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Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias
Aula de 29/08/14
Iter Criminis
1. Conceito
2. Fases
2.1.1 – Ideação/cogitação
Para o direito penal não existe nenhuma relevância e nenhuma consequência quando as ideias
estão no psiquismo do agente. As pessoas são livres para pensar em cometer um crime. Isto é
impunível. Ideias encerradas no psíquico não têm relevância penal e nem consequência de
índole processual. A má ideia não é punível, só é punível a má ideia executada.
Hans Welzel – Finalismo: Toda ação humana é orientada a uma finalidade. Não existem ações
gratuitas. O criminoso antevê o resultado que quer obter.
2.2.1 – Preparação
Os atos preparatórios são impuníveis. A rigor não cabe sanção penal (entretanto pode
interferir na dosimetria da pena).
Commented [FD1]: Os crimes de perigo causam um
Os atos preparatórios são atos sem os quais o crime não poderia acontecer, mas são
perigo de ofensa ao bem jurídico tutelado, um perigo de
necessários e anteriores a este. São impuníveis. dano. São tipos penais subsidiários, de forma expressa ou
tácita. Quando houver dolo de causar dano ao bem jurídico
Ex.: Aluguel de cativeiro para futuro sequestro, sem ocorrência do sequestro em si. tutelado, deve o sujeito responder pelo crime de dano, e
não pelo crime de perigo, ainda que na modalidade tentada.
Exceção: quando a conduta preparatória tem tamanho potencial ofensivo ao bem jurídico que
possa ser punível autonomamente. O legislador erigiu à condição de tipo autônomo alguns Os crimes de perigo dividem-se em crimes de perigo
concreto e crimes de perigo abstrato. Nos crimes de perigo
atos que seriam meramente preparatórios, e como tais impuníveis, a princípio, passando estes abstrato, o perigo é visualizado pelo legislador ex ante, ou
a serem puníveis em função de sua tipificação no CP. seja, o legislador comina uma pena à conduta pelo mero
fato de considerá-la perigosa, independentemente da
Ex.: existência de perigo real no caso concreto. Já nos casos de
perigo concreto, a análise do perigo é feita ex post, ou seja,
“Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:” cabe a verificação se a conduta gerou ou não um perigo de
dano no caso concreto.
“Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:“
(Crime de perigo) Geralmente os tipos penais que contêm as expressões
“gerando perigo de dano”, “expondo a perigo” são tipos
penais de perigo concreto, só havendo crime se houver
perigo de ofensa ao bem tutelado no caso concreto.
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“Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação
de moeda:” + “Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-
moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:”
A crítica feita é que há nesta teoria a sugestão de uma insegurança ao sistema penal.
Teoria da hostilidade ao bem jurídico (começo do perigo concreto para o bem jurídico) – O
ato preparatório que não é causador de qualquer perigo ao bem jurídico é estranho à esfera
da tipicidade. Para Meier, o ato executório só se configura quando põe em perigo concreto o
bem jurídico tutelado. O problema desta teoria é que o perigo é um componente eventual da
tentativa. A tentativa não exige em todos os seus casos a ocorrência de um perigo efetivo ao
bem jurídico.
Ex.: Tiro dado que não “pega” sequer de raspão no alvo. Houve uma tentativa de homicídio
revelada pelo elemento anímico do sujeito (chamada tentativa branca), embora não tenha
havido um perigo concreto ao bem jurídico.
Teoria da univocidade – Para Francesco Carrara, os atos preparatórios são atos equívocos e os
atos executórios são unívocos. Os atos preparatórios são equívocos porque podem ser
dirigidos tanto para a execução de atos ilícitos quanto atos lícitos, ao passo que os atos
executivos são unívocos, pois são dirigidos diretamente à comissão delituosa.
2.2.3 – Consumação
Crime consumado
Importância da distinção:
determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo
lugar em que for praticado o último ato de execução.”
Crimes formais - apesar da referência ao resultado naturalístico no tipo penal, estes crimes
não exigem que o resultado ocorra. Desta forma, basta que a conduta ocorra pra que o crime
esteja consumado.
Crimes de mera conduta - consumam-se com a mera ação ou omissão prevista na norma
incriminadora. O tipo penal não faz alusão a qualquer resultado naturalístico.
3. Crime Exaurido
É a produção de efeitos outros para além daqueles que são naturalmente previstos pelo tipo.
Importa um grau de reprovabilidade ainda maior para a conduta. Ocorre o exaurimento
quando depois de consumar o crime, e portanto, depois de encerrar o iter criminis, a conduta
do agente provoca uma nova agressão ao bem jurídico.
Exemplos:
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato
da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.”
Quando o crime é exaurido o juiz pode, na dosimetria da pena, aumentar a pena base
considerando o exaurimento como consequência lesiva do crime:
Aula de 05/09/2014
4. Crime Tentado
[...]
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
Pena de tentativa
Tentativa é sinônimo de conatus (latim para esforço, impulso). Para Régis Prado, é um crime
incompleto (em oposição ao chamado crime completo, também chamado de consumado ou
perfeito).
Na tentativa “eu quero, mas não posso”, enquanto na desistência voluntária “eu posso, mas
não quero”.
Elementos da tentativa:
Início da execução;
A ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente;
Dolo total para consumação.
Se dá via norma de adequação típica mediata. Existe uma ampliação temporal da figura típica.
Aplicação por extensão.
Um artigo (de fato típico) qualquer combinado com Art. 14 configura tentativa.
Não há adequação típica direta, imediata. O mesmo ocorre no concurso de pessoas (Art. 29).
Qual foi a teoria adotada no Brasil no tocante à punibilidade da tentativa? Que justificativa
teórica existe para se punir a tentativa?
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Enrico Ferri foi autor da chamada Teoria Sintomática que vai justificar a punibilidade da
tentativa pela periculosidade do sujeito.
Há também a Teoria Subjetiva, que não é uma teoria encontrada nos códigos modernos. A
tentativa era punida da mesma forma que os atos preparatórios.
Segundo Juliana, esta adesão se deu em função do princípio da igualdade. Situações desiguais
devem ser tratadas de maneira desigual.
“Animus necandi” (Termo em latim que significa dolo, vontade. É a intenção de matar, ou seja,
de tirar a vida de outra pessoa) e “animus vulnerandi” (Intenção de causar ferimento).
Casos há em que a tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado. Esses são
chamados de crimes de atentado ou crimes de empreendimento. São os crimes cuja tentativa
é punida com a mesma pena do crime consumado. Aqui, excepcionalmente adota-se a teoria
subjetiva.
Ex.: Art. 309 do Código Eleitoral – “Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em
lugar de outrem:”.
Ex.: Art. 352 do CP – “Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido
a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:”.
Há também a situação prevista no CPM, Art. 30, parágrafo único – “Pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de
excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado.”.
Espécies de tentativa
Franz Von Liszt diz que esse instituto é uma “ponte de ouro” que retira o sujeito da ilicitude e
da conduta criminosa. Pra ele o legislador deu a chance do agente voltar atrás e não ser
punido, apesar do início da execução.
Para Frederico Marques e para Heleno Fragoso, o que existe aqui é uma exclusão de
tipicidade. Essa é a posição dominante da doutrina (exclui apenas a tipicidade do crime
inicialmente pretendido).
Para Claus Roxin é uma causa de exclusão de culpabilidade, pois não haveria aí censura ou
reprovabilidade.
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Já Nelson Hungria e Aníbal Bruno entendem que é uma causa de extinção de punibilidade em
relação ao crime inicialmente pretendido pelo agente. É como se existisse o crime, mas o
legislador optasse pela extinção da punibilidade.
