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Análise Real I (M1011) 2021/22

Teste 2 – 31/1/22 - Resolução

1. Calcule a área a sombreado na figura, limitada pelo gráfico da função f : R −→ R e pela recta
x 7→ (x − 2)3
de equação y = x − 2.

Determinação das abcissas dos pontos de intersecção da recta e do gráfico de f :


(x − 2)3 = (x − 2) ⇔ x − 2 = 0 ou (x − 2)2 = 1 ⇔ x = 2 ou x − 2 = 1 ou x − 2 = −1 ⇔ x = 1 ou x = 2 ou x = 3

Z 2 Z 3
3
(x − 2) − (x − 2)3 dx
 
área = (x − 2) − (x − 2) dx +
1 2
2 3
2)4 2)2 (x − 2)2 (x − 2)4
   
(x − (x − 1 1 1 1 1
= − + − =− − + − =
4 2 1 2 4 2 4 2 2 4 2

2. Indique uma primitiva de cada uma das seguintes funções.


a) f : R −→ R
x 7→ x cos2 x
b) f : R \ {0} −→ R
e2x +3ex
x 7→ 1−e2x

Z Z   Z Z
a) 2 1 + cos 2x x 1
x cos x dx = x dx = dx + x cos 2x dx
2 2 2
x2 1 x sen 2x
 Z 
sen 2x
= + − dx (primitivação por partes)
4 2 2 2
x2 1 x sen 2x cos 2x x2 1
 
1
= + + = + x sen 2x + cos 2x
4 2 2 4 4 4 8

b)

e2x + 3ex u2 + 3u 1
Z Z
dx = du (fazendo a substituição u = ex )
1 − e2x 1 − u2 u
Z Z    
u+3 (*) 2 1 1+u
= du = + du = −2 log(1 − u) + log(1 + u) = log
1 − u2 1−u 1+u 1 − u)2
1 + ex
 
= log
(1 − ex )2
 
u+3 u+3 a b a + b + (a − b)u a+b=3 a=2
(∗) = = + = ⇔ ⇔
1 − u2 (1 − u)(1 + u) 1−u 1+u (1 − u)(1 + u) a−b=1 b=1

Z +∞  
k 2x
3. Diga, justificando, para que valor(es) de k > 0 é que − 2 dx converge, e calcule o
0 x+1 x +1
integral nesse(s) caso(s).
Para qualquer x > 0 tem–se
Z x 
k 2t t=x
dt = k log(t + 1) − log(t2 + 1) t=0 = k log(x + 1) − log(x2 + 1)

− 2
0 t+1 t +1
k 1 k
 !
(x + 1)k xk 1 + x1 1 +
= log 2 = log 2  = log xk−2 x 
x +1 x 1 + x12 1 + x12
 
1 + 1 k
  +∞ se k > 2 1 +
 !  +∞ se k > 2
1 k
Então lim xk−2 x 
= 0 se k < 2 , portanto lim log xk−2 x 
= −∞ se k < 2
x→+∞ 1 + x12 
1 se k = 2
x→+∞ 1 + x
1
2 
0 se k = 2

Z x  +∞ se k > 2
k 2t 
logo lim − 2 dt = −∞ se k < 2
x→+∞ 0 t+1 t +1
0 se k = 2

Z +∞   Z +∞  
k 2x k 2x
Conclui-se que − 2 dx converge sse k = 2, e nesse caso − 2 dx = 0.
0 x+1 x +1 0 x+1 x +1

4. Seja f uma função cujo polinómio de Taylor de ordem 5 em 1 é 5 + x − 3x2 + x4 .


a) Determine o polinómio de Taylor de ordem 2 em 1 de f .
b) Dê um exemplo de uma função não polinomial nestas condições.

a) Tem-se
P5,1,f (x) = 5 + x − 3x2 + x4 , logo f (1) = P5,1,f (1) = 4
0
P5,1,f (x) = 1 − 6x + 4x3 , logo f 0 (1) = P5,1,f
0 (1) = −1
0 2 00 00
P5,1,f (x) = −6 + 12x , logo f (1) = P5,1,f (1) = 6.
00
Então P2,1,f (x) = f (1) + f 0 (1)(x − 1) + f 2(1) (x − 1)2 ) = 4 − (x − 1) + 3(x − 1)2 = 8 − 7x + 3x2 .
b) Seja ϕ(x) = 5 + x − 3x2 + x4 ; tem-se P5,1,ϕ (x) = 5 + x − 3x2 + x4 (dado um polinómio de grau ≤ m, ele é o
seu próprio polinómio de Taylor de grau m em qualquer ponto).
Se g for uma função tal que P5,1,g (x) = 0, então P5,1,ϕ+g (x) = P5,1,ϕ (x) + P5,1,g (x) = P5,1,ϕ (x), portanto
podemos obter uma função nas condições pedidas somando a ϕ uma função não polinomial cujo polinómio de grau
5 em 1 seja nulo.
Vamos então construir uma função não polinomial cujo polinómio de grau 5 em 1 seja nulo.
Observemos primeiro que se h1 (x) = (x − 1)6 , então P5,1,h1 (x) = 0.
Como, para qualquer função h2 , P5,1,h1×h2 (x) se obtém de P5,1,h1 (x) × P5,1,h2 (x) conservando apenas os termos
de grau ≤ 5, resulta que P5,1,h1 (x) = 0 implica P5,1,h1 ×h2 (x) = 0.
Seja por exemplo h2 (x) = sen x; tem-se então que P5,1,h1 ×h2 (x) = 0.
Então a função f : R −→ R é uma função não polinomial nas condições
x 7→ 5 + x − 3x2 + x4 + (x − 1)6 sen x
pedidas.

