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GROSSO
CUIABÁ
2017
MICHELLY NASCIMENTO BARRETO MEDEIROS
CUIABÁ
2017
4
____________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Jussara Suzi Assis Borges Nasser Ferreira
FESMP-MT
_______________________________________
Diretor Geral: Professor Mestre Joelson de Campos Maciel
FESMP-MT
Data de aprovação ____/____/______
MEDEIROS, MICHELLY NASCIMENTO BARRETO. A ANÁLISE ECONÔMICA DO
DIREITO NO BRASIL E SUA ADOÇÃO COMO FUNDAMENTO NAS DECISÕES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 2017. Nº 47f. Monografia Especialização em
Direito Constitucional e Administrativo – Fundação Escola Superior do Ministério
Público de Mato Grosso e Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio
Grande do Sul.
RESUMO
A necessidade de interpretação das normas jurídicas e a medição de seus efeitos de
forma interdisciplinar está cada vez mais evidente. A complexidade das relações
sociais e o envolvimento de questões no âmbito de direito, que vão muito além da
esfera jurídica, são inegáveis. Reconhecer e encarar a realidade dos dias atuais torna-
se necessário. Afinal, todos os atos e fatos jurídicos produzem efeitos significativos
em outras esferas da sociedade - não raro e frequentemente – as decisões judiciais
não só produzem efeitos, de imediato, econômicos, seja nas finanças do Estado ou
mesmo no âmbito privado, mas também possuem padrões de efetividade e
assertividade que podem ser medidos e ponderados numericamente. Esses
resultados não podem ser ignorados pelo direito. É nesse sentido que a utilização de
parâmetros e instrumentais econômicos apresenta-se como possibilidade viável e
basilar ao Direito, não servindo apenas para medir os resultados econômicos e
financeiros das decisões judiciais, embora sejam igualmente relevantes; porém, seu
escopo consequencialista possibilita avaliar toda e qualquer realidade, a fim de se
obter o melhor resultado possível para às demandas do direito.
ABSTRACT
The need for interpretation of legal norms and the measurement of their effects in an
interdisciplinary way is increasingly evident. The complexity of social relations and the
involvement of legal issues, which go far beyond the legal sphere, are undeniable.
Recognizing and facing the reality of the present day becomes necessary. After all, all
legal acts and facts produce significant effects in other spheres of society - often and
often - judicial decisions not only produce immediate economic effects, either in state
finances or privately, but also have patterns of effectiveness and assertiveness that
can be measured and weighted numerically. These results can not be ignored by law.
It is in this sense that the use of economic parameters and instrumentalities presents
itself as a viable and basic possibility to the Law, not only serving to measure the
economic and financial results of judicial decisions, although they are equally relevant;
but its consequentialist scope makes it possible to evaluate every reality in order to
obtain the best possible result for the demands of the law.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................8
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 42
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 45
8
INTRODUÇÃO
1
MARSHAL, Alfred. apud ALBUQUERQUE, Marcos C. C. Introdução à Teoria Econômica. São
Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1974. Pag. 1
2
PAIVA, Carlos Á. N; Cunha, André M. Noções de economia. Brasília: Fundação Alexandre de
Gusmão, 2008. Pag. 15
3
VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, E. M. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2008.
Pag. 10
12
4
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. Tatuapé: editora brasiliense s.a. Pág. 10 – 11.
13
5
MONTALVÃO, Bernardo. Resolução nº 75 do CNJ: descomplicando a Filosofia do Direito. Salvador:
Ed. JusPodivm, 2016 Pag. 18
6
CUNHA, Paulo Ferreira da. Filosofia Jurídica Prática. Belo Horizonte: Ed. Fórum, 2009. Pág. 61
7
SIQUEIRA JR, Paulo Hamilton. Teoria do Direito. São Paulo: Saraiva, 2009. Pág. 335
14
8
ARISTÓTELES. A Ética a Nicômano. Trad. De Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova
Cultural, 1991. Pag. 98-99.