Juliana diz que não é o caso, pois o art. 107 do CP já elenca as causas de extinção de
punibilidade, não estando a desistência voluntária e o arrependimento eficaz elencados no
referido artigo. Na opinião de Julliana, trata-se apenas de um indiferente penal.
Nelson Hungria entende que está excluída também a responsabilidade do partícipe, invocando
também o art. 30 do CP, que diz que “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de
caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.”. Análise objetiva dos fatos. Esta é
posição dominante.
Já Heleno Fragoso entende que esses institutos têm caráter subjetivo. Para ele deveria ser
mantida a responsabilidade do partícipe a título de tentativa.
Para Juliana não faz sentido o partícipe ser punido de forma autônoma.
Arrependimento posterior
Previsto no art. 16 do CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.”.
Nos crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida
de 1/3 a 2/3.
Requisitos:
Casos especiais
Crime impossível
Previsto no art. 17 do CP: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”.
Duas espécies:
Por ineficácia absoluta do meio (executivo) - essa ineficácia absoluta precisa ser
aferida casuisticamente. Se for relativa, haverá a punição pela tentativa;
Por impropriedade absoluta do objeto - o objeto material do crime é a pessoa ou coisa
sobre o qual recaia a ação delituosa. É preciso que seja inexistente desde o início da
execução do crime. Ex.: Dar um tiro em um cadáver; dar substância abortiva para
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mulher que não esteja grávida, etc. Se for uma impropriedade relativa, haverá a
punição por tentativa.
Aula de 12/09/14
Concurso de Pessoas
“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,
na medida de sua culpabilidade.”
O código penal de 1940 adotou a expressão coautoria. O problema dessa designação é que se
refere à apenas um dos tipos de concursos de pessoas, apenas uma parte do assunto.
São aqueles em que há uma exigência do próprio tipo penal ou da própria essência do crime
de serem praticados por uma pluralidade de pessoas. Conforme Cláudio Brandão, a
pluralidade integra o próprio tipo.
Exemplos:
Concurso eventual
Os crimes de um modo geral podem ser praticados em concurso eventual (episódico). Ex.:
Posso roubar um banco sozinho ou em concurso de pessoas.
Muñoz Conde chama os artigos 14, inc. II (tentativa) e 29 (concurso) do CP de normas penais
incompletas, pois não têm nenhum sentido quando lidas sozinhas. Apenas quando agregadas a
outras normas.
Pluralidade de agentes - todos devem ser imputáveis, conforme Manzini. Não existe
concurso de pessoas entre inimputáveis. Quem não é culpável não adere
subjetivamente à conduta de outrem;
Relação de causalidade material entre as condutas e o resultado - É preciso que haja
uma relevância causal até o resultado final. Ex.: Emprestou revolver, mas matou com
faca. Deve haver eficácia causal (conforme Damásio);
Liame subjetivo (vínculo psicológico) – Princípio da convergência. É preciso que as
vontades sejam convergência em prol do resultado final. A simples conivência
(conhecimento) não caracteriza este vínculo. O concurso não depende de um pactum
sceleris (pacto do crime - acordo prévio), basta a adesão subjetiva;
Existência de fato punível (adição de Esther Ferraz) – Chamado também de princípio
da exterioridade. Para que se puna a participação, é preciso a exteriorização de no
mínimo uma tentativa. Do contrário não há de se falar em punição. Ex.: Casos de
impunibilidade – “Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo
disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos,
a ser tentado.”
o Obs.: Determinação no CP é sinônimo de induzimento. O auxílio é a
contribuição material. Cúmplice é quem presta o auxílio material.
o No trecho “[...] na medida de sua culpabilidade [...]” do art. 29 observa-se a
individualização.
Teoria pluralista - haverá tantos crimes quantos forem os seus autores. Percebe-se
que aqui não há distinção entre participação e autoria;
Teoria unitária (igualitária ou monista) (adotada no Brasil) - mesmo diante de uma
pluralidade de agentes haverá uma unicidade de crime. Ou seja, o crime se considera
integro, indiviso. As diversas ações devem ser lidas como um todo, como algo unitário.
Se fizermos uma leitura literal desta teoria, todos os que tomam parte no crime são
autores. Esta era a redação originária do CP-40. Após a reforma do código, foi
acrescentado no final: ”[...] na medida de sua culpabilidade“. Possibilitou-se aí a
distinção entre autor e partícipe, após a reforma de 1984. Justificativa: No modelo
inicial haveria uma responsabilidade objetiva, mas o Brasil adota a responsabilidade
subjetiva. Observa-se aí a chamada teoria unitária/igualitária/monista temperada
(matizada), em função da parte final acrescentada. A unicidade do crime não se
confunde com a unicidade da pena. O crime é único para todos, mas a pena não é a
mesma;
Teoria dualista - defendida por Manzini, mas não tem relevância prática no Brasil.
Biparte-se a ação criminosa em dois crimes, um crime dos autores e um crime dos
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partícipes. Para Juliana, é apenas uma invenção teórica sem aplicabilidade no nosso
DP.
Há uma imputação única do delito - O delito/artigo é um e mesmo para todos que tomaram
parte na infração, ainda que tenham desenvolvido atividades diferentes. Entretanto, não há
unicidade de pena. Princípio da individualização da pena.
Acessoriedade da participação - Se o fato principal não chegar ser ao menos tentado, o fato
acessório não é punível. Ex.: Instiguei/induzi, mas a pessoa não chegou a matar.
No Brasil, como regra, adotamos a teoria monista temperada. Mas casos há nos quais
adotamos a teoria pluralista.
Exemplos:
- Art. 124, 2ª parte e art. 126. Tipificações autônomas. Mulher e médico respondem
igualmente. Mulher no 124 e médico no 126. Tantos autores quantos forem os seus crimes.
“Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
- Crime de bigamia (art. 235, caput e § 1º). Tipos autônomos. Pune-se o casado e quem com
ele casa conhecendo a circunstância.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo
essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.”
- Crime de corrupção (ativa e passiva). Art. 317 e 333. (A proposta de anteprojeto de CP vai
fundir os tipos de corrupção. Por ora, ambos respondem como autores em cada um dos tipos).
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“ Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem:”
“Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício:”
- Falso testemunho e a corrupção de testemunha. Art. 342 e 343 (lembrando que calar a
verdade também é falso testemunho). Cada um responde um dos artigos.
“Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
em juízo arbitral:”
“ Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:”
Cabe concurso de pessoas em crime de mão própria? (Falso testemunho é crime de mão
própria) Commented [FD2]:
O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão de que,
apesar do crime de falso testemunho ser de mão própria,
pode haver a participação do advogado no seu
Espécies de concurso de pessoas cometimento. (HC 30858 / RS, 12/06/2006, Sexta Turma,
rel. Min. Paulo Gallotti).
- Autoria: autor é a pessoa que toma parte direta na execução do crime;
IMPORTANTE: Para Roxin, a posição hierárquica sozinha não fundamenta o domínio do fato. O
mero “ter que saber” não basta.
Já Mir Puig entende que é possível tanto a coautoria quanto a participação em sentido estrito A antiga redação do crime dispunha:
em crimes culposos. O comum acordo em relação ao resultado obviamente é impossível, pois “Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal,
o resultado não é querido. Mas em relação à conduta imprudente, que é voluntária, é possível. mediante violência ou grave ameaça:”
Neste caso, a participação permitiria uma melhor graduação da resposta penal.
