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Perfil dos usuários do ambulatório de dermatologia

antroposófica - HU-UFJF, Juiz de Fora - MG


Maria do Carmo Conte Vale *
Aloísio Carlos Couri Gamonal **
Patrícia dos Reis Cividini**
Fernanda Castro Barros**

Resumo
Este trabalho busca demonstrar o perfil do usuário da Medicina Antroposófica (MA) no Ambulatório de
Dermatologia do Hospital Universitário – Centro de Atenção à Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora
(HU-UFJF), assim como avaliar sua aceitação pela comunidade. O ambulatório surgiu dentro de uma visão
mais abrangente da Medicina, em conformidade com a Organização Mundial de Saúde, que vem estimulando
o uso da Medicina Tradicional e Complementar/Alternativa nos Sistemas de Saúde de forma integrada às
técnicas modernas da medicina ocidental; e visa difundir a prática Médica Antroposófica em Juiz de Fora de-
monstrando sua eficácia e qualidade. Para tal feito, foi realizado um estudo retrospectivo, quali-quantitativo,
através da coleta de dados, a partir de prontuários de 2008 e 2009 do HU/CAS-UFJF, seguida da análise
das informações. O resultado demonstrou que a MA foi eficaz em mais de 75% dos tratamentos propostos,
com média de cura/melhora completa em 40% dos casos analisados. Discute-se então, sobre os resultados
encontrados e percebe-se que têm semelhanças com os da literatura em relação à frequência das doenças
dermatológicas. As conclusões são positivas e contribuem para a legitimidade da Medicina Antroposófica.
Palavras-chave: Medicina. Terapias complementares. Antroposofia. Dermatologia.

1 Introdução
Na Medicina Antroposófica o “paciente” se torna e o crescimento interno ou enriquecimento psicológi-
o “agente” do seu processo de cura ao utilizar dos co (VALE, 2002).
métodos, já que mostra a sua participação ativa no tra- O médico que pratica a Medicina Antroposófica
tamento (VALE, 2002). Paralelamente, os médicos e sempre é um médico formado por uma faculdade
os terapeutas, envolvidos em tal processo, participam
oficialmente reconhecida, com especialização em
da ampliação da “arte de curar” pretendida pela MA,
Medicina Antroposófica. Ele tem o compromisso
que procura resgatar um entendimento do paciente
com a vida e a saúde do paciente e usa a antropo-
em seu contexto de vida. Isso vem contrastando com
o pequeno grau de humanização existente atualmente sofia para ampliar seu conhecimento e suas medidas
em muitos ambientes médicos (VIEIRA, 1993). de tratamento. O médico antroposófico, porém, não
A aplicação dos conhecimentos adquiridos por pratica uma terapêutica “alternativa” à habitual, mas
meio dos estudos antroposóficos na área da Medicina sim àquela que, dentro do seu aprofundamento em
é útil não só para a cura de doenças, mas também para medicina, é o melhor caminho terapêutico para cada
melhorar a qualidade de vida do paciente, tornando- paciente, o que em determinados casos, como em
-se possível falar em um alargamento de horizontes, situações de emergência, poderá ser idêntico ao da
aprofundamento, ampliação da consciência de vigília medicina convencional (VIEIRA, 1993).

*  Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Saúde (PPgS/UFJF) – Juiz de Fora, MG. draduca@
hotmail.com
** Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Medicina, Departamento de Clínica Médica – Dermatologia – Juiz de Fora, MG