9
MONTALVÃO, Bernardo. Resolução nº 75 do CNJ: descomplicando a Filosofia do Direito. Salvador:
Ed. JusPodivm, 2016 Pag. 19
15
Nas palavras de Fábio Nusdeo, Direito e Economia são “um todo indiviso, uma
espécie de verso e reverso da mesma moeda, sendo difícil até que ponto o Direito
determina a Economia, ou, pelo contrário, esta influi sobre aquele”11 É importante
ressaltar que, embora evidente a necessidade de estudo em conjunto, a proposta
pode ser um tanto quanto perigosa. Incorrer no erro de considerar os preceitos
econômicos de forma absoluta ao Direito é demasiadamente prejudicial, da mesma
forma que rejeitar a relevância da economia para a Ciência Jurídica e seu arcabouço
é nocivo à própria justiça, conforme salienta Ejan Mackaay e Stéphane Rousseau,
“reconhecer o perigo de recorrer às ciências sociais não quer dizer renunciar a elas”. 12
Diante dos impasses e percalços que o estudo conjunto entre Direito e
Economia enfrenta, o maior deles está na ideia reducionista de justiça à eficiência.
Não há como sustentar uma ideia de Direito que se resume a eficiência. Considerá-lo
assim seria demasiadamente prejudicial à sociedade. Não é possível reduzir justiça a
eficiência, nesse sentido, podem haver normas, políticas públicas e decisões
10
MORETTINI, Felipe Tadeu Ribeiro; GONÇALVES, Oksandro Osvidal. Análise econômica do controle
judicial dos contratos de concessão e sua importância para o desenvolvimento. Revista de Informação
Legislativa. Brasília, ano 51, nº 203. Jul/Set. 2014 Disponível em: <
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/507400/RIL203.pdf?sequence=1#page=74 >
acesso em 8 Set. 2017.
11
NUSDEO, Fábio. Curso de economia: introdução ao direito econômico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. Pag. 30
12
MACKAAY, Ejan; ROUSSEAU, Stéphane Rousseau. Análise Econômica do Direito. Tradução
Rachel Sztajn. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2015. Pag. 7
16
eficientes sob o ponto de vista econômico, porém, injustas. A despeito dos riscos,
Richard Posner, um dos precursores da proposta de análise econômica do Direito,
exemplifica a importância e relação entre elas13:
Para muitos estudantes de filosofia moral, Direito e Economia parecem
coisas incompatíveis. Mas não são. A teoria dos direitos de propriedade
é um importante ramo da teoria microeconômica moderna. Tanto para
a ciência jurídica quanto para a Economia, um direito de propriedade é
um direito de excluir todas as outras pessoas do uso de algum recurso
escasso. Um direito dessa espécie é absoluto dentro de seu domínio
(detalhe importante ao qual voltarei em breve), no sentido de que aquele
que careça de um determinado bem sobre o qual pessoa tenha direito
de propriedade não poderá tirar esse direito dela recorrendo ao bem-
estar da sociedade. Estabelecer os direitos de propriedade como
absolutos, mas condicionados aos custos de transação e subordinados
à meta da maximização da riqueza, significa conferir-lhes um status
inferior ao que muitos ‘teóricos dos direitos’ lhes conferem. Embora os
direitos de propriedade, do ponto de vista econômico, sejam absolutos
e incluam tanto a pessoa humana quanto os bens não humanos (eu
tenho, dentro de limites amplos, o direito absoluto de decidir para quem
trabalhar ou com quem me casar), não são transcendentes nem têm em
si mesmos seu próprio fim; e geralmente operam apenas em cenários
de baixos custos de transação. Não obstante, o termo se lhe aplica em
um sentido perfeitamente legítimo, a menos que se considere que a
ideia de direitos exclua aqueles que, embora absolutos, sejam
instrumento de alguma finalidade externa à proteção dos direitos como
tais.
Isso posto, cumpre dizer que não são raras situações em que se reconhece que
a justiça necessita fazer uso dos preceitos econômicos de eficiência para a sua
atuação, afinal, é consensual que o desperdício é propriamente ineficiente e
necessariamente injusto. De igual modo, considerar apenas conceitos econômicos na
busca pela justiça é inconsequente e sem eficácia jurídica. Acreditar que o estudo
conjunto entre Direito e Economia trará respostas terminantes a dilemas jurídicos
antigos é demasiadamente presunçoso, nesse sentido Bruno Salama:14
Uma parcela considerável dos estudantes, profissionais e
pesquisadores do Direito que tenham qualquer nível de familiaridade
com o Direito e Economia acredita que a disciplina se proponha a dar
respostas definitivas para dilemas normativos. Estas pessoas
acreditam, erradamente, que a disciplina contenha um conjunto de
predicados do tipo “receitas de bolo” que conduzam necessariamente
a modelos do tipo “juízes e legisladores devem adotar a regra X na
situação Y porque esta é a solução eficiente e correta para o problema.