Hoje, no entanto, trata-se de crime comum, pois a nova
Como a matéria está prevista no Brasil: a maioria dos autores admite a coautoria em crimes redação prevê que o crime de estupro constitui-se em:
culposos, mas não admite a participação. Ex.: Passageiro que estimula taxista a agir de forma “Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave
imprudente. ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que com ele se pratique outro ato libidinoso:”
Autoria de escritório é uma espécie de autoria mediata. É quem transmite a ordem a ser
executado pelo executor direto e que pode ser substituído por qualquer outro.
PARA CASA ⌂
Houve aplicação da teoria do domínio do fato na AP 470 do STF (Mensalão)? Porque a teoria
teria sido aplicada de forma errada?
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Fabrício R. O. Dias
Aula de 19/09/14
FATO TÍPICO
O direito penal brasileiro adota o entendimento do conceito analítico do crime sob o prisma do
finalismo.
CONDUTA
Teoria da Ação => ação / omissão – tanto o fazer quanto o deixar de fazer são puníveis.
Teoria Clássica
O sistema clássico tem como principais representantes Ernst von Beling, Gustav Radbruch e
Franz Von Liszt, que lança as bases da teoria causalista da ação.
No sistema clássico a conduta “é uma mera inervação muscular que leva a uma modificação no
mundo da vida.”
O crime deveria ser analisado como uma ação produto de um impulso cerebral que gera uma
modificação no mundo da vida.
Representantes brasileiros dessa corrente: Aníbal Bruno, Nelson Hungria e Manuel Pedro
Pimentel
Direito Penal II – 2014.1
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Fabrício R. O. Dias
Finalismo
Diferentemente dos causalistas, que partiam do cientificismo, para Hans Welzel o causalismo é
cego. O crime não pode ser um produto das forças cegas da natureza. Não é produto de uma
mera movimentação externa do sujeito que modifica a vida. Pra ele a conduta que interessa é
a ação humana orientada por uma finalidade, aquela animada por uma vontade. O homem
quer chegar em algum lugar. Daí origina-se a reprovabilidade da conduta humana.
Agir dolosamente é agir sabendo que poderá haver o resultado previsto no tipo penal. Aqui o
dolo não é carregado da consciência de culpabilidade. Não é somente agir sabendo que “está
errado” (que seria visto na culpabilidade), mas é a possibilidade de conhecer que a conduta é
apta para gerar o descrito no tipo penal.
Na teoria causalista não se analisa o conteúdo da vontade que está materializada na ação.
Justamente por isso é que não se reconhece que o dolo está na ação.
No finalismo, por sua vez, entende-se que é a vontade orientada conscientemente para um fim
que rege a causalidade. É por isso que o dolo é o integrante da ação (conduta). Por isso que
quando o advogado argui a ausência do dolo, está afastando a conduta, não havendo fato
típico e consequentemente crime.
Por que reprovar então os crimes culposos? A reprovabilidade dos crimes culposos não reside
na finalidade eleita pelo agente, mas nos meios, no caminho que o agente utilizou para atingir
o seu fim. Estes meios de exteriorização da culpa são a imprudência, a imperícia e a
negligência.
Pretendeu dar à conduta um conceito valorativo. Dizia que era imprescindível que a ação, ou
que a conduta fosse um comportamento socialmente relevante. Aqui é preciso sempre
analisar o comportamento humano à luz do mundo circundante. Só possuem relevância
jurídico-penal quando são socialmente relevantes. É uma teoria que visa superar o tratamento
antitético do causalismo X finalismo.
Crítica: aqui há conceito valorativo de ação, ou seja, para considerar a conduta tenho que
valorar a sua relevância social. Na teoria social da ação antecipa-se os juízos que devem ser
feitos na tipicidade material e antijuridicidade. Entretanto, a conduta teria que ser elemento
neutro (conforme Cláudio Brandão). O conceito de ação precisa ser valorativamente neutro,
pois é a referência de todos os elementos integrantes.
Conclusões
Movimentos reflexos – Nestes casos o movimento corpóreo não é gerado por uma
vontade. Ex.: sonambulismo, hipnose, etc.
Casos fortuitos e de força maior.
Autoria de escritório – autoria mediata (homem de trás) – teoria funcional do domínio do fato
procura capturar essa situação.
A maior parte da doutrina considera que não é possível a coautoria em crimes culposos. A
coautoria exige um liame psicológico.
Mir Puig entende que é possível tanto a coautoria quanto a participação nos crimes culposos.
De fato, em relação ao resultado, é impossível falar em comum acordo (resultado
involuntário). Mas em relação à conduta imprudente é plenamente possível.
No Brasil, Magalhães Noronha concorda com Mir Puig. Dá o exemplo: se dois pedreiros do alto
de um edifício resolvem lançar um material para baixo e este acaba gerando a morte de
alguém, temos aí o comum acordo para esta ação imprudente que gerou o resultado. Ele
entende que é possível aí a coautoria em crime culposo. Outro exemplo: passageiro que
estimula um taxista a correr ou avançar um sinal de trânsito.
Coautoria sucessiva
A conduta é iniciada por autoria única e finalizada em coautoria. Ex.: Caso de agressão da
UCSAL onde pai começou a agredir funcionário da universidade e filho se juntou à ação do pai
em seguida, depois de já iniciados os atos executórios.
Para o Nilo Batista, a coautoria sucessiva pode ocorrer também na fase do exaurimento. Ex.:
crime de extorsão previsto no Art. 158 do CP.
No entanto, para a maioria dos autores o exaurimento não integra o iter criminis.
Autoria colateral
Autoria incerta
Não consegue-se apurar com precisão a autoria do crime. Para o código, a dúvida deve
beneficiar o réu (Direito Penal Mínimo – Luigi Ferrajoli).
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Fabrício R. O. Dias
2ª corrente – não se admite coautoria em crimes omissivos, qualquer que seja sua natureza.
De acordo com essa posição. A coautoria não seria possível nos crimes omissivos porque cada
sujeito detém o seu próprio dever de agir impostos pela lei a todos (crime próprios) ou
pertencentes a pessoas determinadas (garantes – policiais, salva-vidas, etc. – Art. 13, § 2ª).
Para Nilo batista o dever de atuar é indecomponível. Ex.: quando 2 médicos omitem
deliberadamente a notificação compulsória de uma doença, ambos são autores diretos
individualmente considerados (Art. 269). Esta é a posição adotada pela maior parte da
doutrina.
Participação
Participação (em sentido estrito) => conduta secundária, acessória, não fundamental.
Entretanto é uma conduta que tem eficácia causal para o alcance do resultado.
É preciso que haja consciência de que se está tomando parte da ação criminosa (adesão
subjetiva).
Apesar da expressão “pode ser”, não se trata de uma mera faculdade, mas de um
direito público subjetivo do acusado. Benefício para o réu que o juiz não pode deixar
de aplicar.
Norma acrescentada pela reforma penal para afastar a responsabilidade penal objetiva.
“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,
na medida de sua culpabilidade.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a
pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.”
Ex.: “Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
[...]
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio,
valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário”
1ª corrente – Nelson Hungria, Aníbal Bruno e Heleno Fragoso - não seria admitida a coautoria
do pai. O estado puerperal é uma condição personalíssima. Esse tipo tem uma pena
substancialmente reduzida, e por esta razão seria um benefício inextensível às pessoas não
dotadas da mesma circunstância.
2ª corrente – Magalhães Noronha – é possível que responda pela autoria do mesmo crime.
Respaldo na ideia de interpretação mais benéfica no “Art. 30 - Não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.”
