Você está na página 1de 56

Direito Penal II – 2014.

1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 29/08/14

Iter Criminis

1. Conceito

ITER: caminho + CRIMINIS: crime = Caminho do crime

2. Fases

Ideação – Atos preparatórios – Atos executórios – Consumação

2.1 Fases Internas

2.1.1 – Ideação/cogitação

Para o direito penal não existe nenhuma relevância e nenhuma consequência quando as ideias
estão no psiquismo do agente. As pessoas são livres para pensar em cometer um crime. Isto é
impunível. Ideias encerradas no psíquico não têm relevância penal e nem consequência de
índole processual. A má ideia não é punível, só é punível a má ideia executada.

Hans Welzel – Finalismo: Toda ação humana é orientada a uma finalidade. Não existem ações
gratuitas. O criminoso antevê o resultado que quer obter.

2.2 Fases Externas

2.2.1 – Preparação

Os atos preparatórios são impuníveis. A rigor não cabe sanção penal (entretanto pode
interferir na dosimetria da pena).
Commented [FD1]: Os crimes de perigo causam um
Os atos preparatórios são atos sem os quais o crime não poderia acontecer, mas são
perigo de ofensa ao bem jurídico tutelado, um perigo de
necessários e anteriores a este. São impuníveis. dano. São tipos penais subsidiários, de forma expressa ou
tácita. Quando houver dolo de causar dano ao bem jurídico
Ex.: Aluguel de cativeiro para futuro sequestro, sem ocorrência do sequestro em si. tutelado, deve o sujeito responder pelo crime de dano, e
não pelo crime de perigo, ainda que na modalidade tentada.
Exceção: quando a conduta preparatória tem tamanho potencial ofensivo ao bem jurídico que
possa ser punível autonomamente. O legislador erigiu à condição de tipo autônomo alguns Os crimes de perigo dividem-se em crimes de perigo
concreto e crimes de perigo abstrato. Nos crimes de perigo
atos que seriam meramente preparatórios, e como tais impuníveis, a princípio, passando estes abstrato, o perigo é visualizado pelo legislador ex ante, ou
a serem puníveis em função de sua tipificação no CP. seja, o legislador comina uma pena à conduta pelo mero
fato de considerá-la perigosa, independentemente da
Ex.: existência de perigo real no caso concreto. Já nos casos de
perigo concreto, a análise do perigo é feita ex post, ou seja,
“Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:” cabe a verificação se a conduta gerou ou não um perigo de
dano no caso concreto.
“Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:“
(Crime de perigo) Geralmente os tipos penais que contêm as expressões
“gerando perigo de dano”, “expondo a perigo” são tipos
penais de perigo concreto, só havendo crime se houver
perigo de ofensa ao bem tutelado no caso concreto.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

“Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação
de moeda:” + “Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-
moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:”

“Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em


contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.”

Diferença entre induzir, instigar e auxiliar:

Induzir = plantar ideia onde ela não existe.

Instigar = Reforçar uma ideia preexistente.

Auxiliar = Envolve cumplicidade, participação material. Fornecer os meios necessários para o


cumprimento de algo.

Estudar crítica aos crimes de perigo em contraponto ao princípio da lesividade.

2.2.2 - Fase Executória

Enquanto os atos preparatórios são penalmente irrelevantes, os atos executórios são


penalmente típicos.

Teorias para distinção de atos preparatórios e executórios – Quando é iniciada a execução?

Teoria subjetiva – Parte da análise do próprio operador do direito (hermeneuta). Parte do


elemento anímico, da intenção do sujeito. Segundo nossa legislação, a sua aplicação é inviável
porque o começo da execução do crime não pode ficar limitado ao subjetivismo, ou a aspectos
internos, abstratos, da finalidade do próprio agente.

Para Juliana, é uma teoria que tende ao autoritarismo.

A crítica feita é que há nesta teoria a sugestão de uma insegurança ao sistema penal.

Crítica de Zafaroni - Tem um inconveniente de elevar o critério individual do autor a


determinante do limite do proibido.

Teoria objetivo-material – inclui na tentativa (início da execução) as ações que em virtude de


sua vinculação necessária com a ação típica aparecem como parte integrante dela, conforme
uma concepção natural. Assim, só há ato executório se este tiver uma conexão necessária com
a ação típica. É uma teoria citada por Damásio de Jesus e por Welzel. Tal teoria completa o
critério material, que pressupõe que a execução só existe quando o bem jurídico for atacado,
ofendido, hostilizado. Também chamada de teoria da unidade natural.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Teoria objetivo-formal – Para esta teoria, o começo da execução do crime pressupõe a


realização de uma parcela da própria conduta típica descrita na norma. Para Magalhães
Noronha, seria esta a teoria que estaria mais afinada com o ideal de justiça (do réu, segundo
Juliana) e aos interesses sociais. A única teoria que daria um critério seguro de análise,
segundo ele.

