Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Regulação do
Comércio
Internacional
BNDES
REGULAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Neste texto apresenta-se o processo, iniciado após o final da Segunda Guerra Mundial,
de estabelecimento dos princípios, regras e regulamentos que regulam o comércio
internacional, observando-se que este regime internacional vem sendo continuamente
alterado em função das mudanças que ocorreram nas práticas comerciais ao longo do
tempo. Com este objetivo, inicia-se apresentando sua fase inicial e a evolução ocorrida
até o final da Rodada Uruguai, em 1994. A seguir, apresenta-se a OMC – Organização
Mundial do Comércio, que iniciou suas atividades em 1995 e tornou-se o centro das
discussões e negociações sobre o tema, e algumas das características das novas
regras estabelecidas. Finalmente, por ser um essencial ao bom funcionamento do
regime, apresenta-se, em linhas gerais, o sistema de solução de controvérsias criado
no âmbito da OMC.
2
a criação de uma terceira organização internacional, a Organização Internacional do
Comércio - OIC, destinada a tratar, dentre outras coisas, das relações comerciais entre
os países, com base em princípios de livre comércio e multilaterais.
A criação do Banco Mundial tinha por objetivo criar uma instituição financeira
internacional capaz de financiar a reconstrução da economia dos países destruídos
pela guerra. Desde o início, a governança, tanto do FMI quanto do BIRD, foi desenhada
de tal forma que o poder decisório concentrava-se nos países desenvolvidos,
principalmente nos Estados Unidos.
3
Como a criação da OIC veio a fracassar, o GATT continuou em vigor, ainda que não
viesse a se constituir, formalmente, em um organismo internacional, mantendo-se
apenas como um acordo até o estabelecimento, em 1995, da Organização Mundial do
Comércio. É interessante observar que o GATT, comparativamente o mais frágil dos
instrumentos criados ao se estabelecer a nova
ordem econômica internacional do pós-Segunda Guerra Mundial, tornar-se-ia, com
o passar dos anos, extremamente bem sucedido.
Muitas das prescrições do GATT original mantêm-se vigentes até hoje. O acordo
iniciava-se com a cláusula da nação mais favorecida que estipula que o comércio
internacional deve ser conduzido em bases não discriminatórias. Ou seja, um país não
pode conceder a outro tratamento privilegiado em relação aos demais, salvo as
exceções previstas no próprio Acordo, como, por exemplo, a do Artigo XXIV, que trata
de integração regional. Assim, por força da atuação desse princípio, um benefício ou
tratamento preferencial concedido a um país deverá ser estendido a todos os demais.
Entre as normas gerais, destaca-se a chamada de tratamento nacional. Por esta norma,
os signatários do GATT acordaram que os impostos internos e outros encargos, as leis,
regulamentações e requerimentos aplicáveis às vendas internas não podem ser
aplicadas diferentemente aos produtos fabricados internamente do que são aos
produtos importados. Destaca-se, ainda, a norma da transparência, que obriga a
publicação de todos os regulamentos relacionados ao comércio. Constavam, ainda, do
acordo as chamadas cláusulas de escape, medidas de exceção acordadas pelas partes
contratantes que resguardariam os interesses domésticos no curso de processos de
liberalização. Exemplos de medidas de exceção são encontrados no Artigo XIX do
Acordo Geral, que permite a adoção de
salvaguardas para as concessões tarifárias outorgadas no âmbito do GATT e no Artigo
XII, que autoriza a imposição de restrições às importações em razão de desequilíbrios
no balanço de pagamentos. As medidas antidumping, de que trata o Artigo VI, também
podem ser consideradas medidas de exceção, uma vez que sua aplicação é
discricionária, incidindo exclusivamente sobre as importações originárias de certos
países, indo de encontro ao princípio da nação mais favorecida.
Como exemplo de sua aplicação, os Estados Unidos da América puderam manter sua
legislação sobre as medidas antidumping que conflitava com o que fora estipulado no
4
GATT. Essa cláusula somente foi extinta com a criação da OMC. Após pouco mais de
uma década de sua entrada em vigor, as avaliações do GATT realizadas pelos países
em desenvolvimento começaram a demonstrar sua
grande frustração com os resultados obtidos. A convocação e realização da UNCTAD –
United Nations Conference on Trade and Development, em 1964, e a criação do Grupo
dos 77 viabilizaram tornar explícito que o Acordo Geral era um instrumento que
regulava o comércio internacional sem levar em consideração a questão do
desenvolvimento, beneficiando apenas os países que já eram os mais ricos. Iniciou-se,
então, um forte movimento político exigindo mudanças no Acordo, conseguindo-se,
paulatinamente, introduzir algumas cláusulas que permitiam a concessão de algum
tratamento diferenciado para os países em desenvolvimento.
5
A sexta rodada de negociações, realizada entre 1964 e 1967, recebeu o nome “Rodada
Kennedy” em homenagem ao presidente americano assassinado antes de seu início. A
novidade foi o novo papel nas negociações da Comunidade Européia, sendo que os
países que dela participavam atuaram, pela primeira vez,
em conjunto. Este novo “negociador” tinha mais condições de enfrentar o poder norte-
americano, até então muito superior a todos os demais países que participavam das
rodadas. Entre seus resultados, destacam-se uma redução em 35% da tarifa média
incidente sobre produtos industrializados, a conclusão do primeiro Acordo Antidumping
e, após as fortes pressões políticas dos países em desenvolvimento, a introdução de
uma Parte IV no acordo, tratando da relação entre comércio e desenvolvimento.
Adicionalmente, duas grandes crises marcam o período: o fim do sistema de taxas fixas
de câmbio criado em Bretton Woods, que vigorava desde o pós-guerra, e as crises do
preço do petróleo. No novo sistema monetário, a competitividade das empresas podia
ser profundamente alterada por variações da taxa de câmbio, independentemente de
qualquer movimento de elevação ou de redução de sua
produtividade. A elevação dos preços do petróleo passou a exigir grandes volumes de
divisas dos países que dependiam de sua importação, o que resultou em um aumento
do endividamento externo de vários países em desenvolvimento. A perda de
competitividade das empresas dos Estados Unidos as levou a exigir de seu governo
que pressionasse seus parceiros comerciais mais relevantes, principalmente o Japão,
para realizarem acordos de “restrição voluntária às exportações”, protegendo assim as
empresas norte-americanas.
