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Natal, 2010

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO


GRANDE DO NORTE - IFRN
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL
C.S.T EM CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

A REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO E SUAS CARACTERÍSTICAS

ANDERSSON CHRISTYAN SOARES DA SILVA


HUGO ALESSANDRO ALMEIDA DINIZ
JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA
MARAÍZE LOPES DE ALMEIDA
NATHALY SANTANA LEAL DE SOUZA
SAMUEL SILVA DE OLIVEIRA

RESUMO

Este artigo apresenta conteúdo acerca da reação álcali-agregado (RAA), no qual o


fenômeno foi definido e classificado, acompanhado de um breve histórico sobre
pesquisas, as quais resultaram em alguns métodos de ensaio. Foram abordados os
principais causadores da reação e as consequências do fenômeno nas
construções.A prevenção foi citada como a principal forma de se combater a reação.
O texto tem como meta informar acerca da necessidade de se atentar para a
possibilidade de ocorrência deste fenômeno em obras, para assim evitar danos às
estruturas das construções. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, para colher
informações que resultaram no texto apresentado. Assim, entende-se que este tema
merece bastante atenção por parte de pesquisadores e profissionais da construção
civil.

Palavras-chave: reação álcali-agregado; construção civil; prevenção; pesquisas.


ABSTRACT

This article presents content about alkali-aggregate reaction (ARR), in which the
phenomenon was defined and classified, followed by a brief history about
researches, which have resulted in some test methods. Main factors of the reaction
and consequences of the phenomenon in constructions have been discussed in this
text. Prevention has mentioned such as the main way to combat the reaction. The
text aims to inform about the need ofalerting the possibility of occurrence of
this phenomenon in works, so as to prevent damages to building structures. A
bibliography research was realized to gather information that results the presented
text. Thus, it is understood that this issue deserves close attention byresearchers
and construction professionals

Key words: alkali-aggregate reaction; construction; prevention; researches.

INTRODUÇÃO

A reação álcali-agregado (RAA) é um processo já bastante pesquisado atualmente.


Já existe uma vasta bibliografia sobre o assunto. Segundo Costa, Lima e Silva
(2009, p.1), a RAA ocorre internamente nos concretos entre os íons alcalinos
presentes no cimento e minerais silicosos nos agregados, comprometendo sua
estrutura. Tal fenômeno provoca expansão do concreto, pela formação de sólidos no
interior da estrutura, ocorrendo fissuras na superfície deste e, posteriormente,
desagregação, criando crateras na estrutura, onde escorre um gel de sílica. Uma
das alternativas para evitar esse processo é a adição de pozolana no concreto,
quando não é possível a utilização de cimentos com baixo teor de álcalis. Nogueira
(2010, p. 5) menciona que “a reação álcali-agregado foi descoberta [...] na década
de 30, causando preocupação ao meio técnico, pois nessa época foram observadas
fissuras e expansões em estruturas de concreto”, dando início a uma série de
pesquisas relacionadas a esse tema, pois até então acreditava-se que o concreto,
após endurecer, transformava-se em “pedra”. Estas observações foram feitas em
diversos países e duram até hoje. A justificativa dada para esta reação é a grande
quantidade de cimento utilizada. Ela também é influenciada pela granulometria do
agregado, pois as dimensões vão influenciar no tipo de reação, se miúdas
aumentam as expansões, e se micrométricas, a reação termina antes que o gel se
forme. O concreto também sofre influência externa, como a temperatura e a
presença de água, que pode ser devido à alta umidade – acima de 80% - e também
por contato desta, como em lençóis freáticos. O estudo da reação álcali-agregado
está em processo de evolução, porém a prevenção deste no planejamento da obra e
nos materiais envolvidos é imprescindível para evitar danos maiores. Este artigo
está dividido nas seguintes partes: introdução, definição, histórico,causas, fatores
influenciadores, consequências da RAA, exemplos de ocorrências, prevenção da
RAA e métodos de ensaio.