Vantagens: atender o princípio da legalidade, da tipicidade. Gera maior segurança jurídica em


relação à matéria.

É a tendência entre os juízes e advogados.

Teoria da hostilidade ao bem jurídico (começo do perigo concreto para o bem jurídico) – O
ato preparatório que não é causador de qualquer perigo ao bem jurídico é estranho à esfera
da tipicidade. Para Meier, o ato executório só se configura quando põe em perigo concreto o
bem jurídico tutelado. O problema desta teoria é que o perigo é um componente eventual da
tentativa. A tentativa não exige em todos os seus casos a ocorrência de um perigo efetivo ao
bem jurídico.

Ex.: Tiro dado que não “pega” sequer de raspão no alvo. Houve uma tentativa de homicídio
revelada pelo elemento anímico do sujeito (chamada tentativa branca), embora não tenha
havido um perigo concreto ao bem jurídico.

Teoria da univocidade – Para Francesco Carrara, os atos preparatórios são atos equívocos e os
atos executórios são unívocos. Os atos preparatórios são equívocos porque podem ser
dirigidos tanto para a execução de atos ilícitos quanto atos lícitos, ao passo que os atos
executivos são unívocos, pois são dirigidos diretamente à comissão delituosa.

Também encontra-se a aplicação desta teoria em alguns casos na jurisprudência pátria.

2.2.3 – Consumação

Definição no Art. 14, inc. I do CP:

“Art. 14 - Diz-se o crime:

Crime consumado

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;”

Importância da distinção:

 O crime consumado é punido com pena maior do que o crime tentado;


 Serve para se saber o termo inicial da prescrição, quando começa a contar o prazo
prescricional. Art. 111, inc. I do CP: “Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em
julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou;”
 É preciso saber o local da consumação do crime para se saber o foro competente para
julgamento da causa. Art. 70 do CPP: “Art. 70. A competência será, de regra,
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo
lugar em que for praticado o último ato de execução.”

O momento consumativo do crime varia de acordo com a sua natureza:

Crimes permanentes - cuja consumação se prolonga no tempo. Enquanto está se


consumando, a qualquer tempo a prisão em flagrante pode se realizar.

Crimes culposos - consumação se dá ocorrência do resultado naturalístico.

Crimes habituais - só se consumam com a reiteração de condutas. Ex.: exercício ilegal da


medicina. Uma conduta isolada seria fato atípico.

Crimes materiais - consumam-se com a ocorrência do resultado naturalístico, com uma


modificação no mundo exterior.

Crimes formais - apesar da referência ao resultado naturalístico no tipo penal, estes crimes
não exigem que o resultado ocorra. Desta forma, basta que a conduta ocorra pra que o crime
esteja consumado.

Crimes de mera conduta - consumam-se com a mera ação ou omissão prevista na norma
incriminadora. O tipo penal não faz alusão a qualquer resultado naturalístico.

3. Crime Exaurido

É a produção de efeitos outros para além daqueles que são naturalmente previstos pelo tipo.
Importa um grau de reprovabilidade ainda maior para a conduta. Ocorre o exaurimento
quando depois de consumar o crime, e portanto, depois de encerrar o iter criminis, a conduta
do agente provoca uma nova agressão ao bem jurídico.

Exemplos:

Art. 137, § 1º:

“Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:

Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.

Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato
da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.”

Quando o crime é exaurido o juiz pode, na dosimetria da pena, aumentar a pena base
considerando o exaurimento como consequência lesiva do crime:

“Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime:”

Para Juliana este tema tem pouca relevância.

Texto indicado: Notas de aula de Juarez Tavares sobre tentativa.


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 05/09/2014

4. Crime Tentado

A tentativa está prevista no art. 14, inc. II e § único do CP:

“Art. 14 - Diz-se o crime:

[...]

Tentativa

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.

Pena de tentativa

Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena


correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.”

Tentativa é sinônimo de conatus (latim para esforço, impulso). Para Régis Prado, é um crime
incompleto (em oposição ao chamado crime completo, também chamado de consumado ou
perfeito).

Quando há tentativa, normalmente os atos executórios já se iniciaram.

