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Instituto Superior Técnico

Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise

Exercı́cios Resolvidos
Integrais de Linha. Teorema de Green

Exercı́cio 1 Um aro circular de raio 1 rola sem deslizar ao longo de uma linha recta. Qual é
o comprimento da trajectória descrita por um ponto do aro entre um contacto com o solo e a
próxima vez que se encontra á mesma altura que o centro?
A curva descrita por um ponto do aro chama-se ciclóide

Resolução: Podemos colocar o aro no plano xOy a rolar ao longo do eixo Ox de tal forma que, no
inı́cio do movimento, o centro se encontra no ponto (0, 1) e o ponto do aro em questão se encontra
na origem.
O facto de o aro rolar sem deslizar significa que quando o centro se desloca uma distãncia s ao
longo do eixo Ox, o ponto no aro descreve, em relação ao centro do aro, um arco de circunferência de
comprimento s. Em particular, num quarto de volta do aro, o centro deslocar-se-á um comprimento
total de π2 .

PSfrag replacements

1 s

0 s 2π x

Figura 1: Esboço da ciclóide

O movimento do ponto do aro pode-se decompôr em dois: o movimento do centro do aro e o


movimento do ponto em relação ao centro.
Se usarmos a distância percorrida pelo aro como parâmetro, a trajectória do centro é descrita
pelo caminho g1 : [0, π2 ] −→ R2 definido por

g1 (s) = (s, 1)

Por outro lado, a trajectória do ponto no aro em relação ao centro é descrita pelo caminho
g2 : [0, π2 ] −→ R2 definido por
π π
g2 (s) = (cos(− − s), sen(− − s))
2 2
= (− sen s, − cos s)

já que o vector que une o centro ao ponto do aro começa por fazer um ângulo de − π2 com o eixo
Ox e roda no sentido dos ponteiros do relógio.

1
Portanto, a trajectória descrita pelo ponto no aro é dada pela soma destes dois caminhos:
g : [0, π2 ] −→ R2 definido por

g(s) = g1 (s) + g2 (s)


= (s − sen s, 1 − cos s)

O comprimento deste caminho é dado pela expressão (onde C = g([0, π2 ]))


Z Z π
2
1= ||g 0 (s)||ds
C 0

Como
g 0 (s) = (1 − cos s, sen s)
temos
p
||g 0 (s)|| = 1 − 2 cos s + cos2 s + sen2 s
p
= 2(1 − cos s)

e portanto
Z Z π
2 p
1 = 2(1 − cos s)ds
C 0
1
du
Z p
= 2(1 − u) √
0 1 − u2
√ Z 1 du
= 2 √
0 1+u
√ √
= 2 2( 2 − 1)

onde na passagem da primeira para a segunda linha se fez a mudança de variável u = cos s.

2
Exercı́cio 2 Um avião a hélice desloca-se em linha recta a uma velocidade constante igual a 1.
Se a hélice do avião tem raio r e roda a velocidade constante, ω vezes por unidade de tempo, qual
é o comprimento da trajectória descrita por um extremo da hélice quando o avião se desloca L
unidades de comprimento?

Resolução: Podemos colocar o avião a deslocar-se ao longo do eixo Ox e de tal forma que no
instante inicial o centro da hélice se encontra na origem. Então uma parametrização da trajectória
percorrida pelo centro da hélice é dada pelo caminho g1 : [0, L] −→ R3 , definido por

g1 (t) = (t, 0, 0)

Por outro lado, a hélice roda a uma velocidade constante em relação ao centro, num plano per-
pendicular ao eixo Ox.
Na figura 2 apresenta-se a trajectória do extremo da hélice e a respectiva projecção no plano
x = 0.
z z
x=0

y y

PSfrag replacements

2π x

Figura 2: Trajectória do extremo da hélice

Assim, uma parametrização da trajectória do extremo da hélice em relação ao centro é dada


pelo caminho g2 : [0, L] −→ R3 , definido por

g2 (t) = (0, r cos(2πωt), r sen(2πωt))

A trajectória do extremo da hélice é descrita pela soma dos dois caminhos em R 3 . Isto é, por
g : [0, L] −→ R3 , definido por

g(t) = (t, r cos(2πωt), r sen(2πωt))

O comprimento deste caminho é dado pela expressão (onde C = g([0, L]))


Z Z L
1= ||g 0 (t)||dt
C 0

Como
g 0 (t) = (1, −2πωr sen(2πωt), 2πωr cos(2πωt))
temos
p
||g 0 (t)|| = 1 + 4π 2 r2 ω 2 sen2 (2πωt) + 4π 2 r2 ω 2 cos2 (2πωt)
p
= 1 + 4π 2 r2 ω 2

3
e portanto
Z p
1=L 1 + 4π 2 r2 ω 2
C

4
Exercı́cio 3 Um fio C, com densidade de massa ρ(x, y, z) = |x(y + 1)|, tem a configuração da
intersecção das superfı́cies

p
S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 }

P = {(x, y, z) ∈ R3 : y + 2z = 1}

Calcule a massa de C.

Resolução: A massa do fio é dada pelo integral de linha


Z
m= ρ.
C

Para calcular este integral de linha precisamos de determinar uma parametrização para a curva
C. Comecemos por determinar a equação da projecção, C 0 , de C no plano xOy:
( p
z = x2 + y 2 2

1 ⇒ x2 + y 2 = 12 − y + y2
z = 2 (1 − y)

(y+1)2
⇔ x2 + 2 = 1.
Portanto a projecção C 0 é uma elipse centrada no ponto (0, −1, 0) com eixo maior de comprimento

2 e eixo menor de comprimento 1. Uma parametrização para C pode ser definida por
√ √
g(t) = (cos(t), 2 sen(t) − 1, 2 − sen(t)), t ∈ [0, 2π],

onde se usou o facto de que, quando t percorre o intervalo [0, 2π], a função (cos(t),
√ 2 sen(t) − 1, 0)
percorre a projecção C 0 e que o único ponto de C por cima de (cos(t), 2 sen(t) − 1, 0) tem
coordenada z dada por
1 1 √ √
z = √ (1 − y(g(t))) = √ (1 − ( 2 sen(t) − 1)) = 2 − sen(t).
2 2
Temos

g 0 (t) = (− sen(t), 2 cos(t), − cos(t))
p p
||g 0 (t)|| = sen2 (t) + 2 cos2 (t) + cos2 (t) = 1 + 2 cos2 (t)
√ 1
ρ(g(t)) = | cos(t)( 2 sen(t) − 1 + 1)| = √ | sen(2t)|,
2
logo
2π 2π
1
Z Z p
m= ρ(g(t))||g 0 (t)||dt = √ | sen(2t)| 1 + 2 cos2 (t)dt
0 2 0
π
4
Z 2 p
= √ sen(2t) 1 + 2 cos2 (t)dt
2 0