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Punibilidade da participação
A conduta do partícipe tem natureza acessória. O Brasil pune na medida que há eficácia causal.
O código não faz a escolha. Tem-se adotado no Brasil a Teoria da Acessoriedade Limitada. A
crítica é que esta teoria desconsidera o estudo da autoria mediata. Ex.: utilização de menor
para a prática de um crime.
RESULTADO
Todo crime tem resultado jurídico (lesão ou exposição a um bem jurídico relevante). Mas nem
todo crime tem resultado naturalístico.
Há também os crimes de mera conduta. Ex.: injúria verbal, exposição obscena, etc.
NEXO DE CAUSALIDADE
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
A causa do crime é toda a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Essa análise da causalidade deve ser feita antes da análise da tipicidade. Isto é, a imputação
fática deve ser analisada pelo intérprete antes da imputação normativa. Ou seja, antes de se
apreciar a tipicidade de uma ação ou de uma omissão, é imprescindível que se identifique o
autor material do fato.
Problema da teoria: regresso ad infinitum – tudo aquilo que contribuiu para o resultado é dele
causa.
É preciso fazer um juízo de eliminação hipotética (criado em 1894 por Thyron). Suprimo
mentalmente um fato. Se suprimindo este fato o resultado deixa de acontecer, aquele fato é
causa.
Crítica: para que haja imputação normativa, é preciso que haja uma causalidade psíquica. Para
assim se fazer a imputatio delicti.
Nos crimes comissivos a causalidade é naturalística, ou seja, decorre de uma relação natural
das coisas. Há uma ação que produz um resultado. Trata-se de um conceito naturalístico. A
causalidade nos crimes comissivos se insere na órbita material.
Concausas
Existe uma convergência de causas externas à vontade do autor. Vários fatores ao mesmo
tempo interferem na prática da conduta delituosa. As concausas podem ser relativamente
independentes ou absolutamente independentes, que por sua vez podem ser pré-existentes,
concomitantes ou supervenientes.
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A) Pré-existente – João atira em Pedro, que vem a óbito um tempo depois. Não em
virtude do tiro recebido, mas porque antes ingerira veneno. Neste caso, a causa morte
não tem qualquer ligação com o comportamento do agente. Assim, a segunda causa (o
tiro) se situa fora do desdobramento da causa primária (envenenamento), que por si
só produziu o resultado. Neste caso, o agente que deu um tiro responderá apenas
pelos atos até então praticados, quais sejam, a tentativa de homicídio;
B) Concomitante – Maria fere João no momento em que ele vem a falecer por um
colapso cardíaco. Neste caso, Maria não responderá pelo resultado morte, mas apenas
pelos atos até então praticados. Pois o resultado morte está fora da linha de
desdobramento físico-causal da conduta;
C) Superveniente – Maria subministra veneno na comida de João e este falece em
consequência de um desabamento. Neste caso, Maria não resultado morte. Apenas
responderá pelos atos até então praticados, isto é, tentativa de homicídio.
Observa-se que em todos esses casos há uma observância da teoria da equivalência dos
antecedentes causais. Imputa-se ao agente apenas os atos até então praticados e não o
resultado lesivo final que está fora da linha de desdobramento causal. O que existe nesses
casos é uma quebra do nexo causal. Como as concausas são independentes, terão o poder
de produzir por si só o resultado material.
A) Pré-existentes – José desfere uma facada em Pedro, hemofílico, que vem a morrer em
consequência dos ferimentos, em virtude da condição de hemofílico. Observe-se que
neste exemplo a hemofilia é uma causa relativamente independente que se encontra
dentro da linha de desdobramento físico desenvolvido pelo agente. Assim, José
responderá pelo resultado: morte, uma vez que não existiu o rompimento do nexo
causal entre a conduta e o resultado;
B) Concomitante – José atira em Maria no exato momento em que esta está sofrendo um
ataque cardíaco, sendo que a lesão decorrente do tiro contribuiu para o resultado
morte. Neste caso não se exclui o nexo causal, pois tanto o ataque cardíaco quando à
lesão decorrente do tiro contribuíram para a morte. O agente responderá também por
homicídio;
C) Superveniente – José atira em João que é socorrido e ao ser levado por uma
ambulância sofre um acidente provoca a morte de Pedro. Nesses casos também não
há o rompimento do nexo de causalidade. Agora, pela redação do Art. 13, “§ 1º - A
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Aula de 26/09/14
O que é a teoria do domínio do fato? Fazer análise com base no acordão da AP 470.
TIPO E TIPICIDADE
Fato típico é a descrição formal da conduta que o legislador pretende proibir por uma questão
de política legislativa. Nem sempre o direito penal irá elevar à condição de tipo penal todos os
comportamentos desvaliosos (caráter fragmentário/subsidiário do direito penal). O legislador
tem que fazer uma tipificação relativa.
Tudo aquilo que não for fato típico considera-se como condutas atípica, também chamadas de
indiferentes penais.
Jiménez de Asúa diz que a existência do direito penal gera uma dupla pretensão: 1ª – uma
pretensão para o acusado de não ser invadido na sua esfera de individualidade, senão
naquelas típicas hipóteses; 2ª – pretensão de zelo subjetiva para o estado.
Cláudio Brandão diz que é um dever do estado de punir todas as condutas previamente
catalogadas.
As legitimidades política e filosófica do direito penal repousam na existência de uma lei prévia,
um catálogo prévio de tipos.
O fato típico assume uma função indiciária da ilicitude. Sempre que há um fato típico, em
regra também há ilicitude. Todo fato típico é ilícito (em regra), salvo a existência de uma causa
de exclusão de ilicitude/antijuridicidade/causa de justificação da conduta/normas permissivas.
Elas existem no DP, na CF, no CC, etc.
Ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato típico e a ordem jurídica in totum (como um
todo). A índole da ilicitude é genérica.
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1ª fase - Antes a tipicidade possuía um caráter puramente descritivo, sem indiciar nada sobre a
ilicitude e a culpabilidade. Esta teoria não foi acolhida pelos tratadistas alemães. Estava
bastante relacionada à teoria causalista.
Para esta teoria, existe independência entre tipicidade e ilicitude, mas a tipicidade dá indício
da ilicitude. Quando o agente pratica um fato típico (com todos elementos), provavelmente
será uma prática antijurídica. Esta presunção será relativa.
3ª fase – Ratio Essendi – Edmund Mezger – Pra Mezger, delito é uma ação tipicamente
antijurídica e culpável. Os elementos não são independentes. Isto é, o estudo da tipicidade não
é feito em um capítulo próprio, está incluída na antijuridicidade/ilicitude. A tipicidade é a base
real da ilicitude. É a sua ratio essendi. Mezger atribuiu ao tipo a função constitutiva da ilicitude.
Se o fato for lícito, será atípico. Isto porque a tipicidade é a razão de ser da antijuridicidade.
Desse modo, o tipo e ilicitude fundiram-se em uma relação indissolúvel. Isto é, não há que se
falar em fato típico se a conduta praticada pelo agente for permitida pelo ordenamento
jurídico. Para esta teoria, fato típico quer dizer antijurídico. É uma teoria não acolhida pelo
Brasil, que adotou a do caráter indiciário. Foi a contribuição de Mezger que permitiu a criação
da teoria dos elementos negativos do tipo.