13
POSNER, Richard A. A Economia da Justiça. Tradução Evandro Ferreira e Silva, revisão da
tradução Anibal Mari – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. Pag. 84
14
SALAMA, Bruno Meyerhof. O que é “Direito e Economia?”. Revista Direito UNIFACS. nº 160. Out.
2013. Disponível em: < http://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2793/2033>. Acesso
em 12 jul. 2017.
17
15
MORETTINI, Felipe Tadeu Ribeiro; GONÇALVES, Oksandro Osvidal. Análise econômica do controle
judicial dos contratos de concessão e sua importância para o desenvolvimento. Revista de Informação
Legislativa. Brasília, ano 51, nº 203. Jul/Set. 2014 Disponível em: <
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/507400/RIL203.pdf?sequence=1#page=74 >
acesso em 8 Set. 2017.
16
ARAÚJO, Thiago Cardoso. Análise Econômica do Direito no Brasil: Uma leitura à luz da teoria dos
sistemas. 1. ed. Rio de Janiero: Lumen Juris, 2016. Pag, 132
17
Utilizaremos AED como referência a Análise Econômica do Direito.
18
MACKAAY, Ejan; ROUSSEAU, Stéphane Rousseau. Análise Econômica do Direito. Tradução
Rachel Sztajn. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2015. Pag. 7
18
19
Ibidem, pág. 60
19
20
TABAK, B. M. A Análise Econômica do Direito: Proposições Legislativas e Políticas Públicas. Brasília:
Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/ Senado, outubro/2014 (Texto para Discussão nº 157).
Disponível em:< www.senado.leg.br/estudos >. Acesso em: 10 jul. 2017
21
Disponível em: < http://www.journals.uchicago.edu/journals/jle/about >. Acesso em: 1 jun. 2017
22
Ronald Coase recebeu prêmio Nobel em 1991 por seu artigo sobre o custo social.
21
A Análise econômica do Direito é uma disciplina que estuda o Direito tendo como
pressuposto a racionalidade individual. A disciplina propõe a aplicação da teoria
econômica na formação das estruturas e processos que envolvem o Direito, bem
como os impactos das decisões judicias e suas instituições. Nesse sentido, a AED
não enxerga os impactos econômicos como estranhos ao sistema jurídico, da mesma
forma que as instituições legais não são exógenas à Economia.
Assim, a Análise Econômica do Direito tem como fundamento métodos da teoria
microeconomia. Os agentes econômicos comparam os custos e os benefícios das
possíveis alternativas antes de tomar uma decisão, a fim de que alcance a melhor
relação de custos e benefícios possíveis. Tal avaliação é feita independente da
natureza econômica, social ou cultural do problema. Esses custos e benefícios são
mensurados segundo as preferências do agente racional e do conjunto de
informações que possui. Nesse sentido, a AED é a aplicação de uma perspectiva de
“eficiência” ao Direito, sendo imperioso reconhecer alguns conceitos básicos da teoria
econômica para avaliar a viabilidade da proposta.
23
CAVALCANTI, Marcos Cintra. Introdução a Teoria Econômica. 4º ed. São Paulo: Editora McGraw-
Hill do Brasil, 1974. Pag. 3
22
24
SALAMA, Bruno Meyerhof. O que é “Direito e Econonomia?”. Revista Direito UNIFACS. nº 160. Out.
2013. Disponível em: < http://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2793/2033>. Acesso
em 12 jul. 2017.