4 h 3
i π2
= √ −(1 + 2 cos2 (t)) 2
3 2 0

4 3
= √ (3 2 − 1).
3 2

5
Exercı́cio 4 Um filamento eléctrico C, com densidade de carga eléctrica
p
σ(x, y, z) = 5 − 8(x + 1)(y + 1)

tem a configuração da intersecção das superfı́cies

S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z}

P = {(x, y, z) ∈ R3 : 2x + 2y + z = −1}

Calcule a carga eléctrica de C.

Resolução: A carga eléctrica do filamento é dada pelo integral de linha


Z
q= σ.
C

Para calcular este integral de linha precisamos de determinar uma parametrização para a curva
C. Comecemos por determinar a equação da projecção, C 0 , de C no plano xOy:
(
z = x2 + y 2
⇒ −1 − 2y − 2x = x2 + y 2
z = −1 − 2y − 2x
⇔ (x + 1)2 + (y + 1)2 = 1.

Portanto a projecção C 0 é uma circunferência de raio 1 centrada no ponto (−1, −1, 0). Uma
parametrização para C pode ser definida por

g(t) = (cos(t) − 1, sen(t) − 1, 3 − 2 cos(t) − 2 sen(t)), t ∈ [0, 2π]

onde se usou o facto de que, quando t percorre o intervalo [0, 2π], (cos(t) − 1, sen(t) − 1, 0) percorre
a projecção C 0 . Para além disso, o único ponto de C por cima de (cos(t) − 1, sen(t) − 1, 0) tem
coordenada z dada por

z = −1 − 2(sen(t) − 1) − 2(cos(t) − 1) = 3 − 2 cos(t) − 2 sen(t).

Temos

g 0 (t) = (− sen(t), cos(t), 2 sen(t) − 2 cos(t))


p p
||g 0 (t)|| = sen2 (t) + cos2 (t) + (2 sen(t) − 2 cos(t))2 = 5 − 8 sen(t) cos(t)
p p
σ(g(t)) = 5 − 8(x(g(t) + 1)(y(g(t) + 1) = 5 − 8 cos(t) sen(t)

logo
Z 2π Z 2π
0
q= σ(g(t))||g (t)||dt = (5 − 8 cos(t) sen(t))dt
0 0


= [5t + 2 cos(2t)]0

= 10π.

6
Exercı́cio 5 Resolva as seguintes questões.
1. Parametrize as curvas:
a) Um segmento de recta percorrido desde o ponto (1, 0, 1) até ao ponto (0, 0, −1),
b) O arco da circunferência de raio 1 centrada no ponto (0, 0, 1) e contida no plano z = 1,
percorrida no sentido que visto da origem é o dos ponteiros do relógio, desde o ponto
(−1, 0, 1) até ao ponto (1, 0, 1),
c) A porção da curva de intersecção das superfı́cies x = y 2 e x2 + y 2 + z 2 = 1 contida na
região z ≥ 0, percorrida da esquerda para a direita quando vista da origem.
2. a) Calcule as coordenadas do centro de massa de um filamento com a forma da curva da
alı́nea 1.b), se a função densidade de massa for dada por f (x, y, z) = x 2 + z 2 .
b) Considere o campo vectorial F : R3 \ {(0, 0, 0)} → R3 definido por
1
F (x, y, z) = (x, y, z).
x2 + y 2 + z 2
Determine o valor do integral Z
F · dg
α

para as curvas α das alı́neas 1.a) e 1.b) percorridas no sentido indicado.

Resolução:
1. a) Para o caso deste segmento de recta, obtemos
g1 (t) = (1, 0, 1) + t[(0, 0, −1) − (1, 0, 1)]
com t ∈ [0, 1]. Ou seja,
g1 (t) = (1 − t, 0, 1 − 2t)
b) Dado que o arco de circunferência está contido no plano z = 1, esta última coordenada
aparecerá constante na parametrização. Como a curva é percorrida no sentido dos
ponteiros do relógio vista da origem, obtemos:
g2 (t) = (cos t, sin t, 1)
A variação do parâmetro t deduz-se dos pontos inicial (−1, 0, 1) e final (1, 0, 1) e, por-
tanto, t ∈ [−π, 0].
c) Para esta curva podemos tomar y como variável independente, ou seja, como parâmetro.
Como a curva é percorrida da esquerda para a direita quando vista da origem, y deve
decrescer ao longo dessa curva. Assim, obtemos:
y = −t
x = y 2 = t2
p p
z = 1 − x 2 − y 2 = 1 − t 4 − t2
Note-se que, de acordo com o enunciado, z deve ser sempre positivo.
Para descobrir os limites do intervalo da parametrização, resolvemos, para z = 0, o
sistema ( 2
x + y2 + z 2 = 1

x = y2

7
Tirando o valor de y, obtemos
y4 + y2 = 1
donde concluimos que √
5−1
y2 =
2
q√ q√
5−1 5−1
ou seja, y = 2 ou y = − 2 .
Portanto, p
g3 (t) = (t2 , −t, 1 − t 4 − t2 )
q√ q√
5−1 5−1
com t ∈ [− 2 , 2 ].

