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The development of Cognitive Anthropology - Roy D’Andrade

Notas

• O prefácio apresenta os objetivos da disciplina:


◦ Definição de Goodenough, da cultura de uma sociedade como: “O que quer quer alguém
tenha que saber ou acreditar para operar em uma maneira aceitável para seus membros”.
▪ Cultura como conhecimento compartilhado.
◦ Questões a partir desta definição:
▪ Qual a natureza do conhecimento cultura (é uma lista de proposições? Estruturas
organizadas de atributos contrastantes? Coleção de imagens? Coleção de taxonomias?
Conjunto de programas parecidos com os de computador? É totalmente baseada na
linguagem, ou inclui imagens e habilidades físicas?)?
▪ Como outros processos mentais afetam a forma como este conhecimento é organizado e
usado? (Limitações da memória de curto prazo, relação entre conhecimento e emoção,
etc.
▪ Como o que é aprendido afeta outros processos mentais? (memória, raciocínio)
◦ Aplicação da proposta característica da antropologia - não ficar no laboratório, mas de
estudar os fenômenos como ocorrem na vida cotidiana – aos problemas da mente.

• Background:
◦ Historinha da antropologia
◦ Na psicologia e áreas afins, colapso do paradigma behaviorista, e revolução cognitivista
◦ Na antropologia, mais ou menos no mesmo período desta revolução, ocorria a mudança do
foco nas instituições sociais para o estudo dos sistemas simbólicos

• Capítulos 2, 3, 4 e 5:
◦ Estes capítulos dizem respeito ao desenvolvimento inicial da antropologia cognitiva – em
termos breves, o desenvolvimento de um aparato teórico e metodológico para tratar de
domínios “cognitivos” do mundo nativo, como parentesco e conhecimentos “biológicos”
classificatórios. É um bocado de formalismo, e não muito de interessante. Segue um
apanhado geral:
▪ Influência da linguística estrutural: análises que buscavam entender alguns dominios do
conhecimento nativo como sistemas, partindo do entendimento das características
distintitivas de seus termos. Inicialmente isto foi aplicado aos sistemas de parentesco,
com resultados que foram julgados bons.
▪ Na medida em que as análises foram constituindo múltiplos modelos internamente
coerentes de aspectos do conhecimento nativo, surgiu a questão da realidade psicológica
destes modelos: os modelos criados realmente correspondem a forma como os nativos
pensam e operam a partir daquele domínio do conhecimento? Foram desenvolvidas
maneiras para testar quais modelos seriam mais próximos ao conhecimento de fato
empregado pelos nativos.
▪ As descobertas também se aproximaram de questões relativas à memória de curto prazo.
O autor descrevo próximo de condensação (chunking) de características em um único
termo, analogias e etc.
▪ Outras técnicas de pesquisa foram desenvolvidas, e a preocupação passa das
características distintivas dos termos (aquelas que marcam a diferença dos termos no
sistema) para as características que de fato importam para as pessoas no seu pensamento
e operações cotidianas.
▪ Outra parte importante diz respeito ao estudo das taxonomias nativas(folk taxonomies):
• As taxonomias nativas compreendem o estudo de sistemas classificatórios nativos –
seres vivos, cores, etc.
• Taz algumas ideias sobre como são formados os objetos do pensamento, e como são
ordenados. Foco muda das características dos objetos para como são formados.
• Descobertas importantes desta parte:
◦ Existem diferenças cognitivas entre diferentes níveis hierárquicos nas
classificações (taxonomias). Termos de níveis mais altos tem geralmente poucas
características, e estas são de caráter formal e esquemático (o que configura uma
forma eficiente de produzir distinções amplas. Simplificação pela redução do
número de atributos. Já nos níveis inferiores, os objetos tem grande quantidade
de características, consdensadas em blocos que eles chama de gestalts
configuraicionais (configurational gestalts). Objetos organizados assim seriam
objetos de nível “básico”.
◦ Padrões de atributos identificados a partir da habilidade de produzir gestalts
configuracionais permitiriam a classificação de objetos em “tipos”.
◦ Outro resultado importante está ligado à noção de objetos prototípicos: objetos
de uma dada categoria que possuem o maior número de atributos em comum
com objetos da mesma categoria são tomados como representação cognitiva da
categoria. Como se fossem os melhores exemplos daquela categoria. Uma
rolinha em um tucano estão na categoria pássaros, mas lembramos sempre
primeiro da rolinha (ou de outro animal similar, como um coleirinho, um sabiá,
sei lá) quando a categoria pássaros é acionada.
◦ It is as if the human cognitive system were a structure seeking device. At the
appropriate level of detail, it finds which attributes of a class of instances are
most strongly correlated, and creates generic or basic level objetcs by forming a
gestalt configuration of these attributes. As a result, the cultural and individual
systems of thought are made up of more than just a list of features or attributes
varying in salience. Features are grouped togheter in to object-like things,
makig for a greater cognitive efficiency in categorization. Once formed, these
objects can then be extended to cover instances wich have some commonality
with the prototypic exemples of the category. p.120

• Capítulo 6 – The growth of schema theory:


◦ Aqui começa o ouro. Se os capítulos anteriores são marcados pelo formalismo e pelo nível
básico das ferramentas conceituais em questão, o capítulo 6 tem mais do que eu fui buscar
no livro: a crença da ciência cognitiva nos paralelos entre o funcionamento do computador e
da mente humana.
◦ O capítulo é centro no conceito de esquema (schema).
◦ Conceito foi considerado necessário para dar conta de construtos cognitivos mais
complexos do que os anteriores (termos, taxonomias, objetos, protótipos).
◦ A definição inicial de esquema apresentada por George Mandler (p.122):
▪ Esquemas seriam representações unitárias, distintas, e delimitadas (bounded).
▪ Esquemas organizam a experiência.
▪ Ativar um parte de um esquema seria ativá-lo por inteiro, distinto de outras estruturas e
esquemas.
▪ Esquemas são constituídos na relação com o ambiente.
▪ Esquemas produzidos pela experiênca com um dado tipo de evento não são cópias
idênticas daquele evento, mas sim representações abstratas de regularidades ambientais.
▪ Compreendemos eventos a partir dos esquemas que eles ativam.
▪ Esquemas são mecanismos de processo de informação, são ativos na selação de
experiência, em apreender (parsing) dados do ambiente, e em prover hipóteses. Os
processos de ativação dos esquemas em geral são automáticas, e não percebidos pelo
indivíduo.
▪ Os esquemas se tornaram necessários para a investigação de domínios complexos, como
o discurso real. p. 123
▪ Esquema como forma de tratar de uma imagem (cena, etc) que é ativada no início de
uma interpretação, e vai sendo preenchida. Ao longo do preenchimento novas cenas vão
sendo inseridas, combinadas, etc. A interpretação de um texto cria um mundo mental
particular. p. 123
▪ Exemplo daquilo que constitui o esquema do ato de escrever. p. 123
▪ Caráter abstrato do esquema – ele deixa “slots” em aberto, que podem ser preenchidos
de acordo com o contexto. p.123
▪ Os “slots” tem um valor padrão (default). Se nenhum valor for especificado, então é
usado o valor padrão. p. 123-124.
▪ A schema is an organized framework of objects and relations which has yet to be filled
in with concrete detail. p.124
▪ Esquemas podem ser estruturados hierarquicamente – esquemas mais simples dentro de
mais complexos. p. 124
▪ Existem termos associados a um esquema que identificam sua falha ou incompletudo –
o esquema de escreve contém a possibilidade de “rasurar”.
▪ Exemplos de esquema de “romance” e “amizade” entre universitários americanos. p.
124-125
▪ Entender o discurso exige entender os esquemas invocados. p.125
• Muitas vezes a relação entre esquemas não está explícita no discurso. Isto faz com
que desenvolver programas de computador capazes de analisar e entender discurso
real seja difícil. p. 125-126
▪ Exemplo de como a investigação de conhecimento cultural exige não apenas o
conhecimento das características de alguns termos, ou da relação taxonômica entre
termos, mas também o entendimento dos esquemas culturais relevantes. p. 126-131
• Entender apenas características ou relações taxonômicas pode prover uma ideia de
como é a organização de um determinado domínio do conhecimento – quais são as
relações que as pessoas estabelecem entre termos do domínio, etc – mas nunca o
porque desta organização, e o raciocínio utilizado para chegar a ela. Para isto é
necessário entender os esquemas. p.130
▪ Exemplo do esquema da amizade entre graduandos americanos. p. 131
▪ O esquema é um construto mental culturalmente compartilhado, sendo distinto do
comportamento institucionalizado ao qual está relacionado. p. 132
▪ Existem vários tipos de esquemas (orientacionais, narratvios, proposicionais, etc). Um
dos mais básicos é o de imagem. p. 133.
• Esquema de imagem forma uma abstração perceptual (container, por exemplo).
• Exemplos de esuqemas de imagem em elementos gramaticais. p. 133
▪ A habilidade para a esquemática contrasta com a habilidade para formar gestalts de
características complexos em objetos de nível básico. p. 134
• A capacidade esquemática é de abstração, de encontrar padrões comuns entre
materiais variantes.
• A capacidade para gestalts configuracionais envolve ser capaz de condensar muitos
detalhes em uma iamgem composta complexa.
▪ Se discutiu o aspecto representacional do esquema, mas ele não é apenas representação,
também é um tipo de processador.
• Esquemas (de acordo com alguns dados da psicologia) são um tipo de dispositivo
mental de reconhecimento que cria interpretações complexas a partir de inputs
mínimos. p. 136
▪ Embora podersa, a teoria dos esquemas se provou difícil de simular em programas de
computador. p. 136
• A perspectiva deste pessoal é que uma prova de entendimento de um processo é a
capacidade de criar simulações computacionais do processo. p.136
▪ A princípio, as tentivas de criar simulações computacionais de esquemas deram
resultado errado.
▪ O modelo comum de processamento de computadores na inteligência artifical é
“processamento serial de símbolos” (serial symbolic processing model) – também usado
na psicologia cognitiva. Neste modelo, símbolos são objetos básicos do computador (ou
mente). Os inputs (ou sentidos) trazem informações sobre o mundo exterior. Esta
informação é codificada em símbolos/bits binários, para que uma representação do
mundo seja criada. Após a formação desta representação, os símbolos/bits que a compõe
são manipulados pelo computador usando as regras da lógica (como silogismo) ou
buscas heurísticas (como a busca pelo melhor movimento em um jogo de xadrez). Estas
regras são aplicadas serialemnte, formando uma sequência de passos através da qual
uma decisão é tomada. p. 136-137
▪ Existe outro modelo computacional para o funcionamento da mente. Pesquisas sobre a
criação de um modelo para a forma como uma rede de neurons pode apreder a associar
eventos e reconhecer padrões foi desenvolvida usando uma arquitetura distinta. p. 137
▪ O melhor exemplo entre os primeiros programas deste tipo distinto é o perceptron de
Frank Rosenblatt (década de 50). p. 137
▪ O perceptron é um conjunto de inputs ou unidades sensoriais com conexões fixas para
uma segunda camada de output ou unidades de decisão. Cada conexão deste tipo tem
um certo “peso”, que determina o grau de ativação (ou excitação) passado adiante
naquela conexão para o output (unidade de decisão). Quando a soma da ativação de uma
unidade de output chega a um certo limite, a unidade de output é ativada. p. 137
• Exemplo: p. 137-138. Imagem de exemplo: p. 137
◦ O perceptron pode ser treinado para discriminar entre uma variedade de
diferentes padrões de inputs. Para treinar o perceptor, é inserido um determinado
padrão de input, e se a rede responder com o output errado, aumenta-se o perso
dos inputs que levam à decisão correta, e diminui peso dos que levam a decisão
errada. p. 138
◦ O perceptor apenas identifica alguns tipos de padrões. Entre os que ele não
identifica estão: 1)quantidade de pontos impar vs quantidade de pontos par. 2)
Linhas conectadas vs desconectadas. 3 Exclusive or (xor) p. 138
▪ Inicialmente, as limitações do perceptron fez com que ele perdesse espaço na
inteligência artifical p/ o processamento serial de símbolos. Mas posterioremente,
(década de 80), foi descoberto como superar estas limitações. Para isto, foi inserida uma
camada intermediária entre o input e o output. A partir daí deixou de se chamar
“perceptron” e foi adotado o nome “parallel distributed processing network” ou
“connectionist network” ou “neural net”(rede neural). p. 138
▪ As redes neurais novas, com três camadas, puderam ser treinadas para resolver vários
tipos de tarefas de reconhecimento de padrão. p. 138-139. Exemplos de tarefas na
página 139.
▪ O ganho de popularidade das redes neurais fez o modelo de processamento serial
simbolos se tornar problemático. 139.
▪ O modelo serial é preso a contextos, responde mal (crash) as mínimas alterações no
input, e apesar de ser rápido no procemento lógico e matemático, é lento e infetivo em
outras coisas: tentativas de desenvolver sistemas de navegação e percepção para robôs
não funcionaram bem no modelo serial. p. 139
• NOTA: O texto parense a ideia que animais (formigas) teriam uma rede neural para
processamento paralelo para suas tarefas de locomoção. p. 139
▪ As redes neurais responde a estímulos de um modo que lembra mais os humanos, e que
fazem delas bons modelos do processamento de esquemas no cérebro. p. 139-140:
• Parecem ser bons modelos para processos de esquematicação no cérebro humano,
pois: A) são capazes de preencher slots para os quais não houve input com valores
padrão, permitindo respostas corretas mesmo na falta de alguns inputs. B) Possuem
capacidade de pareender propriedades abstratas e sutis (subtle) do input. C) São
sensíveis a contexto. D) São capazes de juntar interpretações em sínteses razoáveis
quando recebem partes de padrões diferentes. (se o input mistura padrões, a resposta
mistura a interpretação para os pedaços de padrões recebidos). p.139
• Quando uma parte da rede é destruída, ela exibe “degradação graciosa (graceful
degradation) – ou seja, assim como o cérebro humano, a rede ainda funciona
parcialmente, em vez de dar um crash como no caso do processamento de símbolos
serial. p. 140
• São “content adressable” em sua memória – ou seja, podem buscar um item na
memória buscando a partir de características do item, em vez de iterar por toda a
lista de itens deste tipo. p. 140
• Generalizam respostas automaticamente para estímulo similares(?). p.140
• Priming ocorre naturalmente em redes neurais – distinção de padrões depende dos
estímulos anteriores aos quais a rede foi exposta (bom reconhecimento exige treino
com bons exemplos). p. 140
• Apresenta distorções similares à memória humana no reconhecimento de padrões
fracos e anômalos – estes padrõe são interpretados como casos diferentes, mas
relacionados, a padrões com conexões internas e externas fortes (?). p. 140
▪ Há poucas dúvidas de que o cérebro, com seus bilhões de neurônios, seja um rede neural
massiva. p. 140
▪ Diferenças entre o processamento serial de símbolos (pps) e as redes neurais.
• No processamento pps, os inputs são codificados em simbolos. Na rede neural, os
inputs são transformados em conexões de diferentes pesos entre unidades neurais.
Na rede neural, o pensamento consiste em reconhecimentos de padrões por
associação. p. 140
▪ Sabe-se que no cérebro ocorre tanto o processamento serial de simbolos quanto o
processamento típico das redes neurais (processamento paralelo distribuído). Em geral,
os processos mais rápidos do cérebro devem ser paralelos, os mais lentos devem ter um
componente serial. A questão é qual tipo de processamento serve como modelo
primário, e qual seria o secundário. p. 140-142
• Exemplo desta questão no jogo de xadre. p. 141
▪ Nota p.141: A dinstição entre os dois modos de processamento apresenta problemas.
Considera-se que o cérebro é como uma rede neural massiva. No entanto, considera-se
que ele tem a capacidade de organizar várias de suas redes neurias para operar
processamento serial de símbolos. Como uma rede neural pode operar processamento
serial de símbolos, não se sabe. p. 141
▪ As próximas páginas descrevem o impacto das redes neurais na noção de esquema.
Primariamente as redes foram tomadas como formas de simular o processamento de
esquemas, mas acabaram por promover mudanças no próprio conceito que deveriam
simular. p. 141-142.
• A noção passou de uma estrutura fixa para configurações adaptáveis, capazes de
espelhar regularidades da experiência, completar componentes faltas, generalizar a
partir de experiências passadas, mas também de adaptação e modificação contínua
em face a novas situações. (definição de Donald Norman). p. 142
◦ Definição completa de David Norman, p. 142: What about the schema, the
omnipresent, powerful tool of modern cognitive theory? Well, . the schema still
exists, but in a somewhat different form than that which schema theorists have
thought of it . . . Schemas are not fixed structures. Schemas are flexible
configurations, mirroring the regularities of experience, providing automatic
completion of missing components, automatically generalizing from the past, but
also continually in modification, continually adapting to reflect the current state
of affairs. Schemas are not fixed, immutable data structures. Schemas are
flexible interpretive states that reflect the mixture of past experience and present
circumstances. Because the schema is in reality the theorist's interpretation of
the system configuration, and because the system configures itself differently
according to the sum of all the numerous influences upon it, each new invocation
of a schema may differ from the previous invocations. Thus, the system behaves
as if there were prototypical schemas, but where the prototype is constructed
anew for each occasion by combining past experiences with biases and
activation levels resulting from the current experience and the context in which it
occurs.
• Enmbora o foco da definição acima seja na plasticidade dos esquemas, as redes
neurais que os servem de modelo podem ser corfiguradas com mais ou menos
rigídez, e mais ou menos plasticidade. p. 142