Na tentativa “eu quero, mas não posso”, enquanto na desistência voluntária “eu posso, mas
não quero”.

Apesar da denominação “crime incompleto”, o dolo da tentativa é completo/total. Houve


apenas uma interrupção do curso causal.

É uma minorante obrigatória. É um crime que “fica pelo caminho”.

Elementos da tentativa:

 Início da execução;
 A ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente;
 Dolo total para consumação.

Qual é a natureza jurídica da tentativa?

Se dá via norma de adequação típica mediata. Existe uma ampliação temporal da figura típica.
Aplicação por extensão.

Um artigo (de fato típico) qualquer combinado com Art. 14 configura tentativa.

Não há adequação típica direta, imediata. O mesmo ocorre no concurso de pessoas (Art. 29).

A tentativa é uma norma de extensão ou de ampliação da conduta

Qual foi a teoria adotada no Brasil no tocante à punibilidade da tentativa? Que justificativa
teórica existe para se punir a tentativa?
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Enrico Ferri foi autor da chamada Teoria Sintomática que vai justificar a punibilidade da
tentativa pela periculosidade do sujeito.

Há também a Teoria Subjetiva, que não é uma teoria encontrada nos códigos modernos. A
tentativa era punida da mesma forma que os atos preparatórios.

O Brasil filiou-se à Teoria Objetiva, também chamada de Realística.

Segundo Juliana, esta adesão se deu em função do princípio da igualdade. Situações desiguais
devem ser tratadas de maneira desigual.

O legislador se preocupou em tratar a tentativa como minorante. O código impõe a redução de


pena de 1/3 a 2/3 aplicada no momento da dosimetria da pena.

A tentativa é considerada na terceira fase da dosimetria, como minorante.

Quem dá as diretrizes de aplicação é a jurisprudência, não o código. Aplicada minorante de


acordo com a maior ou menor aproximação da consumação (conforme jurisprudência).

Este critério é aplicado e justificado no HC 75.332 – GO, tramitado no STJ.

“Animus necandi” (Termo em latim que significa dolo, vontade. É a intenção de matar, ou seja,
de tirar a vida de outra pessoa) e “animus vulnerandi” (Intenção de causar ferimento).

A jurisprudência majoritária não considera a gravidade do crime ou a periculosidade do


sujeito.

Sobre a tentativa, observar no art. 14 a expressão “Salvo disposição em contrário.”

Casos há em que a tentativa é punida com a mesma pena do crime consumado. Esses são
chamados de crimes de atentado ou crimes de empreendimento. São os crimes cuja tentativa
é punida com a mesma pena do crime consumado. Aqui, excepcionalmente adota-se a teoria
subjetiva.

Ex.: Art. 309 do Código Eleitoral – “Art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em
lugar de outrem:”.

O verbo “tentar” está no núcleo da ação típica.

Ex.: Art. 352 do CP – “Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido
a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:”.

Nesses casos a tentativa já é uma consumação prevista no próprio tipo.

Há também a situação prevista no CPM, Art. 30, parágrafo único – “Pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de
excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado.”.

Espécies de tentativa

 Tentativa branca ou incruenta - em geral o objeto material da conduta não é atingido


(o bem jurídico);
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

 Tentativa cruenta ou vermelha - é quando a atuação do agente alcança o seu alvo, o


objeto da ação;
 Tentativa perfeita, acabada ou crime falho - é quando o agente esgota todos os meios
executórios e ainda assim o crime não é consumado;
 Tentativa imperfeita ou inacabada - é o contrário da perfeita. O agente inicia a
execução, ainda tinha outros meios, mas não atingiu o objetivo da ação.

Casos de inadmissibilidade de tentativa:

 Na contravenção penal o crime só é punível na sua modalidade consumada;


 Nos crimes omissivos puros (ou próprios). Ex.: Art. 135 – “Deixar de prestar assistência,
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir,
nesses casos, o socorro da autoridade pública:”. Há uma impossibilidade lógica. Já os
crimes comissivos por omissão, também chamados de omissivos impuros, impróprios
ou espúrios admitem a tentativa, pois neles há o dever de garante;
 Os crimes unisubsistentes (onde não é possível o fracionamento da conduta) também
não admitem tentativas. Ex.: Injúria verbal;
 Crimes culposos e preterdolosos também não admitem tentativa. No crime
preterdoloso o resultado agravador não é querido pelo agente.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Previstas no Art. 15 do CP: “O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução


ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.”.