DEFINIÇÃO

A RAA é uma reação química que ocorre na parte interna do concreto, envolvendo
hidróxidos alcalinos, provenientes principalmente do cimento, e minerais presentes
nos agregados. Este fenômeno gera produtos (gel sílico alcalino) que, na presença
de umidade, podem expandir, gerando pressões que provocam fissurações ou
deslocamentos no concreto, o que resulta em perda de resistência, elasticidade e
durabilidade. Segundo Nogueira (2010, p. 5), “a possibilidade de ocorrência da RAA
está condicionada à interação entre a quantidade deálcalis disponíveis e a
potencialidade reativa dos agregados”. Mas estes fatores não são os únicos que
provocam a reação, pois influências do meio externo também contribuem para o
processo, como a temperatura e a umidade (BICZOK et al., 1972apud NOGUEIRA,
2010, p. 5).

Conforme explica Taylor (1997 apud HASPARYK, 2005, p. 36), os indícios da


deterioração provocada pela RAA podem ser percebidos em intervalos de tempo
bastante diversos, podendo ser após alguns dias ou depois de anos. Fatores como a
temperatura, a umidade, a quantidade de álcalis, a composição do gel produzido
pela reação e a caracterização do agregado regem este tempo (BICZOK, 1972 apud
HASPARYK, 2005, p. 36).

A RAA pode ser classificada em três tipos:


• Reação álcali-sílica (RAS):

Este tipo de RAA é a “mais conhecida e relatada no meio técnico, sendo a que
normalmente ocorre mais rapidamente, em função das formas minerais de sílica
reativas envolvidas” (HASPARYK, 2005, p. 36).

• Reação álcali-silicato:

Ocorre da mesma maneira que a RAS, porém, mais lentamente, fato este devido ao
tamanho das partículas dos minerais reativos.

• Reação álcali-carbonato:

Esta reação ocorre devido à interação entre os álcalis e as dolomitas provenientes


do calcário, quando estas se encontram em grande quantidade. Este processo “gera
fissurações e o enfraquecimento da zona de transição” (BICZOK, 1972 apud
HASPARYK, 2005, p. 37).

HISTÓRICO

Segundo Nogueira (2010) o primeiro relato de RAA foi na década de 1930 nos
Estados Unidos, no estado da Califórnia, sendo observado fissuras e expansões em
estruturas de concreto. Porém os primeiros estudos, realizados por ThomasEdison
Stanton, só foram publicados em 1940 pela American Society ofCivil Engineers –
ASCE (NBR 15577, 2008). Essa publicação supôs que a reação era originada pelos
hidróxidos alcalinos do cimento e pela sílica presente nos agregados, sendo
influenciados pela umidade. Posteriormente,em 1944, foiformada a primeira teoria
para explicar a expansão do gel de sílica, por Hansen, nomeada de pressão
osmótica. Nas décadas de1950 até meados de 1970, foram identificadas muitas
construções na Europa com ocorrência de RAA, porém nesse período as pesquisas
perderam “força”, e só foram retomadas na década de 1970, pela grande quantidade
de ocorrências, onde vários artigos começaram a ser publicados, expandindo o
conhecimento sobre a reação.
No Brasil, conforme a ABNT (2008), inicialmente o estudo da reação, teve como
objetivo aperfeiçoar obras hidráulicas, e só em 1985 se teve relato de RAA no país,
nas barragens de Moxotó e Joanes II, localizadas na região nordeste. Porém Kihara
(1993 apud NOGUEIRA, 2010, p. 7) cita um exemplo na região sul, na década de
1960, na construção da barragem Jupiá. Hoje, as principais pesquisas de RAA no
Brasil são realizadas pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
juntamente com as universidades e centros de pesquisa privada. Apesar de muitas
ocorrências, houve poucos casos de condenação das estruturas, na grande maioria,
foram colocados estruturas de contensão e realização de manutenções.