25
MACKAAY, Ejan; ROUSSEAU, Stéphane Rousseau. Análise Econômica do Direito. Tradução
Rachel Sztajn. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2015. Pag. 31
23
A ideia de que todo ser humano objetiva a maximização de seu bem-estar, além
de buscar agregar valor de forma racional, é verificável no próprio mercado, conforme
exemplificado por Salama. Igualmente, a Economia é a ciência que estuda as
escolhas racionais, orientada para um mundo no qual os recursos são inferiores aos
desejos humanos. Nesse sentido, o homem tem a tendência de sempre utilizar
padrões racionais, com vistas a maximizar seu bem-estar. Conforme asseveram
Oksandro Gonçalves e José Osório27:
Em regra, o agente escolhe a conduta em razão do maior benefício
que ela possa produzir, embora a atitude mais coerente fosse o
equilíbrio entre os custos e os benefícios, de tal sorte que nenhum
outro agente restasse afetado pela decisão, ou seja, o enriquecimento
de um não pode equivaler ao empobrecimento do outro. [...] os
indivíduos fazem escolhas racionais vinculadas ao atendimento de
seus interesses pessoais, sejam eles quais forem. Basicamente, todo
indivíduo busca racionalmente maximizar o seu bem-estar.
26
ibidem
27
NASCIMENTO NETO, José Osório do. GONÇALVES, Oksandro Osvidal. Custos de Transação em
Energias Renováveis e sua Importância Para o Desenvolvimento Sustentável. Revista Direito e
Liberdade. v. 16, n. 1, p. 105-134, jan./abr. 2014. Disponível em: <
http://www.esmarn.tjrn.jus.br/revistas/index.php/revista_direito_e_liberdade/article/view/571> Acesso
em 8 Set. 2017
24
28
OLIVEIRA JUNIOR, Raimundo Frutuoso de. Aplicações da Análise Econômica do Direito. Anais do
XIX Encontro Nacional do CONPEDI. Junho/2010 Disponível em <
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3155.pdf> Acesso em 22 jul.
2017
25
29
PORTO, Antônio José Maristrello. Análise Econômica do Direito (AED). Colaboração de Guilherme
Mello Graça. Curso de aulas 2013.2. Rio de Janeiro: FGV, 2013. <
http://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/analise_economica_do_direito_20132.pdf >
Acesso em 17 jun. 2017.
30
SALAMA, Bruno Meyerhof. O que é “Direito e Econonomia?”. Revista Direito UNIFACS. nº 160. Out.
2013. Disponível em: < http://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2793/2033>. Acesso
em 12/07/2017. Acesso em 12 jun. 2017.
26
Quando se depara com essa posição, denomina-se o resultado como ótimo de Pareto,
ou ótimo Paretiano. Na concepção de Raimundo Frutuoso De Oliveira Junior31:
A eficiência de Pareto é uma situação em que é impossível melhor a
situação a utilidade de um agente sem que haja prejuízo para qualquer
outro. Tal situação seria um ótimo paretiano. No entanto, uma situação
constitui uma melhoria de Pareto se há um benefício para alguém, sem
ocorrer prejuízo para nenhuma pessoa. Quando isto ocorre, a situação
posterior é mais eficiente que a anterior em termos econômicos.
31
OLIVEIRA JUNIOR, Raimundo Frutuoso de. Aplicações da Análise Econômica do Direito. Anais do
XIX Encontro Nacional do CONPEDI. Junho/2010 Disponível em <
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3155.pdf> Acesso em 22
jun. 2017
32
SALAMA, Bruno Meyerhof. O que é “Direito e Econonomia?”. Revista Direito UNIFACS. nº 160. Out.
2013. Disponível em: < http://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2793/2033>. Acesso
em 12/07/2017. Acesso em 12 jul. 2017
33
PORTO, Antônio José Maristrello. Análise Econômica do Direito (AED). Colaboração de Guilherme
Mello Graça. Curso de aulas 2013.2. Rio de Janeiro: FGV, 2013. <
http://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/analise_economica_do_direito_20132.pdf >
Acesso em 17 Jun. 2017
27
34
SALAMA, Bruno Meyerhof. O que é “Direito e Econonomia?”. Revista Direito UNIFACS. nº 160. Out.
2013. Disponível em: < http://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/2793/2033>. Acesso
em 12/07/2017. em 12 jun. 2017.
35
ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Law and Economics. In: ZYLBERSZTAJN, Decio;
SZTAJN, Rachel (org.), Direito e Economia: Análise Econômica do Direito e das Organizações, Rio de
Janeiro, Elsevier, 2005, 2ª reimpressão. Pag. 15
28
Desta forma, Ronald Coase transporta esse raciocínio da caverna para outros
direitos de uso, qual seja, o de poluir ou emitir radiações. Cabe lembrar que o
problema não está no direito de uso e, sim, no direito sobre a propriedade devendo
ser ele o problema a ser solucionado pelo direito.