▪ A definição de “esquema” e “não esquema” é uma questão de grau, e não uma distinção
binária. Definição de D’Andrade desta questão:
• To say that something is a "schema" is a shorthand way of saying that a distinct and
strongly interconnected pattern of interpretive elements can be activated by minimal
inputs. A schema is an interpretation which is frequent, well organized, memorable,
which can be made from minimal cues, contains one or more prototypic
instantiations, is resistant to change, etc. While it would be more accurate to speak
always of interpretations with such and such a degree of schematicity, the
convention of calling highly schematic interpretations "schemas" remains in effect
in the cognitive literature. p.142
• Sendo uma distinção gradual, haverão esquemas mais fracos, e esquemas mais fortes
– ou seja, com mais capacidade de criar correlações ilusória, organizar memória,
permitir o raciocínio, etc. p. 142
• As redes neurais tem suas limitações, não são uma implementação totalmente
satisfatória da teoria dos esquemas. p. 143
◦ Entre estas limitações, está a incapacidade de completar tarefas de
reconhecimento de padrões de correspondência ou diferença (matching and
oddity), do tipo: Diante de três estímulos, dois iguais e um diferente, selecione o
diferente. Este tipo de tarefa pode ser apredido por alguns animais (corvos
conseguem, pombos não, por exemplo), que o executam com destreza e rapidez
após alguma experiência. p. 142-123
◦ As redes neurais, assim com animais que tem dificuldade nesta tarefa,
conseguem resolver as tarefas uma de cada vez, com o tempo apropriado, mas
não melhoram seu desempenho com a experiência. Ou seja, elas não conseguem
formar um esquema para diferenças deste tipo (oddity schema) p. 143
◦ Não se sabe se a capacidade dos humanos e dos corvos de resolver este problema
envolve uma rede neural mais complexa, ou um tipo de arquitetura neural
diversa.
◦ Outra incapacidade destas redes neurais é a dificuldade de discrimar entre uma
instance e uma variável, ou entre um tipo e um token (Exemplo da diferença na
página 143) p.143
• No entanto, estas incapacidades das redes neurais não são um grande problema para
a teoria dos esquemas – é possível usar o conhecimento da teoria sem poder simulá-
lo por completo. p. 143
• A parte adiante trata das implicações da teoria dos esquemas (e de sua simulação em
redes neurais) para o estudo da cultura. p. 143
• Uma das questões principais é a noção de que a cultura para formada por regras
(regras morais, de jogos, de sistemas de paretensco, etc). Estas regras são
consideradas implícitas – as pessoas em certa medida as seguem, mas não podem
defini-las se questionadas.
◦ Uma rede neural, quando processando um certo input, parece seguir regras – a
relação entre o input recebido e o output produzido pode ser descrito como uma
série de regras formais. No entanto, não existem regras definidas na rede neural,
existem apenas conexões com pesos distintos. p. 143
◦ A questão aqui é que por vezes antropólogos definem “regras” seguidas pelos
atores, quando descrevem o comportamento de um ator, que supostamente
derivaria daquelas regras. No entanto, pode ser que não hajam regras sendo
seguidas pelo ator – apenas redes de um dado tipo. p. 144
◦ Existe uma diferença entre o aprendizado de uma rede neural, e o aprendizado
de processamento serial de simbolos. O aprendizado serial é mais rápido
normalmente – uma regra aprendida por meios seriais é memorizada
rapidamente, o aprendizado por rede neural exige uma quantidade grande de
experiencia. Também é mais fácil mudar aprendizado serial, pelo mesmo motivo.
Além disso, o aprendizado baseado em rede neural se torna mais rápido e
automático – uma vez aprendido, não é preciso pensar sobre ele para acioná-lo,
apenas reagir a situações aprendidas sem pensar. p. 144
▪ Exemplos na páginas 144
◦ As distinções acima parecem espelhar outra distinção, feita por George Mandler,
entre memória automática e não-automática. Detalhes na página 144.
◦ Nota pessoal: O aprendizado serial parece estar ligado a memorização de regras
que podem ser declaradas verbalmente, enquanto o aprendizado neural parece
estar ligado a um conhecimento mais “incoporado”.
◦ Alguns comportamentos podem ser misturas de redes neurais e conhecimento
declarativo, verbal. Em outros casos, estes dois tipos de conhecimento podem se
chocar. Em uma situação de reação rápida, o conhecimento neural, incorporado
toma precedência, embora a resposta adequada poderia vir do conhecimento
declarativo p.145
◦ Exemplo de um Americano dirigindo na Inglaterra, onde a mão é diferente ( mão
inglesa). Embora ele tenha memorizado as regras do trânsito inglês, ainda assim
seus reflexos e ações podem ser definidos por seu conhecimento de rede neural,
definido por horas e horas dirigindo no trânsito americano. p. 145
◦ É difícil saber quando da cultura se dá por conhecimento “connectionist”
(connectionist, rede neural), e quando se dá por regras verbalmente declaráveis.
p. 145
▪ Coisas que são aprendidas com o mínimo uso de regras declaradas e greande
quantidade de exposição a encontras com instâncias específicas
provavelmente são aprendidas por meios “connectionist”. Exemplos:
habilidades artísticas, interação social, etc. p. 145
▪ Outros domínios involvem mais regras verbais. Exemplos, aprendizado
escolar, sistemas formais de leis, ética, e etiquetas, etc. p. 145.
▪ Vários domínios da cultura possivelmente são amalgamas complexas entre
aprendizado de rede neural e aprendizado de regras verbalmente declaradas,
juntando a vatagem dos dois tipos de aprendizado (mais rápido de aprender
que aprendizado puro de rede neural, com performance mais rápida que
aprendizado serial). p. 145
◦ É preciso entender a cultura como mais que um conjunto de regras declarativas,
incluindo domínios do conhecimento que são aprendidos por meios de
aprendizado de rede neural. p.145
◦ Exemplos de um aprendizado que parece se dar por rede neural (seleção de lenha
por um fazendeiro de Madagascar) p. 145-146
• Outra implicação importante dos modelos neurais para a forma como se pensa a
cultura envolve a relação entre as estruturas na mente e as estruturas no mundo.
p.146
◦ A partir da década de 50, a cultura passou a a ser pensada por grande parte dos
antropólogos como um fenômeno puramental mental – composta de significados,
conhecimentos, valores, crenças, etc. As estruturas existententes no mundo físico
– os sons padronizados da linguagem, comportamento associado a funções,
cultura material, realização de rituais, etc – seriampensamentos produzidos na
mente, e como que externalizadas como reflexo destas estruturas culturais
mentais. p. 146
◦ No entanto, esta noção de reflexo é complicada pelas redes neurais – o
aprendizado de uma estrutura pela rede neural exisge que hava uma estrutura
clara presente no input. Ou seja, a “mente” - no caso da rede neural - é
fortemente afetada pela estrutura fisica. Assim, em alguma medida, as estruturas
presentes na mente são reflexos de estruturas fisicas. p. 146
◦ Esta causa e efeito circula (estrutura física – estrutura mental) também ocorre no
que diz respeito ao entendimento (understanding). As estruturas externas que são
representações físicas dependem da capacidade do sistema cogntivo de dar
significado representacional. Pelo outro lado, o sistema cognitivo não pode
expressar e comunicar significados sem formas físicas externas de expressão –
como a fala, a escrita, o ritual, etc). p. 146
◦ O problema com a definição puralmente mental da cultura é que ela legimitimiza
o estudo de estruturas mentais mas deslegitimiza oestudo de extruturas externas.
p. 146
▪ Uma solução para a questão é proposta por Edwin Hutchins: One solution to
this definitional problem, developed by Ed Hutchins, is to shift the whole
ontological basis of the concept and define culture as process rather than
content and consider both mental structures and physical structures as a
result or residue of the process of cultural transmission and adaptation
(Hutchins 1994). p. 146
▪ Outra solução de D’Andrade, é usar a definição de cultura clássica, de
Taylor, e ser específico na definição de coisas culturais, distinguindo
estruturas mentais (esquemas, entendimentos, etc) de estruturas externas
(cultura material, práticas, etc). p. 146
• Outra implicação dos modelos de rede neural diz respeito à plasticidade – mudança e
fixidez – da cultura. p. 147
◦ Várias críticas foram dirigidas a noção de cultural como algo estanque, unificado
e não contestado (uncontested). No entanto, os autores(ou autoras?) Quinn e
Strauss apontam que a definição de uma cultura que é totalmente diversa, nunca
aceita, e nunca a mesma também traz problemas. A questão é criar uma teoria
que dê conta da unidade e desunidade, da mudança e da permanência, do
consenso e do incoformismo na cultura. p.147
◦ Para isso, segundo Quinn e Strauus, é necessário uma teoria psicológica do
aprendizado a partir da experiência, para descobrir o que aquele que aprende
internaliza. Elas dizem que a teoria dos esquemas/redes neurais seria uma
solução. p. 147
◦ As autoras comparam a noção de esquema cultural com a noção de Bourdieu de
habitus.
▪ A noção de habitus foi criada para promover um meio do caminho entre dois
extremos da teoria social: a ação dos atores determinada apenas pelas
estruturas sociais, de um lado, e a ação dos atores determinada somente pelos
seus interesses, sem impacto cultural. p. 147
▪ Definição da noção de habitus, segundo Quinn & Strauss: Bourdieu's
alternative is not to say that sometimes humans enact learned structures and
sometimes we are "free." Instead, he argues, we are always constrained by
the dispositions learned from our experiences, but our habitual responses
rest on knowledge that is not learned from or cognitively represented as
rules. Our internalized (in his words "incorporated" or "embodied")
knowledge is looser and fuzzier than rules. This forpl of internalization
enables people to react flexibly to new contexts instead of enacting the same
structures over and over again. This imprecise knowledge Bourdieu calls
habitus. (n.d.) p. 147
▪ Similaridades entre os dois conceitos – habitus e esquema:
• ambos são procediemtnos de reconhecimento implícitos e flexíveis
• não são regras conscientes (embora o habitus, para Bourdier, não possa
ser consciente, e o esquema possa ser)
▪ Diferenças entre os conceitos: p. 148
• habitus são sempre largamente compartilhados – esquemas não.
• Habitus não tem relação clara com motivação e emoção – esquemas tem
• habitus parecem ser aprendidos automaticamente, sem reference ao
estado motivacional do aprendedor.
◦ Aprender um esquema não é como carregar uma série de instruções num
computador:
▪ Connectionist models give us another way of thinking about internalization:
not as loading in a set of instructions, but as gradually building up
associative links among repeated or salient aspects of our experience. The
understandings that are built up through this process tend to be stable in
persons and durable historically. Depending on the cultural inputs from
which they are learned, they may tend to be shared across persons and
thematized across cultural contexts. Finally, if these associations are learned
along with strong emotional reactions, they may acquire powerful
motivational force. This model makes it clear that all of these centripetal
cultural effects are a contingent product of interaction between minds and a
world shaped a certain way — not an inevitable functional requirement of
social systems (to put it in the theoretical terms of the 1950s and 1960s) or of
human needs to find meaning through socially given symbol systems (in the
terms of the symbolist anthropology of the 1970s). Thus, it follows that it is
equally possible for cultural inputs to result in understandings that vary
across individuals and contexts and are learned without the emotional
associations that give them motivational force. Furthermore, with changes in
the circumstances under which people grow up, understandings can undergo
historical change and with intentional effort, people can change their own
habitual responses. (n.d.). p.148
• Outro ponto importante diz respeito a noção de que a linguagem/os simbolos
determinam como experienciamos o mundo. p. 148
◦ Esta noção, comum (De forma muito forte na hipótese Sapir Whorf, ou também
defendida por Sahlins, e etc), constituiria um pressuposto comum em muito da
antropologia simbolista, estruturalista e interpretativista. p. 148
◦ Ela leva ao relativismo epistemológico – noção de que não há uma forma de
saber diretamente sobre o mundo, já que nossas percepções dele são mediadas
pelas lentes da linguagem e dos simbolos. p. 148
◦ Do ponto de vista da teoria dos esquemas/redes neurais, esta noção está
incorreta. Para esta teoria, como as redes neurais são sensíveis a estruturas de
input, é provável que a estrutura mental tenha alguma correspondência a
estrutura física – seja as estruturas físicas do mundo natural (árvores, dor), seja
as estruturas comportamentes do processo cultural (fala, ritual). No modelo da
rede neural, as palavras(simbolos) não codificam (encode) a experiencia. Ao
invés disso, as palavras significam esquemas, o que significa que as unidades
atividadas por um som de fala particular também ativam padrões maiores de
conexões que são o esquema ativo para uma experiência particular. Os sons das
palavras são como ponteiros para padrões de experiencias que são indices para
estruturas mentais internas, não véus entre a realidade e a experiência. p. 149
◦ Sob este ponto de vista, distinções na linguiagem possivelmente refletem
diferenças salientes na forma como o mundo e experienciado, dado que estas
diferenciações são mais facilmente aprendidas. Isto não significa, no entanto,
que os sistemas de significado (culturais ou individuais) são meras reflexões
diretas das nossas percepções do mundo exterior. As discriminações ensiadas, a
influência de um esquema sobre o outro, a influência das emoções e da
motivação no aprendizado, e a influência dos outros sobre o que pensamentos
tem a capacidade de produzir grande variação individual e cultural. p. 149
◦ Sumário p. 149:
▪ A teoria dos esquemas/redes neurais permite rejeitar tanto o extremo
idealismo da teoria da linguagem/simbolos como um véu entre o mundo e a
experiência, como o extremo objetivismo da cultura como uma simples
reflexão do mundo externo experienciado.
▪ Ao incoporar o aprendizado de rede neural ao aprendizado serial
(processamento serial de simbolos), ela permite:
• Ver a cultura não mais como um conjunto de objetos simbólicos – regras
e proposições – mas algo que inclui também formas de aprendizado de
rede neural, que é diferente do aprendizado de regras.
• Entender que o encontro com estruturas do ambiente é um fator
importante na transmissão da cultura – tanto no aprendizado como na
transmissão de representações.
• O dilema de apresentar a cultura como rígida, uniforme, coercitiva, ou
interamente plástica, negociável, em mudança é resolvível.
• A noção da cultura como um véu que distorce nossa percepção do mundo
é rejeitada, passando a ser considerada uma explicação incompleta de um
processo muito mais complexo.