CAUSAS

Diversos fatores influenciam no desencadeamento da reação álcali-agregado,


devido à complexidade do concreto, suas diferentes composições e as distintas
características físicas entre esses materiais. Entre os fatores que interferem estão:
propriedade dos materiais (cimento e agregado), umidade, temperatura, tempo e as
influências externas (tensões de compressão). Os fatores indispensáveis para que a
RAA ocorra em estruturas de concreto são: concentração de hidróxidos alcalinos
suficientes na solução dos poros do concreto para reagir com o agregado,
agregados reativos, e umidade suficiente. Na ausência de qualquer um desses três
fatores, a reação não ocorre.

Concentração de hidróxidos alcalinos:

O cimento Portland constitui o principal elemento para formação dos álcalis no


concreto, sendo os álcalis por sua vez expressos na forma de óxido de potássio
(K2O) e óxido do sódio (Na2O). Eles são encontrados no cimento de duas formas:
Álcalis Solúveis: presentes nos sulfatos alcalinos, e Álcalis Insolúveis: provenientes
das soluções sólidas das fases presentes no Clínquer.

Os autores Mehrta e Monteiro (2008apudLIMA, 2009, p.05) afirmam que, se o


conteúdo alcalino do cimento for menor que 0,6%, não ocorrem danos provenientes
de RAA, independentemente dos agregados reativos. Entretanto, em concretos
contendo um consumo muito alto de cimento há possibilidade de ocorrência de
danos até para conteúdo de álcalis menor que 0,6%.
Além do cimento, existem outras fontes que contribuem na alcalinidade do concreto,
como a água de amassamento, adições, alguns agregados e agentes externos.
Desta maneira, é questionada a atitude de se limitar somente o índice dos álcalis do
cimento Portland por não ser uma maneira eficaz, tendo se adotado como parâmetro
o teor de álcalis totais por metro cúbico de concreto.

Os valores limites dos álcalis do concreto estão relacionados com a intensidade da


ação preventiva, classificada em função do tipo de estrutura e das condições de
exposição, de acordo com a NBR 15577-1 (2008) que recomenda limitar o teor de
álcalis do concreto, considerando-se uma intensidade de ação preventiva mínima, a
valores menores que 3,0 kg/m3 de concreto, expresso em equivalente alcalino, bem
como limitar o teor de álcalis do concreto a valores menores que 2,4 kg/m3 de
concreto, considerando-se uma intensidade de ação preventiva moderada.

É necessário enfatizar, contudo que nem todos os álcalis noconcreto participam da


RAA, mas apenas, aqueles que não ficamfixos na estrutura cristalina dos silicatos de
cálcio hidratados ounos próprios agregados.

FATORES INFLUENCIADORES

Alguns fatores físicos e químicos podem auxiliar no desencadeamento da reação,


tais como:

• Agregados Reativos:

Os agregados utilizados em concreto são normalmente constituídos de rochas,


sendo estas formadas por aglomerados de minerais diferindo entre si, basicamente,
pela composição mineralógica e pela textura (forma dos grãos minerais e o modo
como estes estão dispostos). Os agregados reativos são aqueles que, na sua
composição, possuem fases mineralógicas silicosas susceptíveis à reação com os
álcalis solúveis do concreto. Características como tipo, forma, tamanho, composição
dos agregados e área específica dos grãos, exibem comportamentos que afetam a
magnitude da reação.
As dimensões das partículas influem nas RAA,que podem acontecer de modo
diferente. Sendo um agregado na ordem micrométrica, a reação ocorre e termina
antes que o gel possa atingir os grãos maiores, isto é,

Grandes quantidades de materiais finos, devido a sua grande


superfície específica, provocam redução rápida na concentração de
álcalis de tal forma que os agregados maiores não tenham
oportunidade de sofrer as reações secundárias que provocam a
formação do gel expansivo (PAULON, 1981 apud LIMA; SILVA;
COSTA, 2009, p.6).

Já em agregados macrométricos, ocorre o inverso: causa expansão da peça de


concreto, fissurando e comprometendo suas propriedades mecânicas.

Outro fator que aumenta o poder de reação dos agregados são as deformações na
microestrutura do agregado, resultantes de deformações tectônicas. Quanto mais
desestruturado for o agregado mais este poderá ser reativo com os álcalis do
cimento.

