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Mediações simbólicas na atividade pedagógica*

Maria Eliza Mattosinho Bernardes


Manoel Oriosvaldo de Moura
Universidade de São Paulo

Resumo

A pesquisa apresenta a análise de uma investigação didática, nas


séries iniciais do Ensino Fundamental, que identifica a essência
das ações e operações na atividade de ensino. Estas criam con-
dições favoráveis para o desenvolvimento do pensamento teóri-
co de estudantes e educadores a partir das mediações instituídas
na relação ensino e aprendizagem. O objetivo da pesquisa é in-
vestigar os diferentes tipos de mediação simbólica na atividade
pedagógica. Estes criam condições para o desenvolvimento do
pensamento como um dos processos psicológicos superiores do
gênero humano a ser desenvolvido no contexto escolar. O méto-
do de investigação fundamenta-se no materialismo histórico-
dialético, na psicologia histórico-cultural e na teoria da atividade
como instrumentos de análise da constituição da individualidade
humana. No campo empírico, é realizado um estudo comparativo
entre dois momentos distintos da investigação didática, tendo
em vista a lógica que fundamenta a organização do ensino. Isso
possibilita mudanças de qualidade na apropriação de conceitos,
expressas pelas manifestações do pensamento nas formas de
juízo, conceito e dedução. Os resultados identificam como medi-
ações simbólicas as relações dos sujeitos com o objeto de estu-
do historicizado e as ações e operações coletivas e cooperativas
dos sujeitos nos aspectos cognitivo, volitivo e afetivo. Como
conclusão, considera-se que essas mediações somente se efeti-
vam a partir da apropriação de conhecimentos teórico-científicos
por parte dos educadores, pois estes promovem a criação de
condições e circunstâncias que possibilitam a efetivação de um
sistema integrado, instituindo práticas sociais no contexto esco-
Correspondência lar que viabilizam a superação das condições alienantes próprias
Maria Eliza Mattosinho Bernardes do sistema escolar vigente e da sociedade contemporânea.
Rua Faustina de Chiaravalotti, 231
13468-650 – Americana – SP
e-mail: memberna@usp.br Palavras-chave

Mediação simbólica — Pensamento empírico e teórico — Psicologia


histórico-cultural.
* Este artigo é uma adaptação do texto
apresentado na forma de painel no
XIV ENDIPE (2008), realizado em
Porto Alegre.

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Symbolic mediations in pedagogical activity*

Maria Eliza Mattosinho Bernardes


Manoel Oriosvaldo de Moura
Universidade de São Paulo

Abstract

This research presents an analysis of a didactic investigation of


the first series of Fundamental Education that tries to identify the
essence of actions and operations in the activity of teaching.
From the mediations instituted in the teaching and learning
relationship, these actions and operations create conditions
conducive to the development of theoretical thinking among
students and educators. The object of this study is to investigate
the different kinds of symbolic mediation in the pedagogical
activity. They create the conditions for the development of
thinking as one of the superior psychological processes of the
human genre to be stimulated in the school context. The method
of investigation is based on the dialectical historical materialism,
on cultural-historical psychology, and on activity theory as
instruments of analysis of the constitution of human individuality.
On the empirical side, a comparative study is carried out between
two distinct moments of the didactic investigation, taking into
account the logic that underlies the organization of teaching.
This brings changes in the quality of the appropriation of concepts,
expressed in the manifestations of thought in the forms of
judgment, concept and deduction. The results identify as symbolic
mediations the relations of the subjects with the historicized object
of study, and the collective and cooperative actions and operations
of the subjects in the cognitive, volitional, and affective aspects. In
conclusion, the text asserts that these mediations only become
effective after the appropriation of theoretical-scientific knowledge
by the educators, since the latter promote the creation of
conditions and circumstances that make it possible to establish an
integrated system, instituting social practices into the school
context that help to overcome the alienating conditions inherent
Contact:
Maria Eliza Mattosinho Bernardes to the current school system and to contemporary society.
Rua Faustina de Chiaravalotti, 231
13468-650 – Americana – SP
e-mail: memberna@usp.br
Keywords

Symbolic mediation – Empirical and theoretical thinking – Cultural-


historical psychology.
*
This article is an adaptation of a text
presented as a panel at the XIV ENDIPE
(2008) in Porto Alegre, Brazil.

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Este estudo apresenta resultados de uma explicitar como as relações entre o ensino e a
pesquisa (Bernardes, 2006) que tem como finali- aprendizagem podem promover a transformação
dade investigar as circunstâncias e as condições das funções psíquicas superiores dos indivíduos.
necessárias para que o ensino possa se constituir Tais pressupostos sustentam analisar as possibi-
como instrumento que possibilite a transformação lidades reais de construção do devir na forma-
dos indivíduos (e da própria sociedade) a partir da ção dos indivíduos (Marx, 1996), a partir da
superação (ainda que parcial) do processo de ali- psicologia histórico-cultural (Vygotsky, 2001b) e
enação historicamente instituído na sociedade e, da teoria da atividade (Leontiev, 1983).
particularmente, no sistema educacional vigente. Resgata-se, para tanto, a concepção
Para tanto, foi realizado uma pesquisa sobre constituição do gênero humano, salien-
sobre o ensino de Geometria na 3ª série do tando-se a importância da natureza social do
Ensino Fundamental, tendo como objetivo homem na sua conformação atual, como ho-
identificar os diferentes tipos de mediação sim- mem cultural, e concebe-se que os aspectos
bólica constituintes da atividade pedagógica que o constituem advêm da vida em socieda-
que criam condições para que ocorra o desen- de, por meio dos bens materiais e ideais elabo-
volvimento do pensamento teórico dos estu- rados historicamente.
dantes, como um dos processos psicológicos Trata-se de um processo lento de cons-
superiores próprio do gênero humano a ser tituição do homem que passa por estágios
desenvolvido no contexto escolar. gradativos e não lineares que vão desde o está-
Trata-se de uma pesquisa de cunho gio da preparação biológica (hominização) ao
experimental que faz análise qualitativa da or- estágio de passagem ao homem (humanização),
ganização do ensino, vinculada ao desenvol- definido pela fabricação de instrumentos e for-
vimento do pensamento dos estudantes, como mas embrionárias de trabalho e sociedade que
instrumento para a superação das condições ainda se sujeita às leis biológicas transmitidas
anteriores instituídas no desenvolvimento das hereditariamente. Por meio da influência do
funções psicológicas superiores. Os fundamen- desenvolvimento do trabalho (atividade produ-
tos teórico-metodológicos que subsidiam a tiva) e da comunicação pela linguagem (instru-
análise e a interpretação dos dados são: o ma- mento simbólico), as leis sociohistóricas passam
terialismo histórico-dialético, a psicologia históri- a gerir o desenvolvimento do homem como “ser”
co-cultural e, em particular, a teoria da atividade. humano integrado à sociedade pela cultura.
Os resultados do estudo identificam a Leontiev (1970) identifica esse período como
necessidade de se considerar as mediações sim- etapa essencial de viragem, concebida como
bólicas em diversas instâncias que se relacionam
diretamente ao processo de conscientização do [...] o momento, com efeito, que a evolu-
educador e dos estudantes sobre o lugar on- ção do homem se liberta totalmente da sua
tológico que ocupam na sociedade contempo- dependência inicial para com as mudanças
rânea. Considera-se que esse processo é decor- biológicas inevitavelmente lentas, que se
rente da formação dos sujeitos possibilitada em transmitem por hereditariedade. Apenas as
diferentes espaços de aprendizagem e coletivi- leis sócio-históricas regerão doravante a
dades de estudo. evolução do homem. (p. 281)