Muitos economistas contemporâneos de Ronald Coase consideravam que a
poluição de água, por exemplo, era um custo social que as empresas repassavam à
sociedade. Acreditava-se que a única forma de reduzir os prejuízos sociais da
atividade seria por meio do aumento da regulação Estatal. Ronald Coase,
contrariando a compreensão majoritária, demonstrou que a regulação estatal nas
36
COASE, Ronald H. A firma, o mercado e o direito. Tradução Heloísa Gonçalves Barbosa. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2016. Pag. 158
29
transações que envolvem custos privados e custos sociais nem sempre apresenta as
soluções mais eficientes ou desejáveis. Sobre isso, Coase exemplificou37:
A abordagem tradicional tende a obscurecer a natureza da escolha
que deve ser feita. A questão é normalmente pensada como uma
situação em que A inflige um prejuízo a B, e na qual o que tem que er
decidido é: como devemos coibir A? Mas isso está errado. Estamos
lidando com um problema de natureza recíproca. Evitar o prejuízo a B
implicaria causar um prejuízo a A. Assim, a verdadeira questão a ser
decidida é: A deveria ser autorizado a causar prejuízo a B, ou deveria
B ser autorizado a causar um prejuízo a A? O problema é evitar o
prejuízo mais grave.
37
COASE, Ronald. “O problema do custo social”. The Latin American and Caribbean Journal of
Legal Studies: Vol. 3: Nº. 1, Article 9, 2008. Disponível em: <
http://www.pucpr.br/arquivosUpload/5371894291314711916.pdf> Acesso em 15 jun. 2017.
38
MACKAAY, Ejan; ROUSSEAU, Stéphane Rousseau. Análise Econômica do Direito. Tradução
Rachel Sztajn. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2015. Pag. 45
30
39
PORTO, Antônio José Maristrello. Análise Econômica do Direito (AED). Colaboração de Guilherme
Mello Graça. Curso de aulas 2013.2. Rio de Janeiro: FGV, 2013. <
http://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/analise_economica_do_direito_20132.pdf >
Acesso em 17 jun. 2017
40
ROCHA, André Barreira da Silva. O Dilema do Prisioneiro e a Ineficiência do Método das Opções
Reais. RAC, v. 12, n. 2, p. 507-531, Abr./Jun. Curitiba, 2008. Disponível em <
http://www.scielo.br/pdf/rac/v12n2/a10v12n2.pdf > Acesso em: 21 jun. 2017.
31
Prisioneiro 1
Confessar Não
confessar
Confessar -8;-8 0 ; - 10
Prisioneiro
Não - 10 ; 0 - 1 ; -1
2
confessar
Richard Posner adverte que algumas das ideias iniciais extremas defendidas
por ele já não são mais sustentadas. Ressaltando a importância do direito positivado
e reforçando a ideia do eficientismo puramente, Posner esclarece que a proposta não
explica todo o Direito nem mesmo possui a pretensão de fazê-lo. Portanto, é
completamente possível a aplicação da Análise Econômica do Direito também no Civil
Law brasileiro.
As primeiras manifestações de interesse e exploração da AED no Brasil tiverem
origem em trabalhos individuais e esparsos dos centros de estudos acadêmicos
brasileiros. Nos últimos anos, no entanto, a AED tem ganhado força. Os estudiosos
41
Posner, Richard A. A Economia da Justiça. Tradução Evandro Ferreira e Silva, revisão da tradução
Anibal Mari – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010 Pag. XI - XV
33
do tema têm se organizado para promover e difundir a disciplina nos anais do Direito
brasileiro. Nesse sentido, verificam-se as tendências nas produções brasileiras,
conforme aponta Thiago Cardozo Araújo42:
(i) Estudos introdutórios: que podem incluir aplicações a áreas do
Direito brasileiro, sendo de destacar, neste sentido, Direito &
Economia no Brasil (Timm, 2014), inserindo-se nessa vertente
traduções de manuais estrangeiros, notadamente americanos, sobre
a matéria (COOTER, ULEN, 2010);
(ii) Estudos aplicados: obras mais extensas que se valem da AED.