2. a) Escrevendo (xCM , yCM , zCM ) para as coordenadas do centro de massa, podemos con-
cluir imediatamente por simetria que zCM = 1 e, uma vez que a função de densidade de
massa e o filamento são simétricos em relação ao plano yz, que xCM = 0. A coordenada
yCM é dada pela fórmula: R
yf (x, y, z)ds
yCM = Rα2
α2 f (x, y, z)ds

Tem-se
g20 (t) = (− sin t, cos t, 0) ||g20 (t)|| = 1,
Então,
0 0
1 8
Z Z
2 2 3 2

y(x + z )ds = sin t(1 + cos t)dt = (− cos t − cos t) = − ,
α2 −π 3 −π 3
e
0 0
1 + cos 2t 3π
Z Z Z
2 2 2
(x + z )ds = (1 + cos t)dt = π + dt =
α2 −π −π 2 2
ou seja,
16
, yCM = −

e, portanto, as coordenadas do centro de massa são
16
(0, − , 1).

b) Por definição, temos


Z Z 1
F · dg = F (g1 (t)) · g10 (t)dt
α1 0
Z 1
= F (1 − t, 0, 1 − 2t) · (−1, 0, −2)dt
0
1
1
Z
= (1 − t, 0, 1 − 2t) · (−1, 0, −2)dt
0 (1 − t)2 + (1 − 2t)2
1
5t − 3
Z
= dt
0 5t2 − 6t + 2
1
= log |5t2 − 6t + 2||t=1
t=0
2
1 log 2
= [log 1 − log 2] = − .
2 2

8
Para a segunda curva, obtemos
Z Z 0
F · dg = F (g2 (t)) · g20 (t)dt
α2 −π
Z 0
= F (cos t, sin t, 1) · (− sin t, cos t, 0)dt
−π
0
1
Z
= (cos t, sin t, 1) · (− sin t, cos t, 0)dt
−π 2
Z 0
= 0dt = 0.
−π

9
Exercı́cio 6 Considere o caminho g : [0, 1] → R2 definido por

g(t) = (et cos(2πt), et sen(2πt)).

a) Calcule o comprimento L(g) do caminho g.


b) Calcule a coordenada x̄ do centróide da curva representada por g.
c) Calcule o trabalho da força f (x, y) = (x, y) ao longo de g.

Resolução:
a) Para calcular o comprimento precisamos de calcular a derivada de g:

g 0 (t) = (et cos(2πt) − 2πet sen(2πt), et sen(2πt) + 2πet cos(2πt))

e a respectiva norma p
||g 0 (t)|| = 1 + 4π 2 et

Portanto, Z 1 Z 1 p p
L(g) = 0
||g (t)||dt = 1 + 4π 2 et dt = 1 + 4π 2 (e − 1)
0 0

b) Por definição de centróide temos:


1 1
1 1
Z Z
x̄ = 0
x(g(t))||g (t)||dt = e2t cos(2πt)dt
L(g) 0 (e − 1) 0

Integrando por partes duas vezes obtemos

e2 − 1
x̄ =
2(e − 1)(1 + π 2 )

c) O trabalho é dado por


1 1 1
e2 − 1
Z Z Z
t t
W = 0
f (g(t)) · g (t)dt = (e cos(2πt), e sen(2πt)) · g (t)dt = 0
e2t dt =
0 0 0 2

10
Exercı́cio 7 Considere a curva C ⊂ R3 parametrizada pelo caminho g : [0, 2π] → R3 definido por
 √ 
g(θ) = 3θ cos(θ), 3θ sen(θ), 2 2 θ3/2 .

a) Calcule o comprimento do caminho g.


b) Seja a densidade de massa de C dada por α(x, y, z) = α, constante. Calcule o momento de
inércia de C em relação ao eixo z.
c) Considere que C está mergulhada num campo eléctrico dado pela expressão

f (x, y, z) = (y, −x, z)

Se C fôr a trajéctoria de uma partı́cula pontual de carga eléctrica unitária, calcule o trabalho
realizado pela força eléctrica ao longo dessa trajéctoria.

Resolução:
a) Temos  √ √ 
g 0 (θ) = −3θsen(θ) + 3 cos(θ), 3sen(θ) + 3θ cos(θ), 3 2 θ
e, portanto,
||g 0 (θ)|| = 3(1 + θ)

Assim, o comprimento de C é dado por


Z 2π
Lg = 3(1 + θ)dθ = 6π(1 + π).
0

p
b) A distância dum ponto (x, y, z) ao eixo dos z é dada por d(x, y, z) = x2 + y 2 . Logo,

d(g(θ))2 = 9θ2

e, portanto, o momento de inércia pedido será


Z 2π Z 2π
I= 9αθ2 ||g 0 (θ)||dθ = 27α θ2 (1 + θ)dθ = 27απ 3 (8/3 + 4π).
0 0

c) Temos √
f (g(θ)) = (3θ sen(θ), −3θ cos(θ), 2 2 θ3/2 )

Logo,
f (g(θ)) · g 0 (θ) = 3θ2
e o trabalho será dado por
Z 2π Z 2π
W = f (g(θ)) · g 0 (θ)dθ = 3θ2 dθ = 8π 3 .
0 0

11
Exercı́cio 8 Investigue se o campo vectorial
 
2x 2y 2
F (x, y, z) = − 2 , , z
(x − y 2 )2 (x2 − y 2 )2

é gradiente no seu domı́nio de definição. Em caso afirmativo, dê a expressão geral do potencial.
Em qualquer caso, calcule Z
F
C
onde C é a curva parametrizada por

g(t) = (et , sen t, t)


π
com 0 ≤ t ≤ 2.

Resolução: O domı́nio de definição do campo F é o conjunto

{(x, y, z) ∈ R3 : x 6= ±y}

que é a união de 4 conjuntos em estrela, limitados pelos planos x = y e x = −y.

x=y

PSfrag replacements x = −y

Figura 3: Esboço do domı́nio do campo F

Como F é gradiente no domı́nio se e só se fôr gradiente em cada uma destas regiões conexas
por arcos, é suficiente ver que F é fechado:
   
∂ 2x 8xy ∂ 2y
∂y − (x2 −y 2 )2 = − (x2 −y 2 )3 = ∂x (x2 −y 2 )2
 
∂ 2x ∂ 2

∂z − (x2 −y 2 )2 = 0 = ∂x z
 
∂ 2y ∂ 2

2
∂z (x −y ) 2 2 = 0 = ∂y z

Portanto F é um campo gradiente.