Ainda que a Rodada Tóquio seja hoje avaliada como a que marcou a primeira
transformação mais forte do sistema multilateral de comércio, seus resultados
frustraram enormemente os países em desenvolvimento ao não introduzir os produtos
agrícolas e os têxteis nas disciplinas aplicadas à maioria dos produtos industriais.
Fracassou também ao não avançar no tratamento de salvaguardas, o
que poderia ter reduzido as práticas nada transparentes dos acordos de restrição
voluntárias a exportações.
6
Código Antidumping. Esses códigos, entretanto, somente seriam aplicados aos países
que os subscrevessem, num rompimento importante com a cláusula da nação mais
favorecida, o que provocou
preocupações e discussões sobre o destino do sistema. Nesta fase, falava-se dos
riscos de um “GATT à la carte”.
7
Este conjunto de situações fez com que, já em 1982, surgissem as primeiras propostas
para que fosse iniciada uma nova rodada de negociações multilaterais, propostas estas
que resultariam no lançamento da Rodada Uruguai. Esta, contudo, teria início apenas
em 1986, quando se conseguiu um acordo sobre a pauta das negociações.
Inicialmente, as discussões sobre a pauta, ou seja, sobre o “mandato negociador”,
foram enormes e havia muitas divergências. Os países desenvolvidos desejavam incluir
na pauta essencialmente as negociações sobre temas que passaram a ser de interesse
direto de suas empresas como serviços, investimentos e propriedade intelectual
enquanto os países em desenvolvimento pretendiam centrar a nova rodada na
discussão sobre como aplicar as disciplinas do GATT aos produtos agrícolas e aos
têxteis.
As negociações da Rodada Uruguai foram difíceis e exigiram oito anos para seu
encerramento, ocorrido somente em 1994. O velho Acordo de 1947 foi substituído por
um conjunto de regras muito mais abrangente, aplicável a um conjunto ampliado de
produtos e que seriam administrados por uma nova organização internacional. Este
será o tema dos dois próximos itens.
8
de controle do meio-ambiente. A inclusão de regras sobre estes temas sofreu oposição
dos países em desenvolvimento, dentre os quais se incluía
o Brasil, que temiam que estas regras resultassem em novas barreiras não-tarifárias
impostas às suas exportações. A seguir, apresentam-se alguns aspectos
do conjunto de acordos resultantes da rodada.
Paralelamente, a OMC deve cooperar com o FMI e o Banco Mundial, a fim de que seja
obtida maior coerência na elaboração das políticas econômicas em escala mundial. O
conjunto de regras multilaterais estipuladas pelas negociações e que, atualmente,
regulam comércio internacional estão contidas nos seguintes acordos ou grupos de
acordos:
9
Quanto aos serviços, o “Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços”, GATS na sigla
inglesa, procurou estabelecer um quadro referência de princípios e regras para o
comércio internacional de serviços visando sua expansão e sua contínua liberalização.
O tratamento baseado na “cláusula da nação mais favorecida” e a obrigação de
transparência tornaram-se obrigatórios para todas as medidas que afetem o comércio
de serviços. Contudo, o acesso a mercados e a aplicação do tratamento nacional
dependem das listas de compromissos específicos assinados por cada membro para
cada setor.
10
Muitas vezes, há, ainda, informações específicas sobre alguns setores relevantes na
economia do país.
Contudo, isto se deu através da assinatura de um Acordo sobre Agricultura (AA) que
esclarecia, desde sua primeira linha, haver sido decidido “iniciar um processo de
reforma do comércio em agricultura”, complementando, no parágrafo seguinte, que este
seria um “objetivo de longo prazo”. Assim, encontram-se no texto várias cláusulas que
diferenciam o tratamento aos produtos agrícolas do estipulado para os industrializados,
viabilizando, como a prática mostraria, a manutenção de medidas protecionistas e de
apoios governamentais, principalmente por parte dos países desenvolvidos, que
distorcem o comércio internacional.
11
O AA incluiu, ainda, uma cláusula que permite a manutenção dos apoios
governamentais à produção doméstica e às exportações, ainda que com compromissos
de redução ao longo do tempo, o que contrasta com o tratamento para os produtos
industrializados, onde este apoio é rigorosamente controlado pelo novo Acordo sobre
Subsídios. Outra excepcionalidade foi a introdução da curiosa “cláusula da paz”
estipulando que, durante nove anos, ainda que houvesse
algum descumprimento dos limites de subsídios, não seria possível acionar o
mecanismo de solução de controvérsias para discutir o tema.
Ainda que com todos estes limitantes, pode-se considerar um grande avanço o
estabelecimento de regras para o comércio de produtos agrícolas. Para países
competitivos no setor, como o Brasil, este Acordo apresenta o mérito de já deixar
registrada a intenção de incorporar plenamente os produtos agrícolas às disciplinas
aplicáveis aos produtos agrícolas. Na atual Rodada Doha, o objetivo do
Brasil e de vários outros produtores agrícolas, é promover avanços mais significativos
na liberalização dos mercados para seus produtos.
Neste texto, apenas serão tratados com maior nível de detalhamento os Acordos sobre
Medidas “Antidumping”, sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, sobre
Salvaguardas e sobre Barreiras Técnicas, todos de grande importância para o comércio
internacional e cuja apresentação está nos capítulos 2.2, 2.3, 2.4 e 2.5. Estudos mais
aprofundados de todos os demais podem ser encontrados na bibliografia recomendada.
Uma excelente síntese de todos os acordos, incluindo análises das conseqüências de
sua aplicação, pode ser encontrada em Thorstensen (2003).
12
Apesar do aumento do número de membros, o processo decisório da OMC mantém a
tradição iniciada com o GATT de buscar, como regra geral, o consenso entre todos os
membros, o qual se considera atingido quando nenhum país se opõe, formalmente, a
uma decisão. Quando não é obtido o consenso, a decisão pode-se dar por maioria
simples, na base de cada país um voto, prática muito pouco utilizada. Procura-se
manter a busca do consenso por se entender que a força da organização depende de
sua credibilidade, a qual se relaciona a aceitação e observância de suas normas. Cabe
ressaltar que a obtenção do consenso na OMC é mais complexa do que no GATT,
quando havia menos países
envolvidos e a abrangência de temas era menor.
Em novembro de 2001, houve outra tentativa, desta vez bem sucedida, de lançar uma
nova rodada multilateral de negociações durante a reunião ministerial em Doha, Catar.