• Umidade:

Segundo Mehtae Monteiro (2008 apudNOGUEIRA, 2010, p.30), a água é o agente


principal de deterioração física e química do concreto, por ser um excelente
solvente, com capacidade de dissolver muitos elementos químicos, além de ter
grande facilidade em se mover através dos poros do concreto. A presença de
umidade é um fator essencial para ocorrência de reação álcali-agregado. Sem ela a
RAA pode não ocorrer, mesmo na presença de agregados reativos e álcalis.

Figueirôa e Andrade (2007 apudSILVA, 2010, p.41) afirmam que “a umidade relativa
necessária para ocorrer a RAA em um elemento de concreto deve ser superior a
80%. Uma umidade relativa acima desse valor tende a ocasionar expansão, embora
o gel possa ser formado em umidades mais baixa”. Por isso estruturas com sistema
de drenagem deficiente, obras hidráulicas - como barragens e concreto - em contato
com umidade são mais susceptíveis à reação álcali-agregado.

A umidade do ambiente tem um importante papel no desencadeamento da reação.


Em geral, o gel da RAA contendo baixos teores de cálcio tem grande aumento de
absorção de água com o aumento da umidade. No entanto é importante garantir que
o teor de umidade seja constante, pois ciclos de molhagem e secagem podem
provocar a concentração de álcalis em regiões localizadas do concreto.

• Temperatura:

O nível elevado de calor no ambiente provoca aceleração das reações químicas nas
estruturas de concreto, constatando-se que na medida em que se eleva a
temperatura, aumentam as expansões provenientes da reação álcali-agregado.
Funcionando assim como um catalisador da RAA.

• Tensão de confinamento:

Segundo Bulletin (1992 apudSILVA, p.43), a reação álcali-agregado causa tensões


de tração nos elementos de concreto da ordem de 2 a 8,6 MPa, numa média em
torno de 5 MPa. Dessa forma, as expansões e os danos ocasionados pela RAA são
bastante influenciados pelo confinamento e pela presença de tensões aplicadas à
massa de concreto.

Caso as tensões de compressão estejam bem distribuídas, podem ocasionar


redução da expansão na direção dos esforços da compressão, evitando-se, assim, a
abertura de fissuras e reduzindo-se a circulação de água no interior do concreto.
Porém, as tensões de confinamento, não bloqueiam a atuação da reação, apenas a
pressão exercida pelo gel pode não ser suficiente para vencer a pressão aplicada.

• Tempo:

O surgimento de fissuras não ocorre em um determinado tempo específico. As


expansões podem eventualmente parar quando todos os minerais reativos
presentes no agregado tiverem sido consumidos, isto conforme Hasparik (1999 apud
NOGUEIRA, 2010, p. 32).Em alguns casos de barragens dos Estados Unidos da
América, este fenômeno foi observado somente após 30 anos, através de análises
de microscopia eletrônica de varredura.
CONSEQUÊNCIAS DA RAA

A RAA ocasiona diversas patologias no concreto, mas ainda é difícil perceber


quando esta começa a ocorrer. Logo as patologias que as estruturas apresentam
podem não ter sido causadas diretamente pela RAA, mas por outras consequências
causadas pela reação.

Está entre as principais consequências a alteração das características mecânicas,


onde há redução das resistências de tração, de 40% a 60%, e compressão, de 60%
a 80%, e elasticidade do concreto. Entretanto, como o concreto é um composto de
diferentes materiais, a reação pode ocorrer de diferentes formas, dificultando uma
caracterização exata.

As principais detecções podem ser divididas em dois tipos: consequências de


pequena escala e grande escala:

• As consequências de pequena escala geralmente são fissuras micrométricas


ou descolamentos na superfície dos agregados, reações alcalinas. Com isso, há
perda de aderência, “esfarelamento” e, assim, desprotege-se a armação;
• As consequências de grande escala ocorrem geralmente na presença do gel
de sílica; podem ser grandes fissuras, estas podendo abrir juntas na estrutura ou
até esfarelar, interromper comportas, turbinas, eixos, etc. e ainda deformar as
estruturas.

