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Análise Real I (M1017)

Exame de 19 de Abril de 2021

1. (4 valores) Considere a função


f :R → R
x 7→ f (x) = log (x2 + 2x + 2)

Indique, justicando:

(a) O ínmo do conjunto {x ∈ R : f (x) < log 2}.

Como a função logaritmo é estritamente crescente, tem-se


   
log (x2 + 2x + 2) < log 2 ⇔ x2 + 2x + 2 < 2 ⇔ x (x + 2) < 0 ⇔ x < 0 e x + 2 > 0 ou x > 0 e x + 2 < 0
⇔ ] − 2, 0[ ∪ ∅ = ] − 2, 0[.

Ou seja, {x ∈ R : f (x) < log 2} = ] − 2, 0[ e o ínmo deste conjunto é −2.

(b) A função derivada de f .

Para todo o x ∈ R, tem-se f 0 (x) = 2x+2


x2 +2x+2 .

(c) A imagem de f .

Comecemos por notar que x2 + 2x + 2 = (x + 1)2 + 1 > 1, dando-se a igualdade se e só se x = −1. E, portanto,
log (x2 + 2x + 2) = log [(x + 1)2 + 1] > log 1 = 0

sendo f (x) = 0 se e só se x = −1. Logo f tem mínimo global em R, atingido em x = −1. Daqui resulta que a imagem de
f está contida em [0, +∞[. Além disso, como o polinómio x2 + 2x + 2 tem grau par e o seu coeciente de maior grau é
positivo, temos
lim f (x) = lim f (x) = +∞.
x → −∞ x → +∞

Tendo em conta que a função f é contínua em R, do Teorema do Valor Intermédio concluímos que a imagem de f contém
todo o intervalo [0, +∞[. Consequentemente, a imagem de f é o intervalo [0, +∞[.

(d) Um esboço do gráco de f .

Juntar à informação já obtida sobre f : (i) Sinal de f 0 : é negativa em ] − ∞, −1[ (logo f é estritamente decrescente
neste intervalo); é positiva em ] − 1, +∞[ (logo f é estritamente crescente neste intervalo). (ii) Para todo o x ∈ R, tem-se
2 +2x+2)2 . (iii) Sinal de f : é negativa em ] − ∞, −2[ ∪ ]0, +∞[ (logo f é côncava em cada um destes intervalos); é
f 00 (x) = (x−2x (x+2) 00

positiva em ] − 2, 0[ (logo f é convexa neste intervalo). (iv) E f não tem assímptotas porque é contínua e se tem
f (x) f (x)
lim = lim = 0 e lim f (x) = lim f (x) = +∞.
x → −∞ x x → +∞ x x → −∞ x → +∞
2. (2 valores) Calcule, justicando:

b n2 c
(a) lim , sendo bxc o maior inteiro menor ou igual a x.
n → +∞ n
n∈N

Por denição, temos para cada natural n


n n n
b c 6 < b c + 1.
2 2 2
Logo
n n n
−1 < b c 6 .
2 2 2
E, portanto, para cada natural n,
n
2 −1 bnc n
< 2 6 2.
n n n
Note-se agora que
n n
2 −1 2 1
lim = lim = .
n → +∞ n n → +∞ n 2
Por enquadramento de sucessões, concluímos que
b n2 c 1
lim = .
n → +∞ n 2

 
1 1 sen 1
x2
1
(b) lim x sen 2 = lim x sen 2 = lim   . = 1 . 0 = 0.
x → +∞ x x → +∞ x x → +∞ 1 x
x2
x∈R

3. (2 valores) Seja f : R → R uma função com derivadas de todas as ordens e tal que
f (1) = 4, f (2) = 6, f (3) = 8.

Verique que f 00 se anula em ]1, 3[.