Nesta ocasião foi lançada a primeira Rodada de Negociações Multilaterais no âmbito da
OMC, cujas negociações ainda prosseguem. A Declaração Ministerial estipula que as
negociações devem atingir como resultado um conjunto único de obrigações (single
undertaking), obrigatório para todos os membros da OMC. Esta seria uma rodada na
qual os interesses dos países em desenvolvimento teriam um tratamento preferencial,
estabelecendo-se a “Doha Development Agenda”.
A Rodada Doha, como passou a ser chamada, iniciou-se com um mandato bastante
amplo: agricultura, serviços, acesso a mercados com nova etapa de redução tarifária
para produtos industriais, aprofundamento das regras sobre antidumping, subsídios e
acordos regionais e propriedade intelectual, novos temas
para investimento, concorrência, transparência em compras governamentais, facilitação
de comércio e comércio eletrônico, além de meio ambiente.
13
Para muitos, a existência de um mecanismo de solução de controvérsias eficaz e
eficiente, com a capacidade de induzir fortemente a que os membros implementem
suas decisões é uma das principais características do atual regime multilateral de
comércio. Suas regras eliminam a possibilidade de ações unilaterais quando um dos
membros entende que seus direitos não estão sendo respeitados, exigindo que todos
sigam os procedimentos estipulados antes de iniciar qualquer processo de retaliação.
O sistema resultante da Rodada Uruguai foi inovador em relação ao utilizado até então
por inverter o conceito de consenso utilizado para a aprovação, pelo Conselho Geral,do
relatório a que chegavam os especialistas responsáveis por analisar uma controvérsia.
Antes o relatório somente seria aprovado caso fosse obtido o consenso envolvendo
todos os membros, inclusive a parte perdedora, bastando que ela discordasse, o que
não era incomum, para que a opinião dos especialistas não fosse considerada. No novo
sistema, o relatório passa a ser obrigatório, exigindo, para não ser aprovado, uma
decisão por consenso do Órgão de Solução de Controvérsias, onde participa a parte
ganhadora, que sempre pode bloquear este consenso. Ou seja, inverteu-se a situação
anterior.
Contudo é fundamental esclarecer que o sistema como um todo não pode ser
confundido com um sistema jurídico usual. É mais adequado defini-lo como um sistema
político-jurídico, onde a dimensão política é a determinante final. Por exemplo, seja qual
for a decisão dos especialistas ou a do Órgão de Apelação, nada impede que os
países, caso seja obtido um consenso no Órgão de Solução de Controvérsias, a
recusem e optem por uma solução completamente diferente.
14
basicamente com os artigos XXII e XXIII para orientar o processo. O Artigo XXII do
GATT trata da obrigação de consultar, quando as partes devem buscar soluções
satisfatórias para seus interesses, e consiste em uma etapa fundamental e
indispensável do processo de solução de controvérsias. O Artigo XXIII trata da redução
ou anulação de vantagens. Caso as partes não chegassem a uma solução satisfatória
durante o processo de consultas, poderiam recorrer a especialistas que constituiriam
um painel.
O sistema atual, muito mais detalhado, busca, acima de tudo, que sejam adotadas
práticas compatíveis com os acordos da OMC, não sendo seu objetivo punir os
membros que tomem medidas inadequadas. Mesmo quando são estabelecidos painéis,
o principal objetivo primeiro é induzir os membros a estabelecer normas para seu
comércio exterior em conformidade com os acordos da OMC. Apenas no caso em que
este objetivo não é alcançado, o órgão de Solução de Controvérsias pode autorizar
retaliações.
Como já foi citado, o texto do “Entendimento” afirma que deverá ser sempre dada
preferência à solução mutuamente aceitável para as partes envolvidas na controvérsia
e que esteja em conformidade com os acordos abrangidos, ou seja, deve-se buscar
uma solução negociada. Prossegue afirmando que não se alcançando tal solução, o
15
primeiro objetivo do mecanismo passa a ser conseguir a supressão das medidas que
geram a controvérsia, se for constatado que essas são incompatíveis com as
disposições de quaisquer dos acordos. Não se deve recorrer à uma compensação ao
membro reclamante por parte do país transgressor, exceto no caso de não ser factível a
supressão imediata das medidas incompatíveis com o acordo e como solução
provisória até sua supressão. O último recurso previsto no ESC é a possibilidade de
suspender a aplicação de concessões ou o cumprimento de outras obrigações no
marco dos acordos, a retaliação, sempre que o OSC autorize a adoção dessas
medidas.
O painel, ou grupo especial, deve fazer uma avaliação objetiva do assunto, incluindo
uma avaliação dos fatos, da aplicabilidade e concordância com os acordos abrangidos
e formular conclusões que auxiliem o OSC a fazer recomendações ou emitir decisões.
O grupo especial deverá emitir um relatório a ser entregue, inicialmente, às partes
16
envolvidas na controvérsia, as quais poderão solicitar alterações, que serão analisadas
pelo painel. A seguir, o relatório final será entregue a todos os membros.
O quadro abaixo apresenta os prazos esperados para cada uma das fases citadas.
Muitas vezes, principalmente em casos complexos, os prazos podem ser muito
superiores aos previstos:
Até trinta dias após a adoção, pelo OSC, do informe do painel ou do Órgão de
Apelação, o membro a que foram dirigidas as recomendações informará ao OSC o seu
propósito quanto à aplicação de tais medidas. Caso seu cumprimento imediato não seja
possível, será concedido um prazo para isso, o qual será o prazo
17
proposto por esse membro, desde que aprovado pelo OSC; o prazo fixado de comum
acordo pelas partes na controvérsia; ou um prazo determinado por meio de arbitragem.
O acordo obtido na Rodada Uruguai, que tem como nome oficial “Acordo sobre
Implementação do Art. VI do GATT 1994”, é considerado mais preciso que seus
antecedentes, pois durante sua negociação contava-se com a experiência adquirida
tanto na aplicação dos acordos anteriores como nos trabalhos desenvolvidos no Comitê
sobre Antidumping do GATT. Adicionalmente, ao longo do tempo, havia sido acumulada
razoável jurisprudência em vários painéis relativos à aplicação de medidas antidumping.