• Capítulo 7 – Models and theories. p. 150


◦ Os esquemas são organizações abstratas da experiência. Eles constroem objetos de
reconhecimento (objects of recognition).p. 150
◦ NOTA da página 150: Objetos neste sentido são coisas físicas, eventos, ou relações.
◦ No entanto, há mais na cognição que a formação de objetos. Existem diversos tipos de
estruturas cognitivas que não são objetos, e servem para relacionar (link) objetos. Exemplos
de estruturas cognitivas deste tipo: Listas (ordenação serial de objetos), Taxonomias
(relacionamento de objetos pela relação de inclusão), Paradigmas componenciais
[componential paradigms] (relação de objetos através do contraste e do compartilhamento
de características). p.15
◦ Além destas formas de relacionar objetos, existe ainda a proposição. Neste tipo de relação,
esquemas separadas são unidos numa organização mais complexa. A proposição opera da
seguinte forma: Algo é dito sobre algo. Exemplo de proposição: O gato está no tapete
(relaciona os esquemas gato – no – tapete ). p. 150
◦ A capacidade da memória impõe um limite no número de elementos que pode m ser
organizados num esquema, mesma que relacionados proposicionalmente. p. 150-151
◦ As proposições são organizadas em slogans, cliches, provérbios, máximas, e etc, sendo
constituídas por sobre um corpo de entendimento cultural comum. p. 151
◦ Além disto, as proposições são organizadas em relações mais complexas ainda – como
histórias, poesia, silogismos, argumentos e teorias. p. 151
◦ Relações complexas - multi-esquemáticas - também podem ser representadas em simbolos
gráficos – e não verbais, como nas proposições – através de desenhos, mapas, etc.
◦ Seção – Models. p. 151
▪ A definição inicial de modelo cognitivo vem de Kenneth Craik, em 1943. p. 151:
• If the organism carries a "small-scale model" of external reality and of its own
possible actions within its head, it is able to try out various alternatives, conclude
which is the best of them, react to future situations before they arise, utilize the
knowledge of past events in dealing with the present and future, and in every way to
react in a much fuller, safer, and more competent manner to the emergencies which
face it. p. 151
▪ Um modelo seria um conjunto inter-relacionado de elementos que se unem para
representar alguma coisa. Geralmente, se utiliza o modelo para calcular ou raciocionar: a
manipulação mental de partes do modelo permite resolver um problema. p. 151
▪ Os esquemas são como modelos bastante simples, na medida em que são a
representação de algum objeto (evento). No entanto, muitos modelos, embora
compostos por esquemas – não são esquemas, pela sua complexidade e tamanho
enquanto coleção de elementos. Um esquema ("bounded, distinct, and unitary
representation") deve por definição poder ser mantido na memória de curto prazo. p.
151-152
▪ subseção - The Caroline Islands navigation model
• A próxima seção apresenta como exemplo o modelo de navegação das Ilhas
Carolinas, cuja descrição por Gladwin é considerada uma das melhores descrições
sistemáticas de um modelo cultural. p. 152
• Informações gerais sobre a navegação dos micronésios, p. 152
• Informações gerais sobre a pesquisa de Gladwin, e o histórico das pesquisas sobre a
navegação micronésia e polinésia. p. 152
• Descrição do modelo da ilha de referência, de acordo com a sintese proposta por
Edwin Hutchins. p. 152…156
• Noção de que os elementos básicos do sistema de navegação das Carolinas são o
esquema de star track (pontos no horizonte marcados pelo nascer e se por de
estrelas) e o esquema da ilha de referência. A união dos dois cria o modelo que
produz os segmentos etak. Este modelo forma um esquema conceitual que permite
ao navegador estimar continualmente o quanto já viajou (sua posição) e o quanto
ainda deve navegar até seu destino. p. 156
• Descrição do raciocínio do navegador após chegar ao último etak – p. 156
• Definição de Gladwin, que aproxima o etak do conceito de modelo. p. 156
◦ the contribution of etak is not to generate new primary information, but to
provide a framework into which the navigator's knowledge of rate, time,
geography, and astronomy can be integrated to provide a conveniently expressed
and comprehended statement of distance travelled. It also helps keep his
attention focused on these key variables which are central to the entire
navigation process. It is a useful and deliberate logical tool for bringing
together raw information and converting it into a solution of an essential
navigational question: "How far away is our destination.".
• O modelo multiesquemático (ilha de referência + compasso estelar + segmentos
etak), que permite ao navegador estimar sua posição, é explícito. Os navegadores
das Carolinas o usam, e são capazes de formular as partes do modelo em palavras,
representações gráficas na areia, e de explicar como as partes do modelo se
articularam para estudantes. No entanto, nem tudo sobre o modelo é explicitado
verbalmente. Uma citação de Gladwin mostra que determinados conceitos como a
noção de uma ilha móvel não são explicados pelos praticantes. Eles os tomam como
dados – entendem a operação cognitiva em questão, ao contrário de nós, pra quem
ela é estranha. P 156
• O autor cita o uso de Geertz da noção de modelos culturais, e sua crítica à
antropologia cognitiva: Para Geertz, a antropologia deveria se focar nas
representações públicas, em vez de tentar entrar na mente dos nativos. A tentativa de
estudar o que ocorre na mente levaria a um estudo mentalista e especulativo, que não
chega a lugar nenhum. p. 157
• D’Andrade contra-argumenta a noção de Gertz: embora seja verdade que é difícil
estudara mente sem se perder num labirinto de entidades mentais postuladas, não há
outra alternativa. Os fenômenos que o antropólogo estuda não estão auto-evidentes
no mundo. Para estudar as formas culturais, é necessário construir um modelo delas,
e com a construção do modelo surge a questão da realidade psicológica do modelo.
Mesmo Geertz não escapou disse, segundo D’Andrade: Seu modelo da noção de
pessoa entre os balineses foi questionado por dados de outro antropólogo – e isto se
deu porque Geerz não descreveu um fato observável, mas construiu o modelo de
uma concepção – uma espécie de estado mental – abastraído das práticas culturais
balinesas. p. 157
• Assim, modelos que pretendam se aproximar das concepções de fato usadas pelos
nativos não podem ser construídos a partir da observação por si só. A simples
observação da prática da navegação não bastaria para construir o modelo etak – que
ainda possui a vantagem de ser um modelo explícito. A proposta de Gladwin, de
construir um modelo cognitivo das práticas do navegadores micronésios, exigiu que
o modelo fosse testado de alguma forma. p. 157-158
• Ao perceber que tinha um modelo que era capaz de dar conta de todos os fatos que
ele documentou durante sua pesquisa sobre o etak, Gladwin apresentou o modelo a
Hipour, seu principal informate. Este fez as modificações que julgou necessárias
(apenas uma – a ideia de que a noção da ilha móvel e da canoa estacionária só se
aplica quando a canoa está no curso. Quando a canoa sai de curso por algum motivo,
eles voltam a concepção que nós é familiar, da canoa em movimento). p. 158
• Assim, a técnica de verificação da realidade do modelo cognitivo construído é a
seguinte: explique o modelo aos nativos, e veja o que eles acham. Depois, colete
novos tipos de dados, e tente integrá-los no modelo, pra ver se ainda funciona. p.
158
▪ subseção – The model of the mind:
• Esta seção apresenta o que seria um modelo popular (folk model) da mente – uma
representação do que acontece na mente da pessoas para que elas façam o que
fazem, sob uma perspectiva não especialista. Este modelo seria uma representação
básica em todas as culturas. O modelo explicitado aqui seria o vigente nas sociedade
s ocidentais, embora ele pareça dividir várias de suas partes e organização com um
modelo mais geral, universal. p. 158.
• O modelo da mente serve para tentar entender os estados mentais de outras pessoas.
Ou seja, tentar prever e entender ações e reações das outras pessoas. p. 159
• Exemplo de experimento feito com crianças com mais e menos de quatro anos, que
as crianças com mais de quatro anos já desenvolveram algum tipo de modelo que
permite com que elas tentem prever as ações de outros. p. 159
• Modelo da mente composto de cinco substantivos, que possuem cada um vários
verbos. Os substantivos que compõe as classes principais são: perception, thought,
feeling, wish e intention. p. 160
◦ Distinção no modelo entre os verbos de estado e os verbos de processo, p. 160
• A distinção entre verbos de processo e estado indica que o modelo popular da mente
vê a mente tanto como um processador quanto como um container: A mente realiza
processos (looking, reasoning, wanting) mas também contém estados (the mind hold
what it sees, believes, loves, and wishes). p. 161
• Também a o contraste entre os verbos cujo evento é definidos pelo tempo total
envolvido, ou por algum climax. Isto indica que a mente pode ser constante durante
alguns períodos, mas também pode chegar a pontos onde mudanças abruptas
acontecem mais ou menos de repente. p. 161
• Também existe uma rede causal entre as cinco classes de eventos mentais. A
casualidade “default é apresentada na página 161.
• Nota de que existem ações que são voluntárias, intencionais, e outras que são
involuntárias, causadas por sentimentos ou emoção – tais como reflexos e algumas
ações expressivas (gritar). p. 162
• Adições e complicações na casualidade das ações no modelo, p. 162-163
◦ Possibilidade de que desejos e sensações influenciem crenças e mesmo a
percepção – wishfull thinking (querer faz acreditar que vai acontecer),
alucinações perceptuais, etc. p. 162-163
• No modelo popular da mente, as coisas que acontecem na mente em geral são
conscientes – as vezes motivos/sensações não são percebidas/reconhecidas
irrefletidamente, mas não existe incosciência real. p. 162
• A entidade que percebe é o “self”. Ele ao mesmo tempo é um percebedor cosciente,
e uma coisa que é percebida enquanto percebe. O self percebe coisas no mundo, mas
também percebe que está percebendo – é consciente. Ele também é ciente da
persistência de sua identidade no tempo, e se identifica como diferente do Eu de
outras pessoas p. 162
• O self percebido, no modelo popular da mente, tem uma espécie de caráter cebolar,
com várias camadas que podem ser removidas. O desejo, o pensamento e a emoção
podem ser tratados como externos ou internos ao self. No entanto, a intenção é
sempre interna ao self – é o self decidindo agir. p. 164
• O corpo em geral é uma parte importante do self percebido, mas para alguns o corpo
está dissociado do self (transexuais por exemplo). O self percebedor também nota
insconsistência internas, no que pensa, quer, sente, gertando sensação de divisão e
fragmentação interna. As vezes os sentimentos são experienciados como se
pertencessem a outro. Mas nenhum destes casos é a condição normal. p. 164
• O self também pode se expandir- coisas externas podem se tornar parte do self, o
que acontece a elas tem reflexo no self. p. 164
• O self é considerado capaz de controlar suas ações. Embora não seja capaz de
controlar o que sente ou deseja, como é capaz de controlar seu pensamento, o self
por vezes pode direcionar seus pensamentos para evitar pensamentos que levem a
certos desejos ou sensações. p. 164
• O modelo prevê eventos que não são previstos por ele (hipnose, depressão). No
entanto, isto não o invalida, dado que estes eventos são considerados anormais.
Assim, ele não é científico – se protege de ser falseado, já que o que ele falha em
prever é anormal. p. 164
• Like the model used in Caroline navigation, the folk model of the mind has a number
of parts which are interrelated, and it is the relationships among these parts that are
used in figuring out why it is that someone did something, or what it is that someone
is likely to do given that something happened. We use what we know about the past
history of someone's beliefs, feeling, and desires to understand and predict that
person's actions, filling in the missing gaps with a wealth of specific propositions
about how the mind works. p. 165
• Sobre a construção do modelo, de onde vieram os dados, quais partes precisam de
maior esclarecimento. p. 165
• Sobre a “verdade” do modelo popular da mente, p.165
◦ Vários pontos, mas o principal para mim é a possbilidade de que este modelo
seja uma construção ocidental, e que modelos da mende de outras culturas sejam
diferentes. 165
◦ Para D’Andrade, embora não idênticos, os modelos da mente de outras culturas
seriam bastante similares ao ocidental. As páginas posteriores mostram
evidências que vão nesta direção, em particular estudos de modelos da mente de
outras sociedades.165-167
• A comparação do modelo popular da mente com o modelo de navegação das
Carolinas revela diferenças na forma como eles são aprendidos e incorporados p.
167
◦ O modelo das Carolinas é aprendido por demonstração e instrução explícitas.
p.167
◦ O modelo popular da mente parece não é ensinado explicitamente. Muito do
modelo popular da mente está profundamente incorporado na linguagem natural,
é é aprendindo a partir do aprendizado da linguagem. p. 167-168
◦ A correspondência entre as partes do modelo e a linguagem natural (existe uma
relação bastante próxima entre as categorias do modelo e os atos de fala) provê
uma extrutura externa a partir da qual estados mentais podem ser identificados e
aprendidos. p. 168
◦ O modelo também pode sr aprendido a partir de histórias sobre outras pessoas.
◦ O modelo da mente é intersubjetivamente compartilhado entre membros da
cultura ocidental. Ao fazer referência a uma história que use o modelo, nós não
contamos cada parte referente ao modelo – sabemos que os outros entenderão,
porque conhecem o modelo. p. 168
◦ O modelo de navegação das Carolinas não é compartilhado por todos, é um
conhecimento especializado. p. 168
◦ Apesar das diferenças, existem semelhanças entre os modelos em aspectos
cruciais p. 168:
▪ Ambos são usados para conseguir respostas para questões(figure things out).
p. 168
▪ A relação entre partes do modelo, nos dois casos, é tida como espelho da
relação entre as coisas do modelo no mundo – o que permite que ao
relacionar partes do modelo entre si, se possa descobrir como as coisas no
mundo se relacionam entre si. p. 168
▪ Ambos os modelos são multi-esquemáticos, compostos de um número de
esquemas distintos. p. 168
▪ A partir de inputs, os modelos são operados e produzem outputs. p. 168