12
Para determinar um potencial V (x, y, z) para F temos as equações:
 ∂V 2x

 ∂x = − (x2 −y 2 )2


∂V 2y
∂y = (x2 −y 2 )2



∂V
= z2

∂z

Da primeira obtemos,
1
V (x, y, z) = + C(y, z)
x2 − y 2
Substituindo V na segunda,
∂C
(y, z) = 0 ⇔ C(y, z) = D(z)
∂y
e finalmente da terceira equação obtemos

z3
D0 (z) = z 2 ⇔ D(z) = +E
3
Portanto o potencial tem a forma

1 z3
V (x, y, z) = + +E
x2 − y 2 3
onde E é uma constante.
No entanto, uma vez que a região onde o campo está definido não é um conjunto conexo por
arcos, a constante pode variar de componente para componente. Assim, a expressão geral para o
potencial é dada por
1 z3



 x2 −y 2 + 3 + E1 se x > |y|

z3

1
2 + 3 + E2 se y > |x|


 x2 −y
V (x, y, z) =
1 z3
 x2 −y2 + 3 + E3 se x < −|y|





1 z3

x2 −y 2 + 3 + E4 se y < −|x|

com Ei ∈ R.
Finalmente, pelo teorema fundamental do cálculo (que podemos aplicar porque o caminho g
está inteiramente contido na região em que x > |y|), uma vez que

g(0) = (1, 0, 0)
π π π
g( ) = (e 2 , 0, )
2 2
temos
π
Z
π
F = V (e 2 , 0, ) − V (1, 0, 0)
C 2
π3
= e−π + −1
24

13
Exercı́cio 9 Considere o campo definido em R2 − {(0, 0)} por
 
y x
F (x, y) = , −
x2 + 4y 2 x2 + 4y 2

Calcule o integral de linha de F ao longo da circunferência de raio 1 centrada na origem e per-


corrida no sentido directo.

Resolução: Se tentarmos calcular o integral de linha pela definição verificaremos imediatamente


que não é uma tarefa fácil. Em vez disso podemos tentar utilizar o teorema de Green. O campo
F é fechado:
x2 − 4y 2
   
∂ y ∂ x
= 2 = − 2
∂y x2 + 4y 2 (x + 4y 2 )2 ∂x x + 4y 2
Consideremos uma região S, limitada pela circunferência de raio 1 centrada na origem e per-
corrida no sentido directo e por outra linha L regular, fechada e percorrida no sentido directo, em
que seja possı́vel aplicar o Teorema de Green.
Sendo F um campo fechado, aplicando o Teorema de Green obtemos
I I
F = F
C L

em que C designa a circunferência de raio 1 centrada na origem e percorrida no sentido directo.


Portanto, em vez de calcular o integral de F em C podemos
H calcular o integral de F em L.
Assim, devemos escolher L de tal forma que o integral L F seja simples.

2
L

1 4 x
PSfrag replacements

Figura 4: Esboço da região S limitada por C e por L

A expressão do campo sugere que consideremos curvas onde x2 + 4y 2 seja constante, isto é
elipses. Consideremos, por exemplo, o caminho

h(t) = (4 cos t, 2 sen t), 0 ≤ t ≤ 2π


que percorre a elipse x2 + 4y 2 = 16 uma vez no sentido directo como se mostra na figura 4.

14
Portanto, o integral de linha de F ao longo de L é dado por
Z 2π  
sen t 2 cos t
I
F.dh = , − .(−4 sen t, 2 cos t)dt
0 4 cos2 t + 4 sen2 t 4 cos2 t + 4 sen2 t
Z 2π
1
= − dt
0 4
π
= −
2

15
Exercı́cio 10 Considere o campo vectorial f : R3 7→ R3 definido por

f (x, y, z) = (yzexyz , xzexyz , xyexyz )

a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f .


b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral parametrizada pelo caminho

g(t) = (5 cos(t), 5 sen(t), t2 )

com t ∈ [0, π/4].

Resolução:

a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f , ou seja verifica as equações

∂φ
= yzexyz
∂x
∂φ
= xzexyz
∂y
∂φ
= xyexyz
∂z
Integrando a primeira equação, obtem-se

φ(x, y, z) = exyz + g(y, z)

onde g(y, z) é arbitrária.


Substituindo na segunda e terceira equações obtemos
∂g ∂g
= =0
∂y ∂z

pelo que g é uma constante que podemos tomar como sendo zero. (Recorde-se que o potencial
φ está definido a menos de uma constante.)
Concluı́mos, assim, que podemos tomar φ(x, y, z) = exyz .
Nota: Em geral é preciso cuidado quando se tenta calcular o potencial deste modo. Quando
não sabemos à partida se o campo vectorial f é conservativo, é muito importante verificar
se o potencial φ obtido está bem definido e é de classe C 1 na região em que está definido o
problema. Só nesse caso temos a garantia que f é conservativa.
Também é possı́vel encontrar φ recorrendo ao teorema fundamental do cálculo para integrais
de linha, segundo o qual, sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p 0 , se tem
Z
φ(p) = f,
L

onde o integral é calculado ao longo de um caminho diferenciável L qualquer que ligue p 0 a


um ponto genérico p = (x, y, z). No nosso caso podemos escolher p0 = 0 e o caminho como
sendo o segmento de recta entre p0 e p, parametrizado por h(t) = (tx, ty, tz), com t ∈ [0, 1].

16
Obtemos então,
Z 1
φ(x, y, z) = f (h(t)) · h0 (t)dt =
0
Z 1
3 3 3
= (t2 yzet xyz
, t2 xzet xyz
, xyt2 et xyz
) · (x, y, z)dt =
0
Z 1
3
= 3xyzt2 et xyz
dt =
0

= exyz − 1

que, a menos de uma constante, é o resultado obtido acima.


b) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o teorema fundamental do
cálculo,
Z Z
W = f dg = ∇φ = φ(g(π/4)) − φ(g(0)) =

√ √
= φ(5 2/2, 5 2/2, π 2 /16) − φ(5, 0, 0) =
2
= e25π /32
−1

Note-se que seria muito mais difı́cil fazer este cálculo directamente utilizando a definição de
trabalho.

