Álgebra Linear e Geometria Analı́tica I (M1010) - 2022/2023

Exame Duração: 3h 5/01/2023

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Nota: Qualquer dispositivo eletrónico que o estudante traga consigo deve estar desligado.

Parte I

1. (6,3 val.) As respostas devem ser apresentadas no espaço livre que se segue às questões: sem
justificação ou, quando for pedida justificação, justificando sucintamente.

a) Diga, justificando, se E = {(x, y) ∈ R2 : xy = 0} é um subespaço vetorial de R2 .

E não é subespaço vetorial de R2 pois não é estável para +: por exemplo, (1, 0), (0, 1) ∈ E, pois
1 · 0 = 0 · 1 = 0, mas (1, 0) + (0, 1) = (1, 1) ∈
/ E, pois 1 · 1 6= 0.

b) Indique um conjunto de geradores do espaço F = {(x, y, z, t) ∈ R4 : x − z + 2t = 0 e y − z = 0}.

{(1, 1, 1, 0), (−2, 0, 0, 1)}

c) Diga, justificando, qual é a dimensão de F .

Os dois vetores (1, 1, 1, 0) e (−2, 0, 0, 1) que geram F são linearmente independentes, pois nenhum
é múltiplo do outro. Então ((1, 1, 1, 0), (−2, 0, 0, 1)) é uma base de F e assim dim F = 2.

d) Diga, justificando, se b1 = ((1, 1, 1), (1, 0, 2)) e se b2 = ((1, 1, 1), (1, 0, 2), (2, 1, 3)) são bases de R3 .
Como dim R3 = 3, qualquer base de R3 tem 3 vetores e então b1 , que só tem 2 vetores, não é uma
base de R3 .
Como (2, 1, 3) = (1, 1, 1) + (1, 0, 2), os vetores de b2 não são linearmente independentes e assim b2
não é uma base de R3 .

e) Sendo b a base ((1, 1, 1), (1, −1, 0), (0, 1, 1)) de R3 , indique: (i) x, y, z tais que (x, y, z) = (1, 1, −1)b .
(ii) o sistema linear que usaria para determinar x, y, z tais que (3, 2, 1) = (x, y, z)b .

 x+y = 3
(i) (x, y, z) = (2, −1, 0) (ii) (3, 2, 1) = x(1, 1, 1)+y(1, −1, 0)+z(0, 1, 1)) ⇐⇒ x−y+z = 2
x+ z = 1


f ) Indique uma base do espaço vetorial real: (i) R3 [X]. (ii) R × C × R.

(i) (1, X, X 2 , X 3 ) (ii) ( (1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, i, 0), (0, 0, 1) )

g) Indique, ou mostre que não existem, três subespaços não nulos E1 , E2 , E3 de R3 cuja soma é R3
e tais que E1 ∩ E2 = E1 ∩ E3 = E2 ∩ E3 = {0R3 }, mas não se tem R3 = E1 ⊕ E2 ⊕ E3 .
Por exemplo:
E1 = {(x, 0, 0) : x ∈ R}, E2 = {(0, y, 0) : y ∈ R}, E3 = {(t, t, z) : t, z ∈ R}

(Continua no verso)
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Resolva, justificando a resposta, no espaço livre que se segue às questões.

2. (3,7 val.)
a) Seja E1 = {(x, y, z) ∈ R3 : x − y = 0 e z = 0} e E2 = G({(1, 0, 1)}). Apresente E1 + E2 na
forma {(x, y, z) ∈ R3 : · · · }.

Tem-se que E1 = {(y, y, 0) : y ∈ R} = {y(1, 1, 0) : y ∈ R} = G({(1, 1, 0)}), logo


 α+β = x
(x, y, z) ∈ E1 +E2 ⇐⇒ ∃α, β ∈ R, (x, y, z) = α(1, 1, 0)+β(1, 0, 1) ⇐⇒ α = y é possı́vel
β = z

⇐⇒ y + z = x.
Assim, E1 + E2 = {(x, y, z) ∈ R3 : y + z = x}.

b) Determine os elementos (x, y, z) ∈ R3 tais que ((1, 1, 0), (1, 0, 1), (x, y, z)) é uma base de R3 .