Aspectos teórico- Vygotsky e Luriá (1996) apresentam a


metodológicos da pesquisa concepção de desenvolvimento humano, siste-
matizando o caminho da evolução desde o
A partir dos pressupostos do materialismo macaco até o homem cultural, e descrevem
histórico-dialético, busca-se compreender e “três linhas principais no desenvolvimento do

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comportamento — evolutiva, histórica e onto- trabalho e no uso de signos como produto de
genética [...]”. Demonstram ainda que elaboração social) visa à comunicação de sig-
nificados aos demais componentes de um gru-
[...] o comportamento do homem cultural é po social e assume importância fundamental
produto dessas três linhas de desenvolvi- para se compreenderem as mudanças físicas e
mento e só pode ser compreendido e cien- psíquicas no “ser humano”.
tificamente explicado pela análise dos três No processo de apropriação da cultura,
diferentes caminhos que constituem a his- decorrente das atividades humanas em geral,
tória do comportamento humano. (p. 51) identifica-se um pressuposto fundamental para
a compreensão do desenvolvimento humano –
As mudanças no comportamento huma- o conceito de mediação.
no não são identificadas numa sequência line- De acordo com o enfoque histórico-cultu-
ar, mas a passagem de um momento a outro ral, as ações humanas direcionadas a um deter-
minado fim têm um caráter mediador por fazer
[...] começa precisamente no ponto em que uso de instrumentos elaborados pelo homem ao
termina o anterior e serve como sua conti- longo de sua história. O caráter mediador dos
nuação em nova direção. Essa mudança de instrumentos torna-se elo intermediário entre o
direção e no padrão de desenvolvimento de sujeito e o objeto da atividade humana.
modo algum exclui a possibilidade de cone- A relação entre as atividades internas e
xão entre os dois processos, mas, ao contrá- externas, próprias do uso de signos e instrumen-
rio, antes pressupõe essa conexão. (p. 53) tos, está intimamente vinculada ao desenvolvi-
mento humano na filogênese e na ontogênese.
Os autores identificam etapas críticas que Da mesma forma com que o homem, ao longo
promovem a mudança na linha do desenvolvi- de seu desenvolvimento histórico, exerce influ-
mento humano. A análise das etapas críticas que ência e controla a natureza pela invenção e pelo
desencadeiam mudanças no desenvolvimento uso de instrumentos, estes promovem mudanças
humano a partir do uso de instrumentos, de tra- na formação interna do próprio homem, ou seja,
balho, de signos psicológicos e de apropriação na sua constituição psíquica. Essa ação dialética
da cultura cria possibilidades de se evidenciar é essencial para a compreensão do elo entre a
o modo pelo qual se torna possível a dimensão atividade externa e interna do homem. O uso de
ontológica nos indivíduos. Identifica-se, portan- signos na história do desenvolvimento humano
to, o processo histórico da evolução do homem. é identificado como decorrente da ação media-
Shuare (1990), ao comentar a origem histórico- da na atividade de comunicação. Esse processo
social do psiquismo humano na obra de Vygotsky, não é identificado como consequência exclusi-
afirma que este “introduz o tempo na psicologia va da atividade orgânica, mas essencialmente da
ou, melhor dizendo, ao invés disso, introduz o atividade humana realizada socialmente, media-
psiquismo no tempo” (p. 59). da por instrumentos.
Tanto na dimensão individual como na A atividade psicológica mediada por sig-
social, o desenvolvimento humano conta com nos e instrumentos constitui-se no fundamento
a conceituação de atividade produtiva como da origem, do desenvolvimento e da natureza
desencadeadora das etapas críticas de “vira- das funções psicológicas superiores. É conside-
gem” no processo transformador e evolutivo rada a base do movimento de apropriação da
do próprio homem. realidade objetiva assim como é considerada a
Na dimensão em que o tempo humano é unidade de construção da consciência. No
considerado história, a atividade produtiva (seja entanto, conforme afirma Vygotsky (1989), a
no uso e na confecção de instrumentos, seja no atividade cognitiva não se limita ao uso de

