same
structures over and over again. This imprecise knowledge Bourdieu calls
habitus. (n.d.) p. 147
▪ Similaridades entre os dois conceitos – habitus e esquema:
• ambos são procediemtnos de reconhecimento implícitos e flexíveis
• não são regras conscientes (embora o habitus, para Bourdier, não possa
ser consciente, e o esquema possa ser)
▪ Diferenças entre os conceitos: p. 148
• habitus são sempre largamente compartilhados – esquemas não.
• Habitus não tem relação clara com motivação e emoção – esquemas tem
• habitus parecem ser aprendidos automaticamente, sem reference ao
estado motivacional do aprendedor.
◦ Aprender um esquema não é como carregar uma série de instruções num
computador:
▪ Connectionist models give us another way of thinking about internalization:
not as loading in a set of instructions, but as gradually building up
associative links among repeated or salient aspects of our experience. The
understandings that are built up through this process tend to be stable in
persons and durable historically. Depending on the cultural inputs from
which they are learned, they may tend to be shared across persons and
thematized across cultural contexts. Finally, if these associations are learned
along with strong emotional reactions, they may acquire powerful
motivational force. This model makes it clear that all of these centripetal
cultural effects are a contingent product of interaction between minds and a
world shaped a certain way — not an inevitable functional requirement of
social systems (to put it in the theoretical terms of the 1950s and 1960s) or of
human needs to find meaning through socially given symbol systems (in the
terms of the symbolist anthropology of the 1970s). Thus, it follows that it is
equally possible for cultural inputs to result in understandings that vary
across individuals and contexts and are learned without the emotional
associations that give them motivational force. Furthermore, with changes in
the circumstances under which people grow up, understandings can undergo
historical change and with intentional effort, people can change their own
habitual responses. (n.d.). p.148
• Outro ponto importante diz respeito a noção de que a linguagem/os simbolos
determinam como experienciamos o mundo. p. 148
◦ Esta noção, comum (De forma muito forte na hipótese Sapir Whorf, ou também
defendida por Sahlins, e etc), constituiria um pressuposto comum em muito da
antropologia simbolista, estruturalista e interpretativista. p. 148
◦ Ela leva ao relativismo epistemológico – noção de que não há uma forma de
saber diretamente sobre o mundo, já que nossas percepções dele são mediadas
pelas lentes da linguagem e dos simbolos. p. 148
◦ Do ponto de vista da teoria dos esquemas/redes neurais, esta noção está
incorreta. Para esta teoria, como as redes neurais são sensíveis a estruturas de
input, é provável que a estrutura mental tenha alguma correspondência a
estrutura física – seja as estruturas físicas do mundo natural (árvores, dor), seja
as estruturas comportamentes do processo cultural (fala, ritual). No modelo da
rede neural, as palavras(simbolos) não codificam (encode) a experiencia. Ao
invés disso, as palavras significam esquemas, o que significa que as unidades
atividadas por um som de fala particular também ativam padrões maiores de
conexões que são o esquema ativo para uma experiência particular. Os sons das
palavras são como ponteiros para padrões de experiencias que são indices para
estruturas mentais internas, não véus entre a realidade e a experiência. p. 149
◦ Sob este ponto de vista, distinções na linguiagem possivelmente refletem
diferenças salientes na forma como o mundo e experienciado, dado que estas
diferenciações são mais facilmente aprendidas. Isto não significa, no entanto,
que os sistemas de significado (culturais ou individuais) são meras reflexões
diretas das nossas percepções do mundo exterior. As discriminações ensiadas, a
influência de um esquema sobre o outro, a influência das emoções e da
motivação no aprendizado, e a influência dos outros sobre o que pensamentos
tem a capacidade de produzir grande variação individual e cultural. p. 149
◦ Sumário p. 149:
▪ A teoria dos esquemas/redes neurais permite rejeitar tanto o extremo
idealismo da teoria da linguagem/simbolos como um véu entre o mundo e a
experiência, como o extremo objetivismo da cultura como uma simples
reflexão do mundo externo experienciado.
▪ Ao incoporar o aprendizado de rede neural ao aprendizado serial
(processamento serial de simbolos), ela permite:
• Ver a cultura não mais como um conjunto de objetos simbólicos – regras
e proposições – mas algo que inclui também formas de aprendizado de
rede neural, que é diferente do aprendizado de regras.
• Entender que o encontro com estruturas do ambiente é um fator
importante na transmissão da cultura – tanto no aprendizado como na
transmissão de representações.
• O dilema de apresentar a cultura como rígida, uniforme, coercitiva, ou
interamente plástica, negociável, em mudança é resolvível.
• A noção da cultura como um véu que distorce nossa percepção do mundo
é rejeitada, passando a ser considerada uma explicação incompleta de um
processo muito mais complexo.