Como dim R3 = 3, três vetores de R3 formam uma base de R3 se e só se forem linearmente inde-
pendentes.
Como (1, 1, 0), (1, 0, 1) são linearmente independentes, pois nenhum é múltiplo do outro, então
(1, 1, 0), (1, 0, 1), (x, y, z) são linearmente independentes se e só se (x, y, z) não for combinação linear
de (1, 1, 0) e (1, 0, 1). Da resolução de a), sabemos que tal acontece se e só se y + z 6= x.
Assim, ((1, 1, 0), (1, 0, 1), (x, y, z)) é uma base de R3 se e só se y + z 6= x.

c) Diga se E1 + E2 = G(E1 ∪ E2 ).

Dos resultados das Notas das Aulas sabe-se que G(E1 ∪ E2 ) = G(E1 ) + G(E2 ) (*).
E como E1 = G({(1, 1, 0)}) e E2 = G({(1, 0, 1)}) são subespaços de R3 , sabe-se também que então
G(E1 ) = E1 e G(E2 ) = E2 e assim tem-se G(E1 ∪ E2 ) = E1 + E2 .

Outra forma de provar, sem usar (*):

Como E1 , E2 ⊆ G(E1 ∪ E2 ) e G(E1 ∪ E2 ) é um subespaço de R3 , então

E1 + E2 ⊆ G(E1 ∪ E2 ).

Por outro lado, como E1 e E2 são subespaços de R3 , OR3 ∈ E1 e OR3 ∈ E2 , pelo que
E1 ∪ E2 ⊆ E1 + E2 .
Como também E1 + E2 é um subespaço de R3 , tem-se
G(E1 ∪ E2 ) ⊆ G(E1 + E2 ) = E1 + E2 .

Das duas inclusões decorre a igualdade E1 + E2 = G(E1 ∪ E2 ).

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Parte II
3. (6 val.) As respostas devem ser apresentadas no espaço livre que se segue às questões: sem
justificação ou, quando for pedida justificação, justificando sucintamente.
a) Indique, justificando, o valor de f (x, y), sabendo que f é uma aplicação linear de R2 em R2 tal
que f (2, 1) = (−1, 1) e f (1, 0) = (1, 3).
Como (x, y) = y(2, 1) + (x − 2y)(1, 0), então f (x, y) = f ( y(2, 1) + (x − 2y)(1, 0) ). Como f é linear,
f (x, y) = y f (2, 1) + (x − 2y) f (1, 0) = y(−1, 1) + (x − 2y)(1, 3) = (x − 3y, 3x − 5y)
b) Sendo f a aplicação linear de R3 em R2 dada por f (x, y, z) = (x − z, 2x + y + z), indique: (i) uma
base de ker f . (ii) justificando, a dimensão de f (R3 ).
(i) ( (1, −3, 1) ) (ii) De (i), dim ker f = 1. Como dim R3 = dim ker f + dim f (R3 ), então
3 = 1 + dim f (R3 ) e dim f (R3 ) = 2
!
1 2 3
c) Seja A = 1 1 1 . Justificando, (i) calcule carA. (ii) diga se A é invertı́vel.
3 2 1

←→
! ! !
1 2 3 1 2 3 1 2 3
←→
(i) A = 1 1 1 L2 → L2 − L1 0 −1 −2 0 −1 −2 em escada e
L3 → L3 − 4L2
3 2 1 L3 → L3 − 3L1 0 −4 −8 0 0 0
!
1 2 3
car A = car 0 −1 −2 = na de pivots = 2
0 0 0

(ii) Como A ∈ M3,3 (R) e car A < 3, então A não é invertı́vel.

d) Sendo B1 , B2 bases de R3 , b1 , b2 bases de R2 e f : R3 → R2 , g : R2 → R2 aplicações lineares,

indique como podia obter MB1 ,b2 (g ◦ f ) a partir das matrizes MB2 ,b1 (f ) e Mb2 ,b2 (g).
MB1 ,b2 (g ◦ f ) = Mb2 ,b2 (g) Mb1 ,b2 (id) MB2 ,b1 (f ) MB1 ,B2 (id)
 
1 2
e) Seja b = ((1, 1), (−1, 0)) uma base de R2 e f : R2 → R2 linear tal que Mb,b (f ) = . Calcule,
2 3
justificando, (i) Mbc ,b (f ). (ii) f (x, y).
   0 1   −2 3 
1 2
(i) Mbc ,b (f ) = Mb,b (f ) Mbc ,b (id) = −1 1
= −3 5
2 3
 −2 3   x   −2x+3y 
(ii) Como −3 5 y
= −3x+5y , então f (x, y) = (−2x + 3y, −3x + 5y)b = (x − 2y, −2x + 3y)


