Você está na página 1de 6

Instituto Superior Técnico

Departamento de Matemática
Unidade de Ensino de Álgebra e
Análise

Cálculo Diferencial e Integral I


Cursos de LEBiol, LEBiom
Exame de 2.a Época - 24 de fevereiro de 2022, 13h-15h, VERSÃO B.1
Duração: 2 horas

(7,0 val.) 1. Seja f : [0, +∞[ → R uma função contínua definida por

f (x) = arctan(ln x) + 3x, x > 0.

(a) Calcule f (0).

π
Como f é contínua, f (0) = lim arctan(ln x) + 3x = lim arctan(y) + 0 = − .
x→0 + y→−∞ 2

(b) Determine os intervalos de monotonia de f .

Para x > 0, temos


1
f 0 (x) = + 3 > 0, ∀x > 0
x(1 + ln2 (x))

logo f é estritamente crescente em ]0, +∞[. Sendo contínua em 0, é também estri-


tamente crescente em [0, +∞[.

(c) Justifique que f é injectiva, mostre que f −1 (3) = 1 e calcule (f −1 )0 (3).

Sendo estritamente crescente no seu domínio, é injectiva. Temos f (1) = arctan(0)+


3 = 3, logo f −1 (3) = 1.
A função inversa é diferenciável em 3 já que f 0 (f −1 (3)) = f 0 (1) = 4 6= 0 e
(f −1 )0 (3) = f 0 (f −1
1
(3))
= f 01(1) = 41 .

f (x)
(d) Calcule lim e determine se f tem assíntotas.
x→+∞ x

f (x) arctan(ln x) + 3x π/2 π


lim = lim = +∞ + 3 = 3. Como lim f (x) − 3x = ,
x→+∞ x x→+∞ x x→+∞ 2
temos que f tem uma assíntota oblíqua à direita de equação y = 3x + π2 .
Não existem mais assíntotas já que f é contínua em [0, +∞[.

(e) Mostre que f é uma função côncava em ]0, +∞[ e esboce o seu gráfico.

Temos para x > 0,


0
(x(1 + ln2 (x)))0 1 + ln2 (x) + 2x · x1 ln x

00 1
f (x) = + 3 = − = −
x(1 + ln2 (x)) x2 (1 + ln2 (x))2 x2 (1 + ln2 (x))2
1 + ln2 (x) + 2 ln x (1 + ln x)2
=− 2 = − ≤ 0, ∀x > 0
x (1 + ln2 (x))2 x2 (1 + ln2 (x))2
logo f tem concavidade para baixo, ou seja, é côncava.
[Gráfico.]
f (x)−f (0) arctan(ln x)+π/2
Note-se que fd0 (0) = limx→0+ x = 3 + limx→0+ x = 3+
1
limx→0+ x(1+ln 2
(x))
= +∞.

(f) Escreva o polinómio de Taylor de primeira ordem no ponto 1 e use o resto de


Lagrange para mostrar que
(1,2)2
3,8 − (0,2)2 < f (1,2) < 3,8.
2
Sugestão: use a desigualdade ln(1,2) < 0,2.

Temos p1 (x) = f (1) + f 0 (1)(x − 1) = 3 + 4(x − 1) e p1 (1,2) = 3,8. Como f (x) =


00
p1 (x) + R1 (x) com R1 (x) = f 2(c) (x − 1)2 o resto de Lagrange, c entre x e 1, temos

f 00 (c)
f (1, 2) = 3,8 + R1 (1, 2) = 3,8 + (0,2)2
2
(1+ln c) 2
para algum c ∈]1, 1,2[. Temos f 00 (c) = − c2 (1+ln 2
(c))2
< 0, logo f (1,2) < 3,8. Por
outro lado, como c > 1,

(1 + ln c)2
< (1 + ln c)2 < (1,2)2
c2 (1 + ln2 (c))2
(1,2)2
usando ln(c) < ln(1,2) < 0,2. Logo f 00 (c) > −(1,2)2 e f (1,2) > 3,8 − 2
2 (0,2) .

(1,5 val.) 2. Dada uma função limitada f : R → R e um ponto a ∈ R, seja g : ]0, +∞[ → R definida
por
g(x) = sup f (t)
t∈[a−x,a+x]

(a) Mostre que g é crescente.

Se x > y, temos [a − y, a + y] ⊂ [a − x, a + x], logo supt∈[a−x,a+x] f (t) ≥


supt∈[a−y,a+y] f (t), ou seja, g(x) ≥ g(y) e g é crescente.