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signos e instrumentos, podendo ser incluídas ressaltar a necessidade de serem entendidas
outras diversas atividades mediadas na consti- numa dimensão unitária, íntegra.
tuição do psiquismo humano. As unidades básicas que estruturam a
A conceituação de atividade, que tem seus atividade humana são indicadas pelo autor como
fundamentos no materialismo histórico-dialético decorrentes do motivo que impele a execução
e na psicologia histórico-cultural, deve ser enten- da atividade específica; após o estabelecimento
dida como um processo objetivo que organiza e do motivo, desprendem-se as ações que se su-
determina as ações humanas, semelhante aos bordinam aos objetivos conscientes decorrentes
demais processos da natureza, pois esta é carac- da mobilização dos sujeitos, dos motivos e das
terizada pela intencionalidade dos atos de quem necessidades humanas; finalmente, as operações,
os pratica. De acordo com Davidov (1988): consideradas como o modo de execução de
uma ação, desprendem-se diretamente das con-
[...] a essência da atividade do homem pode dições para a execução do objetivo concreto. A
ser descoberta no processo de análise do con- unidade molar formada pelas “unidades básicas”
teúdo de conceitos inter-relacionados como atividade – ação – operação, permeada pelos
trabalho, organização social, universalidade, reflexos psíquicos e estabelecidas pelos objetivos
liberdade, consciência, estabelecer finalidades, conscientes e concretos, configura a atividade
cujo portador é o sujeito genérico. (p. 27) como uma ação consciente humana.
A estrutura geral da atividade configura-
Ao referir-se ao conceito de atividade, se como “passos internos” que se inter-relaci-
Leontiev (1994) afirma que não se atribui a qual- onam num movimento contínuo, não linear,
quer processo o termo atividade, mas somente porém de interdependência entre eles. Não se
àqueles que estabelecem relações entre o homem estabelecem como partes de um todo, como um
e o mundo, satisfazendo necessidades especiais conjunto de reações que orientam o sujeito em
do ser humano. Identifica como atividade relação ao mundo, mas formam um sistema
interdependente que direciona as ações huma-
[...] os processos psicologicamente caracte- nas diante das necessidades de produção.
rizados por aquilo a que o processo, como Com referência à atividade humana em
um todo, se dirige (seu objeto), coincidindo geral, deve-se considerar que as ações do ho-
sempre com o objetivo que estimula o su- mem se estabelecem diante de necessidades
jeito a executar esta atividade, isto é, o específicas direcionadas por motivos específicos
motivo. (p. 68) que as caracterizam. Da mesma forma, as ações
decorrentes do trabalho ou de comunicação,
Trata-se, portanto, de uma unidade molar em condições semelhantes, caracterizam-se
não aditiva da vida do sujeito corporal e material. como atividades específicas.
Leontiev (1983) salienta que, diante das
Em outras palavras, a atividade não é uma atividades humanas gerais, o que identifica as
reação, tampouco um conjunto de reações, atividades específicas é o objeto da atividade.
mas é um sistema que possui uma estrutu- Assim, o autor afirma que “é o objeto da atividade
ra, passos internos e conversões, desenvol- o que lhe confere determinada direção. [...] O
vimento. (Leontiev, 1983, p. 66) importante é que além do objeto da atividade
sempre está a necessidade [...]” (p. 83). A neces-
O sistema molar constitutivo da ativida- sidade, como característica psíquica estabelecida
de humana é composto por unidades básicas na relação entre o homem e o mundo, vincula-
que somente são identificadas separadamente se diretamente ao objeto da atividade, o que a
para efeito de análise. No entanto, deve-se determina como ação consciente.

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Deste modo, o conceito de atividade os objetivos são estabelecidos pelas circunstânci-
está necessariamente relacionado ao con- as e condições determinadas na atividade.
ceito de motivo. A atividade não pode exis- Assim como os motivos se ligam à ativi-
tir sem um motivo; a atividade ‘não motiva- dade, e as ações aos objetivos, as operações
da’ não comporta uma atividade privada de vinculam-se às condições da atividade. Diante
motivo, mas uma atividade com um motivo de determinada atividade, o objetivo se man-
subjetivo e objetivamente oculto. (p. 83) tém o mesmo, definido. No entanto, as condi-
ções de execução das ações podem variar e,
A relação intrínseca entre a atividade e o então, o que varia são os aspectos operacionais
motivo é essencial para que o sujeito execute ações das ações na atividade.
conscientes que correspondam aos objetivos da De acordo com Leontiev (1983),
atividade. Portanto, as ações se constituem nos
“componentes” fundamentais da atividade. [...] as ações e operações têm diferentes
As ações são consideradas como sendo origens, diferentes dinâmicas e diferentes
um momento “criativo” muito importante na funções a realizar. A gênese da ação está
atividade, pois se desprendem do objetivo, ge- nas relações de intercâmbio de atividades;
ral ou específico, que é dado pelo objeto da toda operação é resultado de uma transfor-
atividade e pelo motivo. A ação é um “[...] pro- mação da ação, originada como resultado
cesso que se subordina à representação daque- de sua inserção dentro de outra ação e a
le resultado que haverá de ser alcançado, quer incipiente ‘tecnificação’ da mesma, que se
dizer, o processo subordinado a um objetivo produz. (p. 88)
consciente” (Leontiev, 1983, p. 83). Em relação
à estrutura da atividade como uma unidade Sendo assim, as ações convertem-se em
molar, resgata-se a integração entre os seus funções “mecânicas” a partir do domínio que o
“componentes” ao conceituar que as ações se sujeito tenha sobre elas, ou seja, transformam-
relacionam ao conceito de objetivo, assim como se em operações.
o motivo se relaciona ao conceito de atividade. A estrutura molar da atividade é de funda-
De forma semelhante, o objeto da ativi- mental importância para se entender as ações
dade, o que a estabelece numa especificidade humanas. Em síntese, a atividade definida pelo seu
espaço-temporal, relaciona-se ao objetivo. Na objeto fundamenta-se numa necessidade humana
atividade, as ações dos sujeitos são mobilizadas representada pelo motivo que excita a execução
pelos motivos, elementos excitadores da ação, e da ação. Esta, por sua vez, vincula-se ao objetivo
dirigem-se a um objetivo que determina a for- da atividade que se liga diretamente ao objeto da
ma e o caráter1 das ações. Assim, “a determina- própria atividade e que por isso é estável. Diante
ção dos objetivos e a formação das ações a eles das condições de execução das ações, as operações
subordinados, produzem um desmembramento estabelecem-se como funções automatizadas, que
das funções que anteriormente estavam incluí- concretizam o objetivo da atividade.
das no motivo” (Leontiev, 1983, p. 84). Ao se conceber a atividade como instru-
Relacionando os “componentes” da ativi- mento e unidade para a compreensão do de-
dade em sua “macroestrutura”, as ações não são senvolvimento humano, há de se considerar as
executadas isoladamente, não se estabelecem especificidades desta para a constituição psico-
separadas umas das outras, mas se vinculam umas lógica dos indivíduos em cada etapa do desen-
às outras, como grupos de ações que visam ao volvimento, a partir das relações humanas
cumprimento de um objetivo, meta a ser concre-
1. Leontiev (1983), ao citar Marx e Engels em Obras completas , afirma
tizada na atividade. Portanto, o objetivo não é que a discriminação do objetivo ocorre “como una ley determina la forma
estabelecido pelo sujeito de forma arbitrária, mas y el carácter de sus accións...”.