No mais das vezes, embora possa reconhecer a existência de
diferentes escolas, acabam adotando a pespectiva de Chicago.
Exemplo, nesse sentido, é a obra de Paulo Caliendo, Direito Tributário
e Análise Econômica do Direito (CALIENDO, 2009) e, em menor grau,
de Diogo Naves Mendonça (Mendonça, 2012)
(iii) Estudos empíricos, conduzidos, no mais das vezes por
economistas, sobre fenômenos jurídicos. Aqui, há a fronteira entre o
exercício da AED, que considera variáveis jurídicas exogenamente e
concretização da investigação sob ótica da economia das leis, em que
o fenômeno jurídico é problematizado (assume a função de caixa-
preta), gerando consequências para a dimensão econômica; e
(iv) Estudos críticos: no mais das vezes, associando
inexoravelmente toda AED à Escola de Chicag, enxerga na AED
“talvez a maior ameaça ao jurídico (...) a teoria instrumental que
sistematiza e organiza de modo ‘metodológico’ e ‘científico’
ascendência do econômico sobre o jurídico (MARCELLINO JUNIOR,
2009, p. 219).
42
ARAÚJO, Thiago Cardoso. Análise Econômica do Direito no Brasil: Uma leitura à luz da teoria
dos sistemas. 1. ed. Rio de Janiero: Lumen Juris, 2016. Pag. 140
43
MACKAAY, Ejan; ROUSSEAU, Stéphane Rousseau. Análise Econômica do Direito. Tradução
Rachel Sztajn. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2015. Pag. 12
34
44
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Resumo de Direito Administrativo Descomplicado.
9º Edição, Revista e Atualizada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016. Pag. 22
35
ARE 909437 RG / RJ, interposto pelo Procurador Geral do Estado do Rio de Janeiro,
com a seguinte ementa45:
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REAJUSTE DE 24% PARA OS
SERVIDORES DO JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
LEI Nº 1.206/1987. ISONOMIA. REPERCUSSÃO GERAL.
REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 1. Não cabe ao Poder
Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob fundamento de isonomia. Súmula 339/STF e
Súmula Vinculante 37. 2. Reconhecimento da repercussão geral da
questão constitucional, com reafirmação da jurisprudência da Corte,
para assentar a seguinte tese: “Não é devida a extensão, por via
judicial, do reajuste concedido pela Lei nº 1.206/1987 aos servidores
do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, dispensando-se a
devolução das verbas recebidas até 01º.09.2016 (data da conclusão
deste julgamento)”. 3. Recurso conhecido e provido.
45
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Repercussão Geral No Recurso Extraordinário Com Agravo
nº 909437 do Supremo Tribunal Federal, Brasília, DF, 1 de setembro de 2016. Disponível em
<http://www.stf.jus.br>. Acesso em 6 jun. 2017
37
46
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.983 do Supremo
Tribunal Federal, Brasília, DF, 6 de outubro de 2016. Disponível em <http://www.stf.jus.br>. Acesso em
8 jun. 2017.
38
Ainda se tem:
Tem que se ver o que o legislador está a buscar, para aplicar métodos
adequados. Agora, as consequências de uma declaração de
inconstitucionalidade como esta são extremamente sérias.
Estamos falando de duzentos mil empregos. Nós temos uma lei que
considera este cavaleiro como um profissional - tem direito à
previdência social e tudo o mais. Nós temos, portanto, uma atividade
plenamente regulada. E o que o legislador cearense busca é
exatamente permitir que esses folguedos, que essas práticas sejam
feitas observando padrões civilizatórios. Então isso precisa ser
observado. [...] nós deveríamos, se fosse possível, até fazer algum tipo
de recomendação no sentido de que se adensem práticas com o intuito
de proteção; mas não tentar cassar a lei, porque, na verdade, vamos
estar colocando essa prática na ilegalidade, na clandestinidade. Não
vamos conseguir suprimir esse aspecto cultural que é amplamente
irradiado, amplamente conhecido. [...] o Doutor Almeida Castro
ressaltou da tribuna - que isso concorre com o futebol, em termos de
atração de público, em uma região do país que já é descriminada pelo
subdesenvolvimento, em que as pessoas têm dificuldades de acesso a
algum tipo de distração. Então a mim me parece que essa decisão não
pode caminhar nesse sentido.
aspectos não econômicos que podem ser avaliados pela perspectiva econômica, o
que evidencia a preocupação do magistrado em tonar sua decisão eficiente.
