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Porque possuir penas não é sinônimo de voar?

Quando se trata de aves, ainda não existe concordância sobre sua origem, mas
existe um consenso de que possuem uma origem dinosauria. A partir disso entram
algumas questões fundamentais que devem ser analisadas, como, por exemplo, a
origem das penas e a evolução da sua função. Acredita-se que sua origem não tenha
sido devido ao voo e Pomarède defende que surgiram por uma questão de seleção
sexual em conjunto com a melhora das condições de sobrevivência usando as penas
como uma barreira superficial para retardar a perda de calor e assim ter um melhor
controle da temperatura corporal .
Alguns dos outros usos que justificam o aparecimento de penas em terópodes
podem estar ligados a uma alta taxa metabólica, que proporciona uma melhora nas
habilidades locomotoras, um comportamento distinto, comunicação visual e as
radiações de terópodes maniraptores e seus descendentes de vôo ativo, que usaram
as penas já presentes com uma adaptação nas superfícies aerodinâmicas. Esse
desenvolvimento pode ser observado em registro fóssil dinosaurio e aviano.
Existe um esquema hipotético constituído de cinco estágios anteriores ao voo
que caracteriza a origem das aves desde os répteis. A primeira etapa compreende os
répteis que viviam ou frequentavam árvores e possuíam a necessidade de pular para
outro galho ou para a árvore adjacente por motivos diversos e este comportamento
criou a prática do animal de ficar momentaneamente no ar. Após isso, começaram a
usar o corpo para desacelerar a queda, utilizando-se de estratégias como abrir os
braços e afinar o corpo. Em seguida surgiu a necessidade de equilibrar-se no ar,
aumentando o quanto fosse possível o percurso horizontal. Devido a essa
necessidade, surgiu o estágio inicial do vôo que era a capacidade de planar. A partir
disso, teria surgido o vôo, que além de ajudar na descida, forneceu acesso a lugares
não disponíveis às espécies terrestres.
Essa situação hipotética serve para mostrar que não é preciso aparecer a
formação completa, ou seja, estruturas grandes e elaboradas adaptadas para o voo, de
uma só vez. Essas estruturas podem ter aparecido como pequenas e formativas, afinal
nenhum estágio precedente antecipou o próximo, cada estágio foi adaptativo em si e
com as mudanças de condições os animais podem ou não ter evoluído mais. Um
exemplo disso é o esquilo “voador”, que ainda faz uso da planagem, que satisfaz suas
demandas, e, portanto, não vai evoluir para um voo completo. Para o caso dos animais
que se adaptaram ao voo, primeiro surgiu o comportamento, como evolução do salto
para a imitação de um paraquedas, daí para o voo planado ou deste para o
bater de asas precoce e, apenas após isso, surgiu o novo papel biológico. O desvio
que ocorreu com esse papel biológico expôs a estrutura a novas pressões seletivas
que acabaram por favorecer as mutações que transformaram as estruturas e serviram
para a nova atividade.
Ainda que não se tenha certeza da relação entre a origem das penas e o voo,
pode-se dizer que os animais estavam pré-adaptados a isso, sendo que esse termo
tem como sentido a estrutura possuir a forma e a função necessárias antes do
surgimento do papel biológico que desempenhará. No entanto, é preciso atentar que
um traço ser pré-adaptado não significa que ele vai preencher um papel biológico no
futuro, os traços adaptativos são importantes para o presente, pois se não houver um
papel imediato, o traço será eliminado pela seleção. De modo geral, percebe-se que
que cada etapa precedente estava pré adaptada para a seguinte. Através dessa lógica,
é possível observar quais estruturas ancestrais levaram ao surgimento das presentes e
inferir quais eram suas funções em cada etapa.

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