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1.1 Medicina antroposófica na política de diferentes abordagens configuram, assim, prioridade
de saúde do Ministério da Saúde, tornando disponíveis opções
A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem preventivas e terapêuticas aos usuários do SUS e, por
estimulando o uso da Medicina Tradicional e Comple- conseguinte, aumentando o seu acesso (BRASIL, 2006c).
mentar/Alternativa nos sistemas de saúde de forma A Portaria nº 853, de 17 de novembro de 2006
integrada às técnicas modernas da medicina ocidental, (BRASIL, 2006a) considerou a necessidade de identificar
onde em seu documento “Estratégia da OMS sobre integralmente os procedimentos da Política Nacional
Medicina Tradicional 2002-2005” preconiza o desen- de Práticas Integrativas e Complementares do SUS
volvimento de políticas, observando os requisitos de (PNPIC) relativos à Medicina Tradicional Chinesa: acu-
segurança, de eficácia, de qualidade, de uso racional e de puntura, homeopatia, fitoterapia e práticas corporais nos
acesso. A Medicina Antroposófica (MA) apresenta-se Sistemas Nacionais de Informação em Saúde.  Resolveu,
como abordagem médico-terapêutica complementar, de então, incluir na Tabela de Serviços/Classificações do
base vitalista, cujo modelo de atenção está organizado Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
de maneira transdisciplinar, buscando a integralidade do Saúde (SCNES) de Informações do SUS, o serviço de
cuidado em saúde (BRASIL, 2006c). código 068 – Práticas Integrativas e Complementares
O campo das Práticas Integrativas e Complementares (BRASIL, 2006a).
(PIC) contempla sistemas médicos complexos e recursos A Medicina Antroposófica integra o seguro-saúde e
terapêuticos, os quais são também denominados pela a previdência de mais de 60 países, principalmente na
OMS de Medicina Tradicional e Complementar/Alter- Europa Central, onde surgiu em 1920 e desde então
nativa (MT/MCA), conforme Organização Mundial da vem crescendo e mostrando sua importância (VIEIRA,
Saúde (2002) (BRASIL, 2006b). 1993). Um exemplo é na Alemanha, onde existem nove
No final da década de 70, a OMS criou o Programa grandes hospitais antroposóficos, todos reconhecidos
de Medicina Tradicional, objetivando a formulação de pelo governo e fazendo parte do seguro-saúde (Versi-
políticas na área. Desde então, em vários comunicados cherung) e do sistema previdenciário, somando, em 1993
e resoluções, a OMS expressa o seu compromisso em mais de 1.200 leitos e mais de 35.000 internações por ano
incentivar os Estados-membros a formularem e imple- (VIEIRA,1993).
mentarem políticas públicas para o uso racional e inte- Em Juiz de Fora (MG) existem clínicas e instituições
grado da MT/MCA nos sistemas nacionais de atenção antroposóficas privadas e ambulatório vinculado ao
à saúde, bem como para o desenvolvimento de estudos SUS, como o de Dermatologia Antroposófica do HU.
científicos para melhor conhecimento de sua segurança, Em Belo Horizonte (MG), a Medicina Antroposófica
eficácia e qualidade. O documento “Estratégia da OMS está inserida no SUS, sendo praticada em postos de saú-
sobre Medicina Tradicional 2002-2005” reafirma o de- de da rede pública. Além disso, segundo a Coordenação
senvolvimento desses princípios (BRASIL, 2006b). de Terapêuticas não Convencionais, a Política Estadual
No Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas de Práticas Integrativas e Complementares no SUS foi
abordagens na atenção à saúde iniciaram a partir da aprovada pela Comissão Intergestores Bipartite - CIB
década de 80, principalmente após a criação do Sistema (BRASIL, 2009).
Único de Saúde (SUS). Com a descentralização e a par- Todos esses sistemas e recursos envolvem aborda-
ticipação popular, os Estados e os Municípios ganharam gens que buscam estimular os mecanismos naturais de
maior autonomia na definição de suas políticas e ações prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio
em saúde, vindo a implantar experiências pioneiras de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta
(BRASIL, 2006b). acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico
Considerando-se o estágio de implantação destas e na integração do ser humano com o meio ambiente e a
experiências no SUS, foi aceita a proposta de implantar, sociedade. Outros pontos compartilhados pelas diversas
no âmbito do Ministério da Saúde, o Observatório de abordagens nesse campo fazem parte da visão ampliada
Medicina Antroposófica com o objetivo de aprofundar do processo saúde-doença e a promoção global do cui-
os conhecimentos sobre as práticas terapêuticas e o seu dado humano, especialmente do auto-cuidado (BRASIL,
impacto na saúde (BRASIL, 2006c). 2006b).
Sabe-se também que a Medicina Antroposófica é Estas expectativas embasaram e encorajaram os au-
um sistema médico complexo, de abordagem integral e tores a prosseguir em sua documentação científica e na
dinâmica do processo saúde-doença, que oferece possi- comprovação de resultados, justificando este trabalho.
bilidades para a ampliação da atenção à saúde por meio Dessa forma, o estudo visou identificar a frequência
de técnicas, recursos e abordagens de baixa complexi- das doenças dermatológicas dos pacientes atendidos no
dade tecnológica. Pondera-se ainda que a melhoria dos ambulatório de Dermatologia Antroposófica do Hos-
serviços, o aumento da resolutividade e o incremento pital Universitário – Centro de Atenção à Saúde da