 2x + y + z = 3
f ) Considere o sistema linear x − y + z = 0 : (i) calcule o determinante da sua matriz C dos
3x − y + 2z = 2

coeficientes. (ii) sem o resolver, justifique que só tem uma solução (x, y, z) e calcule o valor de y.
2 1 1
! = 2 1 1
! =  
3 2
(i) det C = det 1 −1 1 L2 → L2 + L1 det 3 0 2 na 2a − det = −(9 − 10) = 1.
5 3
3 −1 2 L3 → L3 + L1 5 0 3 coluna
(ii) Como det C 6= 0, então o sistema tem uma só solução. Pela regra de Cramer,
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2 3 1
 

det 1 0 1
 
!
1 3 1
 
3 2 2 
1 3

y= = det 0 0 1 = −det = −(2 − 3) = 1
det C 1 2
1 2 2

Resolva, justificando a resposta, no espaço livre que se segue às questões.

4. (1,6 val.) Seja E = G({(1, 1, 0), (1, 1, −1)}). Determine:
a) Uma base ortonormada b de E.
Como (1, 1, 0), (1, 1, −1) formam uma base de E, podemos usar o processo de Gram-Schmidt:
1
o1 = ||(1,1,0)|| (1, 1, 0) = √12 (1, 1, 0).
v2 = (1, 1, −1) − projo1 (1, 1, −1) = (1, 1, −1) − ((1, 1, −1) | √1 (1, 1, 0)) √1 (1, 1, 0) = (0, 0 − 1)
2 2
1
o2 = v
||v2 )|| 2
= (0, 0 − 1)
e b = (o1 , o2 ) = ( √12 (1, 1, 0), (0, 0 − 1)) é uma base ortonormada de E.
b) Uma base ortonormada B de R3 que contenha os vetores de b.
Vamos calcular o1 × o2 :
e1 e2 e3
!
o1 × o2 = det √1 √1
2 2
0 = − √12 e1 + √1 e2
2
+ 0e3 = √1 (−1, 1, 0).
2
0 0 −1
Como o3 = o1 × o2 é ortogonal a o1 e a o2 e é unitário, então B = (o1 , o2 , o3 ) satisfaz o pedido.
5. (2,4 val.) Diz-se que duas matrizes quadradas A, B ∈ Mn,n (K) anticomutam se A B = −B A.
a) Mostre que, se A e B anticomutam, então A B e B A comutam.
Como o produto de matrizes é distributivo relativamente à soma, para qq. M, M ′ ∈ Mn,n (K),
M(−M ′ ) + M M ′ = M (−M ′ + M ′ ) = M OMn,n (K) = OMn,n (K)
e, analogamente, (−M)M ′ + M M ′ = OMn,n (K) e assim −M M ′ = (−M)M ′ = M(−M ′ ). Então,
(AB)(BA) = (−BA)(BA) = BA(−BA) = (BA)(AB)
b) Mostre que, se A e B são invertı́veis e anticomutam, então n é par.
Suponhamos que A e B são invertı́veis e anticomutam. Como A e B são invertı́veis, então det A 6= 0
e det B 6= 0 e portanto
det(AB) = det A det B 6= 0.
Por outro lado, como A e B anticomutam e A, B ∈ Mn,n (K), então
det(AB) = det(− B A) = (−1)n det(B A) = (−1)n det B det A = (−1)n det A det B = (−1)n det(A B).
Assim, como det(AB) 6= 0, tem-se (−1)n = 1 e n é par.
c) Mostre que, se A e B anticomutam, então A + B é invertı́vel se e só se A − B é invertı́vel.
(Sugestão: comece por calcular (A + B)2 ).
Seguindo a sugestão, note-se que
(A + B)2 = (A + B)(A + B) = A2 + A B + B A + B 2 .
Como A e B anticomutam, então A B = −B A e B A = −A B e portanto
(A + B)2 = A2 + A B + B A + B 2 = A2 − B A − A B + B 2 = (A − B)2 .
Como, para qualquer matriz quadrada M, det(M 2 ) = (det M)2 , então
det M 6= 0 ⇐⇒ det(M 2 ) 6= 0
e assim
A + B é invertı́vel ⇐⇒ det((A + B)2 ) 6= 0 ⇐⇒ det((A − B)2 ) 6= 0 ⇐⇒ A − B é invertı́vel .