17
Exercı́cio 11 Determine quais dos seguintes campos F são gradientes no domı́nio indicado. Se
F for um gradiente determine um potencial.
H Caso contrário, determine uma curva fechada C
contida no domı́nio do campo tal que C F · dg 6= 0.
1. F : R2 → R2 definido por F (x, y) = (sin y + y, x cos y + x + 3y 2 ),
2. F : R3 → R3 definido por F (x, y, z) = (x, −z, y),
3. F : R3 → R3 definido por F (x, y, z) = (2xyz, x2 z + 2yz 2 , x2 y + 2y 2 z),
4. F : R3 \ {(0, 0, z) : z ∈ R} → R3 definido por
y x
F (x, y, z) = (− , , z 2 ).
x2 + y 2 x2 + y 2

Resolução:
1. A função F é de classe C 1 . Calculando as derivadas cruzadas, obtemos

∂(sin y + y) ∂(x cos y + x + 3y 2 )


= cos y + 1 =
∂y ∂x

logo F é um campo fechado. Uma vez que R2 é um conjunto em estrela, concluimos que F
é um gradiente. Para calcular um potencial φ(x, y), resolvemos o sistema

 ∂φ
∂x = sin y + y φ(x, y) = x sin y + xy + C(y)
(
⇐⇒
 ∂φ = x cos y + x + 3y 2 x cos y + x + C 0 (y) = x cos y + x + 3y 2
∂y

Resolvendo a segunda equação do segundo sistema obtem-se C(y) = y 3 + C onde C ∈ R é


uma constante. Conclui-se que um potencial para F é dado, por exemplo, por

φ(x, y) = x sin y + xy + y 3 .

2. O campo F não é fechado uma vez que


∂F2 ∂F3
= −1 6= 1 =
∂z ∂y
portanto não é um gradiente. Para determinar uma curva fechada ao longo do qual o integral
de F é não nulo, notamos que as componentes y e z do campo são (−z, y), o que significa que
o campo é tangente a qualquer cilindro com eixo igual ao eixo Ox. Assim, se calcularmos
o integral de linha do campo ao longo de uma circunferência com centro no eixo dos xx e
contida num plano perpendicular ao eixo dos xx, o integral será não nulo. Por exemplo,
podemos tomar a circunferência C parametrizada por

g(t) = (0, 10 cos t, 10sint) 0 ≤ t ≤ 2π

e obtemos I Z 2π
F · dg = F (0, 10 cos t, 10 sin t) · (0, −10 sin t, 10 cos t)dt
C 0
Z 2π
= 100(cos2 t + sin2 t)dt = 200π 6= 0.
0

18
3. O campo F é de classe C 1 . Calculando as derivadas cruzadas obtemos
∂F1 ∂F2
= 2xz =
∂y ∂x
∂F1 ∂F3
= 2xy =
∂z ∂x
∂F2 ∂F3
= x2 + 4yz =
∂z ∂y

pelo que o campo é fechado. Uma vez que R3 é um conjunto em estrela, concluimos que F
é um gradiente. Para achar um potencial φ(x, y, z) resolvemos o sistema
 ∂φ 

 ∂x = 2xyz 
 φ(x, y, z) = x2 yz + C1 (y, z)

 

∂φ 2 2
∂y = x z + 2yz ⇐⇒ φ(x, y, z) = x2 yz + y 2 z 2 + C2 (x, z)

 

φ(x, y, z) = x2 yz + y 2 z 2 + C3 (x, y)
 ∂φ

2 2

∂z = x y + 2y z

donde se conclui que um potencial é dado, por exemplo, por

φ(x, y, z) = x2 yz + y 2 z 2 .

4. O campo F é de classe C 1 e calculando as derivadas cruzadas vemos que é um campo fechado.


No entanto, uma vez que R3 \ {(0, 0, z) : z ∈ R} não é um conjunto simplesmente conexo,
nada podemos concluir quanto a F ser ou não um gradiente.
Para decidirmos se F é ou não um gradiente, temos portanto de determinar se existe ou não
uma curva fechada ao longo da qual o integral de F é não nulo. Para isso devemos tentar
perceber qual é o aspecto geométrico do campo. As duas primeiras componentes mostram
que F é tangente aos cilindros com eixo igual ao eixo dos zz pelo que se calcularmos um
integral ao longo de uma circunferência centrada num ponto do eixo dos zz e paralela ao
plano xy o integral de F será não nulo. Podemos, por exemplo, calcular o integral ao longo
da circunferência parametrizada por

g(t) = (cos t, sin t, 0) 0 ≤ t ≤ 2π

e obtemos I Z 2π
F · dg = F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0)dt =
0
Z 2π
cos2 t + sin2 tdt = 2π 6= 0.
0
Conclui-se que o campo F não é um gradiente.

19
Exercı́cio 12 Calcule I
P dx + Qdy
γ

onde  2 2 
(P, Q) = −y 3 + 1 + 2x2 yex cos y 2 , x3 + xex cos y 2 − 2y 2 sin y 2
  

e γ é a circunferência de raio 1, centrada na origem e percorrida uma vez no sentido directo.

Resolução: Pelo teorema de Green,


ZZ  
∂Q ∂P
I
P dx + Qdy = − dxdy
γ S ∂x ∂y

onde S é o cı́rculo de raio 1 centrado na origem. Como


∂Q  2
= 3x2 + 1 + 2x2 ex cos y 2 − 2y 2 sin y 2 ;
 
∂x
∂P  2
= −3y 2 + 1 + 2x2 ex cos y 2 − 2y 2 sin y 2 ,
 
∂y
concluimos que
I ZZ
3x2 + 3y 2 dxdy

P dx + Qdy =
γ S
Z 1 Z 2π
3r2 rdθdr

=
0 0
1
3r4

= 2π
4 0

= .
2
Nota: Note-se que o cálculo deste integral de linha pela definição seria bastante mais complicado.

20
Exercı́cio 13 Seja F : R2 \ {(−1, 0), (1, 1), (0, 0)} → R2 o campo vectorial F = (P, Q) definido
por
y y−1 5x
P (x, y) = − +p
(x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + (y − 1)2 x + y2
2

x+1 x−1 5y
Q(x, y) = − + +p .
(x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + (y − 1)2 x2 + y 2
1. Calcule o integral Z
P dx + Qdy
C
2 2
onde C é a elipse x9 + y16 = 1 percorrida uma vez no sentido directo (isto é no sentido
contrário ao dos ponteiros do relógio).
2. Indique justificadamente se o campo F é um gradiente no conjunto
 
2 2 1 1 [
R \ {(x, y) ∈ R : y = x + , −1 ≤ x ≤ 1} {(0, 0)} .
2 2

Resolução:
1. Se definirmos
 
y x+1
F1 (x, y) = ,− ,
(x + 1)2 + y 2 (x + 1)2 + y 2
 
y−1 x−1
F2 (x, y) = − , ,
(x − 1) + (y − 1) (x − 1)2 + (y − 1)2
2 2
!
5x 5y
F3 (x, y) = p ,p ,
x2 + y 2 x2 + y 2

temos
F = F1 + F2 + F3
e portanto I I I I
F · dg = F1 · dg + F2 · dg + F3 · dg.
C C C C