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Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) e as 3 Resultados e discussão
respostas aos tratamentos propostos, a partir da análi-
se dos seus prontuários. Assim, pode-se então ajudar Rudolf Steiner (1861-1925) e Ita Wegman (1876-
na comprovação da eficácia e qualidade da Medicina 1943) - tradução1996 - apontaram o significado
Antroposófica na área da dermatologia. antroposófico de diagnosticar: estabelecer o “sentido
das ações patológicas”. Logo, o processo preliminar
2 Material e métodos pode estar na parte externa do corpo - “causa”, e o
processo secundário pode estar interiormente - “efei-
Realizou-se um estudo retrospectivo, quali-quanti- to” (JACHENS, 2005) - ou vice-versa. Deste modo,
tativo, através da coleta de dados feita no período de a Medicina Antroposófica muda o paradigma atual
junho a dezembro de 2009, a partir de prontuários do utilizado pela medicina convencional ao utilizar uma
HU-UFJF, seguida da análise dos dados. Esta pesqui- imagem ampliada do ser humano, em seu contexto
sa foi feita por acadêmicas da faculdade de Medicina físico, emocional e psico-social, com todos os seus
da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF que atributos anímico-espirituais. Enquanto a Medicina
acompanhavam o Ambulatório de Dermatologia Convencional Acadêmica, na maioria das vezes, se baseia
Antroposófica e pela médica responsável pelos aten- em conceito fragmentário e reducionista do ser humano
dimentos no ambulatório. (especialidades), a orientação antroposófica da medicina
O instrumento de pesquisa e campo de estudo foi se mostra como instrumento para que os profissionais
o próprio prontuário eletrônico digitado no programa de saúde exercitem-se sempre no sentido de formar uma
de computador ClinicX, usado no HU-UFJF. O pron- imagem global e única de seus pacientes, ou seja, que
tuário eletrônico de estudo é preenchido com nome, desenvolvam um pensamento totalizante: ver o homem-
número, data de nascimento, idade, sexo, raça, estado -paciente como um “Todo Vivo” (MORAES, 2005).
civil, profissão, endereço e nome da mãe, pelo fun- Através da Medicina Antroposófica, essas conexões
cionário da recepção do HU-UFJF, na primeira vez ficam claras e a eficácia deste tipo de tratamento pode se
que o paciente utiliza os serviços do Hospital. Nos revelar, inclusive, com um menor custo em longo prazo.
prontuários, a cada atendimento médico, são escritas Assim, pode-se mostrar que os chamados “ganhos se-
a anamnese, outras queixas isoladas, histórias de pato- cundários” são de grande relevância para o paciente, pois
logias pregressas, fisiológica, familiar e social, que, na ao se atuar na “parte”, a medicina antroposófica atinge