18
O Brasil aderiu ao Acordo sobre Antidumping negociado na Rodada Tóquio, encerrada
em 1979. Observe-se que, como os demais “códigos” resultantes desta
rodada, suas disciplinas eram aplicadas apenas aos signatários do GATT que
optassem por aderir especificamente a este instrumento. O Acordo entrou em vigor em
1980 e o Brasil o incorporou à legislação nacional em 1986, juntamente com o Acordo
Sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, sendo esta postergação explicável pela
existência, no Brasil, de vários mecanismos de controle das importações.
A efetiva utilização dos mecanismos de defesa comercial somente tomou impulso com
o fim dos controles quantitativos das importações, em 1990. Confrontando-se com uma
maior concorrência, aumentou a necessidade dos empresários solicitarem
investigações sobre a forma de competir no mercado brasileiro das empresas
localizadas em outros países. Atualmente, a legislação brasileira estabelece que as
investigações relacionadas à “defesa comercial” são de responsabilidade do
Departamento de Defesa Comercial – DECOM, da Secretaria de Comércio Exterior, do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Há, ainda que se ressaltar que a simples prática de dumping em exportações não é
condenada no atual Acordo Antidumping. Por outro lado, as “medidas antidumping” são
amplamente utilizadas para dificultar a penetração de produtos fabricados em outros
países no mercado doméstico. Este tipo de protecionismo é facilitado pelo fato de que
as medidas antidumping podem ser aplicadas unilateralmente, sem que seja solicitada
prévia anuência à OMC.
19
3.1. CONCEITOS BÁSICOS
Segundo o AA, somente pode-se aplicar uma medida antidumping após a realização de
uma investigação na sejam caracterizados três aspectos:
1. existência de dumping;
2. existência de dano à indústria doméstica;
3. relação causal entre o dumping e o dano.
DUMPING
Um: produto é considerado similar a outro quando é idêntico àquele ou, quando não
existir produto idêntico, apresenta características suficientemente semelhantes.
VALOR NORMAL
Preço ex fabrica é aquele que inclui, além do custo total de fabricação da mercadoria,
as despesas de embalagem, os encargos, o lucro e as despesas comerciais de
exportação, excluídos eventuais benefícios à exportação.
Observe-se que quando o produto não é exportado diretamente de seu país de origem,
sendo exportado a partir de um terceiro país, intermediário, o valor normal será o
praticado no país exportador. Contudo, pode-se utilizar o preço no país de origem se
ocorre mero transbordo do produto no país de exportação, se o produto não é
produzido no país de transbordo ou, ainda, se não houver preço do produto no país
exportador.
20
O AAD considera que vendas internas a preços abaixo dos custos unitários de
produção somados a custos usuais como os administrativos, os de venda e os gerais,
podem ser considerados como operações que não ocorrem no curso usual dos
negócios. Assim, eles podem ser desconsiderados no cálculo do valor normal desde
que seja verificado que elas foram realizadas durante um período prolongado
(normalmente um ano), em quantidades substanciais (20% do total ou preço médio
unitário inferior ao custo médio) e a custos que não permitam cobrir os custos em um
lapso razoável de tempo.
Contudo, o AAD estabelece que preços abaixo do custo no momento da venda, mas
acima do custo médio ponderado obtido no período da investigação deverão ser
considerados como capazes de permitir a recuperação dos custos durante um período
de tempo razoável.
Alternativas para o valor normal: quando o produto similar não for objeto de vendas
no mercado interno do país exportador ou quando tais vendas não forem realizadas no
curso de operações comerciais normais; ou, ainda, quando tais vendas internas forem
inferiores a 5% das exportações; ou em uma “situação especial de mercado”, pode-se
utilizar como valor normal:
No caso de se utilizar o preço de exportação para terceiro país, o AAD dispõe que esse
país deva ser adequado e que o preço seja representativo, mas não determina critérios
para determinar essa adequação, como por exemplo, processo produtivo, dimensão do
mercado.
País cuja economia não seja predominantemente de mercado: neste caso o valor
normal poderá ser determinado com base no:
Quando não for possível a utilização de nenhuma das hipóteses acima, o valor normal
poderá ser determinado com base em qualquer outro preço razoável, inclusive o preço
21
pago ou a pagar no mercado importador devidamente ajustado, se necessário, a fim de
incluir margem de lucro razoável.
PREÇO DE EXPORTAÇÃO
Quando não existir preço de exportação (doação, por exemplo) ou caso o preço de
exportação possa suscitar dúvidas, por motivo de associação ou acordo existente entre
o exportador e o importador ou uma terceira parte, podem existir alternativas para
seu cálculo e o preço de exportação poderá ser construído a partir do preço de
revenda do importador ao primeiro comprador independente.
A comparação entre o preço de exportação e o valor normal deverá ser justa. Isso se
refere, dentre outras coisas, ao nível de comércio, normalmente ex fabrica, levando-se
em consideração as vendas efetuadas em datas as mais próximas possíveis.
Outros fatores que afetem a comparabilidade de preços poderão ser levados em conta,
tais como condições de vendas, tributação, quantidades, diferenças físicas, níveis
comerciais. Por exemplo, podem ser considerados diferentes custos de embalagem,
políticas de descontos distintas em razão dos volumes vendidos, diferentes níveis de
taxas de juros praticadas no caso de concessão de prazo para
pagamento.
22
A margem de dumping será calculada para cada um dos produtores estrangeiros do
produto investigado ou poderá ser feita através de uma amostra, caso esse número
seja muito grande. A margem de dumping será calculada para cada um dos que
compõem a amostra e - para os não incluídos na amostra - se atribuirá a margem
ponderada de dumping obtida a partir das margens de cada uma das empresas
incluídas na amostra. Caso algum dos produtores não incluídos na amostra, apresente
informação necessária para cálculo individual de margem, esse cálculo deverá ser feito,
a menos que o número de empresas solicitantes de cálculo individual seja tão grande
que impossibilite a sua realização.
A análise relativa a dano cobrirá um período maior (normalmente cinco anos, nunca
menos de três anos) do que o período de dumping (normalmente um ano, nunca menos
de seis meses).
23
As autoridades investigadoras deverão avaliar se o volume importado é insignificante,
assim considerado o volume inferior a 3% do volume total importado, salvo se os países
que individualmente representem menos de 3% das
importações, em conjunto, representem mais de 7% dessas importações, em termos
absolutos ou em relação à produção ou ao consumo.