São chamados de “tentativa qualificada” ou de “tentativa abandonada” (Juliana não gosta


dessas denominações). Aqui o crime não se realiza em sua integralidade por vontade do
agente e não de terceiros. Diferentemente da tentativa, houve aqui uma mudança do
elemento anímico.

Franz Von Liszt diz que esse instituto é uma “ponte de ouro” que retira o sujeito da ilicitude e
da conduta criminosa. Pra ele o legislador deu a chance do agente voltar atrás e não ser
punido, apesar do início da execução.

Responde-se apenas pelos atos já praticados, se típicos forem.

O fundamento político-criminal desses institutos é justamente conceder esses benefícios,


estimulando o arrependimento do agente.

A natureza jurídica da desistência voluntária e do arrependimento eficaz

Para Frederico Marques e para Heleno Fragoso, o que existe aqui é uma exclusão de
tipicidade. Essa é a posição dominante da doutrina (exclui apenas a tipicidade do crime
inicialmente pretendido).

Para Claus Roxin é uma causa de exclusão de culpabilidade, pois não haveria aí censura ou
reprovabilidade.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Já Nelson Hungria e Aníbal Bruno entendem que é uma causa de extinção de punibilidade em
relação ao crime inicialmente pretendido pelo agente. É como se existisse o crime, mas o
legislador optasse pela extinção da punibilidade.

Juliana diz que não é o caso, pois o art. 107 do CP já elenca as causas de extinção de
punibilidade, não estando a desistência voluntária e o arrependimento eficaz elencados no
referido artigo. Na opinião de Julliana, trata-se apenas de um indiferente penal.

No arrependimento eficaz, depois de já praticados todos os atos executórios, que são


suficientes à consumação do crime, o agente adota um comportamento para neutralizar/evitar
que aquilo que ele pretendia ocorresse. Ou seja, é sempre um fato posterior ao
aperfeiçoamento do crime tentado.

Devemos entender que se aplica aos crimes materiais.

O legislador contenta-se apenas com a voluntariedade, ou seja, livre manifestação de vontade.


A lei não exige espontaneidade, não é preciso que o desejo “brote” do próprio agente. A
motivação é irrelevante.

Não há punição nem mesmo na modalidade tentada.

Se o crime for praticado em concurso de pessoas, os efeitos desses institutos são


comunicáveis?

Existem duas correntes:

Nelson Hungria entende que está excluída também a responsabilidade do partícipe, invocando
também o art. 30 do CP, que diz que “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de
caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.”. Análise objetiva dos fatos. Esta é
posição dominante.

Já Heleno Fragoso entende que esses institutos têm caráter subjetivo. Para ele deveria ser
mantida a responsabilidade do partícipe a título de tentativa.

Para Juliana não faz sentido o partícipe ser punido de forma autônoma.

Arrependimento posterior

Previsto no art. 16 do CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.”.

Nos crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida
de 1/3 a 2/3.

É uma causa obrigatória de diminuição de pena (minorante).

Requisitos:

 Sem violência ou grave ameaça à pessoa;


 A reparação do dano deve ser voluntária (também não se exige a espontaneidade);
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

 Precisa ser pessoal (feita pelo próprio agente). Em casos de comprovada


impossibilidade, pode ser feita por terceiro;
 A reparação precisa ser integral;
 Limite temporal até o recebimento da denúncia, não do oferecimento;
 Se for depois do recebimento, vira atenuante (segunda fase da dosimetria);
 O arrependimento comunica-se aos partícipes;
 Não há critério no código para aplicação, mas em geral aplica-se o critério da
celeridade com a qual ocorre o arrependimento e a existência espontaneidade
também pode pesar;
 Se a parte não aceitar o arrependimento, não há relevância.

Casos especiais

 No juizado especial pode haver a extinção da punibilidade a partir de uma audiência


de conciliação, quando se tratar de infração de menor potencial ofensivo;
 Hipótese do Art. 168-A do CP, “Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
[..]§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e
efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento,
antes do início da ação fiscal.”.
 Peculato culposo (art. 312, § 3º, 1ª e 2ª partes): “[...] No caso do parágrafo anterior, a
reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
posterior, reduz de metade a pena imposta.”. Antes: extinção de punibilidade.
Posterior: reduz à metade;
 Peculato doloso: antes e depois do recebimento da denúncia. Antes: diminuição de
1/3 a 2/3. Depois: aplica-se a atenuante genérica do art. 65, inc. III-b. Nessa
circunstância se exige a espontaneidade.