maioria das vezes, possibilita chegar a um diagnóstico “o todo”, melhorando a sua qualidade de sono e propor-
desde a primeira consulta. cionando maior autoconfiança, tranquilidade emocional
A população-alvo dessa investigação é de aproxi- e maior grau de atenção no estado de vigília, ou seja, uma
madamente 474 prontuários de pacientes já atendidos melhor qualidade de vida, reduzindo bastante as idas ao
entre janeiro de 2008 a dezembro de 2009 no Ambula- médico ou ao hospital.
tório de Dermatologia Antroposófica, que funciona às Por outro lado, sempre haverá doenças de origem
terças-feiras a partir das 15:00 horas e às quartas-feiras mista: sobre uma base de estresse prolongado, em uma
a partir das 9:00 horas, em uma sala/consultório do pessoa jovem, que naturalmente apresenta um pool de
primeiro andar do hospital. Foi fator de exclusão no forças metabólicas – vitalizantes – enorme, pode se ins-
estudo, ausência de digitação do prontuário no sistema, talar, por exemplo, um extenso processo de acne (VALE,
o que ocorreu em alguns dias de manutenção do siste- 2002).
ma de rede. Compreendendo-se cada processo em sua natureza
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em “trimembrada”, os passos indicados para o tratamento
Pesquisa – CEP-HU-UFJF através do Parecer nº vão se adequando ao que o paciente vai conseguindo
0117/2009. Como se trabalhou com arquivos de dados “resolver emocionalmente” (VALE, 2002).
de consultas realizadas por livre demanda dos pacientes Nesse estudo, os autores demonstram alguns dos
(prontuários eletrônicos), tornou-se desnecessário o resultados obtidos nos atendimentos da Dermatologia
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), Antroposófica no HU/ UFJF. Durante 2009, os aten-
segundo as normas estabelecidas pela Comissão Nacio- dimentos ocorreram em três turnos, às terças-feiras de
nal de Ética em Pesquisa – CONEP. 15 às 19hs e às quartas-feiras de 9 às 13hs, pela médica-
Na análise estatística, os dados foram digitados, -autora; às 4ª feiras das 15 às 19 h. pelo médico-autor,
analisados e tabulados no programa Microsoft Office totalizando 960 horas de trabalho. Em 2008, apenas a
Excel 2003 em computador particular dos pesquisa- médica estava atendendo.
dores. Foram realizados cálculos de prevalência das Foram feitos aproximadamente 1.000 atendimentos
doenças diagnosticadas no ambulatório e dos resulta- neste período e observou-se que cada paciente retorna-
dos do tratamento com a Medicina Antroposófica das va ao ambulatório, em média, de dois em dois meses,
doenças de pele, separados em três períodos (2008, seguindo a orientação médica, mas os pacientes novos
primeiro semestre de 2009 e segundo semestre de (comparecimento apenas à primeira consulta) eram
2009). numerosos. Constatou-se ainda, por averiguações in-