Ameaça de Dano Material: a situação na qual o dumping causaria dano deve ser
claramente previsível e iminente. Deverão ser considerados, conjuntamente, entre
outros, os seguintes fatores:
a) significativa taxa de crescimento das importações do produto objeto de dumping,
indicativa de provável aumento substancial das importações;
b) capacidade ociosa ou iminente aumento na capacidade do produtor estrangeiro, que
indique probabilidade de significativo aumento das exportações a preços de dumping;
c) importações realizadas a preços que tenham significativo efeito de deprimir preços
domésticos e que provavelmente aumentarão as importações;
d) estoques do produto sob investigação.
Isoladamente, nenhum desses fatores fornecerá orientação definitiva, mas seu conjunto
poderá levar à conclusão de que importações a preços de dumping são iminentes e
que, caso não sejam adotadas as medidas, ocorrerá dano material.
RELAÇÃO CAUSAL
24
necessária a demonstração de que as importações a preços de dumping causaram
dano à indústria doméstica.
Nessa análise, deverão ser considerados todos os elementos de prova, tais como
volumes e preços de importações originárias de outros países, contração da demanda
ou mudança nos padrões de consumo, práticas restritivas ao comércio e
concorrência entre produtores nacionais e estrangeiros, progresso tecnológico,
desempenho exportador e produtividade da indústria nacional.
A idéia é que seja verificado em que medida o dano sofrido pela indústria doméstica
advém ou não de importações a preços de dumping. Inexiste uma lista exaustiva dos
aspectos a serem considerados pelas autoridades investigadoras, e tampouco uma lista
ilustrativa de elementos que deverão ser obrigatoriamente analisados.
No Brasil, as medidas antidumping são aplicadas por meio da cobrança, quando são
importados produtos sobre as quais elas incidem, de um direito antidumping. Este
direito antidumping é definido como uma quantia de dinheiro, igual ou inferior à margem
de dumping calculada durante a realização da investigação, que tem por objetivo
neutralizar os efeitos danosos sobre a indústria brasileira por importações a preços de
dumping.
Sua natureza jurídica é distinta daquela do imposto de importação. Isso significa que
importações não sujeitas à aplicação, integral ou parcial, do imposto de importação,
como por exemplo importações amparadas no regime de drawback, estarão sujeitas ao
direito antidumping.
2.2.3. INVESTIGAÇÃO
25
Observe-se que a aplicação de uma medida antidumping não depende de aprovação
prévia da OMC, porém os membros devem cumprir detalhadamente os procedimentos
estabelecidos pelo AAD. Caso isto não ocorra, pode haver uma contestação da medida
que venha a ser adotada ao final da investigação e o membro pode ser obrigado a
revogar a mesma por determinação da OMC.
Melhor Informação disponível: caso qualquer das partes interessadas negue acesso
à informação necessária, não a forneça no prazo estipulado ou crie obstáculos à
investigação, o parecer, com vistas a determinações preliminares ou finais, será
elaborado com base na melhor informação disponível. Nesses casos, o resultado final
poderá ser menos favorável para aquela parte do que seria, caso a mesma tivesse
26
cooperado, podendo ser utilizados os dados disponíveis, entre eles os contidos na
petição de abertura da investigação, como base para determinações.
A investigação somente será iniciada após ser realizada uma análise da petição de
abertura de investigação. Nesta fase, apenas o governo do país exportador será
notificado da existência de petição, se devidamente instruída. Caso as autoridades
decidam pela abertura da investigação, será publicado aviso público e as partes
interessadas conhecidas serão notificadas.
Haverá uma audiência final, na qual todas as partes interessadas receberão uma nota
técnica elaborada pelo DECOM contendo todos os elementos que servirão de base
para a tomada de uma decisão final quanto à aplicação ou não de direito antidumping,
dispondo do prazo de quinze dias para apresentar suas alegações finais. A
27
Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a Confederação Nacional da Indústria
(CNI), a Confederação Nacional do Comércio (CNC) e a Associação do Comércio
Exterior Brasileiro (AEB) serão informadas da realização da audiência final.
28
Uma investigação somente poderá ser encerrada com aplicação de direitos
antidumping quando a autoridade investigadora chegar a uma determinação final
positiva da existência de dumping, de dano e de nexo causal entre eles.
Caso a decisão final seja pela não existência de dumping ou do dano dele decorrente,
ou pela não existência de ameaça de dano material ou de retardamento sensível no
estabelecimento de uma indústria, sem que tenha ocorrido dano material, o valor das
medidas antidumping provisórias será restituído, caso tenha sido recolhido, devolvido,
caso tenha sido garantido por depósito, ou extinto, no caso de fiança bancária.
Caso o valor do direito aplicado pela decisão final for igual ao valor do direito
provisoriamente recolhido ou garantido por depósito, esta importância será
automaticamente convertida em direito definitivo; se o valor do direito aplicado pela
decisão final for inferior ao valor do direito provisoriamente recolhido ou garantido por
depósito, o excedente será restituído ou devolvido; e, se o valor do direito aplicado pela
decisão final for superior ao valor do direito provisoriamente recolhido ou garantido por
depósito, a diferença não será exigida.
29
3.4. RETROATIVIDADE
Contudo, direitos antidumping definitivos poderão ser cobrados sobre produtos que
tenham sido despachados para consumo até noventa dias antes da data de aplicação
das medidas antidumping provisórias, quando:
Não serão cobrados direitos sobre produtos que tenham sido despachados para
consumo antes da data de abertura da investigação. No caso de violação de
compromisso de preços, direitos antidumping definitivos poderão ser cobrados sobre os
produtos importados despachados para consumo, até noventa dias antes da aplicação
de medidas antidumping provisórias, ressalvados os que tenham sido despachados
antes da violação do compromisso.
A pedido de parte interessada ou por iniciativa das autoridades envolvidas, poderá ser
feita a revisão - no todo ou em parte - das decisões sobre a aplicação do direito
antidumping, desde que haja decorrido, pelo menos, um ano da imposição de direitos
antidumping definitivos e que sejam apresentados elementos de prova suficientes de
que:
30
Os interessados deverão, com antecedência suficiente, se manifestar, por escrito, sobre
a conveniência de uma revisão de final de período e solicitar audiência, se necessário.