O campo F3 é o campo radial F (r) = 5~er (onde ~er designa o vector unitário que
p aponta
na direcção radial) 2 2
H e portanto é um gradiente (com potencial V (x, y) = 5r = 5 x + y ).
Conclui-se que C F3 · dg = 0.
O campo F1 obtem-se do campo
 
y x
G(x, y) = − ,
x2 + y 2 x2 + y 2

fazendo a substituição x 7→ x − (−1) e multiplicando por −1, enquanto que F2 se obtem


fazendo a substituição x 7→ x − 1, y 7→ y − 1. Portanto, tal como G, F1 e F2 são campos
fechados mas não gradientes.
Para calcular o integral de F1 ao longo de C podemos aplicar o teorema de Green à região

x2 y2
D = {(x, y) ∈ R2 : (x + 1)2 + y 2 ≥ 1, + ≤ 1}
9 16

21
para concluir que o integral ao longo de C coincide com o integral ao longo da circunferência
de raio 1 centrada em (−1, 0) percorrida no sentido directo. Uma parametrização desta
circunferência é dada por

g(t) = (−1 + cos t, sin t), 0 ≤ t ≤ 2π,

logo
I Z 2π
F1 · dg = F1 (−1 + cos t, sin t) · (− sin t, cos t)dt
C 0
Z 2π
= −1dt = −2π.
0

Da mesma maneira, podemos aplicar o teorema de Green para concluir que o integral de F 2
ao longo de C coincide com o integral de F2 ao longo de uma circunferência de centro em
(1, 1) e de raio 1 percorrida no sentido directo. Portanto
I Z 2π
F2 · dg = F2 (1 + cos t, 1 + sin t) · (− sin t, cos t)dt
C 0
Z 2π
= 1dt = 2π
0

e concluimos finalmente que


I
P dx + Qdy = −2π + 2π + 0 = 0.
C

2. O campo F é um gradiente no conjunto S indicado sse


Z
F · dg = 0
α

para toda a curva fechada α contida em S. Podemos, como na alı́nea anterior, escrever
F = F1 + F2 + F3 , e uma vez que F3 é um gradiente, precisamos apenas de decidir se F1 + F2
é um gradiente em S.
F1 + F2 está definido e é fechado em
x 1
S ∪ {(0, 0)} = R2 \ {(x, y) ∈ R2 : y = + , 0 ≤ x ≤ 1}
2 2
e qualquer curva em S ∪ {(0, 0)} é homotópica ou a um ponto, ou à elipse C percorrida
um certo número de vezes (ou no sentido directo ou no sentido dos ponteiros do relógio).
Portanto o teorema de Green garante que se α dá k voltas à origem,
I I
(F1 + F2 ) = k (F1 + F2 ) = 0.
α C

Conclui-se que F1 + F2 é um gradiente em S ∪ {(0, 0)}, o que por sua vez implica que F é
um gradiente em S.

22
Exercı́cio 14 Indique se o campo vectorial
 
y y−1 x x−1
F (x, y) = − 2 + , −
(x + y 2 ) (x − 1)2 + (y − 1)2 (x2 + y 2 ) (x − 1)2 + (y − 1)2

é gradiente no seu domı́nio de definição. Calcule


Z
F
C

onde C é a circunferência de raio 3, centrada no ponto (1/2, 1/2) e percorrida no sentido anti-
horário.

Resolução: O domı́nio de definição do campo F é o conjunto R2 \ {(0, 0), (1, 1)}. É fácil de
verificar que ∂x Fy = ∂y Fx , pelo que F é um campo fechado. No entanto, R2 \ {(0, 0), (1, 1)} não
é um conjunto em estrela (nem é simplesmente conexo). Consequentemente, não podemos decidir
imediatamente se F é ou não um gradiente no seu domı́nio.
Observemos que F = F1 + F2 , com
 
y x
F1 (x, y) = − 2 ,
(x + y 2 ) (x2 + y 2 )
 
y−1 x−1
F2 (x, y) = , −
(x − 1)2 + (y − 1)2 (x − 1)2 + (y − 1)2
e, acilmente se verifica, que F1 e F2 são campos fechados.
Seja C1 a circunferência de raio 1/10 (esta é só uma escolha possı́vel) centrada na origem,
percorrida no sentido anti-horário. Seja C2 a circunferência de raio 1/10 centrada no ponto (1, 1),
percorrida no sentido anti-horário. Temos que
Z Z
F1 = 2π ; F1 = 0.
C1 C2

O primeiro resultado segue de um cálculo directo imediato. O segundo obtém-se do Teorema de


Green, porque F1 é fechado e não tem singularidades no interior do disco cuja fronteira é C2 .
Do mesmo modo, temos que
Z Z
F2 = 0 ; F2 = −2π.
C1 C2

A primeira igualdade resulta do Teorema de Green, porque F2 é fechado e não tem singularidades
no interior do disco cuja fronteira é C1 . A segunda igualdade segue por um cálculo directo imediato.
Podemos então aplicar o Teorema de Green na região interior a C e exterior a C 1 e C2 . Como
F é fechado o integral duplo de ∂x Fy − ∂y Fx é nulo, e do teorema de Green concluimos que
Z Z Z
F = F+ F = 2π − 2π = 0.
C C1 C2

Recorde-se que F é gradiente no seu domı́nio se e só se o trabalho for zero ao longo de qualquer
caminho fechado. Ora temos, por exemplo, que
Z Z
F = F1 = 2π
C1 C1

logo F não é gradiente no seu domı́nio.


No entanto, F já seria um gradiente, por exemplo, no conjunto exterior a C.

23
Exercı́cio 15 Considere o campo vectorial f : R2 − {(0, 0)} 7→ R2 definido por

f (x, y) = (x/(x2 + y 2 ), y/(x2 + y 2 )).

a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f .


b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral parametrizada pelo caminho

g(t) = (2t cos(t), 2t sen(t))

com t ∈ [π, 2π].


c) Calcule o trabalho de f ao longo do quadrado de vértices (1, 0), (0, 1), (−1, 0), (0, −1) percor-
rido no sentido anti-horário. Será f um gradiente no seu domı́nio ?