Crime impossível

Previsto no art. 17 do CP: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”.

Prevalece o entendimento de que se trata de causa de exclusão de tipicidade.

Para Juliana é mais um irrelevante penal.

Sinônimos: tentativa impossível, tentativa inidônea ou tentativa inadequada.

Duas espécies:

 Por ineficácia absoluta do meio (executivo) - essa ineficácia absoluta precisa ser
aferida casuisticamente. Se for relativa, haverá a punição pela tentativa;
 Por impropriedade absoluta do objeto - o objeto material do crime é a pessoa ou coisa
sobre o qual recaia a ação delituosa. É preciso que seja inexistente desde o início da
execução do crime. Ex.: Dar um tiro em um cadáver; dar substância abortiva para
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

mulher que não esteja grávida, etc. Se for uma impropriedade relativa, haverá a
punição por tentativa.

Jurisprudência – Monitor FELIPE

HC 201.677 – DF – Alegação de crime impossível e em tentativa de roubo com arma contra


vítimas que não possuíam objetos de valor. Desprovido.

Aula de 12/09/14

Concurso de Pessoas

“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,
na medida de sua culpabilidade.”

O código penal de 1940 adotou a expressão coautoria. O problema dessa designação é que se
refere à apenas um dos tipos de concursos de pessoas, apenas uma parte do assunto.

O concurso de pessoas envolve a autoria/coautoria e a participação.

A matéria concursus delinquentium (concurso de pessoas) não se confunde com concursus


normarus (conflito de normas penais). Também não se confunde com concursus delictorium
(concurso de crimes).

Deve-se diferenciar os crimes de concurso necessário dos crimes de concurso eventual.

Crimes de concurso necessário

São aqueles em que há uma exigência do próprio tipo penal ou da própria essência do crime
de serem praticados por uma pluralidade de pessoas. Conforme Cláudio Brandão, a
pluralidade integra o próprio tipo.

Exemplos:

 Crime de associação criminosa: “Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,


para o fim específico de cometer crimes:”;
 Crime de rixa. Confusão tumultuária que envolve várias pessoas. Não há a
possibilidade de individualizar os contendores.

Concurso eventual

Os crimes de um modo geral podem ser praticados em concurso eventual (episódico). Ex.:
Posso roubar um banco sozinho ou em concurso de pessoas.

Observar distinção entre concurso eventual e concurso necessário.

O concurso eventual se dá através de norma de adequação típica mediata.


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Muñoz Conde chama os artigos 14, inc. II (tentativa) e 29 (concurso) do CP de normas penais
incompletas, pois não têm nenhum sentido quando lidas sozinhas. Apenas quando agregadas a
outras normas.

Requisitos do concurso de pessoas (conforme Esther Ferraz)

 Pluralidade de agentes - todos devem ser imputáveis, conforme Manzini. Não existe
concurso de pessoas entre inimputáveis. Quem não é culpável não adere
subjetivamente à conduta de outrem;
 Relação de causalidade material entre as condutas e o resultado - É preciso que haja
uma relevância causal até o resultado final. Ex.: Emprestou revolver, mas matou com
faca. Deve haver eficácia causal (conforme Damásio);
 Liame subjetivo (vínculo psicológico) – Princípio da convergência. É preciso que as
vontades sejam convergência em prol do resultado final. A simples conivência
(conhecimento) não caracteriza este vínculo. O concurso não depende de um pactum
sceleris (pacto do crime - acordo prévio), basta a adesão subjetiva;
 Existência de fato punível (adição de Esther Ferraz) – Chamado também de princípio
da exterioridade. Para que se puna a participação, é preciso a exteriorização de no
mínimo uma tentativa. Do contrário não há de se falar em punição. Ex.: Casos de
impunibilidade – “Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo
disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos,
a ser tentado.”
o Obs.: Determinação no CP é sinônimo de induzimento. O auxílio é a
contribuição material. Cúmplice é quem presta o auxílio material.
o No trecho “[...] na medida de sua culpabilidade [...]” do art. 29 observa-se a
individualização.