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formais, que os pacientes que não retornavam, tinham D4/ Stibium D8/ Bétula córtex D5/ Silicea D12/
dificuldade de custear a medicação e/ou pagar as idas Echinacea D3. Pode-se compreender a atuação de cada
ao hospital, ou melhoravam rapidamente, não vendo medicamento separadamente, quando se estuda as bases
motivo para voltar à segunda consulta (maioria) ou, pelo terapêuticas medicamentosas da Medicina Antroposófi-
contrário, não notavam resultado com o tratamento ca, mas o que se busca nessa combinação de substâncias,
(minoria) ou nem chegavam a iniciá-lo. é uma sinergia dessas atuações.
Dentre os recursos terapêuticos da Medicina An- O estudo dos prontuários impressos ou digitados no
troposófica, destacam-se: a utilização de técnicas de software do hospital foi feito e abaixo são apresentados
psicanálise, de terapia ocupacional (escultura, pintura), alguns dos resultados do Ambulatório de Dermatologia
de relaxamento, como aplicações externas (banhos e  Antroposófica de 2008 e 2009.
compressas), massagens, movimentos rítmicos,  terapia No ano de 2008, do total de fichas impressas, 180
artística, além do uso de medicamentos feitos a partir (40% dos atendimentos médicos realizados de julho a
da natureza, tais como: fitoterápicos e medicamentos dezembro/2008), foram encontradas as doenças mos-
diluídos e dinamizados (BRASIL, 2006c). A Agência tradas no Gráfico 1, classificadas segundo sua ocorrência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Conse- e frequência.
lho Federal de Farmácia (CFF) reconhecem o remédio No primeiro semestre de 2009, foram avaliados 128
antroposófico (BRASIL, 2007). prontuários, sendo que alguns pacientes apresentaram
Como parte importante da terapia, os medicamentos mais de uma doença dermatológica, enquanto outros
antroposóficos têm seu próprio processo farmacêutico, apenas uma queixa inespecífica. Dessa forma, foram
sendo produzidos e orientados pelos conceitos da feitos 150 diagnósticos distribuídos entre 37 afecções de
Antroposofia ao aplicar as qualidades das substâncias pele e fâneros, em proporções descritas no Gráfico 2.
minerais, vegetais e animais, em quantidades específicas, No segundo semestre de 2009, dos 166 pacientes, 80
processadas nas farmácias próprias através de diluição, (48,2%) tiveram apenas a 1ª consulta e os demais retor-
maceração, percolação, destilação, fermentação, dina- naram de duas a 20 vezes, dependendo da doença e da
mização, dentre outras formas (VIEIRA, 1993). Esse terapia utilizada (Gráfico 3).
é o tipo de medicamento utilizado no tratamento dos A categoria “outros” incluiu várias dermatoses, tais
pacientes, sendo que as formulações são individualizadas como: exantemas, hipersensibilidade, lesões cicatriciais,
para cada paciente. Apesar disso, quase todas contém hiperidrose, tinha corporis, eritemas inespecíficos,
uma formulação ideal para a pele, do protocolo que está onicoréxis, rágades, erupções, herpes simples, ceratose
sendo montado no serviço: Calendula D5/ Fórmica palmar/plantar, pênfigo etc.
Gráfico 1 - Perfil dos usuários do Ambulatório de Dermatologia Antroposófica - HU/CAS- UFJF, Juiz de Fora- MG-2008