Resolução:
a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f , ou seja, verifica as equações
∂φ
= x/(x2 + y 2 )
∂x
∂φ
= y/(x2 + y 2 )
∂y
Integrando a primeira equação, obtem-se

φ(x, y) = (1/2)ln(x2 + y 2 ) + g(y)

onde g(y) é arbitrária.


Substituindo na segunda equação obtemos
∂g
=0
∂y
pelo que g é uma constante que podemos tomar como sendo zero. (Recorde-se que o potencial
φ está definido a menos de uma constante.)
Concluı́mos, assim, que podemos tomar φ(x, y) = (1/2)ln(x2 + y 2 ).
Nota: Em geral é preciso cuidado quando se tenta calcular o potencial deste modo. Quando
não sabemos à partida se o campo vectorial f é conservativo, é muito importante verificar
se o potencial φ obtido está bem definido e é de classe C 1 na região em que está definido o
problema. Só nesse caso temos a garantia que f é conservativa.
Também é possı́vel encontrar φ recorrendo ao teorema fundamental do cálculo para integrais
de linha, que diz que sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p0 , se tem
Z
φ(p) = f,
L

onde o integral é calculado ao longo de um caminho seccionalmente regular qualquer L que


ligue p0 a p = (x, y).
No nosso caso podemos escolher esse caminho da seguinte forma: Tomamos por exemplo,
p0 = (1, 0) e ligamos o ponto p = (x, y) a p0 seguindo primeiro um segmento de recta
radial até à circunferência de raio 1 centrada na origem. Depois seguimos um arco dessa
circunferência até p0 .

24
y

p0 x

PSfrag replacements

Figura 5: O campo f é perpendicular às circunferências centradas na origem

O trabalho de f ao longo da segunda parte da trajectória é nulo porque f , sendo radial, é


perpendicular às circunferências centradas na origem p
tal como se ilustra na figura 5. Basta
então tomar o caminho g(t) = (tx, ty) onde t ∈ [1, 1/ x2 + y 2 ] que liga o ponto p = (x, y)
à circunferência de raio 1 centrada na origem. Temos então
Z √ 2 2 1/ x +y
φ(x, y) = (tx/((tx)2 + (ty)2 ), ty/((tx)2 + (ty)2 )) · (x, y)dt =
1

Z 1/ x2 +y 2
= 1/tdt =
1

= (1/2)ln(x2 + y 2 )

que concorda com o que obtivemos acima.


b ) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o teorema fundamental do
cálculo,
Z Z
W = f dg = ∇φ dg = φ(g(2π)) − φ(g(π)) =

= φ(4π, 0) − φ(−2π, 0) =

= (1/2)(ln(16π 2 ) − ln(4π 2 )) =

= ln(2)

Note-se que seria muito mais difı́cil fazer este cálculo directamente utilizando a definição de
trabalho.
c) O trabalho de f ao longo do quadrado é zero porque f = ∇φ e o quadrado é uma curva
fechada. Evidentemente que f é um gradiente, pois como vimos temos f = ∇φ com φ bem
definida em todo o domı́nio de f .

25
Exercı́cio 16 Considere o campo vectorial f : R3 7→ R3 definido por f (x, y, z) = (y 2 z, 2xyz, xy 2).

a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f .


b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral parametrizada pelo caminho

g(t) = (2 cos(t), 2 sen(t), t)

com t ∈ [0, π/4].

c) Seja C uma curva regular fechada em R3 . O que pode dizer sobre o trabalho de f ao longo
de C ?

Resolução:
a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f , ou seja, verifica as equações

∂φ
= y2z
∂x
∂φ
= 2xyz
∂y
∂φ
= xy 2
∂z
Integrando a primeira equação, obtem-se

φ(x, y, z) = xy 2 z + g(y, z)

onde g(y, z) é arbitrária.


Substituindo na segunda e terceira equações obtemos
∂g ∂g
= =0
∂y ∂z

pelo que g é uma constante que podemos tomar como sendo zero. (Recorde-se que o potencial
φ está definido a menos de uma constante.)
Concluı́mos assim que podemos tomar φ(x, y, z) = xy 2 z.
Nota: Em geral é preciso cuidado quando se tenta calcular o potencial deste modo. Quando
não sabemos à partida se o campo vectorial f é conservativo, é muito importante verificar
se o potencial φ obtido está bem definido e é de classe C 1 na região em que está definido o
problema. Só nesse caso temos a garantia que f é conservativa.
Também é possı́vel encontrar φ recorrendo ao teorema fundamental do cálculo para integrais
de linha, que estabelece que sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p 0 , se tem
Z
φ(p) = f,
L

onde o integral é calculado ao longo de um caminho seccionalmente regular qualquer L que


ligue p0 a p. No nosso caso podemos escolher p0 = 0 e o caminho como sendo o segmento
de recta que une p à origem, parametrizado por h(t) = (tx, ty, tz), com t ∈ [0, 1]. Obtemos

26
então,
Z 1
φ(x, y, z) = f (h(t)) · h0 (t)dt
0
Z 1
= (t3 y 2 z, 2t3 xyz, t3 xy 2 ) · (x, y, z)dt
0
Z 1
= 4xy 2 zt3 dt
0

= xy 2 z

que é o resultado obtido acima.


b) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o teorema fundamental do
cálculo,
Z Z
W = f dg = ∇φ dg = φ(g(π/4)) − φ(g(0))

√ √ π
= φ( 2, 2, ) − φ(2, 0, 0)
4

2
= π
2

Note-se que seria muito mais difı́cil fazer este cálculo directamente utilizando a definição de
trabalho.
c) Seja p um ponto da curva C e l(t), com t ∈ [a, b], um caminho que parametrize C e tal que
l(a) = l(b) = p. Então, pelo teorema fundamental do cálculo temos
Z Z
f dl = ∇φ dl = φ(l(b)) − φ(l(a)) = φ(p) − φ(p) = 0.

Logo, o trabalho da força conservativa f ao longo de uma curva fechada é zero.

27
Exercı́cio 17 Considere o campo vectorial F : R2 \ {(0, 0), (0, 1)} → R2 definido por
 
y y−1 x x
F (x, y) = − 2 − , +
x + y2 x2 + (y − 1)2 x2 + y 2 x2 + (y − 1)2

Determine o integral de linha do campo F ao longo do caminho que descreve a fronteira do


quadrado com vértices nos pontos (2, 2), (−2, 2), (−2, −2), (2, −2) no sentido directo (contrário ao
dos ponteiros de um relógio).