Assim, foi introduzido no GATT o artigo XIX, onde são tratadas as medidas de
salvaguarda. Seu objetivo é, independentemente da prática de qualquer prática desleal
por parte do exportador, criar um mecanismo de proteção temporária à industria
domestica, na expectativa que as empresas aproveitem-se desta período para
implementar um processo de reestruturação que seja capaz de aumentar sua
competitividade. O Acordo sobre Salvaguardas, negociado durante a Rodada Uruguai,
buscou criar regras mais definidas para a aplicação destas medidas.
Uma especificidade da medida de salvaguarda é que, uma vez que ela tem por objetivo
proteger a indústria doméstica e não se relaciona ao uso de práticas desleais de
comércio, sua aplicação não é discriminatória. Assim, definido o produto, ao aplicar-se
a medida de salvaguarda ela não discrimina os países aos quais ela será aplicada.
No caso de uniões aduaneiras, o Acordo prevê tanto que os países do bloco possam
adotar, conjuntamente, uma medida de salvaguarda como que um país integrante do
bloco a adote separadamente dos demais. No âmbito do MERCOSUL, foi concluído o
regulamento com vistas à aplicação de medidas de salvaguarda às importações
provenientes de países que pertençam ao bloco.
31
4.1. CONCEITOS BÁSICOS
O ASS permite que os países adotem medidas de salvaguardas, mas exige que,
previamente, seja realizada uma investigação conduzida de acordo com as regras
estabelecidas no âmbito da OMC. Aplicam-se a essas investigações, regras
semelhantes às aplicáveis no caso do AAD. O Comitê de Salvaguardas da OMC será
notificado sobre a abertura da investigação.
32
Assim como no caso de dumping e de subsídios, a aplicação de uma medida de
salvaguarda requer que seja demonstrada a relação de causalidade entre o prejuízo,
ou ameaça de prejuízo grave, e o aumento das importações do produto em questão.
Existindo outros fatores, distintos do aumento das importações que,
concomitantemente, estejam causando prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave à
indústria doméstica, este prejuízo ou ameaça não será atribuído ao aumento das
importações.
33
desde que a participação do conjunto dos países em desenvolvimento, com volume de
importações inferior a três por cento, não represente, em conjunto, mais do que nove
por cento das importações do produto.
Caso sejam adotadas restrições quantitativas, tais medidas não reduzirão o volume das
importações abaixo do nível de um período recente, como tal considerado a média das
importações nos últimos três anos representativos para os quais se disponha de dados
estatísticos, a não ser que exista uma justificativa clara de que é necessário um nível
diferente para prevenir ou reparar o prejuízo grave.
A medida de salvaguarda terá inicialmente prazo de vigência de até 4 anos. Caso tenha
sido aplicada medida de salvaguarda provisória, o seu prazo de vigência será
computado para efeito de vigência total da medida de salvaguarda. Com o objetivo de
incentivar o ajustamento, a medida de salvaguarda, cujo período de aplicação for
superior a um ano, será liberalizada progressivamente, a intervalos regulares durante a
sua vigência.
34
a) REVISÃO DE MEIO PERÍODO
b) PRORROGAÇÃO DA MEDIDA
Neste caso, o Comitê de Salvaguardas da OMC deverá ser notificado e deverá ser
oferecida oportunidade para realização de consultas, prévias à prorrogação, com os
governos dos países que tenham interesse substancial como exportadores do produto
em questão.
Ao longo da história são inúmeras as evidências de que o apoio dos governos, através
da concessão de subsídios, tem sido crucial para o desenvolvimento tanto de setores
específicos quanto das economias como um todo. Embora exista um amplo debate e
extensa bibliografia sobre estes aspectos, este texto restringe-se a apresentar as
35
características do acordo sobre subsídios em vigor no âmbito da OMC. Cabe recordar
que, como já foi citado no item 1, há diferenças expressivas entre as disciplinas
referentes a subsídios aplicáveis aos produtos agrícolas e aos produtos industriais.
No entanto, este acordo apresenta uma amplitude significativamente maior que o AAD,
na medida em que a simples aplicação de medidas compensatória pode não ser
suficiente para eliminar todos os danos que os subsídios podem causar a outros
membros, particularmente quando estão sendo consideradas exportações a terceiros
mercados. Como será apresentado, há casos em que o tratamento do problema exigirá
que se recorra diretamente à OMC, podendo ser necessário, até mesmo, apelar ao
mecanismo de solução de controvérsias.
36
- transferência direta de fundos (doações, empréstimos, aportes de capital etc.);
- possibilidade de transferência direta de fundos (garantia de empréstimo, por exemplo);
- perdão ou não recolhimento de receitas públicas devidas (incentivos fiscais etc.);
- fornecimento de bens ou serviços distintos daqueles destinados à infra-estrutura geral,
ou compra de bens;
- pagamentos a um mecanismo de fundo ou caso o governo instrua ou confie à
entidade privada a incumbência de realizar as ações acima descritas de maneira
semelhante ao governo.
e, simultaneamente,
Nos casos em que não haja, aparentemente, especificidade, mas haja razões para crer
que o subsídio seja de fato específico, poderão ser considerados outros fatores para
sua determinação. Podem caracterizar a especificidade o uso de um programa de
subsídio por um número limitado de determinadas empresas, uso predominante de um
programa de subsídios por determinadas empresas, concessão de parcela
desproporcionalmente grande de subsídio apenas a determinadas empresas, e o modo
pelo qual a autoridade outorgante exerceu seu poder discricionário na decisão de
conceder um subsídio.
Nesses casos serão levadas em conta as informações sobre a freqüência com que são
recusados ou aceitos pedidos de subsídios e sobre os motivos que levaram a tais
decisões, bem como a diversidade das atividades econômicas dentro da jurisdição da
autoridade outorgante e o período de tempo durante o qual o programa de subsídios
esteve em vigor.
37
5.3. CLASSIFICAÇÃO DE SUBSÍDIOS
I) SUBSÍDIOS PROIBIDOS
38
c) grave dano aos interesses de outro Membro: também neste caso se aplicam os
procedimentos de recurso junto à OMC contra os subsídios. Há alguns aspectos
referentes à determinação de grave dano que estão sendo amplamente discutidos
durante a Rodada Doha. Contudo, não se espera que ocorram mudanças no parágrafo
que estipula que haverá grave dano nos casos em que o subsídio provoque um ou a
combinação dos seguintes efeitos:
(i) deslocar ou impedir a importação, no mercado do membro que subsidia, de
produtos fabricados em outro;
(ii) deslocar ou impedir a importação de produtos que não recebam subsídios em
mercados de terceiros países;
(iii) provocar significativa redução de preço do produto subsidiado em um mercado
importador em relação ao produto de outro membro no mesmo mercado, ou tenha
efeito significativo na contenção de aumento de preços, redução dos preços ou
perda de vendas no mesmo mercado;
(iv) aumentar a participação no mercado mundial de produtos primários ou de
base originários do país que subsidia.