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estabelecidas no contexto social. tas nas dimensões ontológica, epistemológica e
De acordo com Leontiev (1994), as mu- lógica que explicitem como os indivíduos supe-
danças dos sujeitos no processo de desenvolvi- ram a percepção imediata da realidade objetiva,
mento ocorrem a partir das mudanças dos tipos de tal forma a ser possível analisá-las a partir da
da atividade principal ou dominante, definida apropriação dos conhecimentos sociohistóricos.
pela posição que o indivíduo ocupa no sistema de Entende-se que a superação da percep-
relações sociais. A diferenciação feita quanto à ção e da análise imediata dos objetos, fatos e
dominância da atividade se estabelece a partir do fenômenos, presentes nas relações do homem
conteúdo da própria atividade. Ao referir-se à com o mundo, somente se faz possível por
atividade dominante na infância, o autor conce- meio do desenvolvimento do pensamento teó-
be que o tipo de atividade não se caracteriza pela rico (Kopnin, 1978; Davidov, 1982; 1988)
quantidade de ações relacionadas em cada idade, quando os indivíduos adquirem a capacidade
mas se refere às relações em que as ações influ- de interpretar conscientemente as relações com
enciam o desenvolvimento dos processos psíqui- o mundo de forma crítica.
cos e psicológicos como, por exemplo, à medida O método de investigação utilizado pres-
que a criança amplia suas relações com o mun- supõe a explicitação das relações entre o singu-
do, a essência do conteúdo das ações se altera. lar e o universal, mediadas pela particularidade
Leontiev (1994) aponta três atributos que das ações pedagógicas, assim como requer que
caracterizam a atividade principal. O primeiro re- seja identificada a generalidade das ações e
fere-se ao fato de que é na atividade que surgem operações na atividade pedagógica que repre-
outras formas e tipos de atividades que a com- sentam as práticas pedagógicas instituídas no
põem. Isso significa que a atividade principal é contexto escolar, e ainda propõem a explicitação
composta por outras atividades que a estruturam de ações que possibilitem a superação dessas
e a modelam. Outro atributo relacionado pelo práticas instituídas pela identificação da essên-
autor é que os processos psíquicos particulares se cia da atividade pedagógica como práxis trans-
formam ou se organizam na atividade principal. formadora (Vasquez, 1977).
O terceiro atributo da atividade principal refere- A relação entre o singular-particular-univer-
se ao fato de que as principais mudanças na per- sal, própria do método do materialismo histórico-
sonalidade infantil dependem da atividade desem- dialético é comentada por Oliveira (2005) ao afir-
penhada pela criança. mar que a relação indivíduo-genericidade refere-se
Na particularidade desta pesquisa, identifi- à relação do homem com o gênero humano, fato
cam-se duas atividades dominantes que promovem que, necessariamente, inclui a singularidade de
a superação das condições instituídas na indivi- cada indivíduo com as objetivações humanas con-
dualidade dos sujeitos. No caso dos estudantes, é cretizadas ao longo da história da humanidade.
o estudo que cria condições para a transforma- Para que os indivíduos dominem os sistemas de re-
ção da dimensão psíquica dos estudantes; no ferências próprios do contexto em que vivem, as
caso do professor, é o trabalho, mediado pelas objetivações humanas constituídas historicamente
relações teóricas possibilitadas pelo estudo, que precisam ser apropriadas e, assim, os sujeitos têm
possibilita a transformação da práxis pedagógi- a possibilidade de objetivarem-se como sujeitos ati-
ca na pesquisa em questão. vos e participantes das transformações desse con-
texto. Oliveira (2005) afirma que
A relação singular-universal
como método de investigação [...] para que isso possa ser compreendido
nas suas múltiplas relações, é preciso con-
As ações e operações de investigação siderar que todo esse processo entre o indi-
utilizadas nesta pesquisa visam encontrar respos- víduo (o singular) e o gênero humano (o

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universal) se concretiza na relação que o derar o pensamento teórico como uma carac-
indivíduo tem com a sociedade (o particu- terística universal do gênero humano que, para
lar). (p. 29) poder ser investigada, necessita de condições
objetivas postas pela singularidade dos sujeitos
Dessa forma, a relação entre o singular e pertencentes à pesquisa no movimento de
o universal presente nesta pesquisa é posta na apropriação do conhecimento elaborado socio-
identificação da realidade objetiva no contexto historicamente. No entanto, cabe a questão
escolar quando se analisa o processo de trans- fundamental que permeia esta pesquisa: de que
formação dos indivíduos, tendo em vista as re- forma e em que condições e circunstâncias o
lações com o gênero humano. Tal processo se ensino escolar pode favorecer a efetivação da
estabelece considerando-se as relações universais relação indivíduo-genericidade?
dadas pela essência das ações pedagógicas que Por considerar que o pensamento teórico
possibilitam a constituição da genericidade na não é uma função psíquica superior natural
individualidade humana. A relação indivíduo- (nascem com os sujeitos) e sim artificial (desen-
genericidade, própria do método de investigação, volvida nas atividades humanas em que os su-
ocorre mediante a inserção das condições espe- jeitos se envolvem), entende-se, a partir da atual
cíficas da investigação didática que representam organização da sociedade, que o contexto apro-
a influência da sociedade como mediadora do priado para a promoção de tal capacidade hu-
processo de constituição dos indivíduos. mana seja a escola. Considera-se ainda que, além
Sendo o pensamento teórico uma fun- de a escola ser o contexto apropriado para pro-
ção psíquica superior própria do gênero huma- mover o desenvolvimento do pensamento teóri-
no, este representa uma característica universal co pelas relações estabelecidas com o conheci-
dos indivíduos que nascem e se desenvolvem mento sociohistórico, é atribuída a ela a função
num contexto sociohistórico mediado pela social de organizar situações de ensino que
cultura. No entanto, a universalidade da função promovam o desenvolvimento das funções psi-
psíquica somente se concretiza em contextos cológicas superiores dos estudantes por meio do
específicos, singulares. O pensamento teórico é processo de ensino e aprendizagem.
desenvolvido por meio das diferentes particu- O ensino é concebido como uma particu-
laridades (situações), possibilitadas pela medi- laridade que medeia a relação indivíduo-
ação das condições e das circunstâncias neces- genericidade e torna possível a sua objetivação,
sárias para que os indivíduos singulares se desde que sejam postas as condições e as cir-
constituam como representantes das caracterís- cunstâncias necessárias e essenciais para que a
ticas universais do gênero humano. genericidade humana seja considerada na orga-
No entanto, na sociedade contemporânea, nização das ações educacionais. Tais ações não
tal condição nem sempre se torna realidade na ocorrem de modo indiscriminado ou aleatório,
constituição dos seus representantes. O distan- mas somente mediante ações pedagógicas inten-
ciamento entre as características universais e sin- cionais e conscientes que determinam as condi-
gulares dos indivíduos é decorrente do processo ções próprias da particularidade, da mediação
de alienação promovido pela própria estrutura que promove a concretização da genericidade
social. Nesse aspecto, os indivíduos não conse- humana nos indivíduos singulares. Trata-se da
guem usufruir as condições universais possibilita- relação indivíduo-sociedade que mediatiza e
das pela evolução do gênero humano em geral2, objetiva a relação indivíduo-genericidade.
ficando restritos às condições particulares possi-
bilitadas pela própria sociedade atual. 2. Para maiores esclarecimentos sobre o processo de alienação dos
indivíduos, sugere-se a leitura de Manuscritos econômico-filosóficos de
No contexto desta pesquisa, a relação Karl Marx (1974) e como leituras complementares de Leontiev ([1970?]),
indivíduo-genericidade se concretiza ao consi- Duarte (1993) e Oliveira (2005).