▪ subseção – The American model of marriage


• Apresentação do modelo americano de casamento, estudado por Naomi Quinn, para
contraste com os outros dois modelos. p. 169
• Método usada para desenvolvimento do modelo, p. 170
• Descrição do modelo por Quinn, p. 170
• As caracterísitcas centrais do modelo de casamento – compartilhamento, benefício
mútuo, durabilidade são baseadas no resultado esperado de relações amorosas,
enquanto características como compatibilidade, dificuldade, esforço, sucesso ou
falha e risco são resultados esperados do fato que o casamento é uma relação
voluntária mais o fato de que é difícil manter um nível alto de benefício mútuo em
qualquer relação. p. 170
◦ Análise de um pedaço de discurso de um informante do modelo de casamento,
demonstrando o ponto acima. p. 171
◦ É examinado como neste discurso o modelo é utilizado como framework para
um argumento sobre a desejabilidade de continuar casado naquela situação
específica. p. 171
• A análise do modelo de casamento revela que os informantes usam diversos modelos
para enteder seu status martial, juntamente com o modelo de casamento (modelos
como de troca utilitária, de pessoa em difentes variações, etc). Trata-se de um
sistema complexa de modelos interrelacionados em diferentes tipos de associações.
p. 172
• Semelhança entre o modelo da mente e o modelo do casamento: Ambos são
aprendidos informalmente, sem instrução direta. Este tipo de modelo parece ter
como caracterísitca o fato de que as pessoas são muito melhores em usá-los do que
descrevê-los. Assim, o modelo se parece mais com um conjunto de procedimentos
(procedures) que eles sabem como usar, do que conhecimento declarativo que eles
podem afirmar. p. 172
• Sobre a catalogação de modelos culturais: Não seria possível desenvolver todos os
modelos mobilizados em uma dada cultura, dada a extensão da tarefa. Mas seria
possível determinar os modelos básicos usados em um único domínio de uma
cultura. A tarefa é penosa, já que a construção de modelos demora. Mas D’Andrade
considera que em tempo, etnográficas cognitivas somadas acumularão descrições de
modelos de vários domínios de uma variedade de culturas. p. 172
◦ Seção – Cultural theories. p.172
▪ Uma teoria cultura consiste num conjunto de proposições inter-relacionadas que
descrevem a natureza de algum fenômeno geral. p. 172
▪ Distinção entre modelos culturais e teorias culturais:
• As proposições sobre modelos culturais são afirmações feitas pelos nativos, ao
contrário das proposições de vários modelos culturais, que são criadas pela análise
da forma como as pessoas representam algo baseados na forma como raciocionam,
entendem sobre isso, ou o que ficam implícito quando falam sobre isso. p. 172-173
• O conhecimento que constitui os modelos culturais é frequentemente procedural
(rede neural), enquanto uma teoria cultural é constituída primariamente de
conhecimento declarativo – o que significa que as pessoas podem falar diretamente
sobre o fenômeno em questão e dar respostas diretas a perguntas sobre ele. p. 173
• Teorias culturais são frequentemente sobre tópicos muito gerais ou abstratos (como a
origem da vida, o carater do sobrenatural), e as proposições que descrevem o tópico
podem ser apenas frouxamente relacionadas entre si. p.173
▪ Muitas etnografias contém descrições de teorias culturais. A religião e o sobrenatural são
campo fertéis para estas teorias – e não para modelos culturais, talvez porque este tipo
de temas só possam ser aprendidos por afirmações verbais diretas. Um exemplo é o
modelo de bruxaria contido no trabalho de Evans-Pritchard entre os Azande. p. 173
▪ Embora seja fácil recolher proposições sobre uma teoria cultural, é difícil descobrir o
que as pessoas de fato acreditam – um problema fundamental é descobrir que teoria
toma precedência quando há conflito entre elas. p. 173
▪ A questão é que entender uma teoria cultural exige mais do que formular seus princípios
gerais – é preciso entender sua aplicação e como ela se relaciona com outras teorias. p.
173
▪ Subseção – the cultural theory of conventionality
• Discussão entre dois acadêmicos sobre a teoria cultural da convencionalidade. p. 174
• O primeiro acadêmico, Turiel, desenvolveu uma teoria da moralidade que defende
que as crianças aprendem que determinadas regras são convencionais (arbitrárias,
relativas, alteráveis, menos sérias – como “Não mascar chiclete na escola”), e outras
são morais (racionais, universais, inalteráveis, sobre assuntos sérios). Ele defendeu
que essa divisão em duas teorias culturais – moralidade e convencionalidade – seria
universal. p. 174
• Outro acadêmcio, Shweder, foi ver se era mesmo universal fazendo uma pesquisa na
India, para comparar com uma pesquisa do mesmo tipo feito em Chicago. A
conclusão do resultado foi que na India as pessoas não consideram suas práticas
convenções, enquanto os americanos consideram algumas de suas práticas
convenções. p. 174-175
• O argumento do Shweder e de sua galera é que na India não há teoria da
convencionalidade. Para eles, na India há uma abordagem das relações humanas
baseadas no dever, onde os arranjos sociais são considerados dotados de
significância moral, e a hierarquia e estrutura sócias são vistas como pertencentes a
ordem natural. As prática culturais são vistas como provenientes dos deuses, e não
há espaço para noção de convencionalidade. p. 175
• Turiel questionou os resultados, como não poderia deixar de ser. O método de
definição de convencionalidade de Shweder, segundo ele, tem um bias em favor de
definir práticas como morais. p. 175-176
• O exemplo da teoria da convencionalidade ilustra quão complexo o processo de
determinação de teorias culturais pode ser. p. 176
▪ Subseção – A teoria das essências. p. 176
• Crença geral em culturas ocidentais de que as coisas são como são porque possuem
essências. O tigre tem um essência que o faz tigre, que não é o mesmo que as várias
propriedades que o tigre tem. Um tigre sem garras, dente, pelo, etc, ainda seria um
tigre, por possuir a essência. p. 176
• A noção é presente em vários filósofos, e atacada por vários. p. 176
• Existem diferentes especulações sobre a origem desta teoria cultural. p. 176
◦ Para alguns, ela se origina com a percepção dos seres humanos e seus ancestrais
primatas de que os seres vivos estão segregados em tipos naturais. Esta
percepção teria se tornado inata – uma capacidade da cognição humana - dando
origem a uma noção de essência das coisas de diferentes tipos. p. 176
◦ Outra noção é que o aprendizado rápido e universal de tipos naturais esta
baseado no fato de que tipos naturais tem estruturas muito especiais, com vários
atributos co-ocorrentes. p. 177
◦ Uma terceira posição éque a noção de essência e de tipo natural não é baseado
nem em uma estrutura mental inata, nem na estrutura do mundo, mas apenas na
cultura – segundo esta visão, embora a maioria das sociedades tenha sistemas
taxonômicos para plantas e animais, isto não prova que a maioria das sociedades
de fato tenham uma teoria das essências e tipos naturais. p. 177
• Não se tem muita evidencia de uma teoria natural da essência No entanto, é possível
que mesmo onde uma teoria formulada das essências não ocorra, é possível que as
pessoas tenham modelos de plantas e animais que contém implicitamente a ideia de
essência. p. 177
◦ Exemplo de um estudo etnográfico de crenças sobre essência em Vanuatu, que
parece reforçar o ponto acima p. 177
• Trabalho de Pascal Boyer, que defende que a ideia de que os humanos extendem a
noção de tipos naturais dos animais, plantas, e de algumas substâncias, para
domínios em que ela não é aplicável. As extensões seriam tipos pseudo-naturais. p.
177-178
• Um fato importante sobre tipos naturais é que podem ser feitas generalizações
indutivas fortes sobre eles. Se encontramos quatro animais de um tipo desconhecido
e percebemos caracterísitcas similares neles, é seguro assumir que todos os animais
deste tipo são os mesmos. Ocorre uma generalização de tipo similar entre tipos
pseudo-naturais no caso da noção de raça. Raças são tipos naturais, assim, seria
possível generalizar de cor de pele para caráter. Ou seja, se um sujeito com uma cor
de pele x trabalho duro e é esperto, isto é verdade para todos os sujeitos com essa cor
de pele. A hipótese de Boyer é que esta pendência para generalização se deve a um
modelo cultural profundamente incorporado, por vezes expresso verbalmente como
a teoria das essências. p.178
• A discussão sobre essências deixa claro que a distinção entre teoria e modelo é
complexa. Uma cultura pode ter um modelo de essência embutido em noções sobre
plantas e etc, e ao mesmo tempo uma teoria das essências discutida por filósofos. A
distinção concerne aquilo que é explicitamente formulado verbalmente e aquilo que
é aquilo que é sabido implicitamente. A distinção é a mesma entre processamento
simbólico serial e processamento paralelo distribuído (redes neurais). Dado que os
modelos visam fazer cálculos possíveis do que irá acontecer, faz sentido que eles
sejam aprendidos e operem priariamente através do processamento palelo
distribuído. No entanto, como o processamento paralelo distribuído é implicito,
difícil de criticar e mudar, é provável que as teorias culturais sejam primariamente
operadas e aprendidas através do processamento serial de símbolos. Desta forma, os
modelos são protegidos da cosciência, a racionalidade da crítica, o que os faz
estáveis, mas difíceis de mudar. p. 178
◦ Seção – An ontology of cultural forms. p. 179-180
▪ Recapitulação e sumários das estruturas cognitivas apresentadas.
• Propriedades (Properties) p. 179.
◦ Atributo criterial (Criteria attribute) – propriedade de um objeto que o distingue
de outros objetos ou classes de um objetos (masculinidade é um atributo de
garanhões, operando a distinção entre garanhão e égua).
◦ Dimensão (Dimension) - Uma propriedade que forma um contínuo no qual
objetos ou classes de objetos podem ser colocados. Maturidade é uma dimensão
na qual podem ser colocados garanhões, potros e crias podem ser colocados.
• Objetos (Objects) p. 179
◦ Esquema (schema) – a ornganização de elementos cognitivos em um objeto
mental abstrato capaz de ser mantido na memória operacional (working memory)
com valores default e slots abertos que podem ser preenchidos com os
específicos apropriados. (Esquema de transação comercial, no qual um vendedor
e comprador trocam dinheiro pelos direitos de um dado objeto).
◦ Protótipo (Prototype) – um exemplo típico de um tipo de objeto capaz de ser
mantido na memória operacional, frequentemente com muitas propriedades
condensadas (chunked) junto para formar uma imagem específica rica. (Uma
rolinha é um pássaro prototípico, um pinguim não – um protótipo é a
instanciação de um esquema, então uma rolinha é uma instaciação do esquema
pássaro).
◦ Símbolo: Uma palavra, frase, imagem, ou outra repesentação física, usada para
denotar coisas no mundo, e que tem um sentido ou senso [sense] (o esquema que
o símbolo significa). Um símbolo é algo físico – os sons que compõe a palavra,
as marcas que compõe a imagem. O símbolo físico é representado na mente por
um esquema distinto que indentifica aquele son ou conjunto de marcas particular.
O esquema que representa o som de uma palavra e o esquema que representa a
coisa no mundo referenciada pela palavra são totalmente diferentes, embora
estreitamente conectados na medida em que o esquema que representa o som
significa (tem seu sentido no) o esquema que representa a coisa no mundo.
• Objetos configuracionais (configurational objetcts) p. 179-180
◦ Taxonomia (taxonomia) – uma série de esquemas que formam uma hierarquia de
abstração na qual as coisas representadas pelos esquemas de nível menor são
subconjuntos das coisas representadas pelos esquemas de nível maior, e os
esquemas de cada nível dividem as coisas representadas em classes mutualmente
exclusivas. Tipicamente cada esquema é representado por um lexema diferente,
embora por vezes podem ser encontradas classes as quais não há um termo único
(covert classses). A taxonomia de plantas na língua portuguesa é um exemplo.
◦ Modelo (model) – Um esquema ou um conjunto inter-relacionado de esquemas
cognitivos usados para representar algo, para calcular ou raciocinar através da
manipulação de partes do modelo para resolver um problema. Um único
esquema pode servir como modelo(transação comercial), ou um número de
esquemas inter-relacionados podem ser usados para construir um modelo
(navegação nas Carolinas). Tipicamente, modelos culturais não são formulados
em conhecimento explícito e declarativo, mas sim conhecimento implícito,
baseado em esquemas embutidos em palavras e não formulados como
proposições explícitas.
◦ Proposição (proposition) – uma proposição é algo dito sobre algo (usuamente
uma frase) e envolve a integração de um número relativamente pequeno de
esquemas separados em um esquema mais complexo. Uma proposição afirma a
relação entre este esquema integrado e o mundo (exemplo: Dinossauros podem
ter sido de sangue quente).
◦ Teoria (theory) – um conjunto inter-relacionado de proposições que descrevem a
natureza de algum fenômeno. Teorias culturais são formulações explícitas em
linguage (teoria da evolução das espécies, ou teoria das essências). p. 180
▪ Segundo D’Andrade, esta classificação de formas cognitivas não deve durar muito. A
área é composta de ciências novas, com mudanças continuas de terminologia, e além
disso são notórias por mudanças ontológicas. Mas é bom ser claro sobre terminologia,
para evitar confusão p. 180
▪ A distinção entre símbolo e esquema na classificação é importante. A ideia de que as
palavras carregam significado gera confusão há muito tempo nas ciências cognitivas.
Mesmo a definição de palavra e simbolo trazem a confusão: a palavra ou simbolo é a
coisa física ou seu significado? A metáfora “palavras carregam sentido” trata esquemas
mentais como se fossem sombras de artefatos físicos – como se não pudesse haver
sentido sem palavras. A distinção de esquema de simbolo permite tratá-los como
fenômenos independentes. p. 180
▪ Também é importante a distinção entre conhecimento implícito, não verbalizado, rápido,
automático versus conhecimento explícito, verbalizado, lento e deliberado. Cada um tem
suas forças e fraquezas. Os capítulos anteriores descreveram a noção corrente de que
estes dois tipos de conhecimento são formados por difentes mecanismos cognitivos
(processamento paralelo distribuído [rede neural] e processamento serial simbólico), e
como eles se relacionam com as coisas que as pessoas fazem com seu conhecimento
(cálculos rápidos versus formular coerentemente e consistentemente uma doutrina, por
exemplo. p. 180-181
▪ . A distinção entre protótipo e esquema concerne o contrase entre estruturas cognitivas
que são ricas em conteúdo (a representação cognitiva de uma rosa típica) e
representação cognitivas que são abstratas (a representação cognitiva de um container).
Embora esta distinção seja de grau, e não binária, ainda assim parece que a linguagem