5. Utilize polinómios de Taylor para calcular um valor aproximado de 5
e com erro inferior a 10−6 .
(Deixe indicada a soma final, sem fazer os cálculos.)

x2 xn ec xn+1
Para qualquer n ∈ N e x ∈ R, tem-se Pn,0,ex (x) = 1+x+ +· · ·+ e Rn,0,ex (x) = ex −Pn,0,ex (x) = ,
2 n! (n + 1)!
para algum c entre 0 e x.
√ 1 1 1 1 ( 1 )2 ( 1 )n ec ( 15 )n+1
Então, para qualquer n ∈ N, tem-se 5
e = e 5 = Pn,0,ex ( ) + Rn,0,ex ( ) = 1 + + 5 + · · · + 5 +
5 5 5 2 n! (n + 1)!
para algum c ∈ [0, 15 ].
ec ( 51 )n+1 ( 15 )2 ( 15 )n √
Se escolhermos n tal que (n+1)! < 10−6 , então 1 + 1
5 + 2 + ··· + n! é um valor aproximado de 5
e com
erro inferior a 10−6 . √
1 ec ( 15 )n+1 5
e 2 √
Ora para c ∈ [0, 5 ],
tem-se < n+1 < n+1 (porque 5 e < 2, uma vez que e < 25 ).
(n + 1)! 5 (n + 1)! 5 (n + 1)!
Basta então escolher n tal que 5n+1 (n+1)! 2
< 10−6 , ou seja, 5n+1 (n + 1)! > 2 × 106 , por exemplo n = 5 (porque
56 × 6! = (53 )2 × 720 > 1002 × 700 = 7000000).
( 1 )2 ( 1 )3 ( 1 )4 ( 1 )5 √
Conclui-se que 1 + 15 + 52 + 53! 54! + 55! é um valor aproximado de 5 e com erro inferior a 10−6 .
6. Determine todas as funções deriváveis de R em R que satisfazem a condição
Z 1
0
∀x ∈ R, f (x) = f (x) + f (t) dt
0

Z 1
0
Seja f tal que ∀x ∈ R, f (x) = f (x) + f (t) dt.
0
1
Então f 00 (x) = f 0 (x), (porque 0 f (t) dt é constante, não depende de x).
R

Conclui-se que existe c ∈ R tal que f 0 (x) = cex , ∀x ∈ R, logo existe k ∈ R tal que f (x) = cex + k, ∀x ∈ R.
Então Z 1 Z 1
t=1
cet + k dt = cet + kt t=0 = ce + k − c
 
f (t) dt =
0 0
e
1
c(e − 1)
Z
f 0 (x) = f (x) + f (t) dt ⇔ cex = cex + k + ce + k − c ⇔ c(e − 1) + 2k = 0 ⇔ k = −
0 2
As funções que satisfazem a condição são as funções R −→ R , c ∈ R.
x c(e−1)
x 7→ ce − 2

7. Dê um exemplo, ou mostre que não existe, de Z 1


a) uma sucessão de funções fn : [0, 1] −→ R+
0, contínuas, tais que lim fn (x) dx = 0 e, para todo o n ∈ N,
n→∞ 0
fn (0) > n.
Z 1
b) uma sucessão de funções fn : [0, 1] −→ R+
0, contínuas, tais que não se tenha lim fn (x) dx = 0 mas, para
n→∞ 0
qualquer x ∈ [0, 1], lim fn (x) = 0.
n→∞

(
1
n + 1 − (n + 1)3 x se x ≤ (n+1)2
a) Para cada n ∈ N, seja fn (x) = 1
0 se x ≥ (n+1)2
1 1
O gráfico de f é a reunião do segmentos de extremos (0, n+1) e ( (n+1)2 , 0) e do segmento de extremos ( (n+1)2 , 0)
Z 1
1 1 1
e (1, 0)); tem-se fn (x) dx = (n + 1) × 2
= (é a área de um triângulo rectângulo em que os
0 2 (n + 1) 2(n + 1)
Z 1
1
catetos têm comprimentos respectivamente n + 1 e (n+1)2 ), logo lim fn (x) dx = 0. Tem-se fn (0) = n + 1 > n.
n→∞ 0

1
 2n2 x se x ≤ 2n

1
b) Para cada n ∈ N, seja fn (x) = 2n − 2n2 x se 2n ≤ x ≤ n1
1
0 se x ≥ n

Z 1
1
Para qualquer n ∈ N, tem-se fn (x) dx = (trata-se da área de um triângulo de base n1 e altura n), portanto
Z 1 0 2
1 1
lim fn (x) dx = lim = 6= 0.
n→∞ 0 n→∞ 2 2
No entanto, para qualquer x ∈ [0, 1], limn→∞ fn (x) = 0 (basta notar que, para qualquer x ∈ [0, 1], se n > x1
tem-se fn (x) = 0).

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