É possível, ainda, identificar diversos acórdãos em que, embora o fundamento
econômico não seja o principal, é utilizado como acessório às decisões, tal qual
Recurso Extraordinário 586224 / SP, com a seguinte ementa 47:
Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO EM AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. LIMITES DA
COMPETÊNCIA MUNICIPAL. LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE A
QUEIMA DE PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR E O USO DO FOGO EM
ATIVIDADES AGRÍCOLAS. LEI MUNICIPAL Nº 1.952, DE 20 DE
DEZEMBRO DE 1995, DO MUNICÍPIO DE PAULÍNIA.
RECONHECIDA REPERCUSSÃO GERAL. ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 23, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, Nº
14, 192, § 1º E 193, XX E XXI, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
SÃO PAULO E ARTIGOS 23, VI E VII, 24, VI E 30, I E II DA CRFB. 1.
O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com
União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que tal
regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos
demais entes federados (art. 24, VI c/c 30, I e II da CRFB). 2. O
Judiciário está inserido na sociedade e, por este motivo, deve estar
atento também aos seus anseios, no sentido de ter em mente o
objetivo de saciar as necessidades, visto que também é um serviço
público. 3. In casu, porquanto inegável conteúdo multidisciplinar da
matéria de fundo, envolvendo questões sociais, econômicas e
políticas, não é permitido a esta Corte se furtar de sua análise para o
estabelecimento do alcance de sua decisão. São elas: (i) a relevante
diminuição – progressiva e planejada – da utilização da queima de
cana-de-açúcar; (ii) a impossibilidade do manejo de máquinas diante
da existência de áreas cultiváveis acidentadas; (iii) cultivo de cana em
minifúndios; (iv) trabalhadores com baixa escolaridade; (v) e a
poluição existente independentemente da opção escolhida. 4. Em que
pese a inevitável mecanização total no cultivo da cana, é preciso
reduzir ao máximo o seu aspecto negativo. Assim, diante dos valores
sopesados, editou-se uma lei estadual que cuida da forma que
entende ser devida a execução da necessidade de sua respectiva
população. Tal diploma reflete, sem dúvida alguma, uma forma de
compatibilização desejável pela sociedade, que, acrescida ao poder
concedido diretamente pela Constituição, consolida de sobremaneira
seu posicionamento no mundo jurídico estadual como um standard a
ser observado e respeitado pelas demais unidades da federação
adstritas ao Estado de São Paulo. 5. Sob a perspectiva estritamente
jurídica, é interessante observar o ensinamento do eminente
doutrinador Hely Lopes Meireles, segundo o qual “se caracteriza pela
predominância e não pela exclusividade do interesse para o município,
em relação ao do Estado e da União. Isso porque não há assunto
municipal que não seja reflexamente de interesse estadual e nacional.
A diferença é apenas de grau, e não de substância." (Direito
Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 1996. p. 121.)
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Extraordinário nº ° 909437 do Supremo Tribunal
Federal, Brasília, DF, 5 de março de 2015. Disponível em <http://www.stf.jus.br>. Acesso em 6 jun.
2017
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Journal of Legal Studies: Vol. 3: Nº. 1, Article 9, 2008. Disponível em: <
http://www.pucpr.br/arquivosUpload/5371894291314711916.pdf>
CUNHA, Paulo Ferreira da. Filosofia Jurídica Prática. Belo Horizonte: Ed. Fórum,
2009. Pág. 61
CAVALCANTI, Marcos Cintra. Introdução a Teoria Econômica. 4º ed. São Paulo:
Editora McGraw-Hill do Brasil, 1974.
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. Tatuapé: editora brasiliense s.a. Pág. 10 –
11.
1
MONTALVÃO, Bernardo. Resolução nº 75 do CNJ: descomplicando a Filosofia do
Direito. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016
SIQUEIRA JR, Paulo Hamilton. Teoria do Direito. São Paulo: Saraiva, 2009