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Cabe, portanto, como produto desta reflexão decorrente da singular atividade de estu-
pesquisa, esclarecer em que condições e cir- do, ocorrem mudanças nas práticas pedagógicas
cunstâncias particulares a escola pode e deve que identificam diferenças substanciais na organi-
colaborar para o desenvolvimento das funções zação do ensino em diferentes aspectos.
psíquicas superiores, especificamente a do pen- A transformação da práxis na atividade
samento teórico. Tais condições são definidas pedagógica, ao longo do período em que ocor-
neste estudo como as mediações simbólicas re a investigação didática, constitui-se como o
elaboradas de forma intencional e consciente na contexto de análise nesta pesquisa, uma vez
atividade pedagógica. que a particularidade das condições postas no
Para a realização da pesquisa no aspec- início da investigação didática se estende a
to empírico, o contexto escolar que permeia a uma condição singular na organização do en-
realização deste estudo é uma situação particu- sino que se diferencia das generalizações peda-
lar que representa a realidade objetiva genera- gógicas executadas no contexto escolar.
lizada nas escolas de ensino fundamental dos O resgate da singularidade instituída na
grandes centros educacionais. investigação didática é considerado relevante
A singularidade do contexto escolar é para esta pesquisa, pois possibilita analisar uma
definida pela possibilidade de um sujeito poder realidade objetiva que foi construída de forma
assumir, pessoalmente, a organização do ensi- consciente, mas que representa uma situação
no como professora-pesquisadora num mo- concreta caótica. No movimento de análise e
mento específico da vida profissional. síntese dessa realidade, a condição inicial é
Um dos motivos que conduz à análise explicada e reconstruída teoricamente como
de uma singular e própria prática pedagógica uma situação concreta pensada.
vincula-se à necessidade de realizar um estudo
comparativo das transformações da práxis na A organização do ensino na
atividade pedagógica, identificando a essência investigação didática
das ações e operações na atividade pedagógi-
ca a partir da influência da formação profissi- A investigação didática é definida em
onal em diferentes níveis. Tal procedimento dois momentos distintos que são determinados
metodológico requer que sejam realizadas com- tanto pela formação profissional quanto pela
parações entre as ações pedagógicas anteriores apropriação do conhecimento científico por
e as ações pedagógicas posteriores em um parte do professor-pesquisador e pelo proces-
único sujeito. Tal condição é posta no desen- so de conscientização desta acerca das neces-
volvimento da pesquisa em virtude da necessi- sidades para que ocorra o desenvolvimento das
dade de manter estáveis os demais elementos funções psicológicas superiores mediado pela
que influenciam as ações docentes, de tal for- atividade pedagógica.
ma a garantir a análise do fenômeno num pla- A organização das ações de ensino no pri-
no de pesquisa experimental a ser executado meiro momento prioriza as relações com o objeto
longitudinalmente. de ensino, dando-se ênfase à lógica formal. O se-
No momento em que ocorre o início da gundo momento prioriza as relações com o obje-
investigação didática, que constitui os dados to de ensino, dando-se ênfase à lógica dialética e
empíricos da pesquisa sobre o ensino da Geome- ocorre de acordo com os pressupostos teórico-
tria, essa prática pedagógica é representativa de metodológicos da atividade orientadora do ensino
grande parte dos professores que atuam nas séri- que, segundo Moura (2001), é
es iniciais do Ensino Fundamental e é deter-
minante para a análise da organização do ensino [...] aquela que se estrutura de modo a per-
nesta pesquisa. Ao longo do processo de estudo e mitir que sujeitos interajam mediados por um