Hellmuth von Weber – Teoria do Elementos Negativos do Tipo – cria o conceito de tipo total
do injusto: tipicidade + antijuridicidade. Para este autor, é como se as causas de exclusão de
ilicitude fossem elementos negativos do próprio tipo penal. A análise é feita no momento da
tipicidade. É como se as excludentes fossem elementos do próprio tipo penal. Tudo está no
tipo (ilicitude e tipicidade). Passa a ser o chamado tipo total.
Não foi adotada no Brasil. Excludentes de ilicitude estão previstas no próprio código e artigos
específicos.
1 – Objetivos ou Descritivos
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São os elementos objetivos que estão no tipo penal. Ex.: “matar alguém” – ‘alguém’ é um
elemento objetivo.
Os elementos objetivos podem ser analisados por um juízo de certeza. Por uma pré-
compreensão.
2 – Elementos Normativos
Tem que se fazer juízo de valor a respeito do tipo. Ex.: no Art. 158, qual o sentido de
“indevido”. Outros exemplos: Art. 151 (“indevidamente) e Art. 166 (“autoridade
competente”).
Podem ser:
Culturais – são extrajurídicos. Permitem uma valoração normativa, cuja hermenêutica é feita
muitas vezes pelo magistrado em função das suas pré-compreensões. Ex.: conceitos de
obscenidade, de pudor, de decoro, etc. Depende de um juízo direto.
3 – Elementos Subjetivos
Aula de 03/10/14
Tipos Penais
Tipo Fundamental => é aquele que aparece no caput do artigo. Ex.: Art. 121 – “Matar alguém”.
Tipo Derivado => em geral a distinção entre o tipo fundamental e o tipo derivado se dá na
circunstância na qual o legislador agrega algo ao tipo fundamental que o torna merecedor de
uma maior ou menor reprovabilidade, ou seja, pode ser um tipo qualificado ou um tipo
privilegiado. Essa censura diferenciada será refletida já na pena.
Isso é definido pelo legislador em abstrato, no momento que comina a pena, diferentemente
da dosimetria da pena, que é feita pelo aplicador no caso concreto.
Ex.:
“Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e
o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação dada pela
Lei nº 9.426, de 1996)”
Observa-se que a pena varia de 1 a 4 anos. Quando praticada sob determinadas circunstâncias
o legislador já entende que o comportamento é mais censurável (pena de 3 a 8 anos). A
receptação qualificada é um tipo derivado. No § 3º há o tipo privilegiado (pena de 1 mês a 1
ano).
Dica: majorantes e minorantes estão geralmente na parte especial (com exceções, como a
tentativa). Atenuantes e agravantes estão previstas na parte geral (art. 61, 62 e 63)(art. 65).
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Obs.: Crueldade para o DP é levar mais dor e sofrimento onde estes já existem. Aumentar o
grau.
Outros exemplos de tipos derivados: Art. 121 (homicídio, homicídio qualificado e homicídio
culposo; Art. 133 (abandono de incapaz) e Art. 135-A.
Tipos fechados – princípio da legalidade, taxatividade ou determinação taxativa => são tipos
que trazem um maior grau de precisão. Advém dos princípios que impõe ao legislador que no
momento de descrever a conduta, que o faça da maneira mais específica possível.
Tipos abertos => não trazem o grau de precisão/detalhamento necessários. A margem para
interpretações do aplicador é muito maior. Ex.: crime de gestão temerária; crime de gestão
fraudulenta; crime de rixa. O que é “temerário”, “fraudulenta”, “rixa”? Observar também que
os crimes culposos são tipos abertos. A culpa é um elemento normativo, pois depende de juízo
de valoração do juiz.
Tipo simples => é aquele que tem apenas um núcleo (verbo). Ex.: “Matar alguém”.
Tipos mistos => são aqueles que têm vários núcleos. Podem ser mistos alternativos e mistos
cumulativos.
Os mistos alternativos possuem vários núcleos, mas a prática de vários núcleos não importa na
prática de vários crimes. Ex.: Art. 33 da Lei Antidrogas (11.343/06) – “Art. 33. Importar,
exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:”; Art. 180 do CP – “Art. 180 - Adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de
crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:”. Por definição, aqui
não há concurso de crimes. A prática de diversos núcleos caracteriza um crime único.
Os chamados tipos mistos cumulativos são aqueles plurinucleares cuja prática de vários
núcleos importa em vários crimes. Ex.: Art. 244 do CP – “Art. 244. Deixar, sem justa causa, de
prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o
trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando
os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo:”.
Aula de 10/10/14
Dolo
Não há dolo normativo no Brasil. Adotamos a teoria do dolo finalístico (teoria finalista da
ação). Nesta teoria o dolo é visto como elemento típico do crime.
Em regra, os crimes somente são punidos a título de dolo. A punição a título de culpa só ocorre
quando há previsão legal, pois o dolo traduz os elementos da vontade.
Observa-se que o agir com dolo não necessariamente é reprovável (análise feita na
culpabilidade).
Teoria da vontade => a essência do dolo está na vontade de realizar o ato. Defendida por
Francesco Carrara. O dolo é a intenção de praticar um ato contrário à lei. Além da
representação, esta teoria reclama a vontade de produzir o resultado.
Teoria da representação => para esta teoria, o dolo exige apenas a previsão da realização do
resultado. Portanto, o que interessa é o aspecto intelectual do agente de poder antever as
consequências dos seus atos. Não há uma preocupação do agente querer o resultado ou
assumir o risco. Basta que este resultado tenha sido previsto/antevisto.
Disciplina do dolo no CP
O dolo está normatizado no art. 18, inc. I, parte 1 - “Diz-se o crime: [...] I - doloso, quando o
agente quis o resultado [...]” (teoria da vontade). Chamado dolo direto. O legislador identificou
dolo com intenção neste primeiro momento.
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O alemão Reinhard Frank criou uma frase para identificar quando há esta assunção do
resultado (Teoria do conhecimento positivo): “dê no que der, haja o que houver, não deixo de
praticar o ato.” Em qualquer caso eu não deixo de agir. Revela indiferença em relação ao
resultado.
Obs.: Não é possível prisão em homicídio culposo, em qualquer momento (qualquer crime
culposo).
Para Jiménez de Asúa, a análise do dolo eventual deve considerar o psiquismo do sujeito,
representações mentais, as motivações que interferiram no psiquismo do sujeito.
Para o finalismo o dolo encontra-se inserido na ação, que por sua vez está no tipo penal. Para
o finalismo a ação humana é sempre final, ou seja, é sempre voltada para um fim. Para o
finalismo, o dolo é neutro. Quem deseja matar age com dolo. Quem age em legítima defesa
também age com dolo, porque deseja produzir um resultado.
O dolo normativo, por sua vez é aquele carregado da consciência de ilicitude. No nosso
sistema, a consciência da ilicitude é elemento da culpabilidade.
Espécies de dolo
Dolo direto => o agente deseja o resultado representado como o fim da sua ação. Ou seja, o
agente visualiza de forma clara o resultado que quer produzir e age com vistas a isso.
Dolo eventual => o agente prevê o resultado que poderá ser causado pelo seu agir e mostra-se
indiferente quanto à sua ocorrência.
A indiferença completa e absoluta presente no dolo eventual é a nota distintiva entre este e a
culpa consciente. Enquanto no dolo eventual o agente adere com tranquilidade e indiferença
ao bem jurídico e à possibilidade de ocorrência do resultado, na culpa consciente, embora o
agente esteja consciente de que o resultado pode ocorrer, ele não aceite tal possibilidade, pois
“torce” para que ele não ocorra.
Os efeitos colaterais imaginados como necessários são abrangidos pela vontade consciente do
agente. A produção necessária dos efeitos colaterais situa a conduta do agente animada pelo
dolo direto.