natural faz uso diferencial desta capacidade, com substantivos de nível básico e verbos
servindo como protótipos que carregam conteúdo informacional rico enquanto
elementos gramáticos como tempo verbal, aspecto, e númeor servem como esquemas
que carregam informação mais abstrata e relacional. p. 181
• Capítulo 8 – Cultural Representations and pyshocological processes
◦ As representações cognitivas (The stuff of culture in the mind: propriedades, protótipos,
esquemas, modelos, teorias) são representações, ou seja, mapas do mundo. Mas são também
mais do que isso. D’Andrade examina neste capítulo as evidências que apontam que as
representações culturais tem effeitos significativos na percepção, memória, e raciocínio. O
argumento em questão não é do construcionismo cultural (tudo determinado pela cultura),
nem do reducionismo psicológico (toda a cultura é determinada pela natureza da psique
humana), mas sim um interacionismo, que busca investigar como operam as relações
mutuas entre cultura e psicologia. p. 182
◦ Seção – Perception. p. 182
▪ A hipótese dos efeitos cognitivos das representações culturais tem como uma das
primeiras hipóteses a noção de que as categorais culturais afetam o pensamento. Daí
deriva que a linguagem, matriz das categorias culturais, tem grande influência no
pensamento. Esta ideia é elaborada na antropologia a partir da hipótese Sapir-Whorf,
embora eles nunca deixem claro exatamento o que no pensamento é afetado pelas
categorias da linguagem natural. p. 182
▪ Uma especificação da hipótese seria o efeito das categorias da linguagem natural sobre a
percepção – por exemplo, a noção de que se uma língua não tem termos distintos para
azul e verde, os falantes dessa língua não devem perceber a diferença entre estas cores
de forma tão saliente com os falantes de uma língua que possui a distinção. p. 183
▪ A parte seguinte mostra um experimento que leva adiante esta questão: Falantes nativos
de uma língua que não tem a distinção azul-verde e falantes de inglês são colocados
num experiemento, em que tem que distinguir três placas de cor azul, verde, e uma entre
azul e verde. Os resultados indicam que: 1) A forma como as pessoas nomeiam as coisas
pode afetar a percepção das similaridades/diferenças entre estas coiasa. 2)Que o efeito
ocorre apenas se os nomes são salientes no momento do julgamento. 3)Que o efeito da
linguagem sobre a percepção não é muito grande – ele apenas ocorre quando os
julgamentos são difícies de serem realizados em termos puramente perceptuais. p. 183-
184
◦ Seção – Memory. p. 184
▪ O efeito das representações culturais na memória de longo termo é complexo. Várias
condições afetam a memória – a presença de um esquema relevante bem formado, o
grau de atenção, a quantidade de experiências passadas similares, e a força do
envolvimento emocional no evento. Como regra geral, é sabido que um evento que pode
ser codificado por um esquema bem formado será melhor lembrado que um evento para
o qual não há esquema bem formado disponível. p. 184
• Exemplo desta regra na capacidade de mestres do xadrez de lembrar jogos inteiros e
configurações de tabuleiro com facilidade. p. 184
▪ Conclusões da regra acima para a antropologia: Generalizando, é possível supor que
eventos que podem ser codificados por esquemas culturais serão melhor lembrados que
aqueles que não podem. Assume-se que embora seja possível que alguns indivíduos
tenham esquemas particulares bem formados capazes de dar conta de eventos que
carecem de esquemas culturais, a maioria não tem. Assim, os eventos melhor lembrados
pela maioria serão aqueles que possuem esquemas culturais. Dado que a cultura é um
repositório de esquemas, e a linguagem natural contém os nomes destes esquemas,
espera-se que eventos que são codificados por termos lexicais únicos serão melhor
lembrados que aqueles que requerem longas e complexas descrições. p.184-185
▪ Exemplos de pesquisas com memórias e cores – muito comuns na antropologia, pelas
vantagem que as cores apresentam. p. 185
▪ Alguns experimentos indicam que as cores melhor lembradas são aquelas que tem
nomes curtos, confiáveis, e bastante “consensuais”. Em outro estudo, esta relação foi
menos pronunciada. p. 185
▪ Para dar conta do fenômeno visto nos estudos, surgiu a noção de precisão
comunicacional – ou seja, a capacidade de comunicar as características de um objeto de
forma que ele possa ser prontamente identificado a partir da descrição comunicada. O
argumento é que isto funciona tanto entre pessoas (a descrição de um permite ao outro
identificar o objeto) quanto no nível da memória individual (é como se descrevessemos
os objetos para nós mesmos, e mais tarde consultassemos essa descrição armazenada na
memória para identificá-lo). p. 185-186
• Estudos posteriores revelaram a vigência do efeito de precisão comunicacional na
memória em diferentes culturas. p. 186
▪ Embora os estudso anteriores, das décadas de 50 e 60, parecçam confirmar o efeito das
categorias da linguagem na memória, depois deles começou a surgiur uma tendência
anti-relativista, e anti-Sapir-Worf na antropologia e na psicologia. A hipótese veio a ser
contestada por estudos que buscavam mostrar que as cores inerentemente dotadas de
maior saliência perceptual deveriam ser mais facilmente lembradas independentemente
da linguagem. p. 186
▪ Os resultados destes últimos estudos causaram um choque para muitos antropólogos e
psicólogos que tinham subenfatizado os efeitos da estrutura do mundo real na cognição.
Ainda assim, estes estudos deixaram algumas questões relativas aos efeitos da
linguagem na cognição ambíguas – as cores consideradas mais salientes
perceptualmente não seriam aquelas que são melhor codificadas linguisticamente, por
algum motivo? p. 187
▪ Assim, estudos posteriores botaram o estudo anterior em questão, e blá-blá-blá. p. 187-
188
▪ Estudos posteriores focaram em determinar quais esquemas e termos verbais estavam
envolvidos na capacidade de lembrar de determinadas cores. p. 187-189
▪ Conclusões gerais do trabalho experimental sobre memória e linguagem, p. 189:
• Há uma relação entre linguagem e memória, mas ela não é simples. Não se trata
apenas de ter um ou outro tipo de léxico (conjunto de palavras, glossário) que faz a
memória melhor ou pior. O léxico permite construir descrição do que deve ser
lembrado, e é a interação destas descrição com as coisas para serem lembradas que
influencia a memória. Se o léxico facilita a construção de descrição que permitem
identificar os bojetos corretos sem confundi-los com outros, a memória
provavelmente será boa. Caso contrário, provavelmente será ruim. p.189
• Também foi descoberto, em experimentos posteriores, que a conversa dos
participantes durante o experimento influencia a memória. p. 189
▪ No geral, pode ser dito que nem a estrutura perceptual das cores nem a linguagem
determina a memória das cores, mas que ambas a influenciam. p. 190
▪ O exemplo da lembrança de paletas de cor exemplifica a relação entre esquemas
culturais e memória, mas concerne a apenas um tipo de memória: memória episódica,
em oposição a memória semântica p. 190:
• Distinção entre estes dois tipos de memória: Memória episódica é a memória de
acontecimentos e feitos pessoais, memória semântica trata do conhecimento geral do
mundo. p. 190
▪ Existe discussão se se tratam de dois tipos de memória realemente distinto, mas são
consideradas distinções úteis para classicar tipos de conhecimento distintos. p. 190
▪ A memória semântica distingue a realidade para o indivíduo – o que ele entende sobre
como o mundo é – e a memória episódica é importante para a identidade pessoal. p. 190
▪ Exemplo de pesquisa sobre memória semântica – de pouco interesse, p. 190-191
▪ A conclusão é que existe um efeito que faz com que as pessoas lembrem de coisas
acontecendo juntas quando são coisas que elas associam como próximas. Isto faz com
que as representações culturais, que estabelecem esta associação, tenham um efeito na
memória.p. 191
▪ Este efeito – lembrar de coisas que possuem uma associação entre si como acontecendo
juntas, afeita a memória semântica, e faz com que o mundo que lembramos nos pareça
exatamente da forma como nós pensamos que ele é – ou seja, da forma que a nossa
cultura diz que ele é. p. 191
▪ Existem exceções – por exemplo, a memória para exceções individuais do esquema é
bastante boa, mas a memória geral corresponde consistentemente ao esquema. p. 191
▪ Se a memória possui de fato tantas incorreções, isto diz algo devastador sobre a
antropologia, já que boa parte das informações etnográficas recolhidas dizem respeito as
memórias dos nativos. Alguns estudos confirmam a incorreção da memória dos nativos
– boa parte das informações dadas não correspondem ao que aconteceu. p. 191-192
▪ Um estudo se propõe a mostrar de que formas a memória é enviesada, e como estes
viéses podem ser usados para obter dados corretos. p. 192
• O estudo parte de uma revisão bibliográfica para indicar que a memória de um
evento dependen de dois faatores principais: 1) Quão bem organizado é o esquema
da pessoa para aquele tipo de evento. 2) Quão típico é o evento lembrado. Eventos
típicos com esquemas bem organizados são melhor lembrados. No entanto, quanto
mais típico o evento, mas provável é que ele será lembrado falsamente como tendo
acontecido porque ele será preenchido pelo esquema, e não pela percepção real. p.
192
• O estudo revela que a memória de estruturas cogntivas bem formadas(participantes
constantes de um evento recorrente) lembra de padrões de longo prazo muito bem,
embora tenha uma tendência de distorcer o que aconteceu num evento real
(individual), preenchendo slots vazios com valores padrões (botando pessoas que
costumam comparecer ao evento mas não foram, e esquecendo aquelas que não
costumam e foram). Ou seja, aqueles que tem a estrutura cognitiva bem formada tem
memórias abundates e fiéis quanto a grandes padrões de acontecimentos, mas
enviesadas quanto a acontecimentos individuais p. 193
• O contrário acontece com aqueles que não tem estruturas cognitivas tão bem
formadas (participantes ocasionais de um evento recorrente). Embora tenham
memórias bem menos abundates, elas não apresentam viés marcado. Assim, a
coleção de várias memórias de sujeitos com estruturas cognitivas não tão bem
formadas permite saber com mais precisão o que aconteceu num momento
específico.
• A técnica para coletar dados seria a seguinte: O uso das memórias de alguns poucos
indivíduos que tem estruturas cognitivas bem formadas para entender padrões de
longo prazo, e o uso de memórias de muitos indivíduos para saber o que aconteceu
num evento específico. p. 193
▪ Sabe-se que a memória é enviesada não apenas pelo acúmulo de experiências reais, mas
também por esteriótipos aprendidos verbalmente. p. 193
◦ Seção – Reasoning, p. 193
▪ Relação de duas vias entre os modelos culturais e raciocínio: A habilidade de raciocinar
é necessária para formar modelos culturais, ao mesmo tempo em que os modelos
culturais permitem raciocínio complexo. p. 193
▪ Um dos grandes estudos sobre raciocínio em sociedades não ocidentais foi realizado por
Hutchins, entre os trobriandeses, na década de 70. p. 193-194
• Alguns, baseados no material linguístico disponibilizado por Malinowski,
argumentaram que os Trobriandeses não possuem conceitos de causalidade ou
intenção – ou seja, são uma exceção para a noção de uma lógica “universal” da razão
humana. p. 194
• Estudar a razão etnograficamente exige uma situação onde os nativos raciocinem em
voz alta. Hutchins encontrou esta situação nos juris para disputa de terra, conduzidos
pelos chefes trobriandeses. p. 194
• Explicação sobre como funciona o modelo de propriedade e arrendamento de terra
trobriandes. p. 194-195
• Exemplo de um caso de arbitragem de disputa pela terra, registrado por Hutchins. p.
195-196
◦ Exemplo do argumento de uma das partes da disputa. O argumento, segundo o
autor, mostra que os trobriandeses tem noções de causa e intenção. p.196
◦ Hutchins demonstra que os trobriandeses usam várias formas de cálculo
proposicional (sentential calculus). Conectivos e disjuntivos lógicos (Se-então,
apenas-se, ou) estão presentes na linguagem, assim como formas lógicas de
inferência como modus ponens (Se P então Q. P, logo Q), ou modus tollens (Se P
então Q, não Q, logo não P). Estas formas mapeiam as contigências do
arrendamento de terras, p. 197-198.
◦ A análise de alguns falas gravadas por Hutchins nas disputas apresenta estas
formas lógicas, e mostra como uma boa parte do raciocínio é deixada implícita –
não dita – supondo que os outros irão entender.
◦ Os trobriandeses também usam a forma lógica “infererência plausível” (Se p,
então q. Se q, p é provável), embora seja uma prova considerada não estrita p.
197-198
• O livro de Hutchins demonstra que os trobriandeses raciocionam de ofrma efetiva, e
também que o raciocínio é fortemente relacionado aos modelos culturais. O esquema
para transferência e direito de uso da terra contém várias contingências, e são estas
que são usadas no raciocínio nas disputas legais. Para entender o raciocínio, é
preciso enteder as contingências. Sem enteder este modelo cultural do uso da terra,
não há como saber que os trobriandeses estão raciocionando sobre a terra e o
arrendamento, mas quando se entende o modelo, fica evidente que eles estão. p. 198
• Hutchins conclui que a diferença reside na representação do mundo que os
trobriandeses usam, e aquela que nós usamos (categorias diferentes, juntas numa
estrutura diferente). Mas as mesmas relações lógicas subjazem as conexões de
proposições nas nossas concepções e nas deles, assim como as inferências feitas são
as mesmas. p. 198
• O estudo de Hutchins fortalece a ideia de que o raciocínio parece ser uma
capacidade universal humana. p. 198
▪ Embora o raciocínio seja um processo cognitivo importante para lidar com o mundo, ele
não é bem entendido psicologicamente. p. 198
▪ O raciocínio, segundo Lance Ripps, se infiltra em outras formas de pensamento (desde a
percepção até a categorização e a solução de problemas). p. 198-199
▪ Subseção – Logic and the psychology of reasoning. p. 199
• Para alguns cientistas cognitivos, os humanos tem uma capacidade inata para lógica,
e seu uso é o que chamamos de raciocínio. O raciocínio seria a habiliade de fazer
inferências baseadas na forma do argumento por si só, a despeito do conteúdo do
argumento. Lógica seria uma questão de consistência (Se se diz que q é verdadeiro
quando p é verdadeiro, e se diz que p é verdadeiro, então para manter a consistência
q deve ser verdadeiro). p.199
• No entanto, alguns estudos mostram que o conteúdo de problemas lógicos pode ter
um efeito drástico na nossa habilidade de raciocinar. p. 199
◦ Exemplos de estudos com formulações de problemas lógicos nos quais grande
parte dos sujeitos erra se apresentado com um conteúdo não realista, mas acerta
se apresentado com um conteúdo mais realista, mas próximo da realidade. p.
200.
◦ Hipóteses várias para dizer porque os problemas de dado tipo não realistas são