Segundo Taylor (1997 apud HASPARYK, 2005, p. 38), podem ser citados como os
tipos de manifestações de RAA mais comuns os seguintes:

• Fissurações tipo mapa;


• Exsudação de gel na superfície do concreto;
• Bordas ao redor dos agregados;
• Preenchimento de poros com material branco ou vítreo;
• Microfissuração;
• Descoloração do concreto.
Além destes fatores, pode ocorrer entrada de água no concreto pelas fissuras
formadas pela reação e perda de estanqueidade, o que compromete de modo
significativo a estrutura do material.

EXEMPLOS DE OCORRÊNCIAS

O RAA, hoje, é uma patologia no concreto em escala mundial, tendo sido detectadas
várias ocorrências. Sendo umas das construções mais propícias, as obras
hidráulicas, comobarragem, tem exemplos em todo o continente. No Brasil, o
exemplo de maior relevância foi o desabamento do Edifício Areia Branca, em
Recife/PE, cuja causa provém da degradação dos materiais das peças de fundação,
em virtude do contato com agentes agressivos e água subterrânea provenientes de
sumidouros, provocando a reação. Deve-se levar em conta que a cidade de Recife
não possui sistema de esgotamento sanitário em todas as áreas residenciais, fato
este que se repete nas grandes cidades brasileiras. É importante ressaltar que a
RAA dificilmente será a causa principal de colapso de uma estrutura, porém ela
desencadeia processos de deterioração, muitas vezes irreparáveis ou com soluções
financeiramente impossíveis, que culminam em desastres.

Ocorreram muitas outras situações,nas quais foi detectada a presença da RAA.


Segundo Hasparyk (1999apudNOGUEIRA, 2010, p. 7), “existem mais de 20 casos
confirmados de barragens afetadas por esta reação no Brasil”. São
algumas:Apolônio Sales, na Bahia, Furnas, em Minas Gerais e o complexo Paulo
Afonso, também na Bahia, sendo a maior hidroelétrica nacional em geração de
energia.

PREVENÇÃO DA RAA

A construção civil conta, hoje, com diversos mecanismos que possibilitam o


diagnóstico e a recuperação de estruturas afetadas pela reação álcali-agregado.
Entretanto, sabe-se que a restauração dessas construções é complexa e
dispendiosa.
Tendo-se em vista o dispêndio requerido na restauração, uma vez ocorrida a reação
álcali-agregado, há um consenso entre as principais autoridades em construção civil,
de que a melhor alternativa ao fenômeno ainda é prevenir, visando evitar gastos
desnecessários com reparos.

Tradicionalmente, presumia-se que o uso de cimentos com teor de álcalis beirando a


margem dos 0,6% estava fora da área de risco de reação. Completamente falso.
Estudos recentes sustentam que, ainda que os teores de álcalis sejam inferiores ao
comumente considerado seguro, o risco existe pela simples presença de agregados
potencialmente reativos.

Uma vez diagnosticado o problema com os reativos, não é de espantar que a


primeira – e potencialmente a mais eficiente – maneira de se prevenir a reação
álcali-agregado ainda é dar predileção ao uso de agregados não reativos. Uma vez
que tal preferência possivelmente resulta em um agravo no dispêndio, uma
alternativa viável consiste em lançar mão de materiais que neutralizem a reatividade,
como o cimento Portland pozolânico, a título de exemplo, desde que a quantidade
de pozolana comprovadamente neutralize a reação, ou ainda cimento Portland de
alto-forno, mais uma vez, desde que a quantidade de escórias seja também
suficiente para neutralizar a reação.

A adição de sílica ativa, metacaulim, cinza volante, cinza de casca de arroz ou


material pozolânico ao concreto, na central ou na própria obra, desde que em teores
compatíveis e previamente estudados e aprovados, também constituem o que se
poderia chamar de opção, segundo documento do Comitê de Especialistas do
IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) para Reações Expansivas em Estruturas
de Concreto. Mesmo o uso de compostos de lítio no concreto pode ser considerado,
ainda que se exija uma análise minuciosa e ponderada.