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conteúdo negociando significados, com o ações pedagógicas primeiras corresponde ao
objetivo de solucionar coletivamente uma si- que Davidov (1982; 1988) identifica como os
tuação-problema. É atividade orientadora fundamentos teórico-metodológicos caracterís-
porque define os elementos essenciais da ticos da forma empírica de apropriação de con-
ação educativa e respeita a dinâmica das ceitos e, no momento das ações pedagógicas
interações que nem sempre chegam a resul- elaboradas, a organização do ensino aproxima-
tados esperados pelo professor. (p. 155) se do que o autor identifica como os fundamen-
tos teórico-metodológicos constitutivos da for-
A análise comparativa da organização do ma teórica de apropriação da realidade objetiva.
ensino na investigação didática aqui relatada As ações pedagógicas primeiras são de-
ocorre a partir de duas situações didáticas, ten- finidas pela relação entre percepção, represen-
do em vista a necessidade de se identificar as tação e conceito. Tal organização do ensino,
mediações simbólicas na atividade pedagógica segundo Davidov (1982; 1988), é pautada no
que criam situações que possibilitam o desenvol- processo de generalização do conceito (dimen-
vimento do pensamento teórico dos estudantes. são empírica) que consiste em identificar as
No primeiro momento, o objeto de estu- propriedades comuns dos objetos, classifican-
do é a bidimensionalidade das formas geomé- do-os. O processo de análise das características
tricas. Para tanto, foram consideradas a percep- externas dos objetos inicia-se a partir de uma
ção do sentido espacial por meio de ações comanda emitida pelo professor que organiza
lúdicas; a classificação dos sólidos geométricos a observação dos estudantes. Tais ações geram
por meio da identificação das características a identificação de uma palavra que representa
externas destes por semelhança; a identificação o conceito. Nesse processo, o conceito (a
das formas geométricas presentes que com- bidimensionalidade das formas geométricas) é
põem os sólidos geométricos; o estudo da identificado a partir da análise do objeto senso-
nomenclatura das formas geométricas, levando- rial, ou seja, pela análise do objeto material dis-
se em consideração o levantamento de informa- ponível aos estudantes que, ao serem abstraídas
ções em livros didáticos. as características comuns, promovem a genera-
No segundo momento, realiza-se o estu- lização do próprio conceito. As ações dos estu-
do da tridimensionalidade dos sólidos geomé- dantes sobre os objetos de estudos são realiza-
tricos. As ações de ensino ocorreram a partir da das de forma coletiva, promovendo a interação
classificação destes, considerando-se o núme- entre os participantes da atividade pedagógica.
ro de faces, vértices e arestas; e investiga-se a As ações pedagógicas elaboradas, presen-
apropriação da estrutura destes a partir dos tes no segundo momento da investigação didáti-
conceitos de altura, largura e comprimento. O ca, ocorrem de acordo com a forma teórica de
estudo parte de uma situação desencadeadora estudo dos conceitos que, segundo Davidov (1982;
do ensino e da aprendizagem que cria condi- 1988), busca identificar os elementos substanciais
ções para que os estudantes encontrem solu- dos objetos integrados num sistema de relações
ções para uma determinada necessidade soci- constituídas historicamente. Partindo de uma situ-
al, representada pela questão: Em que devemos ação desencadeadora do ensino e da aprendiza-
pensar quando construímos uma embalagem? gem, institui-se o movimento dialógico do conceito,
No movimento das ações de reflexão por par- promovido pelas mediações simbólicas decorren-
te dos sujeitos da atividade pedagógica, são tes das ações pedagógicas, e pelas ações coletivas
identificados pelos estudantes, por meio da entre os estudantes, ocorre a transformação do
mediação do educador, os nexos internos dos objeto sensório em objeto mental, pensado. De
conceitos implícitos na situação didática. acordo com essa concepção teórica, os signos
A organização do ensino no momento das utilizados na ação dialógica constituem-se como

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mediadores da atividade mental entre as pessoas organização do ensino, ou seja, o “modo de
que, a partir da singularidade do objeto de estu- ação” (Bernardes, 2000) que organiza as ações
do, identificam a universalidade deste (o conceito e operações na atividade de ensino. No conteú-
— a tridimensionalidade dos sólidos geométricos). do da ação pedagógica, concebem-se os fun-
damentos teórico-metodológicos próprios da
Generalizações e elementos organização do ensino caracterizados nos dois
substanciais da práxis momentos da investigação didática.
pedagógica Quanto aos elementos comuns da práxis
na atividade pedagógica, verifica-se que na or-
A análise comparativa da práxis na ativida- ganização do ensino são considerados os ele-
de pedagógica, nos dois momentos da investiga- mentos epistêmicos da Geometria e os princípi-
ção didática, requer que sejam identificados os os da Geometria intuitiva, que levam em consi-
aspectos gerais e os aspectos substanciais na or- deração o plano horizontal como o plano de
ganização do ensino. São considerados aspectos referência para o estudo dos conceitos. O uso de
gerais aqueles que se repetem ou o que é invari- material de apoio didático e a valorização da
ável e comum (Davidov, 1988) aos dois momen- ação reflexiva, por meio de ações coletivas e
tos distintos na investigação didática. Os aspectos cooperativas entre os estudantes e entre o pro-
substanciais são considerados aqueles que, além fessor-pesquisador e os estudantes, também são
dos aspectos comuns, constituem-se como traços elementos comuns entre os dois momentos da
impróprios entre os dois momentos da investiga- investigação didática. Como forma de pensa-
ção didática, os considerados necessários e inse- mento decorrente das ações reflexivas dos estu-
paráveis na organização do ensino (Davidov, 1988) dantes sobre o objeto de estudo, a dedução
e que, a partir de determinadas circunstâncias e informal é identificada como elemento comum
condições diferenciadas, propiciam o desenvolvi- nas manifestações da apropriação dos conceitos.
mento do pensamento teórico dos estudantes. No que se refere aos elementos impró-
Tais aspectos substanciais são considerados prios da práxis na atividade pedagógica, são
a essência das ações e operações na atividade observadas diferenças quanto à lógica que a
pedagógica. No entanto, há de se levar em consi- permeia: a lógica formal e a lógica dialética. A
deração a existência da relação dialética entre os mediação pedagógica, caracterizada como ati-
aspectos gerais e substanciais nos dois momentos vidade orientadora do ensino no segundo mo-
da investigação didática. Essa relação dialética é mento da investigação didática, também é
explicitada por Davidov (1988) ao afirmar que “os identificada como elemento diferenciador da
traços essenciais são sempre gerais, porém isto práxis por considerar a situação desenca-
resulta em ocasiões insubstanciais” (p. 21), ou seja, deadora do processo de ensino e aprendiza-
todos os traços substanciais são também gerais, gem que contempla a historicidade e os nexos
mas nem todos os traços gerais são substanciais. internos do conceito, os modos de ação que re-
Na análise da forma e do conteúdo da querem os princípios da atividade em comum e
práxis na atividade pedagógica, faz-se necessá- do conjunto de fatores de eficiência e o con-
rio explicar os aspectos gerais e os aspectos trole da aprendizagem por meio da mediação
substanciais das variáveis que compõem a uni- no campo da linguagem ao longo do proces-
dade dialética que interfere na organização do so dialógico do conceito.
ensino e, consequentemente, promovem a di- As generalizações na atividade pedagógi-
ferenciação nas manifestações do pensamento ca são apresentadas como ações e operações
dos estudantes. coletivas e cooperativas entre estudantes e entre
No que se refere à forma das ações pe- o educador e os estudantes; ações e operações
dagógicas, concebe-se o aspecto “aparente” da sobre o objeto de estudo, material e/ou ideal,