Segundo Bitencourt, ainda que o agente lamente a ocorrência do resultado, se ele representa
mentalmente como possível, isto é, como uma parte inevitável da ação típica, constitui objeto
do dolo direto o chamado dolo direto do segundo grau.
Dolo de ímpeto
Aquele que se verifique nos crimes passionais. Não houve premeditação, praticado no calor da
emoção. Não é nada refletido.
“Art. 121. Matar alguem: [...] § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.”
Delitos de tendência
Pela redação do Decreto Lei 3.688/41 o legislador contentou-se com a mera voluntariedade da
conduta. Como se bastasse uma conduta voluntária.
Por vezes, o próprio legislador requer uma intenção adicional do sujeito obter um resultado
ulterior distintos da realização do tipo penal. Trata-se de uma finalidade transcendente, um
especial fim de agir.
Essas chamadas “intenções” especiais integram a própria estrutura subjetiva dos tipos penais.
Nesses casos, para o oferecimento de denúncias, o ministério público também deverá
demonstrar a presença desta “intenção adicional” sob pena de o crime não se configurar.
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Registre-se por oportuno que, ainda que este resultado ulterior não se realize, a intenção pode
estar configurada de forma a justificar a intervenção penal. Ex.: “Art. 131 - Praticar, com o fim
de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o
contágio:” (crime de intenção). Outros exemplos nos artigos 180, 157, 159. Geralmente
existem expressões como “com o fim, com o propósito, com a intenção”, etc.
Para Nelson Hungria são aqueles que traduzem o dolo no antecedente e a culpa no
consequente.
O prefixo “preter” significa “além”. Nesses casos o resultado extrapola o fim pretendido pelo
agente.
[...]
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem
assumiu o risco de produzí-lo:”
Culpa
Trata-se de um tipo aberto que depende de uma análise da conduta que foi efetivamente
praticada e aquela que deveria ter sido praticada.
Welzel entende que a culpa sempre ocupou um papel secundário na teoria do delito, até
porque historicamente a punição a título de culpa sempre foi feita de forma excepcional.
Observa-se que só é punível o atuar doloso, a menos que a lei ameace expressamente com
pena à ação “culposa” (também previsto no CP alemão).
pena (vide art. 59 do CP). Cada um responderá de forma autônoma. A culpa de um não
exclui a culpa do outro, ainda que o crime praticado seja o mesmo;
4. Ver distinção entre dolo eventual e culpa consciente.
Espécies de culpa
Culpa inconsciente => trata-se de uma ação praticada sem previsão do resultado previsível. No
caso concreto, ressalve-se, era plenamente possível antever o resultado culposo. O que se
recrimina aí é o defeito na formação da vontade. Segundo Francesco Carrara há culpa quando
o agente omite-se em calcular as possíveis, previsíveis consequências da sua conduta.
Culpa consciente => a culpa consciente, por sua vez, é aquela em que o agente prevê a
realização de uma conduta típica, mas confia plenamente que este resultado não ocorrerá,
faltando ao seu dever objetivo de cuidado. É também chamada de culpa com previsão. A
distinção com o dolo eventual se dá com o grau de indiferença ao bem jurídico.
Ilicitude
Breves digressões
Para Paulo Queiroz, não existe uma ilicitude tipicamente penal. A índole de ilicitude é genérica.
A diferença em relação à ilicitude frente aos outros ramos do direito é a resposta. O que
distingue o DP não são os bens defendidos, mas a resposta.
Denominação
No Brasil não há distinção entre os termos, mas Juliana prefere o termo “ilicitude” ao termo
“antijuridicidade”.
Francisco de Assis Toledo critica o termo antijurídico, pois o crime também é fato jurídico que
gera consequências. Para Juliana esta é uma discussão irrelevante.
Conceito
Para o Giuseppe Bettiol, o juiz faz uma valoração do caráter lesivo da conduta humana à luz da
ordem jurídica.
Ilicitude formal/material
Ilicitude objetiva/subjetiva
No sistema finalista, no entanto, a ilicitude tem que sempre ser subjetiva. O agente tem
alguma consciência de que está fazendo algo reprovável. Ainda que esta capacidade de
avaliação do agente seja “profana”.
Ilícito X Injusto
Para uma corrente minoritária o injusto estaria na tipicidade + ilicitude, ideia parecida com a
da tipicidade conglobante e a do tipo total do injusto.
Quanto ao requisito subjetivo (conhecimento, consciência), a lei não é expressa, mas é uma
decorrência lógica da teoria finalista. É necessário que o sujeito tenha consciência de que está
agindo sob o seu manto.
No caso do Brasil, as causas de justificação são tanto legais (direito positivo) quanto
supralegais.
Causas de exclusão
i. Constituição Federal
ii. Código Civil
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Excludentes supralegais
No entanto, para Juliana não há lógica em utilizar este princípio em desfavor do acusado.
Para o Toledo, o legislador não tem como prever todas as múltiplas possibilidades em que se
pode afastar a ilicitude do comportamento, todas as “mutações” das condições materiais e dos
valores ético-sociais. Pra ele, a criação de novas causas de justificação ainda não traduzidas em
lei torna-se uma imperiosa necessidade para a correta e justa aplicação da lei penal.
Observa-se aí que a doutrina entende que é plenamente possível a existência das causas
supralegais de excludentes de ilicitudes. O rol dado pelo legislador é meramente
exemplificativo.
A resposta é não, pois a excludente é uma norma não incriminadora, serve para favorecer.
Exemplo: Consentimento do titular do bem jurídico (caso este seja um bem disponível).
Requisitos
Deve ser lido como um direito subjetivo em sentido amplo (penal e extrapenal).
Exemplos:
- Ofendículos => São artefatos de defesa (cercas elétricas, muros com cacos de vidros, etc.).
Chamadas de defesas predispostas. Vinculados ao direito de autoproteção (Posicionamento de
Bitencourt e majoritário). Já Damásio entende como legítima defesa preordenada. Luiz Flávio
Gomes entende como exercício regular de direito. Para os que entendem como legítima
defesa há uma reação a uma injusta agressão;
- Palmadas nos filhos. O animus corrigendi pode ser causa supralegal de exclusão (é uma tese
de defesa);
No Código Civil:
Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta
ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.
[...]
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
No Código Penal:
“Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:”
O dever é o imposto por lei àquele agente que pertence à administração pública.
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Para Zaffaroni, esta situação poderia ser resolvida na tipicidade (tipicidade conglobante).
Exemplos:
- Oficial de justiça que cumpre um mandado de busca e apreensão subtraindo coisa alheia
móvel sem o consentimento do titular;
Obs.: Policiais que revidam a tiros/agressões de bandidos foragidos não se enquadram como
estrito cumprimento de dever legal, mas como legítima defesa.
Obs. 2: O Art. 301 do CPP diz que “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.” (flagrante delito
também consta na CF). Se for realizada por agente da segurança pública, estará no
cumprimento de dever. Se for particular é exercício legal de direito.
Nada obsta que os cidadãos comuns possam invocar esta excludente de forma analógica.
Exemplo (defendido por Bitencourt): Art. 231, IV, CC. Os pais têm o dever de guarda, educação
e vigilância dos filhos. Algum constrangimento que o pai submeta ao filho em função de sua
educação (sem excessos) pode ser enquadrado como estrito cumprimento do dever legal.
Obs. 3: Ao agir com excesso, o agente responde pelo fato praticado dolosamente. Responderá
pelo chamado excesso doloso.