MÉTODOS DE ENSAIO

Como não existe uma forma de ensaio que avalie com completa confiança e
sensibilidade a possibilidade de ocorrência da RAA, sendo, portanto, difícil indicar a
melhor escolha de material a ser utilizado na fabricação de traços de concreto de
modo a se evitar o fenômeno, o modo ideal de atuação deve ser por meio da
combinação de diversos ensaios, pois todos possuem pontos positivos e também
negativos. Estes testes visam analisar o comportamento dos agregados e de sua
combinação com o cimento, a fim de se verificar a probabilidade de ocorrência de
RAA, para se estudar a melhor maneira de se trabalhar com os agregados, para
evitar o desencadeamento da reação.

• Análise petrográfica

A análise petrográfica informa a natureza e as qualidades dos minerais constituintes


do agregado, através de observações macroscópicas e microscópicas e técnicas
analíticas, que caracterizam a textura e a forma cristalina da sílica nas partículas dos
agregados. Este ensaio é normatizado pela NBR 15577-1 (ABNT, 2008).

• Microscopia eletrônica de varredura

Segundo Nogueira (2010, p. 35), “a microscopia eletrônica de varredura (MEV) é um


método que possibilita classificar os diversos tipos de géis formados pela RAA”. As
amostras são analisadas com o uso de lupa estereoscópica e, depois disto, com o
microscópio eletrônico de varredura, em conjunto com a técnica de espectrometria
de energia dispersiva.

• Método Acelerado das Barras de Argamassa

Método de ensaio mais utilizado no Brasil e em outros países, devido à necessidade


de pouco espaço em laboratório e à sua rapidez, este estudo analisa a RAA por
meio da “variação de comprimento de barras de argamassa moldadas com
agregados e cimentos” (NOGUEIRA, 2010, p. 36). A norma brasileira que trata deste
ensaio é a NBR 15777-4 (ABNT, 2008). Segundo Thomas et al. (2006,
apudNOGUEIRA, 2010, p. 37), o procedimento consiste em confeccionar barras de
argamassa, cujos materiais sejam os mesmos utilizados no concreto estudado e,
após isso, aplicá-los um banho térmico com temperatura de 80°C de solução de
hidróxido de sódio, em um período de 14 dias, sendo os resultados analisados 16
dias após a fabricação das barras. Este método, apesar da rapidez e praticidade,
apresenta algumas falhas, as quais têm sido estudadas, a fim de ser aperfeiçoado.
• Método das Barras de Argamassa (MBT)

Este método, apesar de ser rápido, não é confiável, pois apresenta falhas na
detecção de reatividade em alguns tipos de agregado. Por isso, não é recomendado
para indicar a tendência de um agregado para a reação e nem os procedimentos
para se evitar a RAA (KUPERMAN et al., 2005 apudNOGUEIRA, 2010, p. 39;
THOMAS et al., 2006 apud NOGUEIRA, 2010, p. 38).

• Método para avaliar combinação agregado/material cimentício

Utilizando-se do mesmo procedimento do método acelerado das barras de


argamassa, este ensaio analisa a combinação entre o cimento e o agregado, sendo
normatizado pela ASTM C 1567 (2005). É necessária a adição de superplastificante,
para “manter-se a consistência da argamassa em 7,5% daquela obtida numa
argamassa previamente preparada com o cimento original” (NOGUEIRA, 2010, p.
39). Esta consistência é obtida por meio de 30 golpes, durante cerca de 30
segundos. Pode-se classificar o material como inócuo, caso haja expansão das
barras abaixo de 0,10%, 14 dias após a confecção das mesmas, ou como reativo se
estiver acima de 0,10%.