difíceis de resolver, enquanto os realistas são fáceis. Alguns dizem que como os
sujeitos tem mais experiência com as condições do teste realista, eles tem mais
facilidade de entender o problema. Outros dizem que que os testes realistas tem
algum tipo de contrato social implicito, e os seres humanos evoluiram algum
algoritmo especializado inato para detectar pessoas que trapaceiam em contratos
sociais. p. 201
◦ Estrutura básica dos problemas lógicos em questão. p. 201
◦ A questão é achar o contrapositivo (o contrapositivo de se p então q é se não q
então não p). Ou seja, um problema de modus tollens. p. 201
• Ideia de que as pessoas tem dificuldade de resolver qualquer problemas do tipo
modus tollens. Exame de porque isso ocorre. p. 201-205
• Ideia de que se trata de ter ou não uma boa representação formada pela contingência
formada pela língua (se… então). Quando há uma boa representação, se torna fácil
manter o raciocínio. Se não, fica mais difícil, especialmente quando há muitas
mudanças de perpsectiva em jogo. p. 205
• Ou seja, a pressuposição é que operar mudanças de perspectiva cria demandas para o
sistema de processamento cognitivo. Assim, o modus tollens põe mais carga na
memória operacional do que outros problemas lógicos. p. 205
◦ This idea that failure to solve modus tol/ens is caused by loss of the full
representation of the contingency between p and q which, in tum, is caused by
the fragility of such representations when the contingency has no specific
content, is similar to Cox and Griggs" hypothesis that realistic content serves a
memory cue for tasks like the Wason problem: "performance ... is significantly
facilitated only when presentation of the task allows the subject to recall past
experience with the content of the problem, the relationship expressed, anda
counter example to the rule governing the relationship". p. 205
▪ A ideia, no entanto, não é tanto que os sujeito melhore sua performance a
partir de qualquer experiência específica com o problema, mas sim com um
acúmulo de experiência que lhe permitiu formar um esquema cultural para
tratar do problema. Por isso, problemas modus tollens arbitrários (não
realistas) são mais difícies de resolver – não há esquema cultural disponível).
p.205
• Em alguns casos, a inabilidade de resolver o problema se deve a acrescentar mais ao
problema do que ele tem – pressupor relações que não estão explicitadas. Mas estes
erros são mais fáceis de serem entendidos do que aquele em que a pessoa não
adicionou algo, e sim não percebeu uma relação implícita. p. 206
• Se o exame apresentado sobre problemas de modus tollens arbitrários e realistas é
real, então a ideia de que o raciocínio é formal – independe de conteúdo – só se
aplica a alguns problemas lógicos mais simples (modus ponens, por exemplo). p.
206
• Logo, a cognicação humana envolve ao menos dois processos cognitivos diferentes:
a)Tendência para a consistência baseada apenas na forma, que opera primariamente
em alguns poucos problemas lógicos simples; b) manipulação mental de
representações específicas, nas quais inferencias plausíveis e dedutivas são feitas a
partir de contingências. p. 206
• Normalmente as pessoas não são muito boas em usar esquemas “abstratos”, como
modus tollens, mas elas podem ser treinadas para isso. p. 206
◦ É preciso distinguir dois sensos do termo abastração. Um tipo de abstração é
vista no xadrex: Um bom jogador de xadrez conhece uma variedade de padrões
ou configurações. Estes padrão são abstratos na medida em que envolvem
relações de maior ordem, mas ainda são padrões de xadrez. D’Andrade chama
isto de abstração baseada em conteúdo. p. 207
◦ Um segundo tipo de abstração se refere a gravação de conteúdo em um modelo
sistema simbólico de diferente tipo. Por exemplo, o cálculo de distância viajada
por um navio pode ser gravado em uma expressão algébrica de x e y, fazendo
sumir o conteúdo inicial. O termo para isto é “abstração formal de linguagem”.
p. 207
◦ As pessoas tem dificuldades nos dois tipos de abstração, mas sobretudo na
abstração formal de linguagem. A dificuldade não é na manipulação de símbolos,
mas sim na capacidade de aplicar estes simbolos através de diferentes domínios.
Sabe-se que as pessoas são capazes de aprendes a aplicar fórmulas deste tipo em
diferentes domínios, se forem treinadas com bons exemplo, mas são sempre
melhores no uso das fórmulas mais pragmáticas(custo benefício, por exemplo).
p. 207
◦ Reforço da ideia de que a capaciadade de raciocinar é fortemente influenciada
pela presença de modelos culturais. Assim, numa cultura que posua bons
modelos culturais (bons no sentido de capacidade de capturar as contigências do
mundo real, e de serem bem aprendidos), o sujeito da cutlura terá facilidade de
raciocinar sobre objetos e eventos referidos por estes modelos. Logo, muitas
vezes as pessoas de uma cultura não são inerentemente mais espertas que outras
em um dado problema que resolvem mais facilmente. Elas apenas tem melhores
modelos cutlurais para o problema. p. 207
• Subseção – Distributed cognition, artifacts and representational structure.
◦ Não são usados apenas modelos culturais no raciocínio, mas também modelos
particulares (idiosyncratic models). No entanto, os modelos particulares tem
limitações: são criados pelo indivíduo sozinho, e isto é difícil p. 207
◦ Ideia de que inteligência pode ser apenas ter sido ensinado os modelos certos.
p.208
◦ Dado que muito da inteligência vem da disponibilidade de bons modelos
culturais, e que os modelos são mantidos e ensinados por um grupo, pode-se
dizer que a cognição é socialmente distribuída. O indivíduo é parte de um
processo no qual os modelos são investados, elaborados, ensiandos, substituídos,
e esquecidos. p. 208
◦ Além disso, há na sociedade uma divisão do trabalho cognitivo. A divisão do
trabalho cognitivo não tem sido muito estudada na antropologia, mas tem sido
feitos vários trabalhos sobre a distribuição social do cognição. p. 208
◦ Um modo pelo qual a divisão social da cognição afeta a tomada de decisão
envolve o grau de indpendência entre unidades de tomada de decisão. A unidade
pode ser pessoas, dezenas de pessoas, ou mesmo diferentes redes cognitivas no
mesmo cérebro. Hutchins em Cognition in the Wild demonstrou com simulações
de computador que se há grande quantidade de comunição influencial entre
unidades, é muito provável que as unidades chegarão num consenso, mas
também é muito mais provável que a decisão tomada será ruim. Quando há
pouca comunicação influencial, há menos probabilidade de consenso e mais
probabilidade de tomada de boas decisões. p. 208-209
◦ Quando um sistema se direciona para uma decisão, a percepção de informações
que levariam a outra decisão por unidades individuais do sistema tende a ser
ignorada, devido ao que Hutchis chama de viés confirmatório (confirmation
bias). p. 209
▪ Definição de viés confirmatório : the propensity to affirm prior
interpretations and to discount,i gnore, or re-interpret evidence counter to an
already formed interpretation. p. 209
◦ Existem formas culturalmente institucionalizadas de evitar viés confirmatório.
Na ciência, por exemplo, busca-se ter uma grande quantidade de tomadores de
decisão que são independentes uns dos outros, e também ter regras consensuais
sobre os tipos de dados necessários para confirmar ou negar uma teoria. p. 209
◦ Uma questão é o que fazer quando há desacordo. É possível resolver problemas
legando para uma autoridade a decisão, ou formando sistemas de votos. Para
Hutchins, há uma tensão fundamental entre o problema de lançar uma grande
rede para capturar diversos tipos de informações – o que sempre leva a opiniões
diversas já que os diferentes indivíduos encontram informações diversas – e a
necessidade de tomar uma decisão – o que envolve usar autoridade ou chegar ao
consenso. p. 209
◦ Também há a investigação de estruturas distributivas que envolvem artefatos
cognitivos, como mostrado por Hutchins. p.210
▪ Descrição dos procedimentos para determinar a posição do navio, como
descrito por Hutchins. p. 210-211
◦ Um artefato cognitivo é uma estrutura física que permite a humanos performar
alguma operação cognitiva. p. 210
◦ Hutchins argumenta que no processo da navegação, muitas estruturas físicas são
usadas para fins cognitivos, e que elas são postas em coordenação uma com a
outra. Através destas coordenação, a propagação de estados representacionais de
um meio a outro é efetuada, até que se encontre a representação final. p. 211
▪ Exemplo de propagação de estados representacionais na determinação da
posição do navio em realação à costa: ln the case of navigation, the
representational state is the position of the ship relative to the shore, and the
information about this representational state is propagated from hairline
sights that are coordinated with marked scales into numbers spoken as
words, and then these spoken numbers are transformed into marks written on
paper and angles on a protractor which are coordinated with north-south
directions on the chart and transformed into lines on the chart where finally
the intersection of lines represents the position of the ship. p.211
◦ Para Hutchins, a inteligência humana é profundamente ligada ao uso de
estruturas externas de vários tipos. Um exemplo básico é o uso de símbolos, que
podem ser escritos e manipulados na mente. p. 211
◦ Mesmo o conhecimento de relações entre entidades abstratas – como na
matemática – se torna mais facilemnte operável e “pensável” com o uso de
estruturas externas – como símbolos, papel, etc. p. 212
◦ Assim, fica claro que uma definição puramente mental e interna de cultura tem
seus problemas. A solução de D’Andrade é definir cultura como: As discussed in
Chapter 6, my solution is to define culture as the entire social heritage of a
group, including material culture and externai structures, leamed actions, and
mental representations of many kinds, and in context to try to be specifíc about
the kind of culture I am talking about.
• Subseção – Consenso e cognição.
◦ Exemplo de experiemento que descobriu que a cognição individual é relacionada
a consenso cultural – ou seja, os que concordam com o consenso cultural são
mais confiávies - dão as mesmas respostas para a mesma questão envolvendo um
tipo de conhecimento (nomes de plantas) mais de uma vez - são mais
consistentes, tem melhores tempos de reação, e salvo outras diferenças,
provavelmente são mais educados, experientes, e inteligents. .p.212-213
◦ Uma explicação para isso é que as pessoas se tornam mais confiáveis e rápidas
em fazer as coisas para as quais tem melhor treinamento. Consensos culturais
fortes devem ser resultado de treino constante, que cria confiabilidade e
velocidade. p. 213
◦ Mas isto não explica porque alguns indivíduos são mais confiáveis que outros
em repostas sobre um dado domínio. É possível que isso também decorra do
melhor treino, que decorre de mais experiência, maior aptidão, melhores
professores, etc. Além disso, a experiência traz a comunicação com outros sobre
o tema em questão, o que parece ter o efeito de aproximar os termos usados do
consenso cultural. p. 213-214.
◦ This pattern of results might be argued to be the result of simple conformity -
those who conform most are closest to the cultural consensus, and they are most
reliable because they know they are doing the right thing, and so feel sure of
themselves and do not change their minds and answer promptly. p. 214
◦ Análise de experimentos para ver se esse efeito de consenso pode ser encontrado
num domínio em que não existem respostas certas ou erradas. p. 214
▪ Parece que sim, que se reproduziu o mesmo efeito. p. 214
◦ A explicação para o funcionmento do consenso num ramo onde não há respostas
certas e erradas (associação de palavras), tem a seguinte explicação: as
associações derivam de associações semânticas simples, como oposição,
superodenação, subordinação, coordenação, relação verbo/objeto, etc. Os com
mais capacidade pra linguagem – e mais educados- conhecem melhor estas
relação, e provavelmente geram as associações produzidas por essas relações de
forma rápida. Dado que nada constrange a associação de palavras, as associações
mais frequentes devem ser aquelas geradas pelas relações semânticas mais
revelantes, gerando uma resposta conformao consenso cultural. p. 215
◦ Estes resultados sobre o consenso tem implicações metodológicas para
antropologia. O método antorpológica de obter uma imagem da cultura a partir
de um número pequeno de informantes com grande conhecimento parece ser
adequado, já que os informantes com grande conhecimento deverão ser um bom
espelho do consenso cultural. A questão é quantos informantes são suficientes. p.
215
◦ Descrição de modelo formal de competência cultural para responder a questão.
p. 215
▪ O modelo pressupõe uma realidade cultural única para os informantes, para
poder medir conformidade com esta realidade cultural. p. 215-216
▪ A página 216 indica quantos informantes, com qual resultado de competência
no método, devem bastar p. 216
▪ Sumário, p. 216-217
• Existem dois lados no problema da variação cultural. p.216
◦ Um deles diz respeito a divisão do trabalho de conhecer (quem conhece o que),
pois há muito a ser conhecido em uma cultura, e indpendência entre os que
sabem gera menos viés confirmacional e potencialmente melhor tomada de
decisão. p. 217
◦ As dificuldades em transmissão do conhecimento cutlural e a formação de vários
tipos de subgrupos também gera variação dentro da cultura. p. 27
◦ Estas forças de dispersão são opostas por forças que ciram consenso, como a
necessidade de comunicação efetiva e compartilhamento de expertise. Assim, a
herança cultural tende a se dividr em duas partes – uma formada por um código
altamente consensual que todos devem compartilhar, e a outra formada pela
proliferação de inúmeros sistemas de conheciemento distribuído. A questão não é
“quão compartilhada é a cultura”, mas sim como entender tanto o aspecto
consensual como o distribuído do conhecimento cultural. p. 216
◦ Noção de que a cultura afeta a percepção, o raciocínio, e a memória, mas que a
cultura não faz tudo. Alguns aspectos universais parecem não depender da
cultura. A cultura parece ter seu maior efeito -na memória semântica e no
raciocínio complexo. Nestes aspectos, parece que os modelos e outros tipos de
representações culturais tem grande impacto. Nossa inteligência enquanto
espécie parece ser a cpaacidade de aprender representações. Nós não somos bons
em formar representações – exceto indivíduos específicos, que se tornam heróis
culturais - , mas aprendemos rápido, e temos boas memórias. Uma parte do preço
pago pelas representações é o viés de memória, já que é mais provável que
lembremos do mundo como o representamos, mas isto é compensnado por maior
poder de raciocínio e memória para os eventos que são contemplados pelas
rpesentações. A necessidade das representações nos torna dependentes da
herança cultural que nos é ensinada p. 216-217