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como instrumento que medeia as elaborações Ao considerar as ações e operações dos
mentais; e ações e operações vinculadas ao co- sujeitos sobre o objeto de estudo como elemento
nhecimento teórico que interferem na formação substancial da práxis na atividade pedagógica,
e transformação do educador e dos estudantes. considera-se não apenas as características ime-
Tais generalizações não se instituem isoladamente diatas e externas do objeto de estudo, mas se
na organização do ensino. Elas se inter-relacio- concebe o objeto concreto na dimensão do ma-
nam num sistema integrado de ações que eviden- terialismo histórico-dialético que correlaciona o
ciam a totalidade na atividade pedagógica. concreto com a realidade objetiva nas suas múl-
A Figura 1, retirado de Bernardes (2006, p. tiplas relações historicamente construídas. Tra-
299), evidencia a relação entre as ações e as ta-se de entender o objeto na dimensão de ser
operações na atividade pedagógica consideradas ideal por conter, em sua essência, o significado
as generalizações pedagógicas ou, ainda, os as- social elaborado historicamente pela humanida-
pectos gerais da práxis na atividade pedagógica: de. Entende-se esse objeto concreto como per-
tencente a um sistema de relações que o inte-
gra à produção humana a partir da atividade
como meio de trabalho e de comunicação entre
os indivíduos.
Na particularidade da atividade pedagógica
nas séries iniciais da escolarização, concebe-se que
nas relações entre o indivíduo e a realidade obje-
tiva, mediadas pelas particularidades das ações de
No processo de superação das generali- ensino, não pode ser desconsiderada a percepção
zações da práxis na atividade pedagógica, são ativa dos estudantes na apropriação da realidade
identificados os aspectos substanciais em cada objetiva. Entretanto, é necessária a superação da
um dos elementos do sistema integrado de identidade entre o particular e o universal presente
ações. Trata-se da dimensão dialética presente na apropriação do objeto de estudo quando as
nos elementos substanciais da atividade pedagó- elaborações generalizáveis acerca do objeto de
gica que criam condições para que o pensamen- estudo são identificadas como a sua essência.
to dos estudantes não se limite às características Tal superação se estabelece por meio da
externas e imediatas do objeto de estudo. organização do ensino que considere o objeto
No que se refere às ações e operações de estudo historicizado, representando a reali-
dos sujeitos sobre o objeto de estudo como dade objetiva em suas múltiplas determinações;
uma das generalizações pedagógicas, identifi- as elaborações sociohistóricas, assumindo a
cam-se as relações entre a percepção sensori- condição de serem as abstrações que medeiam
al, a representação simbólica do objeto e a o movimento de internalização da realidade
elaboração do conceito como um conteúdo da objetiva; e o conceito pertencente ao sistema
práxis na atividade pedagógica característico da de relações teóricas, sintetizando as relações
lógica formal. Tais ações e operações caracte- com a realidade objetiva, entendida numa di-
rizam a dimensão empírica do pensamento dos mensão que supera a anterior. Trata-se da di-
sujeitos na atividade pedagógica, além de se- mensão que identifica o singular e o universal,
rem tidas como insuficientes para a apropriação mediada pelas condições particulares do ensi-
do conhecimento sociohistórico. Nessa condi- no, identificando a essência do objeto de estu-
ção da práxis na atividade pedagógica, o objeto do por meio dos nexos internos do conceito
de estudo representa a materialidade do obje- que contém os elementos substanciais deste.
to concreto, tendo em vista as condições ime- Na dimensão da constituição das fun-
diatas e externas deste. ções psicológicas superiores, a organização do

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ensino que prioriza tal relação é definida pela campo da linguagem, que atua como instrumen-
unidade existente entre as características singu- to no movimento de transformação no sentido pes-
lares dos indivíduos que, mediadas pelas parti- soal do objeto rumo à apropriação do significado
cularidades da organização do ensino, propici- social deste que, por meio da identificação dos
am a constituição da dimensão ontológica do nexos internos, sintetiza o conceito teórico. As
pensamento teórico dos estudantes. mediações no movimento dialógico do conceito
Outro elemento constituinte do sistema devem problematizar as elaborações dos estudantes
integrado que compõe a práxis na atividade de tal forma a desencadear novas reflexões de
pedagógica refere-se às ações e operações qualidade superior às anteriores; devem também
coletivas e cooperativas entre os estudantes e visar à manifestação do pensamento e da lingua-
entre o educador e os estudantes. gem interna dos estudantes de tal forma a promo-
Como generalização pedagógica, tal ele- ver a conscientização de que o conceito não é uma
mento assume a condição de proporcionar aos construção particular promovida por um processo
estudantes situações de interação que possibilitam de reflexão singular, mas é um produto de práti-
a ação reflexiva sobre o objeto de estudo, medi- cas sociais historicamente construídas e sintetiza-
ada pela intervenção do educador. Tais interações das na elaboração do conhecimento científico.
possibilitam o processo de percepção, representa- No aspecto volitivo, são identificados ele-
ção e elaboração do conceito como uma constru- mentos diferenciadores que contribuem para que
ção particular dos indivíduos no movimento de os estudantes apresentem disponibilidade e von-
compreensão do objeto de estudo. Nessa dimen- tade para executar tarefas e ações de estudo,
são, cabe ao educador direcionar as ações dos considerando-se a consciência destes em perten-
estudantes para que estes promovam ações sobre cerem a uma coletividade de estudo. Nesse as-
o objeto de estudo; mediar o processo de síntese pecto, ressalta-se a divisão de funções entre os
a ser elaborado pelos estudantes; e promover sujeitos da atividade pedagógica e do controle da
mudanças na organização do ensino que possibi- aprendizagem entre estes, contribuindo para que
litem ajustes e adequações na elaboração do con- educador e estudantes assumam compromissos
ceito. Essas condições identificam a forma da com a finalidade da atividade pedagógica. Ao
práxis na atividade pedagógica que possibilita a repartir funções, as ações de cada um dos sujei-
dimensão empírica do pensamento dos indivíduos. tos tem significado específico na produção cole-
Como elemento substancial da práxis na tiva, assim como, ao repartir o controle da apren-
atividade pedagógica que possibilita condições dizagem entre todos da coletividade de estudo,
favoráveis para o desenvolvimento do pensamen- cada sujeito torna-se cúmplice na execução das
to teórico dos estudantes, as ações e operações ações de ensino e aprendizagem como uma ati-
coletivas e cooperativas entres os sujeitos assu- vidade em comum. Associado a esse elemento da
mem particularidades que as diferenciam das dimensão volitiva das ações e operações coletivas
demais nos aspectos cognitivo, volitivo e afetivo. e cooperativas na atividade pedagógica, identifi-
No aspecto cognitivo, além de considerar ca-se que a situação desencadeadora do ensino
as ações interpessoais decorrentes do processo de e da aprendizagem deve ser inserida num contex-
reflexão coletiva e cooperativa, institui-se a ne- to social que mobilize a execução de ações dos
cessidade de se considerar o movimento dialógico estudantes como também deve contemplar a di-
do conceito que releva a mediação entre o sig- mensão lúdica que atende a um dos aspectos
nificado social do objeto de estudo e o sentido próprios do desenvolvimento infantil.
pessoal (Vygotsky, 2001a; Leontiev, 1983), mani- O aspecto afetivo entre os integrantes da
festo nas elaborações particulares dos estudantes. atividade pedagógica assume a condição de ser
Tais mediações devem ser executadas pelo o amálgama que se integra aos aspectos volitivo
educador de forma consciente e intencional no e cognitivo nas ações e operações coletivas e