Teorias sobre o concurso de pessoas

 Teoria pluralista - haverá tantos crimes quantos forem os seus autores. Percebe-se
que aqui não há distinção entre participação e autoria;
 Teoria unitária (igualitária ou monista) (adotada no Brasil) - mesmo diante de uma
pluralidade de agentes haverá uma unicidade de crime. Ou seja, o crime se considera
integro, indiviso. As diversas ações devem ser lidas como um todo, como algo unitário.
Se fizermos uma leitura literal desta teoria, todos os que tomam parte no crime são
autores. Esta era a redação originária do CP-40. Após a reforma do código, foi
acrescentado no final: ”[...] na medida de sua culpabilidade“. Possibilitou-se aí a
distinção entre autor e partícipe, após a reforma de 1984. Justificativa: No modelo
inicial haveria uma responsabilidade objetiva, mas o Brasil adota a responsabilidade
subjetiva. Observa-se aí a chamada teoria unitária/igualitária/monista temperada
(matizada), em função da parte final acrescentada. A unicidade do crime não se
confunde com a unicidade da pena. O crime é único para todos, mas a pena não é a
mesma;
 Teoria dualista - defendida por Manzini, mas não tem relevância prática no Brasil.
Biparte-se a ação criminosa em dois crimes, um crime dos autores e um crime dos
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

partícipes. Para Juliana, é apenas uma invenção teórica sem aplicabilidade no nosso
DP.

Consequências da teoria adotada (teoria monista temperada):

Há uma imputação única do delito - O delito/artigo é um e mesmo para todos que tomaram
parte na infração, ainda que tenham desenvolvido atividades diferentes. Entretanto, não há
unicidade de pena. Princípio da individualização da pena.

“Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando


elementares do crime.”

Acessoriedade da participação - Se o fato principal não chegar ser ao menos tentado, o fato
acessório não é punível. Ex.: Instiguei/induzi, mas a pessoa não chegou a matar.

Exceções à teoria adotada no Brasil

No Brasil, como regra, adotamos a teoria monista temperada. Mas casos há nos quais
adotamos a teoria pluralista.

Exemplos:

- Art. 124, 2ª parte e art. 126. Tipificações autônomas. Mulher e médico respondem
igualmente. Mulher no 124 e médico no 126. Tantos autores quantos forem os seus crimes.

“Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de um a três anos.”

“Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de um a quatro anos”

- Crime de bigamia (art. 235, caput e § 1º). Tipos autônomos. Pune-se o casado e quem com
ele casa conhecendo a circunstância.

“Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo
essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.”

- Crime de corrupção (ativa e passiva). Art. 317 e 333. (A proposta de anteprojeto de CP vai
fundir os tipos de corrupção. Por ora, ambos respondem como autores em cada um dos tipos).
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

“ Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem:”

“Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício:”

- Falso testemunho e a corrupção de testemunha. Art. 342 e 343 (lembrando que calar a
verdade também é falso testemunho). Cada um responde um dos artigos.

“Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
em juízo arbitral:”

“ Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:”

Cabe concurso de pessoas em crime de mão própria? (Falso testemunho é crime de mão
própria) Commented [FD2]:
O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão de que,
apesar do crime de falso testemunho ser de mão própria,
pode haver a participação do advogado no seu
Espécies de concurso de pessoas cometimento. (HC 30858 / RS, 12/06/2006, Sexta Turma,
rel. Min. Paulo Gallotti).
- Autoria: autor é a pessoa que toma parte direta na execução do crime;

- Participação: partícipe é que ajuda.

Teorias para distinção entre autor e partícipe

 Teoria subjetivista - surgida no século XIX, empregada no império alemão, distingue-se


autor de partícipe a partir do animus auctoris, ou seja, é quem quer o fato como
próprio, como dele. Partícipe é aquele que quer o fato como alheio (animus socci).
Para Cláudio Brandão, a dificuldade de provas faz essa teoria não ser acolhida;
 Teoria extensiva - todos que concorrem para o crime seriam seus autores, sendo
irrelevante o grau de participação/conduta de cada um. Não há distinção entre autor e
partícipes. Aplicada no CP Norueguês e no CP-40 original;
 Teoria restritiva – para Cláudio Brandão, é a teoria que melhor conceitua o autor por
aferir a partir de um critério seguro. Autor é quem realiza o núcleo da ação típica (o
verbo). Partícipe é todo aquele que presta uma contribuição relevante, mas acessória
e imprescindível para execução do crime, sem contudo realizar o núcleo. Crítica de
Juarez Cirilo dos Santos: Não contempla a figura do autor mediato (para essa teoria o
autor intelectual de um crime é tratando simplesmente como um partícipe). Ex.: quem
dá ordem de execução para que outrem cometa homicídio. Essa pessoa seria tratada
como mero partícipe. Jescheck acha que essa teoria deveria ser dividida em objetivo-
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