Pelo Teorema de Lagrange aplicado a f no intervalo [1, 2], existe c1 ∈ ]1, 2[ tal que
f (2) − f (1) 6−4
f 0 (c1 ) = = = 2.
2−1 1
Analogamente, pelo Teorema de Lagrange aplicado a f no intervalo [2, 3], existe c2 ∈ ]2, 3[ tal que
f (3) − f (2) 8−6
f 0 (c2 ) = = = 2.
3−2 1
Então, pelo Teorema de Rolle aplicado a f 0 no intervalo [1, 3], existe d ∈ ]1, 3[ tal que
f 00 (d) = 0.
4. (3 valores)
(a) Dê exemplo de uma função f : R → R tal que |f | seja derivável em 0 mas f não tenha derivada em 0.

Seja f : R → R dada por f (x) = 1 se x > 0 e f (x) = −1 se x < 0.

Então |f | é a função constante e igual a 1, logo derivável em 0; mas f não é sequer contínua em 0 (e, portanto, f não
tem derivada em 0).

(b) Seja f : R → R uma função tal que |f | é derivável num ponto a e f é contínua em a. Conclua que f é derivável em a.

Se f (a) > 0, como f é contínua em a existe um intervalo centrado em a onde f mantém o sinal positivo. Logo, nesse
intervalo, |f | = f e
f (x) − f (a) |f (x)| − |f (a)|
f 0 (a) = lim = lim = |f |0 (a).
x→a x−a x → a x−a
Se f (a) < 0, como f é contínua em a existe um intervalo centrado em a onde f mantém o sinal negativo. Logo, nesse
intervalo, |f | = −f e
f (x) − f (a) −|f (x)| + |f (a)|
f 0 (a) = lim = lim = (−|f |)0 (a).
x→a x−a x → a x−a
Se f (a) = 0, então |f |(a) = 0 e, como |f | > 0, a função |f | atinge em a um mínimo global no seu domínio R. Como |f | é
derivável em a e a é interior ao intervalo R, sabemos que |f |0 (a) = 0. Ou seja,
|f (x)| f (x)
0 = lim+ = lim

x−a x → a+ x − a

x→a

o que implica que


f (x)
lim+ = 0;
x→a x−a
e, analogamente,
|f (x)| f (x)
0 = lim− = − lim−

x−a x−a

x→a x→a

o que implica que


f (x)
lim = 0.
x → a− x−a
Logo f é derivável em a, uma vez que
f (x) − f (a) f (x)
lim = lim = 0.
x→a x−a x→a x − a

5. (1.5 valores) Determine todas as funções f : R → R tais que f (x) = ax2 + bx + c para constantes reais a, b e c
e cujo polinómio de Taylor de ordem 1 em 0 é 2x + 1.

O polinómio de Taylor de ordem 1 em 0 de f é dado por


P1,f,0 (x) = f (0) + f 0 (0) x

e, por hipótese, é igual a 2x + 1. Então devemos ter


∀x ∈ R f (0) + f 0 (0) x = 1 + 2x.

Em particular, desta igualdade para x = 0 obtemos f (0) = 1; e quando x = 1, obtemos f 0 (0) = 2. Como, por hipótese,
f (x) = ax2 + bx + c, concluímos que
f (0) = c = 1 e f 0 (0) = b = 2.
Consequentemente, f (x) = ax2 + 2x + 1 para um valor de a qualquer em R.
6. (3 valores) Calcule uma primitiva:
sen (x) cos (x)
Z
(a) p dx
1 + cos2 (x)

Seja f (x) = 1 + cos2 (x). Então f 0 (x) = −2 sen (x) cos (x) e

sen (x) cos (x)


Z Z 1
1 1 1 [f (x)] 2 1 p
p dx = − [f (x)]− 2 f 0 (x) dx = − 1 = −[f (x)] 2 = − 1 + cos2 (x).
1 + cos2 (x) 2 2 2

4x − 1
Z
(b) dx
2x + 1

4x − 1 ex log 2 2x
Z Z   Z  
dx = 2x − 1 dx = ex log 2 − 1 dx = −x = − x.
2x + 1 log 2 log 2