(b) Mostre que, se f é contínua em a, então lim f (x) = lim g(x). Sugestão: use a
x→a x→0+
definição de limite de f .

Temos a provar que lim g(x) = lim f (x) = f (a) (dado que f é contínua em a).
x→0+ x→a
Note-se que g(x) ≥ f (a), para qualquer x > 0 (dado que a ∈ [a − x, a + x], ∀x > 0)
e temos
!
|g(x) − f (a)| = g(x) − f (a) = sup f (t) − f (a) = sup (f (t) − f (a)).
t∈[a−x,a+x] t∈[a−x,a+x]

2
Como f é contínua em a, dado ε > 0 qualquer, existe δ > 0 tal que se

|t − a| < δ ⇒ |f (t) − f (a)| < ε.

Para 0 < x < δ, se t ∈ [a − x, a + x] então |t − a| ≤ x < δ, logo

f (t) − f (a) ≤ |f (t) − f (a)| < ε, ∀t ∈ [a − x, a + x].

Conclui-se que

0<x<δ ⇒ |g(x) − f (a)| = sup (f (t) − f (a)) < ε


t∈[a−x,a+x]

ou seja, que lim g(x) = f (a).


x→0+

(5,5 val.) 3. (a) Determine uma primitiva de cada uma das seguintes funções:

x2 +sin(2x) 4 ln(1 − x) 2− x−3
(i) e (x+cos(2x)), (ii) , (iii) √ , t2 = x−3.
(x + 3)2 (x + 6) x − 3

Z
2 +sin(2x) 1 2
(i) ex (x + cos(2x))dx = ex +sin(2x) .
2
0 4 4
(ii) Por partes, v = (x+3)2 ⇒ v = − x+3 e u = ln(1 − x) ⇒ u0 = − 1−x
1
= 1
x−1 ,

4 ln(1 − x) 4 ln(1 − x)
Z Z
4
2
dx = − + dx = (∗)
(x + 3) x+3 (x − 1)(x + 3)

4 A B
Escrevendo = + , temos A(x + 3) + B(x − 1) = 4, donde
(x − 1)(x + 3) x−1 x+3
sai que A = −B = 1, logo

4 ln(1 − x) 4 ln(1 − x)
Z
1 1
(∗) = − + − dx = − + ln |x − 1| − ln |x + 3|.
x+3 x−1 x+3 x+3
√ dx
(iii) Fazendo t2 = x − 3, t > 0, temos t = x − 3 ⇔ x = t2 + 3, dt = 2t, logo

2− x−3 2−t
Z Z Z Z
4 2t
√ dx = 2
2tdt = 2
dt − 2
dt
(x + 6) x − 3 (t + 9)t t +9 t +9
Z
4 1 4
= 2
dt − ln(t2 + 9) = arctan(t/3) − ln(t2 + 9)
9 (t/3) + 1 3
4 √
= arctan( x − 3/3) − ln(x + 6).
3

4y ln(1 − x)
(b) Resolva o problema de valor inicial y 0 = , y(0) = 4.
(x + 3)2

3
Para y 6= 0, temos

y0 4 ln(1 − x) 4 ln(1 − x)
Z Z
dy
= ⇒ = dx, para x < 1, x 6= −3.
y (x + 3)2 y (x + 3)2

De (a)(ii), em ] − 3, 1[ temos

4 ln(1 − x)
ln |y(x)| = − + ln(1 − x) − ln(x + 3) + C
x+3
com C ∈ R, logo
4 ln(1−x) 1−x
y(x) = Ae− x+3 ·
x+3
para algum A = ±eC ∈ R \ {0}. De y(0) = Ae0 31 = 4 vem A = 12, logo y(x) =
4 ln(1−x)
12e− x+3 · 1−x
x+3 , x ∈] − 3, 1[.