formal (conceito já explanado) e objetivo-material (desenvolve o conceito da


perigosidade para distinção entre autor e partícipe);
 Teoria do domínio final do fato - é de Hanz Welzel (1939), considerado o pai do
finalismo alemão. “Enquanto o causalismo é cego, o finalismo é vidente.”. Para Welzel
o autor é aquele que tem o domínio finalístico do fato. É quem consegue
finalisticamente uma conduta. Quem dirige o acontecer causal e não se deixa levar
pelas forças. O autor é o senhor do acontecimento. Partícipe é quem não tem o
controle final do fato. A figura do autor mediato é admitida, ou seja, é aquele que
utiliza de outrem como um instrumento seu para a execução da infração penal (em
geral se vale de alguém de não tem culpabilidade);
 Teoria do domínio do fato (Claus Roxin) (1963 – Autoria e domínio do fato) - É apenas
um prolongamento da teoria do domínio final do fato. Ex.: Quem ocupa uma posição
dentro de um aparato organizado de poder e dá o comando para que se execute um
crime tem que responder como autor e não como partícipe. Pra ele, nem as teorias
subjetiva e objetiva dariam uma resposta satisfatória para a distinção do autor e do
partícipe.

IMPORTANTE: Para Roxin, a posição hierárquica sozinha não fundamenta o domínio do fato. O
mero “ter que saber” não basta.

Coautoria e crimes culposos


Commented [FD3]:
A doutrina alemã (Welzel) não admite nos crimes culposos nem a figura da coautoria nem a O crime próprio é o aquele que exige uma qualidade
especial do sujeito no próprio tipo penal. O crime de
figura da participação. Qualquer contribuição na causa produtora do resultado deve ser estupro, antes da reforma introduzida no Código Penal pela
tratada como autoria. Se todos os autores contribuem, cada um deve responder Lei nº 12.015/09 era um crime próprio, pois exigia a
individualizadamente. O resultado não é querido (crime culposo). qualidade “mulher” do sujeito passivo.

Já Mir Puig entende que é possível tanto a coautoria quanto a participação em sentido estrito A antiga redação do crime dispunha:

em crimes culposos. O comum acordo em relação ao resultado obviamente é impossível, pois “Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal,
o resultado não é querido. Mas em relação à conduta imprudente, que é voluntária, é possível. mediante violência ou grave ameaça:”
Neste caso, a participação permitiria uma melhor graduação da resposta penal.
Hoje, no entanto, trata-se de crime comum, pois a nova
Como a matéria está prevista no Brasil: a maioria dos autores admite a coautoria em crimes redação prevê que o crime de estupro constitui-se em:

culposos, mas não admite a participação. Ex.: Passageiro que estimula taxista a agir de forma “Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave
imprudente. ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que com ele se pratique outro ato libidinoso:”

O crime de mão própria é o crime cuja qualidade exigida do


Autoria mediata, crimes próprios e crimes de mão própria. sujeito é tão específica que não se admite co-autoria. Para o
Min. Felix Fischer, no julgamento do REsp 761354 / PR:
É possível a autoria mediata nos crimes de mão própria? Desde que o autor reúna as condições
“Os crimes de mão própria estão descritos em figuras típicas
exigidas pelo tipo o partícipe poderá tomar parte nas ações criminosas.
necessariamente formuladas de tal forma que só pode ser
autor quem esteja em situação de realizar pessoalmente e
Para a maioria da doutrina, nos crimes de mão própria seria impossível a figura do autor de forma direta o fato punível.”
mediato, pois o crime só pode ser realizado pelo autor e a execução não pode ser transferida
para ninguém. Ainda sobre o crime de mão própria, vale informar que: O
Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão de que,
Nos próprios sim. apesar do crime de falso testemunho ser de mão própria,
pode haver a participação do advogado no seu
cometimento. (HC 30858 / RS, 12/06/2006, Sexta Turma,
rel. Min. Paulo Gallotti).
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Autoria de escritório e coautoria

Autoria de escritório é uma espécie de autoria mediata. É quem transmite a ordem a ser
executado pelo executor direto e que pode ser substituído por qualquer outro.

O que seria a coautoria? Igual à própria autoria, segundo Welzel.

PARA CASA ⌂

Houve aplicação da teoria do domínio do fato na AP 470 do STF (Mensalão)? Porque a teoria
teria sido aplicada de forma errada?
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 19/09/14

FATO TÍPICO

Análise da teoria jurídica do crime

Todos os elementos do fato típico necessariamente remetem à ideia de conduta humana.

O direito penal brasileiro adota o entendimento do conceito analítico do crime sob o prisma do
finalismo.