Resolução: Designemos por γ o caminho que descreve a fronteira Γ do quadrado e sejam


g1 : [0, 2π] → R2 e g2 : [0, 2π] → R2 os caminhos definidos por
1 1
g1 (t) = ( cos t, sen t)
4 4
1 1
g2 (t) = ( cos t, (sen t + 1))
4 4
ou seja, g1 descreve a circunferência C1 de raio 1/4 e centro na origem no sentido positivo e g2
descreve a circunferência C2 de raio 1/4 e centro no ponto (0, 1) no sentido positivo tal como se
ilustra na figura 6.

C2 Γ

C1
x

PSfrag replacements

Figura 6: As linhas Γ, C1 , C2

O campo F pode ser decomposto na soma de dois campos F = F1 + F2 em que


 
y x
F1 (x, y) = − 2 ,
x + y 2 x2 + y 2
 
y−1 x
F2 (x, y) = − 2 ,
x + (y − 1)2 x2 + (y − 1)2

Facilmente se verifica que os campos F1 e F2 são fechados, ou seja, o campo F é fechado.


Portanto, aplicando o teorema de Green à região limitada pelas circunferências C 1 e C2 e pela
fronteira Γ do quadrado, obtemos
Z Z Z
0= F · dγ − F · dg1 − F · dg2
Γ C1 C2

28
ou seja, Z Z Z
F · dγ = (F1 + F2 ) · dg1 + (F1 + F2 ) · dg2
Γ C1 C2

Por outro lado, o cı́rculo limitado pela circunferência C2 não contém a origem e, portanto
temos Z
F1 · dg2 = 0
C2

Do mesmo modo, o cı́rculo limitado pela cicunferência C1 não contém o ponto (0, 1) e, por-
tanto, concluimos que Z
F2 · dg1 = 0
C1

Assim, temos Z Z Z
F · dγ = F1 · dg1 + F2 · dg2
Γ C1 C2

Da definição de integral de linha de um campo vectorial obtemos


Z Z 2π
F1 · dg1 = (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t)dt = 2π
C1 0
Z Z 2π
F2 · dg2 = (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t)dt = 2π
C2 0

Portanto, Z
F · dγ = 2π + 2π = 4π
Γ

29
Exercı́cio 18 Considere o campo vectorial
 
−y 3(x − 1) x+1 3y
f (x, y) = + , + + x .
(x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2 (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2

Calcule o trabalho de f ao longo da elipse de equação x 2 /25 + y 2 /16 = 1 percorrida no sentido


anti-horário.

Resolução: Para facilitar a análise decompomos o campo f em três partes: f = h + g + l onde


−y x+1
h(x, y, z) = ( , )
(x + 1) + y (x + 1)2 + y 2
2 2

3(x − 1) 3y
g(x, y, z) = ( , )
(x − 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2

l(x, y, z) = (0, x)
O campo h é fechado, é singular no ponto (−1, 0) (que portanto não pertence ao seu domı́nio),
e não é um gradiente. De facto, seja C a circunferência de raio 1 centrada em (−1, 0). Facilmente
se verifica que o trabalho de h ao longo se C percorrida no sentido anti-horário é 2π, pelo que h
não é conservativo.
y

C C0

PSfrag replacements

Figura 7:

O campo g é radial com centro no ponto (1, 0) que não pertence ao seu domı́nio. É fechado.
Seja C 0 a circunferência de raio 1 centrada em (1, 0). O trabalho de g ao longo de C 0 é nulo porque
g é perpendicular a C 0 . Pelo teorema de Green conclui-se que o integral de g ao longo de qualquer
curva regular fechada em R2 − {(1, 0)} é zero, pelo que g é um gradiente nesse conjunto.
Seja E a elipse do enunciado que vamos considerar percorrida no sentido anti-horário.
Aplicando o teorema de Green à região contida entre as curvas C e E, sendo h fechado,
concluı́mos que Z Z
h= h = 2π.
E C
2
Por outro lado, como g é gradiente em R − {(1, 0)} temos
Z
g = 0.
E

30
Só falta agora calcular E l. O campo l = (0, x) é de classe C 1 na região A contida no interior
R

da curva E. Logo, pelo teorema de Green temos


Z Z Z
l = (∂1 l2 − ∂2 l1 )dxdy = (1)dxdy = (área da elipse) = 20π
E A A
R R R R
Obtemos finalmente E f = E h + E g + E l = 2π + 0 + 20π = 22π.
Note-se que teria sido extraordinariamnte mais longo, difı́cil e aborrecido fazer este cálculo
directamente através da definição.

31
Exercı́cio 19 Calcule I
P dx + Qdy
γ

onde !
1 − x2 + y 2 − 2xy 1 + x2 − y 2 − 2xy
(P, Q) = −y + , cos (x) +
(1 + x2 + y 2 )2 (1 + x2 + y 2 )2
e γ é a fronteira do quadrado

S = (x, y) ∈ R2 : |x| < 1, |y| < 1




percorrida uma vez no sentido directo.

Resolução: Pelo teorema de Green,


 
∂Q ∂P
I ZZ
P dx + Qdy = − dxdy
γ S ∂x ∂y

Como
2
(2x − 2y) 1 + x2 + y 2 − 4x 1 + x2 + y 2 1 + x2 − y 2 − 2xy
 
∂Q
= − sen (x) + ;
∂x (1 + x2 + y 2 )4
2
(2y − 2x) 1 + x2 + y 2 − 4y 1 + x2 + y 2 1 − x2 + y 2 − 2xy
 
∂P
= −1 + ,
∂y (1 + x2 + y 2 )4

concluimos que

4 (x − y) 1 + x2 + y 2 − 4 x + x3 + xy 2 − y − yx2 − y 3
 
∂Q ∂P
− = − sen (x) + 1 + 3
∂x ∂y (1 + x2 + y 2 )
= − sen (x) + 1

e que portanto I ZZ
P dx + Qdy = (− sen (x) + 1) dxdy = 4
γ S

(já que sen (x) é ı́mpar e portanto o seu integral em [−1, 1] é zero).
Note-se que o cálculo deste integral de linha pela definição seria bastante mais complicado.

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