• Método dos prismas de concreto

Este método de ensaio, normatizado pela canadense A.23.2-14A (CSA, 2000), pela
americana C-1293 (ASTM, 2005) e pela brasileira NBR 15577-6 (ABNT, 2008), tem
como meta avaliar a disposição que o agregado apresenta para participar da reação.
São moldados três prismas de concreto, as quais são submetidas à cura e, após a
desforma, são feitas as leituras iniciais. Posteriormente, os prismas são
armazenados em recipientes herméticos e revestidos com material absorvente, com
água até (20±5) mm acima do seu fundo, à temperatura de (38±2)ºC, sendo
necessário fluxo de ar no entorno. Segundo Nogueira (2010, p. 41), “as expansões
dos prismas são avaliadas nas idades de 7, 28, 56 dias e, posteriormente, em
períodos mensais, dos 3 aos 12 meses”. O material é julgado inócuo se a expansão
após um ano for inferior a 0,04% e reativo se for acima de 0,04%.
• Método acelerado dos prismas de concreto

Consiste em uma variação do método dos prismas de concreto, onde a diferença


está na temperatura à qual o material deve ser submetido, passando de 38 para
60ºC, a fim de se reduzir a duração do ensaio de 12 meses para 3 meses. Depois de
vários testes realizados por pesquisadores, utilizando-se deste método, os mesmo
verificaram a ocorrência de uma correlação entre os dois métodos aos 3 meses. De
acordo com Nogueira (2010, p. 43), Sanchez (2008) propôs uma nova variação para
o método dos prismas de concreto, cujas diferenças estão no aumento da
temperatura para 80ºC e na imersão dos prismas em solução de NaOH, à
concentração de 1N, sendo possível assim a classificação da reatividade do material
aos 28 dias de idade. A norma americana ASTM C 1293 (1995) indica o
procedimento operacional do ensaio.

• Método Osipov

Este ensaio, desenvolvido pelo engenheiro Albert Osipov, é realizado submetendo-


se, durante 60 segundos, partículas de agregado com diâmetro entre 20 mm e 50
mm à temperatura aproximada de 1000ºC. Como resultado do procedimento,
classificam-se como reativos os agregados que apresentarem fragmentação de suas
partículas. No entanto, este método não pode ser aplicado a agregados miúdos e a
agregados que não sofrem fragmentação.

• Método Químico

Desenvolvido por Richard Mielenz, este método avalia a reação álcali-sílica do


agregado, relacionando asílica dissolvida e a redução de alcalinidade da solução de
NaOH, à qual o agregado é submetido. O procedimento consiste na imersão de uma
pequena quantidade de agregado com diâmetro dos grãos maior que 0,15 mm e
menor que 0,3 mm em uma solução de NaOH com concentração de 1 N, durante um
período de 24 horas, à temperatura de 80ºC. A redução da alcalinidade é
quantificada pelos processos de gravimetria ou fotometria e, após filtração, a
quantidade de sílica dissolvida. Estes fatores possibilitam a classificação do
agregado como danoso ou inofensivo. Apesar de ser um método ágil, não
apresenta, muitas vezes, resultados confiáveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, verifica-se que a Reação Álcali-Agregado (RAA), apesar de não


produzir efeitos que culminem em um colapso da estrutura, gera uma série de
ataques químicos que danificam a edificação, levando em certos casos ao
comprometimento operacional da estrutura. Dessa maneira, desde a elaboração até
a concretização do projeto, é de suma importância a análise de aspectos que
possam trazer transtornos à construção.

Com esse trabalho foi possível constatar que o aumento das ocorrências de
estruturas danificadas pela RAA, como: pontes, obras hidráulicas, e infra-estrutura
de prédios, faz necessária a busca por soluções que evitem sua manifestação, pois,
embora não se tenha uma solução imediata, pode-se impedir que novas estruturas
desenvolvam esse problema utilizando medidas eficazes na prevenção, indicadas
pela NBR 15577/2008 (ABNT, 2008), diminuindo assim gastos desnecessários com
manutenção e impedindo, em casos extremos a perda da capacidade operacional da
estrutura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15577:


Agregados – reatividade álcali-agregado. Rio de Janeiro: 2008.

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Programa de pós- graduação em Engenharia Civil, Escola Politécnica de
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