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cooperativas. Ressalta-se a importância do res- possível considerando a apropriação de conhe-
peito e a valorização das ações e elaborações cimentos teóricos por parte do educador que
conceituais de cada um dos sujeitos pertencen- organiza o ensino. Tal concepção é decorren-
tes à coletividade de estudo. No entanto, identi- te da consciência de que essa dimensão psíqui-
fica-se a necessidade de se considerar a relação ca nos seres humanos não é natural, e sim
entre as elaborações individuais e a produção promovida por mediações na apropriação do
coletiva do grupo-classe. Trata-se de evidenci- conhecimento teórico.
ar a necessidade de a coletividade de estudo re- Além da necessidade de o educador se
ceber contribuições de todos os sujeitos da ati- apropriar de conhecimentos vinculados ao desen-
vidade pedagógica para produzir elaborações volvimento infantil, às práticas pedagógicas e às
mais complexas e amplas, valorizando a dimen- relações sociais e filosóficas que medeiam a atu-
são interpessoal na constituição da dimensão ação docente no contexto escolar, há de se con-
intrapessoal dos sujeitos. siderar a necessidade da apropriação de conhe-
Concebe-se que o respeito e a valorização cimentos específicos por parte do educador que
das contribuições dos estudantes à coletividade relacionem o ensino, a aprendizagem e o desen-
de estudo não se restringe à relação direta entre volvimento humano numa dimensão ontológica.
o educador e os estudantes, mas também à rela- Levar em conta as possibilidades reais do
ção entre os estudantes. Tal fato se faz possível ensino como instrumento que medeia o desen-
a partir da consciência de que a contribuição volvimento das funções psicológicas superiores
individual dos sujeitos é importante, porém, quan- requer que o educador tenha conhecimento
do ampliada pelas contribuições coletivas, torna- das dimensões filo e ontogenéticas constituin-
se mais complexas e atingem níveis de elabora- tes do ser humano e das possibilidades reais do
ção teórica inacessíveis na dimensão individual. ensino escolar como um instrumento da ativi-
A relação entre as ações e as operações dade prática revolucionária, que pode interfe-
dos sujeitos sobre o objeto de estudo e as ações rir no processo de transformação de práticas
e as operações coletivas e cooperativas entre os sociais alienantes historicamente instituídas na
sujeitos identificam a unidade entre as ações e sociedade capitalista.
as operações da atividade pedagógica. A dimen- Ao mesmo tempo em que a apropriação
são dialética presente na organização do ensino de conhecimentos teóricos interfere na forma-
efetiva-se na interdependência entre a forma e o ção da consciência do educador e, conse-
conteúdo, o material e o ideal, o físico e o psí- quentemente, na constituição da práxis na ati-
quico, o abstrato e o concreto, o empírico e o te- vidade de ensino, ao se criarem condições no
órico e entre o afetivo e o cognitivo. A unidade contexto escolar para que o conhecimento te-
entre contrários também se faz presente na rela- órico seja apropriado pelos estudantes em ati-
ção entre a lógica formal e a lógica dialética como vidade de estudo, tal apropriação também po-
fundamentos teóricos que medeiam a práxis na derá interferir na transformação da dimensão
atividade pedagógica. psicológica dos estudantes e na conscien-
No entanto, para que ocorra tal unidade tização destes quanto ao lugar social que ocu-
na organização do ensino e a superação da pam na sociedade contemporânea e na sua
dimensão empírica na apropriação do conheci- atuação prática como sujeito de uma coletivi-
mento sociohistórico, torna-se relevante consi- dade de estudo.
derar as ações e operações vinculadas ao co-
nhecimento teórico. Algumas considerações
A compreensão da totalidade da práxis,
que possibilita o desenvolvimento do pensa- Diante de tais condições e circunstânci-
mento teórico dos estudantes, somente se faz as, é possível conceber que a educação esco-

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lar pode e deve ser um instrumento que medeie são empírica na apropriação da realidade obje-
o desenvolvimento das funções psicológicas tiva e da condição alienante instituída historica-
superiores dos sujeitos pertencentes à ativida- mente na sociedade, não se fazem presentes, de
de pedagógica. Assim, tanto o estudante quan- uma forma geral, na educação escolar em ne-
to o educador formam-se e transformam-se nhum nível de escolarização na atualidade.
diante da apropriação da produção humana Tal fato requer que sejam considerados os
elaborada historicamente. Além disso, concebe- desdobramentos necessários para que a realida-
se que, quando os indivíduos encontram um de desejada possa ser concretizada. São ques-
sentido pessoal na sua atividade principal tões que dizem respeito às implicações de tais
(Leontiev, 1983) que corresponde ao significa- pressupostos teórico-metodológicos na forma-
do social instituído historicamente, ocorre a ção profissional do educador e – numa dimen-
possibilidade de superação das práticas sociais são mais ampla, mas essencial para que se
alienantes presentes na sociedade. A partir de viabilize a transformação desejada – à necessi-
tais circunstâncias, criam-se condições para que dade de se refletir sobre os fundamentos em que
a realidade objetiva seja transformada mediante o sistema educacional brasileiro se estabelece.
intervenções conscientes e intencionais por Tem-se a consciência de que são ques-
parte dos indivíduos. tões amplas e complexas, porém necessárias
No entanto, há de se considerar que tais para que se possa promover uma educação
práticas, que possibilitam a superação da dimen- escolar que cumpra com a sua finalidade.

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Recebido em 25.09.08
Aprovado em 10.08.09

Maria Eliza Mattosinho Bernardes é professora doutora da Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de
São Paulo e pesquisadora que integra o GEPAPe – Grupo de Estudos e Pesquisa sobre a Atividade Pedagógica – FEUSP.

Manoel Oriosvaldo de Moura é professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e coordenador
do GEPAPe.

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