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Aula de 17/10
Nem todos os bens são passíveis de legítima defesa (como o patrimônio público, conforme
doutrina).
Em princípio, ninguém é obrigado a suportar o injusto exercício arbitrário das próprias razões.
1 NATUREZA JURÍDICA
2 REQUISITOS
Deve haver uma lesão ou uma ameaça de lesão a um bem jurídico proveniente de uma
conduta humana. A agressão não precisa ser necessariamente um ilícito penal. A injusta
agressão já é contrária ao ordenamento.
Obs.: a) Agressão é algo “pior” do que uma provocação; b) Uma ação cega (desprovida de
vontade/deliberação) não gera agressão.
São os meios suficientes e indispensáveis para repelir uma agressão injusta. Devem ser
proporcionais à agressão, na medida do possível. “Não se abatem pardais com canhões.”
Não deve haver excessos na utilização do meio necessários. Ex.: Revidar tentativa de agressão
armada com 8 tiros.
Agressão atual é aquela que está acontecendo; iminente é aquela que, embora não ocorrendo,
irá suceder quase que imediatamente, está preste a sobrevir.
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Pode-se agir em legítima defesa de bem jurídico próprio ou de qualquer terceiro (não precisa
ser de alguém próximo).
O sujeito que age em legítima defesa é movido por uma defesa contra uma conduta reprovável
de terceiro. Isto significa que o agente possuir consciência de que irá atuar em defesa de um
bem jurídico.
Segundo Bitencourt a reação legítima autorizada pelo Direito somente se distingue da ação
criminosa pelo seu elemento subjetivo: o propósito de defender-se. Atua o agente com animus
defendendi.
3 ESPÉCIES
Putativa => Na legítima defesa putativa, o indivíduo imagina estar em legítima defesa,
reagindo contra uma agressão inexistente. Trata-se de discriminante putativa: há erro quanto
à existência de uma justificante para a conduta.
Caso seja evitável, o erro influenciará na dosimetria da pena, que será diminuída.
3.2 RECÍPROCA
Não há legítima defesa recíproca. Não é legítima defesa quando a agressão é justa, ou seja,
não é possível duas legítimas defesas simultâneas (legítima defesa contra legítima defesa).
3.3 SUCESSIVA
Havendo o excesso do sujeito durante a conduta de legítima defesa, passando a haver aí uma
agressão injusta em função do exagero, a outra parte passa a ser legitimada para utilizar-se da
legítima defesa.
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Na legítima defesa não existe conflito de interesses, ou seja, um ataque a dois bens jurídicos
simultâneos. Já no estado de necessidade isto é possível.
Também é admitida a legítima defesa contra qualquer ato acobertado por causa de exclusão
de culpabilidade.
ESTADO DE NECESSIDADE
“Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.”
Observa-se que não pode alegar estado de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o
perigo.
O código penal brasileiro filiou-se à chamada teoria unitária. Nela não importa se o bem
jurídico a ser salvaguardado é de valor superior ou igual ao bem jurídico que vai sofrer a
ofensa. Ou seja, para garantir a integridade física, eu posso destruir uma coisa de igual ou
menor valor. Para garantir uma vida, posso suprimir outra vida.
Para a teoria diferenciadora, não adotada no Brasil, existe uma divisão interna quanto aos
bens jurídicos protegidos. O estado de necessidade pode ser justificante ou exculpante. É
adotada no código penal alemão. Foi adotada no Brasil no código penal miliar.
Em resumo:
Teoria Unitária => Existe estado de necessidade quando o bem protegido é de valor igual ou
superior ao bem sacrificado. Caso contrário não estaria cumprido o requisito final do estado de
necessidade. Ainda assim, neste caso há a possibilidade de causa de diminuição de pena 1/3 a
2/3 (Art. 24, § 2º).
Teoria Diferenciadora => Só existe estado de necessidade justificante quando o bem protegido
é de valor superior ao bem sacrificado. Caracterizar-se-á o estado de necessidade exculpante
se o bem protegido for de valor igual ou inferior ao bem jurídico sacrificado (CPM, Art. 39 e
Art. 43).
Requisitos
Perigo atual => O código trata de “perigo atual”, mas a doutrina diz que este perigo também
pode ser iminente. Para Nelson Hungria e Francisco de Assis Toledo não serve a culpa grave,
ou seja, a situação de perigo deve ser alheia à vontade do agente, não tendo sido provocada
por este intencionalmente, por grosseria, por leviandade ou por inadvertência. Entretanto,
prevalece o entendimento de que esta provocação do perigo pelo próprio agente deve ser
dolosa para que não se configure o estado de necessidade.
Sacrifício Inevitável => Deve haver uma lesão necessária na medida da necessidade para salvar
o bem ameaçado. Se possível fuga, não é legítimo o sacrifício. A razoabilidade será ponderada
no caso concreto. Se não for razoável haverá apenas uma redução de pena.
Pode ser agressivo ou defensivo. É agressivo quando o agente sacrifica bens de um terceiro
inocente não provocador da situação de perigo. Pode ser defensivo quando a ação volta-se
contra quem criou a situação de perigo.
Também está previsto nos artigos 188, 929 e 930 do Código Civil.
É uma matéria não positivada no código atual, mas o novo CP (proposto) positiva esta teoria.
Desenvolvida na Alemanha, inicialmente por Heigel e depois depois Karl Larenz (1927), que
trouxe o conceito de imputação objetiva para o Direito. Richard Horig (1930) foi um dos
precursores modernos da teoria, com destaque para o trabalho “Causalidade e imputação
objetiva”. Em 1970, Claus Roxin publicou a obra “Reflexões sobre a problemática da imputação
objetiva”.
Não se trata de um estudo que objetiva fazer uma substituição conceitual da causalidade pela
imputação. Essa teoria não nega os estudos já feitos sobre o nexo de causalidade. Pretende-se,
na realidade, fazer uma correção, ou seja, passamos a ter uma causalidade não meramente
naturalística, mas uma causalidade normativa (observando que é teoria limitada aos crimes
materiais).
Ela surge com a finalidade de limitar o alcance da chamada teoria da equivalência dos
antecedentes causais, ou seja, uma limitação da responsabilidade penal, de modo que a
atribuição de um resultado a uma pessoa não é determinada pela relação de causalidade, mas
sim pela realização de um risco proibido pela norma.
2. Princípio da confiança
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O objetivo do de Roxin seria corrigir algumas deficiências do causalismo e do finalismo que não
dariam respostas satisfatórias a algumas questões.
Para Jakobs:
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CULPABILIDADE
* Bio:
1. Doença mental
2. Desenvolvimento mental:
- Incompleto
* Psicológico:
- O crtitério biológico é adotado para a menoridade penal: o legislador brasileiro presume que
até os 18 anos incompletos o indivíduo é incapaz de entender o caráter ilícito do fato
(presunção absoluta (art. 228 da CF e art. 27, CP).
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas
da legislação especial. (Constituição Federal)
(...)
Parágrafo 1.º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente
de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo 2.º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não posuía, ao tempo da ação ou da
omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito o fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
* Embriaguez preordenada - quando o sujeito se embriaga para cometer um crime (art. 61, II,
l).
* Embriaguez patológica ou crônica - equipara-se a uma doença mental; gera efeitos, inclusive,
continuados; aplica-se o art. 26, CP, onde o agente, por essas circuntâncias, é inimputável.
* Embriaguez culposa - quando o agente tem apenas a vontade de beber, não tendo a vontade
de embriagar-se, como na embriaguez voluntária, mas, por negligência, acaba embriagando-
se. Não exclui imputabilidade penal.