Z p 
(c) log 1 + x2 dx

Z Z  Z  x   2x 
p  1   x 
log 1 + x2 dx = log 1 + x2 dx = log 1 + x2 − dx
2 2 2 1 + x2

x 
2
 Z x2
= log 1 + x − dx
2 1 + x2
x2 + 1 − 1
Z
x  
= log 1 + x2 − dx
2 1 + x2
x   Z Z
1
2
= log 1 + x − 1 dx + dx
2 1 + x2
x  
= log 1 + x2 − x + arctg (x).
2
7. (4.5 valores) Verique se convergem:
+∞
(−2)n + arctg (n)
(a)
X

n=1
5n

+∞ +∞ 
(−2)n 2 n
A série é geométrica de razão − 25 , cujo módulo é estritamente menor do que 1. Logo converge
X X
= −
n=1
5n n=1
5
+∞
arctg (n)
(até converge absolutamente). A série tem termo geral que verica
X

n=1
5n

arctg (n) π
2
∀n ∈ N 0 < < .
5n 5n
+∞ +∞
1 1
Além disso, a série geométrica converge, e portanto a série também converge. Pelo critério de comparação,
X X
π
5n 2 5n
n=1 n=1
+∞
arctg (n)
a série inicial é convergente. Consequentemente, a série dada (soma das duas anteriores) converge.
X

n=1
5n

+∞
1
(b)
X

n=1
n + sen (n)

Para todo o natural n, temos −1 6 sen (n) 6 1, e portanto n − 1 6 n + sen (n) 6 n + 1. Daqui resulta que
∀ n ∈ N \ {1} 0 < n + sen (n).

Além disso,
1
n+sen (n) n 1
lim = lim = lim = 1
n → +∞ 1
n
n → +∞ n + sen (n) n → +∞ 1+ sen (n)
n
uma vez que
sen (n)

0 6 6 1.
n n
+∞
1
Como a série diverge, pelo critério de comparação a série dada também é divergente.
X

n=1
n

Z +∞
2
(c) e−x dx
0

Z +∞ Z 1 Z +∞
2 2 2
Comecemos por notar que e−x dx = e−x dx + e−x dx. Destas duas parcelas só a segunda é um integral
0 0 1
generalizado.Z De facto, a função x ∈ [0, 1] 7→ e−x é contínua, logo limitada neste intervalo. Resta-nos vericar a convergência
2

+∞
2
do integral e−x dx, que é generalizado porque denido num intervalo não limitado (onde a função x > 1 7→ e−x é
2

1
limitada). No intervalo [1, +∞[, temos x2 > x, uma vez que, se x > 1, a diferença x2 − x = x (x − 1) é o produto de dois
números reais não-negativos. Então, −x2 6 −x e, como a função exponencial é crescente, e−x 6 e−x . Sendo a função
2

x ∈ [1, +∞[ 7→ e−x positiva, da desigualdade anterior concluímos que


2

Z +∞ Z +∞
−x2
e dx 6 e−x dx.
1 1

Além disso, Z +∞ Z t  
 −x t 1 1
e−x dx = lim e−x dx = lim −e 1
= lim −e−t + = .
1 t → +∞ 1 t → +∞ t → +∞ e e
Z +∞
2
Logo, por comparação, o integral e−x dx converge.
1
(f + g) 0 = f 0 +g0

(f g) 0 = f 0g +f g0

 0
f f 0g −f g0
=
g g2

(f ◦ g) 0 = f 0 (g) g 0

Z Z
f0g = fg− f g0

Z b Z g(b)
f (g(x)) g 0 (x) dx = f (t) dt
a g(a)

f r+1
Z
fr f0 = +c se r 6= −1
r+1
f0
Z
= log |f | + c
f
Z
ex dx = ex + c
Z
sen (x) dx = − cos (x) + c
Z
cos (x) dx = sen (x) + c
Z
1
dx = tg (x) + c
cos2 (x)
Z
sec (x) tg (x) dx = sec (x) + c
Z
1 x
√ dx = arcsen +c se a 6= 0
a2 − x2 a
Z
1 1 1 
dx = arctg (x + b) + c se a 6= 0
a2 + (x + b)2 a a
Z
log sec (x) + tg (x) + c

sec (x) dx =

sen2 (x) + cos2 (x) = 1

1 + tg2 (x) = sec2 (x)

sen(x + y) = sen(x) cos(y) + sen(y) cos(x)

cos(x + y) = cos(x) cos(y) − sen(x) sen(y)

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