• Capítulo 9 – Cognitive processes and personality


◦ Capítulo trata da relação entre esquemas culturais e personalidade. p. 218
◦ Por personalidade, D’Andrade se refere aos aspetos motivacionais e emocionais do
comportamento humano. A ideia é que através das suas relações com emoção e motivação,
os esquemas culturais afetam a ação humana. p. 218
◦ Subseção – Emotion
▪ No modelo popular da mente, o sentimento e o pensamento são opostos. O sentimento
se refere tanto a sensações físicas localizadas, como dor, quanto a sensações não
localizadas, como raiva. Os pensamentos, neste modelo, seriam incontroláveis,
indirecionáveis, e podem mesmo impedir o pensamento racional. p. 218
▪ A forma como se pensa sobre a emoção mudou muito na psciologia e na antropologia.
D’Andrade relata um experimento em que grupos foram submetidos a uma injeção de
adrenalina, alguns sabendo os efeitos e outros achando que era vitamina. Foram então
postos em condições experimentais que estimulam a alegria ou a raiva. Foi descoberto
que os que não sabiam os efeitos da droga foram afetados mais fortemente tanto pela
situação que promovia alegria, quanto pela que promovia raiva. A conclusão é que o
significado da situação de excitação fisiológica (adrenalina no caso) é misturada com a
experiência emocional, e que é a excitação e o significado unidos que constroem a
experiencia emocional. p. 219
▪ Existe controvérsia sobre a noção de que a emoção é limitada apenas a excitação
(sensações produzidas pelo sistema nervoso). A maioria dos psicólogos acha que o lado
sensorial (sensate) da emoção inclue mais que sensações físicas do sistema nervoso, mas
o quão mais varia de téorico para teórico. A quantidade de emoções primárias varia –
alguns dizem duas, outros dez. p.219
▪ A questão de quais emoções são consideradas básicas é afetada por várias questões. A
• A descoberta de novos neurotransmissores (endorfina, dopamina, serotonina)
permite entender melhoir as estruturas do cérebro envolvidas em experiências
emocionais. p. 219-220.
• Também entra em questão a habilidade dos observadores de distinguir as emoções
experienciadas por outras pessoas. Descobriu-se que as pessoas, sem treino, tem
pouca habilidade de distinguir emoções por fotos/vídeos de pessoas. Aparentemente,
o julgamento sobre emoções envolve conhecimento tanto da situação que gerou a
emoção quanto das ações subsquentes em resposta à situação. p. 220
▪ O consenso sobre emoções básicas é que o número de emoções únicas relacionadas a
sensações é limitados, e que a experiência emocional consiste numa síntese dessas
sensações com uma avaliação cognitiva da situação. p. 220
▪ Dado que a avaliação cognitiva é importante para a emoção, cabe perguntar se a
avaliação tem que ser a mesma para que as pessoas sintam a mesma emoção. Nostalgia,
saudade, etc, são diferentes sensações, ou variações da emoção básica de tristeza? E
mais, a mesma “emoção”, quando é definida por palavras de diferentes línguas, pode ter
tonalidades diferentes, de acordo com a palavra. Como essa diferença da língua se
relaciona as emoções básicas, presumivelmente universais? p. 220
• Explicação de procedimento desenvolvido para tentar comparar o significado de
termos de emoções em diferentes linguagens, p. 220-221
• A partir de um termo polonês, que paree algo próximo a saudade (teskní), o
desenvolvedor do método argumenta que não há uma tradução exata para o termo
em inglês. No entanto, isto não significa que falantes de inglês não experienciem o
sentimento. Apenas indica que a cultura anglo-saxónica como um todo não achou
que o sentimento deveria ter um nome especial. Isto também não significa que a
falta de um termo único impeça a percepção deste sentimento como algo distinto
reconhecível, ou que se fale sobre ele. p. 221
• Neste procedimento, o desenvolvedor evitou identificar tipos de sentimentos, para
não entrar na controvérsia sobre emoções báiscas. A conexãoentre o que sentimos e
as condições que levaram ao sentimento é tão forte que permite especificar o
sentimento sem fazer menção a emoções básicas, apenas através da situação que o
criou, mas isto apenas esconde o problema das emoções básicas. p. 221-222
▪ Não é que seja impossível traduzir variações de sentimentos para línguas nas quais eles
não possuem uma palavra única. A questão é: Dado que pessoas em outras culturas
descrevem certas experiências de forma diferente de nós, isto faz a experiência que eles
vivenciam diferente da nossa? p. 222
• Para responder esta questão, é preciso analisar a relação entre uma excitação
(appraisal) e uma emoção. Nos termos do livro, a excitação é a ativação de um
esquema. Descrição do processo na página 222
• A herança cultural afeta a emoção, através de definições culturais como “tipos de
perigo”, tipos de perda”, tipos de recompensa”, etc. No caso do medo, ela dá forma
ao que é definido como ameaça ou perigo. Claro, indivíduos podem não acreditar
nestas definições culturais. p. 222-223
• Ideia de que apesar destas definições culturais (As consequências do fumo são um
tipo de perigo para saúde, etc) afetarem quão fortemente e frequentemente uma
emoção é sentida, elas não parecem ter nenhum efeito necessarimente sobre a
experiência da emoção. p. 223
• Seguindo uma hipótese decorrente da tese Sapir-Whorf, alguns já sugeriram que a
forma como a emoção é definida pode afetar a forma como é experienciada. p.223
• Robert Levy sugeriu que uma cultura pode “hypocognize” uma emoção, deixando-a
subesquematizada – sem uma definição clara e elaborada em modelos culturais. O
exemplo do autor é do Tahiti, onde diz que a sensação de tristeza e solidão estão
nessa condição. p. 223
◦ Nestes casos, os sentimentos não são reconhecidos por quem sente e pelas
pessoas ao redor dele como emoção. Muitas vezes, no Tahiti, a sensação de
tristeza é tratada como doença, ou o efeito maligno de um espírito, e as conexões
entre a sensação e o evento que a causou não são reconhecidas. p.223
• Robert Levy sugere uma diferença entre excitação (appraisal) primária e secundária.
A primária seria inata, e da origem a uma resposta sentida do organismo (“felt
organismic response.”), podendo ser modificada por uma socialização inicial do
indivíduo (enquanto criança, por exemplo). A secundária engendraria os maiores
efeitos da cultura na experiência da emoção. Quando a emoção não é especificada
por uma excitação cultural secundária (tristeza no Tahiti, por exemplo), a pessoa não
tem uma experiência inteiramente cosciente da emoção, sentindo mais
provavelmente uma reação física, somática. Por outro lado, um alto grau de
elaboração cultural da emoção torna esta saliente como experiência consicente, e a
formata de várias maneiras. p.224
◦ Demonstração de como a elaboração em Samoa de um complexo cultural em
torno do termo aloja – associada a amor, compaixão, empatia, pena – tem efeito
sobre a experiência da emoção – p.224-226;
• O Aloja de Samoa constrasta com o amor (love) dos americanos em vários aspectos
(p. 226). Segundo a teoria expressa (excitações primárias e secundárias), estas
diferenças são resultado de excitações secundárias distintas para a excitação primária
que envolve ligação interpessoal.
• Ideia é que a excitação secundária baseada em modelos culturais tem grande efeito
sobre a gestal total que constitui a experiência cosciente de uma emoção. Mas os
mecanismos através dos quais isto acontece não são bem compreendidos de todo
ainda. p. 226-227
▪ Dados os fortes efeitos de excitações secundárias sobre a experiência cosciente da
emoção, surge a questão de se as emoções trabalham (work) da mesma maneira quando
experienciadas de formas diferentes. p. 227
• Michelle Rosaldo defende que a população Ilongot das Filipinas não concebem a si
mesmo como tendo uma vida interna autonôma, e portanto não sofrem de raiva
reprimida como os ocidentais – são mais capazes de esquecer a raiva. p. 227
• Outro autor defende que estas diferenças na questão de raiva reprimida entre
ocidentais e Ilongot não se aplicam, e tanto os ocidentais esquecem a raiva de forma
similar aos Ilongot quanto os Ilongot apresentam comportartamentos que denotam
raiva reprimida. p. 227
• Conclusão que não conclui nada: Rather than serving as an exarnple of a culture in
which differences in secondary appraisals bring about differences in lhe way
emotions work, the Ilongot can just as easily be used to demonstrate the reverse;
that secondary appraisals affect the conscious experience of emotions but do not
affect the psychological operation of emotions with respect to repression and other
psychological defenses. P.227
◦ Subseção – Internalização. P.227
▪ Através de excitações secundárias e a formatação cultural das emoções, crenças e
valores de uma cultura podem ser internalizados. Internalização é o termo que se refere
ao processo pelo qual as representações culturais se tornam parte do indivíduo – ou seja,
se tornamcorretas e verdadeiras. p. 227
• Existiriam quatro diferentes níveis de internalização, segundo Spiro p.227-228:
◦ Nível 1 (mais baixo): O indivíduo é familirazido com alguma parte de um
sistema cultural de representações sem concordar com as afirmações descritivas
ou normativas do sistema. O indivíduo pode ser indiferente, ou rejeitar estas
afirmações. p. 228
◦ Nível 2: Representações culturais são adquiridas pelo indívudo como clichês. O
indivíduo honra estas afirmações normativas ou descritivas mais na violação do
que na observância. Por exemplo, a noção de que Jesus morreu por seus pecados
por uma pessoa que não tenha um senso de pecado. Seria uma aquisição
“espúria” de um sistema cultural. p. 228
◦ Nível 3: Os indivíduos tomam suas crenças como verdadeiros, corretas, ou
certas. Neste nível as representações culturais estruturam o ambiente
comportamental dos atores sociais e guiam suas ações. Um indivíduo que tenha
adquirido a proposição que Jesus morreu por seus pecados neste nível sente um
senso de pecado e se preocupa em realizar as ações necessárias para chegar a
redenção. Neste nível, as representações culturais são ditas internalizadas. p. 228
◦ Nível 4: O sistema de representações culturais não é apenas internalizado, como
também é altamente saliente. O sistema cultura não apenas guia, mas instiga a
ação, e todo os sistema está investido com emoção. Aquele que tem neste nível a
crença de que Jesus morreu por seus pecados é cheio de anxiedade por seus
próprios pecados, e é levado a tentar se redimir desses pecados em preces e
ações, e se enche de alívio e alegria diante da evidência de ser salvo. p. 228
▪ O livro tratou até agora as representações culturais como questões de conhecimento.
Mas ao tratar da relação dos modelos culturais com emoção, motivação e ação, a
questão da crença se torna latente. p. 228
▪ Ideia de que as pessoas agem de uma forma consonante com os valores da sociedade
não apenas porque elas são treinadas pra isso, mas porque o treinamento que recebem
cria uma disposição para sentir que este tipo de conportamento é natural, vindo das
profundezas do seu ser. p. 228
▪ Ideia de que as emoções tem este tipo de efeito na internalização porque são um tipo
muito especial de sistema de informação, que seria complementar ao sistema cognitivo e
teria se desenvolvi juntamente com ele. p. 228-229
▪ Os dois sistemas podem ter se desenvolvido juntos porque o sistema cognitivo provê
informações sobre o mundo externo, e o sistema de sensações físicas e emocionais provê
informações sobre como alguém está se relacionando com o mundo. Juntos, os dois
sistemas formariam um sistema representacional altamente adptativo (adaptive). p. 229
▪ Sobre a relação entre sistema cognitivo e emocional: Through the use oflhe secondary
appraisal system, and by linking through subsumption (X is a kind of Y) primary
appraisals to various cultural conditions, parts of the cultural cognitive system
influence lhe operation of the emotional system, and thus are intemalized. This cultural
shaping of the emotions gives certain cultural representations emotional force, in that
individuais experience lhe truth and rightness of certain ideas as emotions within
themselves – as somelhing internal to lhemselves. p. 229
◦ Subseção – Motivation, p. 229
▪ O comportamento humano é motivado. No modelo popular da mente, ele é motivado
por desejos, que deve satisfazer. As condições de produção de alguns desejos – assim
como a identificação do desejo – são mais faceis para alguns desejos que para outros.
Fome, dor, desejo sexual estão na categoria fácil, equanto ligação interpessoal e alto-
estima estão na categoria mais difícil. p. 229
▪ É possível identificar motivações pelos seus objetivos – se uma pessoa persegue um
objetivo pelo próprio objetivo, este objetivo pode ser tomado para representar uma
motivação.
▪ Explicação sobre a taxonomia de motivações de Henry Murray, desenvolvida na década
de 30 e 40, assim como os métodos desenvolvidos por ele. p. 229-230
▪ Na década de 50 e 60, antropólogos interessados em cultura e personalidade buscaram
identificar etnograficamente motivações. A ideia era que na socialização os indivíduos
desenvolvem motivaçãoes e conflitos, e que várias instituições culturais poderiam ser
entendidas como expressões destas motivações e conflitos. Embora a teoria tivesse
suporte de dados de várias áreas, não havia um método para identificação da motivação
envolvida em ações particulares no campo. p. 231
▪ Um método recente, desenvolvido por D’Andrade e Strauss, promete ter alguma
utilidade para a antropologia na busca de motivações. A ideia é que alguns esquemas
culturaisfuncionam como objetivos para indivíduos. Estes esquemas – normalmente
aprendidos por herança cultural – teriam o poder não apenas de reconhecer coisas no
mundo, mas de instigar ação. p. 231
▪ Seria de se esperar – em termos teóricos – que os esquemas sirvam como objetivos, já
que boa parte do conhecimento é volta para possibilitar a ação no mundo. 231-232
▪ A função dos esquemas como objetivos está relacionada a hierarquia dos esquemas. O
esquemas são relacionados hierarquicamente de várias maneiras (inclusão, algum tipo
de relação, ou antecedência causal ou lógica). Nesta hierarquia, a interpretação é
passada do esquema de nível mais baixo para o de nível mais alto, até a interpretação
final, de alto nível do que está acontecendo seja criada. Esta interpretação de alto nível
tem a função de determinar ação (função básica das interpretações. p. 232
▪ Divisão dos esquemas em três níveis – motivações mestres (segurança, amor jogo),
motivações medianas(meu emprego, meu casamento), que são poderosas, mas
subordinadas às motivações mestres, e motivações inferiores (ir ao banco, encontrar um
presente de casamento), que são totalmente dependentes dos níveis superiores para seu
poder motivacional. p. 232
▪ A ideia é que essa formulação das motivações como esquemas deve dar conta de
problemas comuns na análise das motivações. p. 232
• Variabilidade situacional: As pessoas apresentam grande variabilidade situacional no
seu comportamento (tem comportamentos diferentes em situações diferentes – um
briga apenas no bar, outro briga apenas com o chefe). Isto torna difícil a
argumentação em prol de motivações gerais. Se as motivações são gerais, porque os
comportamentos não são associados a eles? A teoria das motivações como esquemas
resolve o problema apontando que o que leva a variação situacional são esquemas de
alto nível diferentes sendo acionados, o que facilita a descrição. p.232-233
• Outro problema resolvido é a construção de listas de tipos de motivações principais.
A lista de Henry Murray tem sido frequentemente criticada, não há consenso sobre o
tema, e nem um método de determinar quantos tipos de motivações as pessoas tem.
A ideia da teoria das motivações-esquemas é que existem tantos motivos como
esquemas. Algumas regularidades da ação humana devem garantir que algumas
motivações são universais, mas ainda assim há muita variação cultural em
motivações, dado que diferentes culturas tem diferentes motivações específicas.
(Parece indicar que os esquemas de motivação de alto nível são universais, mas os
de níveis mais baixos são particulares). p. 233
• Existe também a vantagem de que seria fácil para o etnógrafo determinar se um
esquema particular tem ou não força motivacional. Exemplo de Claudia Strauss que
faz isso em um estudo. p.233-234
▪ A antropologia tem lidado com o problema da motivação com a ação ao dizer que “a
ação é culturamente constituída”. Mas isto não resolve o problema. A cultura, como
representação mental ou discurso público, não pode fazer alguém fazer algo. É vago por
demais. p. 234
▪ Outros antropólogos tem definido a cultura como algo sem propriedades causais. Ela
seria negociável, constenstável – nada internalizado, mas uma série de clichês que
podem ser manipulados por interesse pessoal. p. 234
▪ Estas duas formas de ver a cultura, descritas acima, derivam da tentativa de desenvolver
uma teoria cultural sem psicologia – uma teoria cultural com pessoas vazias. p. 234
▪ Se alguns esquemas tem força motivacional, e outros não, surge a questão de saber o
que produz este efeito. A resposta seria que a força motivacional dos objetivos deriva
daquilo que as pessoas entendem com os fatos reais da vida. Basicamente, modelos
culturais definem o mundo de maneiras específicas, de forma que objetivos de nível
médio pareçam ser as consequências naturais de objetivos de nível mais alto (O objetivo
médio “lutar contra a bruxaria”, numa sociedade que acredita em bruxcaria como algo
real e danoso, parece um meio natural de atingir o objetivo de nível alto “se proteger do
perigo) p. 235
▪ Ideia de que a identificação entre o eu (self) e certos esquemas e objetivos faz com que
estes últimos sejam dotados de força motivacional (ou seja, esquemas-objetivos são
integrados em esquemas-eu(self)). p. 235-237
• Exemplos de estudos sobre romance, casamento, etc. p. 235-237
▪ Nem todos os objetivos são identificados com o eu – muitas vezes as pessoas não podem
integrar objetivos que buscam ao seu eu, desenvolvendo defesas psicológicas contra o
reconhecimento destes objetivos. p. 237-238
▪ Ideia de que as pessoas são motivadas por forças psicobiológicas, ou emoções fortes
(raiva,vergonha, medo), mas que estes só tem poder motivacional real quando ativam
objetivos. Caso contrário, eles geralmente criam apenas estados internos difusos e
usualmente desagradáveis. p. 238
▪ Não existe apenas um tipo de “energia motivacional”, a motivação é derivada de
interações complicadas entre o corpo, o mundo, e o eu psicológico. O que pode ser
observado pelo antropólogo é que quaisquer que sejam as origens destas energias
motivacionais, elas se tornam organizadas em redes de objetivos-esquemas, de forma
que vários modelos culturais (e modelos particulares) tem níveis perceptíveis de força
motivacional. p. 238
▪ Ideia de que falar de fontes de energias (motivacionais) é um problema, já que não é
como se sem as energias motivacionais as pessoas não pudessem fazer nada, e quanto
mais energia elas tem mais fortes elas ficassem. Não se trata de uma bateria. A metáfora
mais próxima seria a de um sistema eletrônico de orientação (e!ectronic guidance
system), nos quais as energias são capazes de resetar switches (interruptores) de um
sistema diretivo de nível maior. Ou seja, a ação humana pode ser entendida melhor
identificando a rede conceitual de coisas para as quais a criatura se esforça do que