(1,5 val.) 4. Seja f : R → R uma função com derivadas de todas as ordens tal que f (n) (0) = f (n) (1) =
0, para qualquer n = 0, 1, 2..., e seja k 6= 0. Prove por indução matemática que, para
qualquer n ∈ N0 , Z 1
(−1)n 1 kx (n)
Z
kx
e f (x)dx = e f (x)dx.
0 kn 0

Para n = 0:
1 1
(−1)0
Z Z
kx (0)
e f (x)dx = ekx f (x)dx.
k0 0 0
1 1
(−1)n
Z Z
Hipótese de indução: ekx f (x)dx = ekx f (n) (x)dx, para dado n ∈ N0 .
0 kn 0
1 1
(−1)n+1
Z Z
A provar: ekx f (x)dx = ekx f (n+1) (x)dx.
0 k n+1 0
Por hipótese,
1 1
(−1)n
Z Z
kx
e f (x)dx = ekx f (n) (x)dx
0 kn 0

Integrando por partes, com u(x) = f (n) (x) ⇒ u0 (x) = f (n+1) (x), v 0 = ekx ⇒ v = k1 ekx ,
temos
Z 1 1
1 1 kx (n+1) 1 1 kx (n+1)
 Z Z
1 kx (n)
ekx f (n) (x)dx = e f (x) − e f (x)dx = − e f (x)dx.
0 k 0 k 0 k 0

uma vez que f (n) (0) = f (n) (1) = 0. Logo,


1 1 1
1 (−1)n (−1)n+1
Z Z Z
kx kx (n+1)
e f (x)dx = − e f (x)dx = ekx f (n+1) (x)dx,
0 k kn 0 k n+1 0

como queríamos ver.

4
(1,5 val.) 5. Seja f : R → R uma função contínua e F : R \ {1} → R dada por
Z x2 +1
1
F (x) = f (t)dt.
(x − 1)2 2x
Z 1
0
Determine a derivada de F e justifique que F (0) + 2f (0) = 2 f (t)dt.
0

Do teorema Fundamental do Cálculo, dado que f é contínua, e da derivação da função


composta, temos
Z x2 +1 !
d
f (t)dt = 2xf (x2 + 1) − 2f (2x).
dx 2x

Da derivada do produto,
Z x2 +1
2 1
F 0 (x) = − f (t)dt + (2xf (x2 + 1) − 2f (2x)).
(x − 1)3 2x (x − 1)2
R1 R1
Logo, F 0 (0) = 2 0 f (t)dt + 1(0 − 2f (0)) ⇔ F 0 (0) + 2f (0) = 2 0 f (t)dt.

(3,0 val.) 6. (a) Estude a natureza das seguintes séries, indicando se são divergentes, absolutamente
convergentes ou simplesmente convergentes:
∞ √ +∞
X 2n n + 1 X (n!)2
(i) (−1)n 3 √ (ii) .
n ( n + 4) (2n + 1)!
n=1 n=1

∞ √
X 2n n + 1
(i) É uma série alternada. A série dos módulos é dada por √ . Vamos
n=1
n3 ( n + 4)

X 1
comparar com que é uma série de Dirichlet convergente, por ser da forma
n2
P 1 n=1
np , com p = 2 > 1. Temos

2n√n+1 √ 1
2 + n√
n3 ( n+4) 2n3 n + n2 n
lim 1 = lim 3 √ = lim 4 = 2 6= 0, ∞.
n2
n ( n + 4) 1 + √n

Logo do critério de Comparação, as séries têm a mesma natureza. Conclui-se que


a série dos módulos converge, ou seja, a série dada é absolutamente convergente.
(ii) É uma STNN. Vamos aplicar o critério de d’Alembert:
((n+1)!)2
(2n+3)! (n + 1)2 (n!)2 (2n + 1)! (n + 1)2 1
lim (n!)2
= lim 2
= lim = < 1.
(n!) (2n + 1)!(2n + 2)(2n + 3) (2n + 2)(2n + 3) 4
(2n+1)!

Logo a série converge. Como é STNN, a convergência é absoluta.

5

X
(b) Considere a seguinte série de potências π 2−n (1 − x)n . Determine o intervalo
n=1
de R onde a convergencia da série é absoluta e determine a soma da série nesse
intervalo.

Temos
∞ ∞  n
X
2−n n
X
2 1−x
π (1 − x) = π
π
n=1 n=1

é uma série geométrica de razão 1−x


π , logo converge absolutamente se
1−x
π <1⇔
1−x
1 − π < x < 1 + π e diverge se π ≥ 1 ⇔ x ≤ 1 − π ∨ x ≥ 1 + π.
Logo o intervalo onde a convergencia é absoluta é ]1 − π, 1 + π[.
(Ou calcular raio de convergência, com an = π 2−n .)

1−x n 1−x
X  
Para a soma, se x ∈]1 − π, 1 + π[, então π2 = π2 π
1−x =
π 1 − π
n=1
1 − x
π2 .
π−1+x

Você também pode gostar