Fonte - Os autores (2010).


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Gráfico 2 - Perfil dos usuários do Ambulatório de Dermatologia Antroposófica - HU- UFJF, Juiz de Fora - MG- 1º semestre de 2009

Fonte - Os autores (2010).

Gráfico 3 - Perfil dos usuários do Ambulatório de Dermatologia Antroposófica - HU- UFJF, Juiz de Fora-MG- 2º semestre de 2009

Fonte - Os autores (2010).

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Os diagnósticos mais frequentes em 2008 e -cancerosas representando em média 11%; cerca de
2009 foram: 19,85% de dermatites (atópica, sebor- 9% do total de pacientes apresentou onicomicose e
réica ou de contato); lesões actínicas, senis e pré- também 9% acne vulgar (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Perfil dos usuários do Ambulatório de Dermatologia Antroposófica - HU- UFJF, Juiz de Fora-MG- 2008 e 2009

Fonte - Os autores (2010).

Apesar do número baixo de estudos publicados maior prevalência de infecções da pele, diferente
na literatura sobre prevalência das dermatoses em do presente estudo. Notou-se maior prevalência de
ambulatório, podem ser feitas algumas compara- acne entre os adolescentes, o que vai ao encontro
ções. Alves, Nunes e Ramos (2007) encontraram da literatura (AZULAY; AZULAY, 2004; HABIF,
no Ambulatório de Dermatologia/UNISUL, entre 2002; PRADO; RAMOS; VALLE, 2005; SAM-
2003 e 2005, praticamente as mesmas dermatoses, PAIO; RIVITTI, 1998). É fato que as lesões actí-
em ordem de frequência, observados pelos auto- nicas, senis e de pré-CA têm como fator de risco a
res do estudo, tais como: dermatites (19,85% e exposição solar prolongada, gradual, cumulativa e
19,33%, respectivamente) e lesões actínicas/senis/ sem proteção, o que explica a maior prevalência nas
pré-CA (10,95% e 11,87%). No entanto, foi encon- pessoas acima de 60 anos (AZULAY; AZULAY,
2004; HABIF, 2002; SAMPAIO; RIVITTI, 1998;
trada maior frequência de acne (8,99% X 6,88%)
VIVIER, 1997).
e de onicomicose (9,15% X 3,28%) em relação ao Os resultados alcançados após o tratamento,
estudo de Alves e outros, e menor frequência no do ponto de vista dos ganhos para o paciente,
número de casos de psoríase (6,21% X 11,72%). podem ser observados nos Gráficos 5, 6 e 7, que
No estudo de Fischer, Bergert e Marsch (2004) demonstram o grau de satisfação dos pacientes e de
sobre diagnóstico dermatológico, foi encontrada melhora das doenças apresentadas.

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Gráfico 5 - Porcentagem de melhora dos pacientes no ano de 2008

Fonte - Os autores (2010).

Gráfico 6 - Porcentagem de melhora dos pacientes no 1º semestre de 2009

Fonte - Os autores (2010).

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Gráfico 7 - Porcentagem de melhora dos pacientes no 2º semestre de 2009

Fonte - Os autores (2010).


Como demonstrado nos gráficos, pode-se inferir 4 Conclusão
que houve boa aceitação e satisfação dos pacientes em
relação à melhora da doença apresentada e do atendi- A resposta positiva ao tratamento com o uso da Me-
mento médico recebido, que poderia apresentar dados dicina Antroposófica demonstrou que pode contribuir
ainda mais contundentes se não fosse a dificuldade de os para o aumento da resolutividade do Sistema Público
pacientes conseguirem as medicações, devido ao pouco de Saúde e estimular o acesso às Práticas Integrativas e
número de farmácias Antroposóficas e a necessidade Complementares (PIC). Além disso, colaborou para a
de importação de alguns medicamentos, elevando o legitimidade e a credibilidade das PIC no SUS, que visam
seu custo. A quase ausência de artigos e publicações a à prevenção de agravos e da promoção e recuperação
respeito dessa nova Racionalidade Médica motivou os da saúde, voltadas principalmente para a atenção básica,
autores a escreverem esse artigo para publicação, assim em seu cuidado continuado, humanizado e integral em
podendo divulgar os resultados desses atendimentos saúde.
para incentivo a novas pesquisas e investimentos na área
da Medicina Antroposófica.
The patient’s Profile of the Anthroposophic Dermatology Service - HU -UFJF Juiz de Fora – MG
Abstract
This paper seeks to demonstrate the patients’ profile of the Anthroposophical Medicine (AM) in the Dermatology
Clinic of the Hospital Undergraduate / Secondary Service Center, Federal University of Juiz de Fora - MG (HU /
-UFJF) as well as evaluate its acceptance by the community.
This Clinic of AM emerged within a more comprehensive vision of medicine in accordance with the World Health
Organization which has encouraged the use of Traditional Medicine and Complementary / Alternative Systems in
an integrated manner with the modern Western medicine techniques, and aims to spread the Anthroposophical
Medicine experience in Juiz de Fora and demonstrate its effectiveness and quality.
For this, it was performed a retrospective study and quali-quantitative data collection made in the period of June-
December 2009 from medical files of the HU - UFJF, followed by analysis of the collected data.
The findings were that the AM was effective in more than 75% of the proposed treatments, with healing /
improvement average of 100% in 40% of cases. It is argued then about the results and perceives that has similarities with
the literature in relation to frequency. The conclusions are positive and contribute to the legitimacy of Medicine Antroposófica.
Keywords: Medicine. Complementary therapies. Anthroposophy. Dermatology.
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Enviado em 23/7/2010
Aprovado em 15/2/2011

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