identificando fontes de energia. p. 238
• Exemplo. p. 238-239
• É como se as experiências da pessoa com um dado esquema-objetivo absorvessem
mais e mais “energia”, como se numa rede neural, as conexões que ativam o poder
motivacional do esquema ganhassem mais peso, mais força. O esquema assim ganha
eficácia causal. p. 239
▪ Discussão arcana sobre críticas à teoria dos esquemas-motivacionais relacionadas a
noção de fontes de energia. Nada interessante. p. 239
▪ Descrição de um estudo sobre internalização que analisa como crianças que vieram do
japão para os Estados Unidos internalizaram (ou não) o modelo americano de
comportamento interpessoal. p. 239-240
▪ Ideia, segundo o estudo citado, de que a internalização de um modelo cultural básico é
geralmente ligado a quantidade de interação que alguém tem com esse modelo. No caso
são crianças, o que parece fazer diferença em relação a adultos, já que parece haver um
período etário crítico em que o modelo cultural se torna uma parte saliente da identidade
pessoal, gerando vinculações emocionais.,. Por ex p. 240-241.
◦ Subseção – Coda, p. 241
▪ Outro exemplo de como esquemas culturais e processos psicológicos constituem-se
mutuamente. p. 241
• Our emotional experience and our goals are made up, in part, by cultural schemas.
Our personalities are thus partially forrned by cultural representations. But, just as
our personalities are partially created by cultural representations, it is the capacity
to feel and desire that gives these representations life. Unless they are intemalized in
the emotional or motivational system of individuais, cultural schemas are nothing
more than cliches and dead tropes. Even the ordinary, instrumental aspects of
culture how to spell cat, how to dig a well, how to greet a stranger, etc., are
maintained only because they are linked to goals and emotions that insure
theircontinued use.p.241-242
▪ Embora os processos psicológicos pelos quais os esquemas culturais são subsumidos a
excitações (appraisals) emocionais primárias, ou se tornam parte de excitações
emocionais secundárias, ou se tornam objetivos relativamente autonômos não sejam tão
bem entendidos, também não são um completo mistério. Esse capítulo mostrou o que se
sabe ou se pensa sobre estes processos. p. 242
▪ Muita da produção na antropologia sobre poder e discurso se dobra sobre o problema da
força psicológica de modelos culturais. Nas sociedades modernas e pluralistas, a herança
cultural traz muitos modelos culturais alternativos e até conflitantes sobre como se deve
agir ou como as coisas são. Em casos como no debate sobre relações de gênero, os
modelos culturais se tornam parte do conflito sócia. p. 242
▪ Ideia de que na medida em que as sociedades resolvem conflitos por consenso – e não
por violência – a força psicológica de um modelo cultural pode determinar o resultado
do conflito. Tanto a força da violência, quanto a força psicológica do modelo social
devem ser entendidas em estudos de conflitos e processos sociais. p. 242
▪ Para D’Andrade os antropólogos e cientistas sociais precisam entender que uma teoria
do poder – ou qualquer outro processo social – precisa de alguma teoria psicológica. A
teoria do poder precisa de alguma explicação dos eventos que fazem com que uma
pessoa faça algo, por exemplo. Os teóricos sociais do passado – Marx, Durkheim e
Weber – teriam criados psicologias complexas ad hoc porque não havia um corpo
teórico psicológico forte a disposição deles. Esta tradição de ivnentar psicologias para
cada corpo de teoria cultural teira continuado, e D’Andrade se aborrece com isso p. 243
▪ Existe trabalho ainda a ser feito nos processos pelos quais os esquemas culturais são
incorporados ou não incorporados em personalidades individuais. Pouco trabalho foi
feito sobre o grau em que influências sociais são necessárias para manter a força
psicológica de esquemas culturais. Também há trabalho a ser feito no papel do ritual na
integração de sistemas emocionais e motivacionais com esquemas culturais. p. 242-243.
▪ Influência no capítulo do trabalho de Geertz – Religião como um sistema cultural, no
qual ele diz que uma religião é: p. 243
• (1) a system of symbols which acts to (2) establish powerful, pervasive, and Iong-
lasting moods and motivations in men by (3) fonnulating conceptions of a general
arder of existence and (4) clothing these conceptions with such an aura of factuality
that (5) the moods and motivations seem uniquely realistic.
• O que teria acontecido na antropologia é que toda a cultura veio a ser tratada como a
religião. A cultura é de fato composta por vários sistemas simbólicos, alguns dos
quais são internalizados em em poderosas motivações e emoções que são
estabelecidas em muitos indivíduos. No entanto, tratar a cultura como um todo
através deste modelo de religião não permite entender porque um sistema simbólico
é capaz de estabelecer motivações para algumas pessoas, e não pra outras. Para
entender isto, é preciso de uma teoria psicológica da internalização, um trabalho que
Geertz não fez. p. 243
• Capítulo 10 – Summing up, p. 244
◦ O capítulo anterior termina uma explicação geral do desenvolvimento da antropologia
congitiva. A descrição não é uma história completa, áreas como pesquisas em análise do
discurso, tomada de decisão, cognição situada (pela escola soviética de atividade), e
metáfora não foram citadas. Ainda assim, deve servir para promover um entendimento geral
da antropologia cognitiva. p. 244
◦ Seção – A bird’s eye view. p. 244
▪ Os trinta e cinca anos de trabalho na antropologia cognitiva poderiam ser divididos em
quatro principais períodos. p. 244
• Primeiro período: Fase introdutória de formulação da agenda do campo. O
movimento em direção ao estudo de sistemas simbólicos na antropologia e os
avanços na lingúistica levaram a definição de Ward Goodenough de cultura como
conhecimento. Com a definição, veio também o objetivo de pesquisa de determinar
o conteúdo e a organização de tal conhecimento. Exemplo do trabalho de Anthony
Wallace como uma das primeiras implicações da definição de cultura como
conhecimento. p. 244
• Segundo período: Início da pesquisa detalhada na análise do conhecimento cultural
(capítulos 2 a 5).
◦ Os métodos utilizados já existiam, sendo importado s e as vezes adaptados. O
exemplo é o uso por Lounsbury e Goodenough da análise componencial
[componential analysis] que os linguistas usavam para analisar sistemas
fonéticos, na análise de termos de parentesco. Os métodos para análise de
relações taxonômicas foram importados da biologia. Neste período os modelos
teóricos se voltavam para a análise de palavras, através das quais poderiam ser
descobertas as categorias culturais. Ênfase no desenvolvimento de metodologia
explícita para descobrir categorias culturais subjacentes, com rigor metodológico
devido a influência lingústica e a importação de métodos da psicologia.
◦ No período, havia pouca teorização psicológica sobre categorização, já que se
sentia que isto não seria necessário. No entanto foram desenvolvidas pesquisas
sobre temas psicológicos como: Limitação da memória (em relação ao tamanho
das terminologias de parentesco), realidade psicológica de análises de categorias
culturais, relação entre memória e nomeação, efeitos das categorias culturais na
memória.
◦ O segundo período foi do final dos 50 até início dos 60. Nesta época, a
orientação das ciências sociais ia na direção do método, formalização e
quantificação. Além disso, foi um período de desenvolvimento e especialização
da Antropologia. D’Andrade específica as redes de instituições e pessoas
envolvidas neste período.
◦ Havia um debate interno sobre se esta nova abordagem deveria ser considerada
um novo tipo de etnografia (etnociência, etnolingúistica, etc) ou se era um ramo
da antropologica psicológica. p. 245-246
◦ O debate externo entre antropologia cognitiva e outras abordagens para estudo
da cultura envolvia questões de método e debate ontológico sobre a cultura.
Geertz desaprovou os aspectos formalizadores e quantitativos da nova
abordagem. Para ele, a ideia de que a cultura consistia de fenômenos mentais
seria uma falácia cognitiva – a cultura seria pública, e não deveria ser estudada
como algo profundamente mental (isto poderia levar a asserções imperalistas por
parte dos psicólogos). Este debate continua, mas se reconhece que a cultura tem
aspectos tanto publicos quanto privados. p. 246
◦ Este período produziu um extenso corpo de trabalho que mostrou como
características e relações taxonômicas poderiam ser analisadas. Extensão do
vocabulária teórico para análise semântica, e métodos da psicologia integrados
com métodos linguísticos. p. 246
• Terceiro período:
◦ Iniciado no começo dos anos 70.
◦ Começa com a introdução por Eleauor Rosc de uma teoria psicológica sobre
categorias. Nem todas as categorias linguísticas estaraim no mesmo nível,
algumas seriam relacionadas a protótipos – entidades puramente psicológicas. Os
protótipos é que permitiam que as cateogiras de nível básico afetassem a
memória e o raciocínio. p. 246
◦ No início de 1980 a teoria dos esquemas tinha substituído o modelo dos
protótipos na antropologia. Na metade dos anos 80, a possibilidade de
implementar esquemas em redes neurais foi amplamente percebida, o que
resultou numa teoria psicológica ainda mais abstrata sobre a natureza das
representações mentais. p. 246
◦ Antes da teoria dos esquemas e das redes neurais, as principal entidades mentais
– na antropologia, ao menos – eram símbolos (palavras e outros significantes) e
características (qualidades perceptuais que conectam formas linguísticas ao
mundo). As redes neurais e esquemas criaram um novo tipo de entidade
cognitiva, quebrando a dependência do pensamento em relação a linguagem.
Redes neurais juntam aglomerados (clusters) de características em objetos
complexos sem precisar de nenhuma base linguística. Com o divórcio das
análises semânticas explícitas veio o interesse em memória, raciocínio e
metáfora. Na antropologia, sobreveio o foco em modelos culturais e sua função
nas inferências e metáforas. p. 246-247
• Um resultado destes três períodos foi a divisão da cultura em partes – como que
unidades elementares. Isto não tinha ocorrido anteriomente, e D’Andrade afirma que
esta falta de vocabulário preciso se devia a uma falta de conceitualização sobre o que
de fato estava sendo estudado.
◦ Para D’Andrade, se a cultura é apenas significado e símbolo, mas ao mesmo
tempo não está na mente de ninguénm só o que se poderia fazer é interpretar o
que se considera simbólico, e empilhar interpretações não seria de valia (esse
cara tem uma briga enorme com o Geertz). p. 247
◦ No entanto, se a cultura é posta na mente, a organização e as limitações da mente
podem ser usadas para encontrar unidades cognitivamente formadas –
características, protótipos, esquemas, proposições, teorias. Isto permite uma
teoria sobre partes da cultura – sua composição e relação com outras coisas. Com
a definição destas peças, ganham força questões como: Como (quanto) estas
unidades são compartilhadas? Como são distribuídas entre pessoas? Quais são
internalizadas? No final dos anos 80, modelos de consenso cultural e cognição
distribuída começaram a ocupar mais atenção na antropologia cognitiva.
D’Andrade diz que noções de consenso e distribuição não fariam sentido no
mainstream da antropologia cultural, que não tem uma noção de unidades
separadas. p. 247
• Quarta fase: Muito nova e informe para ser descrita definitivamente. p.247
◦ Parece haver uma tendência no estudo sobre a relação entre esquemas culturais
e ações. Isto traz questões sobre emoção e motivação, além de preocupação
quanto a internalização e socialização. p. 248
◦ Parece haver também um interesse sobre como as estruturas cognitivas se
relacionam com a estrutura física dos objetos e artefatos e a estrutura
comportamental dos grupos. p. 248
◦ A visão geral é a da cultura como algo composto de partículas, socialmente
distribuída, variavelmente internalizada, e variavelmente incorporada
(embodied) em formas externas. p. 248
▪ Nenhuma das quatro fases são episódios completos, trabalho continua sendo feito em
todas as areas. D’Andrade tem esperança da consolidação geral de método e teoria. p.
248
◦ Subseção – The historical context. p. 248
▪ Na metade dos anos 50, a antropologia mudou do estudo de instituições sociais para o
estudo de sistemas simbólicos. Duas posições gerais dominaram o mainstream da
antropologia cultural nos anos 60 e 70:
• Estruturalismo: criado por Levi-Strauss. Para este autor, as estruturas inscoscientes
da mente humam são expressas em uma variedades de materiais culturais: mitos,
sistemas de parentesco, mascaras, práticas funerárias, etc. Vários antropólogos
passaram a buscar as transformações e oposições nos materiais culturais que
investigavam. Dado que estas estruturas seriam “impostas” aos materiais culturais
por uma mente inscosciente, não havia como validar as interpretações produzidas
sobre o conteúdo destas estruturas, dado que os próprios nativos não poderiam falar
conscientemente sobre elas. p. 248
• Antropologia simbólica: Os principais autores são Victor Turner, David Schneider,
Clifford Geertz, e outros. Esta abordagem frisava a distinção entre ação como
comportamente e ação como simbolo. Turner tendia a restringir seus estudos de ação
simbólica aos rituais, enquanto Geertz e Schneider tratavam todas as práticas
culturais como partes de sistemas simbólicos. Desenvolviment da metáfora da
cultura como texto – poderia se ler nas práticas culturais um significado cultural. No
entanto não havia método de validação possível, dado que os significados não
estavam na mente de alguém. p. 248
▪ Para D’Andrade, o abandono das agendas estruturalista e simbólica na antropologia se
deveu ao fato de que ambas eram inverificávies. O acúmulo científico – produzir sobre o
que os outros produziram antes – exige a capacidade de separar o que é válido do
inválido, para permitir acrítica, as modificações, e a seleção. Sem métodos de
verificação, isto não ocorre. p. 249
▪ Tanto a antropologia estruturalista quanto a simbólica tinham a premissa básica de que a
cultura é uma estrutura, ou sistema – alguma coisa unificada. Várias definições de
cultura tem sublinhado este ponto p. 249
▪ No entanto, a ideia de cultura como algo unificado é um artigo de fé – não possui
demonstração empírica. Sabe-se que as partes da cultura em geral são conectadas de
alguma forma como outras partes, mas o fato de que as coisas são relacionadas não faz
delas uma estrutura, ou sistema. p. 249
▪ O trabalho na antropologia cognitiva demonstrou que os modelos culturais são
independentes entre si. Cada modelo cultural é como uma coisa unificada, mas a soma
dos modelos culturais não formam uma coisa unificada. p. 249
▪ Uma teoria que faria sentido nesta situação é a definição de cultura como uma forma
socialmente herdade de lidar com os problemas da vida. As forças que formam
estruturas ou sistemas são as constraints e interdependências dentro destes domínios de
problemas( formar famílias, curar doeças, obter comida e abrigo, etc). Assim, as
soluções culturais para os problemas formariam várias formas de sistema (sistema de
relações sociais, trocas econômicas, governo, etc). Mas estes sistemas são tão variados
quanto os problemas o são. Não existe um único problema da vida para a qual a cultura
é a solução. p. 249-250
▪ Assim, se a cultura não é uma coisa, ela não pode ser estudada por si mesma. É possível
estudar cientificamente os elementos da cultura, mas para descobrir porque estes
elementos existem e como se relacionam, é necessário sair do conceito de cultura e se
focar naquilo que cria e organiza os elementos, como problemas da reprodução
biológica, do encontro de comida no ambiente, das limitações cognitivas humanas, ou o
que for. p. 250
▪ Para D’Andrade, isto retorna a algumas noções iniciais da antropologia, como a noção
de Malinowski de que as necessidades humanas poderiam de alguma formar explicar a
forma como as instituições culturais são organizadas em sistemas. Esta noção foi
ecplisada pela noção de Radcliffe-Brown, da estrutura social como um sistema de
relações entre indivíduos que trazia o ajustamento mútuo de interesses dos membros da
sociedade. Por influência em Parte de Levi-Strauss, a antropologia britânica abandonou
este último programa, deixando o estudo dos sistemas que organizam crenças e práticas
culturais em prol do estudo das estruturas abstratas por si só. Ao fazer isso, a
antropologia se voltou para uma tarefa que não pode ser realizada. p. 250
▪ Hoje se rejeita o termo cultura, usando o termo discurso para se referir a símbolos e
significados. p. 250
• Crítica pós-moderna à noção de cultura, p. 250-251
▪ A corrente pós-moderna traz o problema de conceber apenas um único sistema: o
sistema de poder. Além disso, não estuda os processos do dia-a-dia social pelos quais o
pode é usado e mantido, focando-se na interpretação do discurso para entender como o
poder mantém sua hegemonia. p.250-521
• Crítica ao pós-modernismo por D’Andrade: Without a theory of social process or a
psychological theory of how meanings come to have power, postmodemism serves
mainly as an ethical vocabulary for the indentification of social evils. p.251
• A rejeição da noção da cultura como uma estrutura unificada não elimina os motivos
para a investigação da cultura. A forma como a sociedade funciona é profundamente
afetada pelo que é aprendido como herança cultural. Além disso, para entender os
humanos individualmente, é preciso entender sua cultura. p.251
• A psique individual seria composta de vários sistemas interrelacionados. O sistema
cognitivo, de personalidade, motivacional, etc. O mateiral do livro se focou bastante
na explicação da forma como os materiais culturais são organizados pelas
necessidades deste sistema psicológico humano. A cultura e a psique se constituiriam
mutuamente. Partes da cultura são organizadas conjuntamente para constituir o
funcionamento do sistema cognitivo e de personalidade. Para D’Andrade, a
antropologia simbólica e interpretativa teria sido mais interessante quando fazia
psicologia cultural – falando sobre o self, a identidade, emoções, a necessidade de
sentido. Eles negavam que falavam de psicologia, mas o que seriam além disso? p.
251
◦ Subseção – Final Comment, p. 251
▪ Listagem de coisas que a antropologia cognitiva conseguiu fazer, e esperança de que
eles possam ser usados como base para desenvolver ainda mais coisas. p. 250-251
• Cumpriu o objetivo da etnosciência, de promover descrições detalhadas e confiáveis
(reliable) de representações culturais. p. 250
• Proveu uma ponte entre a cultura e o funcionamento da mente. A escola de cultura e
personalidade mostrou a forma como as experiências de socialização influenciam
sistemas de personalidade, que por sua vez influenciam práticas e crenças culturais.
A antropologia cognitiva demostrou que a psique é influenciada pelas representações
que ela aprende como parte da herança cultural humana. Além disso, a antropologia
cognitiva mostrou que a herança cultural por si mesma é influenciada pelas
capacidades e limitações ineretes do sistema cognitivo humano. A influência entre
representações culturais e processos cognitivos é recíproca. p. 252

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