Por ocasião da assinatura do Acordo, foi considerado que existiriam dois tipos de
subsídios não-acionáveis (ou irrecorríveis):
Contudo, o tema está em negociação na Rodada Doha e não pode ser descartada a
hipótese de que seja acordado que os subsídios do tipo dos citados na letra b acima ou
outros tipos venham a ser considerados como não recorríveis.
39
podem ser invocados quanto à política adotada pelo país que concede o subsídio, bem
como aos procedimentos seguidos pelo Comitê de Subsídios da OMC. Caso não haja
acordo entre os países, a solução é recorrer ao mecanismo de solução de
controvérsias, já apresentado anteriormente.
40
3. o exame cumulativo dos efeitos das importações é adequado à luz das
condições de competição existentes.
41
poderão manifestar interesse em realizar consultas. Estas visam esclarecer as
alegações buscar solução mutuamente satisfatória. A possibilidade de novas consultas
com membro exportador está aberta ao longo da investigação.
c) as autoridades competentes julgarem que tais medidas são necessárias para impedir
um dano maior à indústria durante o período de investigação;
5.7.2. COMPROMISSOS
42
poderá prosseguir, a pedido do governo do país exportador ou se assim decidirem as
autoridades envolvidas.
43
Retroatividade: direitos compensatórios definitivos poderão ser cobrados sobre
produtos que tenham sido despachados para consumo até noventa dias antes da data
de aplicação das medidas compensatórias provisórias, sempre que se determine que o
dano é causado por volumosas importações, em período relativamente curto. Não
serão cobrados direitos sobre produtos que tenham sido despachados para consumo
antes da data de abertura da investigação.
44
sido de fato investigados por outras razões que não uma recusa de cooperar com a
investigação.
O artigo 20 do GATT 47, que trata das exceções gerais às obrigações assumidas pelos
signatários, estabelece que o Acordo não impede a adoção de medidas voltadas a
atingir uma série de objetivos ali explicitados, dentre os quais, a proteção da vida e a
saúde humana, animal ou vegetal e a conservação de recursos naturais exauríveis.
Contudo estas medidas não podem ser adotadas de forma a introduzir discriminações
entre os países ou em restrições disfarçadas ao comércio internacional.
A aplicação destas exceções, de forma muitas vezes questionável, por vários países,
suscitou discussões profundas sobre o tema. Após um longo histórico de negociações
internacionais que descreveremos sucintamente anteriormente deste texto, os
resultados da Rodada Uruguai da OMC incluíram um Acordo sobre Barreiras Técnicas
ao Comércio que busca regulamentar parte das exceções do Artigo 20. Este Acordo,
usualmente chamado no Brasil por sua sigla em inglês de TBT, é obrigatório para todos
os membros da OMC.
O Acordo TBT, que passou a vigorar no início de 1995, determina, no artigo 10, que
todos membros da OMC estabeleçam um “enquiry point”, para fornecer informações ao
s interessados de outros membros sobre as exigências técnicas vigentes no país e, nos
artigos 2 e 5, a obrigatoriedade da notificação ao Secretariado da OMC dos projetos de
regulamentos técnicos e de procedimentos de avaliação da conformidade, buscando
garantir a implementação do princípio da transparência.
45
Cabe citar que no âmbito do Mercosul, foi criado um subgrupo de trabalho específico, o
SGT-3, que tem por objetivo evitar que os regulamentos técnicos e os procedimentos
de avaliação da conformidade criem barreiras técnicas ao comércio. O subgrupo busca
a harmonização de exigências técnicas utilizando a estratégia de adotar, como
referência, normas internacionais como as da ISO/IEC, da OIML, do Codex
Alimentarius e do WP-29 da ONU. Contudo, ainda que o SGT-3 tenha suas atividades
voltadas direta e exclusivamente à eliminação das barreiras técnicas intrabloco, deve-
se mencionar a existência de outros subgrupos de trabalho no âmbito do Mercosul que
estão envolvidos com as atividades de regulamentação técnica, a saber: SGT-1,
Comunicações, SGT-5, Transportes, SGT-6, Meio Ambiente, SGT-7, Industria, SGT-8,
Agricultura e SGT-11, Saúde.
46
dispendiosos, bem como de inspeções excessivamente rigorosas, que sejam
estabelecidas de forma a causar introduzir dificuldades ao comércio internacional.
O ANEXO 1 do Acordo TBT afirma que os termos utilizados ao longo de seu texto, têm
o mesmo significado que os termos apresentados na sexta edição do Guia ISO/IEC 2:
1991, “Termos Gerais e suas Definições Referentes à Normalização e Atividades
Correlatas”. Contudo, observe-se que os termos definidos no Guia ISO/IEC 2 cobrem
produtos, processo e serviços, porém, o TBT trata apenas de regulamentos técnicos,
normas e procedimentos de avaliação de conformidade relacionados a produtos ou
processos e métodos de produção. Os serviços estão excluídos da cobertura deste
Acordo. Apresentam-se, a seguir, os conceitos básicos do Acordo, citando-se ressalvas
relevantes para os propósitos de interpretação do TBT.
Regulamento Técnico
Norma
Documento aprovado por uma instituição reconhecida, que fornece, para uso comum e
repetido, regras, diretrizes ou características para produtos ou processos e métodos de
produção conexos, cujo cumprimento não é obrigatório. Poderá também tratar parcial
ou exclusivamente de terminologia, símbolos, requisitos de embalagem, marcação ou
rotulagem aplicáveis a um produto, processo ou método de produção.
As normas, tal como definidas pelo Guia ISO/IEC 2 podem ser obrigatórias ou
voluntárias. Para os propósitos deste Acordo as normas são definidas como
documentos voluntários e os regulamentos técnicos como obrigatórios. As normas
preparadas pela comunidade internacional de normalização são baseadas no
consenso. Este Acordo cobre também documentos que não são baseados no
consenso.
47
6.3. PRINCÍPIOS GERAIS
I) OBJETIVOS LEGÍTIMOS
Em geral, considera-se que este é o Acordo da OMC em que a importância deste tipo
de conhecimento é mais claramente estipulada.