Aula de 28/11/14
É a consciência do autor de que seu ato ataca uma norma jurídica que protege um bem
jurídico.
Claúdio Brandão diz que a presunção do conhecimento da lei é uma mentira. São tantas
informações que apenas juristas poderiam cometer crimes.
Também pode ser entendida como uma valoração paralela na esfera do profano.
Edmund Mezger diz que uma boa política criminal é uma boa política social.
É necessário que o autor saiba que faça algo proibido (não necessariamente pelo direito). É a
valoração que se faz na esfera do profano, na vida mundana, a consciência do que é certo e
errado.
Observar que o desconhecimento da lei também pode ser enquadrado no inc. II do Art. 65 do
CP, como atenuante:
“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
[...]
No entanto, há como sustentar teses de erro de proibição para afastar este elemento da
culpabilidade, e consequente o crime.
Consiste no potencial que o agente tem de conhecer, mediante algum esforço de consciência,
a ilicitude da sua conduta. Não é necessário que o agente conheça o tipo legal. É suficiente a
consciência material, “de natureza meramente profana”. Que o fato é errado, é antissocial, é
censurável. O critério formal é defendido por Karl Binding, por Franz von Liszt. O critério
material é defendido por Ernst Meyer.
O Brasil não é partidário de uma teoria ou outra. Na nossa prática este elemento é aferido
através dos mecanismos de provas e da análise do caso concreto.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias
Digressões necessárias:
Erro X Ignorância: tecnicamente existe distinção entre ignorância e erro. O erro é a falsa noção
da realidade. A ignorância é a ausência de conhecimento da realidade. Erra quem não percebe
a realidade como ela é. É ignorante quem não conhece a realidade.
ERRO DE PROIBIÇÃO
Está no art. 21, caput: “[...] O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.”
O erro de proibição não tem correlação imediata com o desconhecimento da lei, nunca exclui
o dolo.
Erro de proibição direto: incide diretamente quanto ao conteúdo proibitivo da norma jurídica.
Erro de proibição indireto: descriminante putativa por erro de proibição. Aqui o agente
conhece a ilicitude do fato e ele acredita de forma equivocado que está autorizado a agir nas
circunstâncias.
Erro de proibição mandamental: se aplica nos crimes comissivos por omissão (omissivos
impróprios). Ocorre quando nas situações descritas no art. 13, § 2º (dever de garante), o
garantidor equivocadamente acredita que não tem o dever de agir para evitar o resultado.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias
Surgiu no século XX. Só posso censurar alguém quando eu puder exigir em um contexto de
normalidade das circunstancias fáticas um comportamento diferente. A normalidade das
circunstancias fáticas é um fundamento concreto da exigibilidade de conduta diversa,
conforme o direito.
...
É a coação moral irresistível. A coação física irresistível (vis absoluta) exclui a própria conduta,
ao passo que a coação moral irresistível exclui a culpabilidade. Existe uma margem de escolha,
que no entanto não é exigível. Para o reconhecimento desta causa de exculpação é preciso que
o perigo seja atual e inevitável, pois se puder ser evitado, ou pelo próprio sujeito ou por
autoridade, não se pode falar em dirimente (algo que exclui culpabilidade). A ameaça também
precisa ser irresistível. É a promessa de um mal injusto e grave. Toda ameaça precisa ser séria.
Tanto pode ser dirigida à pessoa do coagido quanto a algum terceiro. Em geral a casuística
coloca que este terceiro é alguém próximo.
Quando a coação é resistível, o que deve ser reconhecido em favor do coagido é uma
atenuante. Ao passo que para o coator, a pena será agravada.
[...]
[...]
[...]
Aula de 05/12/2014
“Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem”
Qual o fundamento do art. 22? É a própria inexigibilidade da conduta diversa. Não é possível
existir uma motivação normal. É a anormalidade das circunstâncias que justifica.
Caracteriza-se sempre a partir de uma relação de direito público. A ratio do legislador foi
justamente caracterizar a exculpante em situações de subordinação de direito público. Alguém
tem que ter o poder de ordenar algo e deve estar em posição hierarquicamente superior a
outro, também devendo ter alguém com competência passiva (dever de se subordinar ao
poder ordenado por um funcionário público). A manifestação de vontade pode ser um ato
decisório, sentença, decisão, comando, etc.
Em regra uma autoridade pública tem que agir dentro da legalidade. A ordem não deve ser
manifestamente ilegal.
Ex.: pode-se ordenar a alguém a prática de um crime, o que é uma ordem manifestamente
ilegal, mas ninguém está obrigado a se sujeitar a isso.
Obs.: a príncipio não se aplica nas relações privadas. Segundo Juliana, pode-se defender a
aplicação por analogia, uma vez que beneficiaria o réu.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias
Situações de exculpação supralegais (apenas em dois livros - Juarez Cirino dos Santos e René
Ariel Dotti)
Argumentos contrários
1ª crítica
Jeschek diz que essa causa deveria ser abolida, pois enfraquece uma função importante da
pena, a função de prevenção especial.
2ª crítica
Pode ensejar aplicação desigual do direito. Acaba ficando a cargo do arbítrio do julgador.
Para Jescheck, mesmo nas situações difíceis da vida, o DP deve servir para criar consciência da
obrigatoriedade, e a comunidade deve reclamar a obediência ao direito. Poderia ser
fundamento de outras excludentes, mas não exculpante.
3ª crítica
Roxin diz que quando é aberta uma política criminal generalizadamente, atenta-se contra a
divisão de poderes.
Argumentos a favor
Francisco de Assis Toledo entende quevo juiz não tem como prever todas as situações
concretas possíveis. Não admitir o emprego das causas supralegais é violar o princípio da
culpabilidade.
FATO DE CONSCIÊNCIA
Ex.: a recusa do pai Testemunha de Jeová de submeter filho em estado grave a transfusão de
sangue (escolha moral); recusa do médico (por motivo de consciência) em realizar aborto
necessário.
Claus Roxin acha que o fato de consciência não pode exculpar ações contrárias à segurança do
Estado ou ações de traição à pátria.
Para Joaquim Cirino, o fato de consciência não abrangeria lesões a direitos fundamentais,
como a vida.
DESOBEDIÊNCIA CIVIL
Conforme René Ariel Dotti, “é uma forma particular de rebeldia”. Bobbio distingue entre
desobediência comum (a ser prevenida e reprimida, que desintegra a ordem jurídica) e a
chamada desobediência civil, que tem um caráter inovador, que visa mudar a ordem de
valores de um modelo societário, mais inovador do que destruidor. Ex.: bloqueios de estrada,
ocupações de prédios públicos, presidiários que (em tese) causam danos ao patrimônio
público.
Segundo Álvaro Mayrink da Costa, deve ser uma preocupação com o bem comum, um ato de
protesto e sem violência. Ex.: movimentos pacifistas, ambientalista, etc.
Conforme Cirino, essas pessoas possuem dirigibilidade normativa, são capazes de agir
conforme o direito. Se exculpa o crime porque se entende que a censura é mínima.
CONFLITO DE DEVERES
Caso da comunidade do perigo na Alemanha nazista. Morte dos doentes mentais como forma
de selecionar um maior número de vítimas para salvar uma maioria. Critérios que surgem
casuisticamente. Qualquer pessoa agiria daquela forma nas mesmas circunstâncias.
Também pode defender como estado de necessidade (excludente de ilicitude). Não aplicando-
se, pode-se defender esta exculpante.