Você está na página 1de 2

2017­5­21 Disciplined Wonder – Wonder, when disciplined, generates the three domains of human transcendence: the arts, philosophy and religion, which, to flourish, must remain distinct, but inseparable.

 — Admiração, quando disci…

Fatos nus

O N  2 5 / 0 2 / 2 0 1 7  BY SCOTT RAN DAL L PAIN EIN  PO STS EM PO RTU G U ÊS

A modéstia, tal como a entendo, é uma forma de respeito que mostramos às outras pessoas, ao agirmos e nos vestirmos visando suas
faculdades mais elevadas, e não despertando sua carnalidade contra a vontade. Obviamente, o que excita em uma cultura pode não fazê­lo
em outra; e, numa cultura, o que excita uma pessoa pode não excitar outra. Mas, há limites em relação a isso, como poderia ser o caso de
uma pessoa que, mesmo modestamente vestida, desperte o desejo. Mas, quando se olha para as mulheres estufadas dos tempos vitorianos,
e também para os homens todo­abotoados, e vemos fotos deles nadando quase totalmente vestidos, percebe­se que isso não é mais
modéstia, mas uma perversa aliança entre o puritanismo e a indústria da moda. E, claro, isso sequer dá resultado! Sigmund Freud
arrancou as camadas tanto dos vestidos vitorianos quanto dos ardis inconscientes, ao por a nu os segredos sexuais daquela época.

Lembro­me certa vez de estar em algum lugar do mundo, segurando meu traje de banho, querendo pular na piscina, mas não podendo
fazê­lo porque não encontrava um lugar para me trocar. Na Alemanha, e na maioria dos países eslavos, eu teria apenas de dar as costas
para a multidão e me trocar, pronto! Vi isso muitas vezes naqueles países, onde muitos mostram seus traseiros nus por um segundo,

https://disciplinedwonder.com/ 1/2
2017­5­21 Disciplined Wonder – Wonder, when disciplined, generates the three domains of human transcendence: the arts, philosophy and religion, which, to flourish, must remain distinct, but inseparable. — Admiração, quando disci…

enquanto mudam de roupa rapidamente, mas sem neurose. Nos EUA, isso poderia dar cadeia! Acho que os alemães são mais naturais
quanto a isso, e todos nós faríamos bem em relaxar no tocante a esse assunto. Para o bem ou para o mal, nós somos hoje pesadamente
esclarecidos acerca de nossos corpos e do sexo. Teremos que tirar o melhor partido do assunto. Mas há uma outra dimensão nisso tudo.

Certa vez, estava eu viajando no assento da frente de um pequeno ônibus, no caminho entre Damasco e Palmira, na Síria. Cruzei minhas
pernas, de modo que a sola de um de meus sapatos estava ligeiramente voltada para o motorista. Um passageiro muçulmano deu um
tapinha em meu joelho, apontou com seu dedo primeiro para a sola e depois para meu rosto, não de forma rude, mas com insistência. Meu
sapato não era exatamente imodesto, mas estava no mesmo espírito – expondo a alguém as partes ‘menos nobres’ de nosso corpo, neste
caso, a sujeira de nossos pés. Isso é particularmente típico do Oriente Médio, como nos lembra bem a prática bíblica de lavar os pés. É
estranho dizer, mas eu me sintonizei instantaneamente com essa prática, e desde então tenho evitado voltar a sola de meus pés na direção
de uma pessoa.

Essa anedota remete­nos ao outro lado da modéstia: que nós não apenas cobrimos partes de nós que poderiam indevidamente despertar as
paixões de outra pessoa, mas também porque são desagradáveis à vista, até mesmo feias. Como regra, a maioria de nós é pouco atraente,
até mesmo assustador, quando pelada. Cobrimos nossa nudez na maior parte do tempo não para impedir que o sexo oposto diga “Ooh la
la!”, mas para evitar que alguém diga “Eca!”.  É claro que existe aqui também uma questão de higiene e de odor. Os naturistas, é claro,
proclamarão que seus corpos descaradamente nus e bem ventilados não têm o problema do mau cheiro advindo das coisas enroladas em
camadas e mais camadas de roupas. Pode ser, mas cabe dizer que o ser humano é a única espécie de animal que por natureza se veste; para
nós é natural ser vestido. Aliás, a maioria dos climas da Terra não recomenda ostentar nossa pele nua, como se fosse um casaco de pelos ou
de penas. E, novamente, assim como a maioria de nós não se deliciaria com a visão do interior de nossas bocas e narizes, nós da mesma
forma preferimos que as várias intersecções funcionais de nossos corpos, bem como o seu aparato nutritivo e higiênico, estejam ocultas à
vista. Marcel Marceau estava certo: nossas faces e mãos possuem tudo o que é preciso para nos comunicarmos perfeitamente. Elas têm
todos os cinco sentidos e o resto do corpo é apenas como um elenco secundário. Este pode passar a maior parte do tempo fora da câmera
sem afetar o enredo.
https://disciplinedwonder.com/ 2/2

Você também pode gostar