III) TRANSPARÊNCIA
48
elaboração, e, o estabelecimento, por todos os membros da OMC de enquiry point. No
Brasil ambas as funções são exercidas pelo Ponto Focal de Barreiras Técnicas às
Exportações, estabelecido e operado pelo Inmetro.
NOTIFICAÇÕES
Mesmo antes da notificação, os estados deveriam publicar uma nota informando que há
planos de se introduzir uma nova regulamentação técnica relacionada a certos produtos
com antecedência suficiente para que todas as partes interessadas existentes em
outros membros possam tomar conhecimento de que há um regulamento em
elaboração. Após a notificação, caso sejam solicitados, devem ser fornecidos
pormenores ou cópias do projeto de regulamento técnico e, sempre que possível,
identificadas as partes que diferem em substância das normas internacionais
pertinentes. Deve ser concedido, sem discriminação, um prazo razoável para que
outros membros façam comentários por escrito, estes comentários devem ser
discutidos e levados em consideração.
“ENQUIRY POINT”
O Acordo TBT exige que cada membro assegure que exista um centro de informação
que seja capaz de responder a todas as consultas razoáveis de outros membros, bem
como fornecer os documentos solicitados tais como qualquer norma e regulamento
técnico ou procedimentos de avaliação da conformidade adotados ou propostos em seu
território. Esta obrigação facilita a obtenção de informações sobre exigências técnicas,
pois há vários organismos regulamentadores em cada membro, muitos deles
desconhecidos por quem pretenda iniciar exportações para aquele país.
49
IV) RECONHECIMENTO DA AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE
O Acordo estabelece que os membros devam assegurar, sempre que possível, que
sejam aceitos os resultados dos procedimentos de avaliação de conformidade de outros
membros, mesmo que estes procedimentos difiram dos seus, desde que estejam
convencidos de que aqueles oferecem uma garantia de conformidade com os
regulamentos técnicos ou normas aplicáveis equivalente a seus próprios
procedimentos. Contudo, o Acordo reconhece que consultas prévias podem ser
necessárias para se chegar a um entendimento mutuamente satisfatório sobre o tema.
Na prática, como este princípio não é obrigatório e é ressalvado pelo “sempre que
possível”, ele não vem sendo obedecido pelos mais desenvolvidos em relação a
resultados obtidos nos países em desenvolvimento. Reclamações sobre este
comportamento são recorrentes tanto nas reuniões do Comitê de Barreiras técnicas
como nos procedimentos de revisão do Acordo que ocorrem a cada três anos.
Observar algumas das negociações já realizadas sobre o tema pode colaborar para seu
entendimento. Relata-se, a seguir, sucintamente, o tratamento que o tema recebeu na
União Européia, na Organização Mundial do Comércio e no NAFTA.
50
tenham sido observados avanços em alguns setores, como o automobilístico, o
processo mostrou-se, em geral, bastante lento.
Somente em 1978, quando o Tribunal de Justiça Europeu julgou o caso “Cassis de
Dijon”1, foi dado um passo decisivo para a eliminação dos obstáculos técnicos ao
comércio intra-comunidade.
Há, ainda, outro importante fato a ser citado no caso europeu. Devido ao lento avanço
do processo de harmonização, decidiu-se introduzir, em 1985, uma nova metodologia
de regulamentação, a “Nova Abordagem”. Esta limitou a harmonização legislativa à
adoção de requisitos essenciais que os produtos deveriam possuir. Os requisitos
essenciais considerariam, entre outros aspectos, o risco à saúde e à segurança das
pessoas. Desde então, os fabricantes podem optar livremente por qualquer solução
técnica que assegure o cumprimento dos requisitos essenciais e escolher entre os
diversos processos de avaliação da conformidade previstos nas diretivas.
Durante a Rodada Uruguai a questão foi aprofundada, o que gerou o Acordo sobre
Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT). Este, de adesão obrigatória para todos os
membros da OMC, estabelece que não se devem introduzir exigências técnicas com o
objetivo de criar obstáculos ao comércio. Como vimos, estas exigências não devem ser
mais restritivas que o necessário para atingir os objetivos legítimos.
1
Trata-se de uma notória decisão do Tribunal de Justiça das Comunidades Européia revertendo uma proibição
da Alemanha da importação de bebidas alcoólicas com teor entre 15% e 25% de álcool. O caso teve início
quando um importador alemão foi proibido pelas autoridades germânicas de importar Cassis de Dijon da
França, uma vez que seu teor alcoólico seria muito baixo. A lei alemã vedada a venda de qualquer bebida
alcoólica com teor entre 15% e 25%. Na decisão do Tribunal, a interpretação foi de que essa restrição
equivaleria a uma quota, uma vez que teria o efeito prático de restringir importação, ainda que a legislação
alemã não fosse diretamente voltada para a restrição a produtos importados.
51
O Acordo induz os membros da OMC a utilizarem normas internacionais como base
para seus regulamentos técnicos, presumindo-se, quando tal procedimento for adotado,
que tal regulamento não crie um obstáculo desnecessário ao comércio. Porém, durante
as negociações, não foi possível definir com clareza quais seriam as “instituições de
normalização internacionais” que elaborariam as “normas internacionais“. Aceita-se,
tacitamente, que instituições como a ISO, o Codex Alimentarius e a ITU (International
Telecommunications Union) teriam esta característica.
52
negociações permitiu-lhes chegar a um acordo que consagrasse algumas teses que
defenderam, sem sucesso, no âmbito multilateral.
53
sua chegada aos portos de destino. Basta que no ato da inscrição a empresa informe
os seus produtos e os países de seu interesse para que o serviço seja totalmente
adequado às suas necessidades. As notificações podem ser acessadas no Ponto Focal
de Barreiras Técnicas às exportações.
Muitas vezes, para realizar uma análise mais profunda da proposta ou para preparar
uma possível adaptação de seus produtos às novas exigências, o exportador pode
desejar a íntegra da proposta do regulamento que os países informaram à OMC. Muitos
destes textos completos estão disponíveis no site, mas se não o encontrar, o
exportador pode solicitá-lo ao Ponto Focal. Finalmente, através do serviço “Solicitações
de informações sobre barreiras técnicas” os exportadores podem solicitar ao Inmetro
qualquer tipo de informação sobre o tema.
54
BIBLIOGRAFIA
55