CONDUTA

Teoria da Ação => ação / omissão – tanto o fazer quanto o deixar de fazer são puníveis.

Teoria Clássica

O sistema clássico tem como principais representantes Ernst von Beling, Gustav Radbruch e
Franz Von Liszt, que lança as bases da teoria causalista da ação.

No sistema clássico a conduta “é uma mera inervação muscular que leva a uma modificação no
mundo da vida.”

O crime deveria ser analisado como uma ação produto de um impulso cerebral que gera uma
modificação no mundo da vida.

Os críticos dizem que isso não se sustenta na realidade fenomênica.

No causalismo a conduta é analisada de uma forma objetiva, sem investigar o elemento


anímico do sujeito (dolo e culpa – que seriam elementos da culpabilidade neste sistema
clássico).

Não significa necessariamente que os causalistas sejam adeptos da responsabilidade objetiva,


mas que postergam a discussão do elemento subjetivo para a culpabilidade. A conduta é
desprovida desse elemento intencional. O conteúdo da volição do sujeito é avaliado não no
fato típico, mas na culpabilidade.

Importa apenas fazer um juízo de imputação objetiva. A culpabilidade é a sede para o


elemento anímico.

Chamada de teoria psicológica (sobre a culpabilidade). A culpabilidade é um vínculo


psicológico entre autor e fato. Desloca-se o estudo do conteúdo da vontade da ação para a
culpabilidade, esvaziando-se o conteúdo da própria ação.

Representantes brasileiros dessa corrente: Aníbal Bruno, Nelson Hungria e Manuel Pedro
Pimentel
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Críticas ao sistema clássico

 Separação que os causalistas fazem do conteúdo da vontade;


 A omissão não é relevante para a causalidade. “O nada gera nada”. Amplitude do
conceito de ação. Tanto a ação quanto a omissão gerariam efeitos relevantes.
Entretanto, a omissão só tem relevância jurídica quando é relevante do ponto de vista
normativo. A omissão penalmente relevante não é apenas a causal, mas a normativa e
baseia-se na existência de um dever jurídico de evitar o resultado. Ou seja, o sistema
clássico não explica os crimes omissivos puros;
 Não explica os crimes formais e os crimes de mera conduta;
 Dificuldade para explicar o crime tentado, pois não analisa o elemento anímico da
conduta;
 A culpa tem conteúdo normativo (outorga de natureza sociológica);
 Falta de solução satisfatória para os casos de coação moral irresistível e de obediência
hierárquica, gerando pena para o sujeito coagido. Não há a exigibilidade de conduta
diversa.

Finalismo

Diferentemente dos causalistas, que partiam do cientificismo, para Hans Welzel o causalismo é
cego. O crime não pode ser um produto das forças cegas da natureza. Não é produto de uma
mera movimentação externa do sujeito que modifica a vida. Pra ele a conduta que interessa é
a ação humana orientada por uma finalidade, aquela animada por uma vontade. O homem
quer chegar em algum lugar. Daí origina-se a reprovabilidade da conduta humana.

A finalidade baseia-se sobretudo na capacidade do ser humano de prever as consequências


dos seus atos e de dirigir a sua vontade a partir da finalidade que o agente pretende atingir.
Portanto, a ação humana é sempre uma atividade final, e não necessariamente de uma mera
atividade causal. Para Welzel, a finalidade está presente em toda conduta humana. O homem
tem um saber causal. O dolo é a própria motivação da conduta do sujeito.

Para o finalismo o dolo é natural e não normativo.

Agir dolosamente é agir sabendo que poderá haver o resultado previsto no tipo penal. Aqui o
dolo não é carregado da consciência de culpabilidade. Não é somente agir sabendo que “está
errado” (que seria visto na culpabilidade), mas é a possibilidade de conhecer que a conduta é
apta para gerar o descrito no tipo penal.

A ação final é motivada. É um agir orientado conscientemente para o fim.

Na teoria causalista não se analisa o conteúdo da vontade que está materializada na ação.
Justamente por isso é que não se reconhece que o dolo está na ação.

No finalismo, por sua vez, entende-se que é a vontade orientada conscientemente para um fim
que rege a causalidade. É por isso que o dolo é o integrante da ação (conduta). Por isso que
quando o advogado argui a ausência do dolo, está afastando a conduta, não havendo fato
típico e consequentemente crime.

Como soluciona-se a questão dos crimes culposos?


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Como é sabido, no crime culposo, a finalidade do agente não é contrária ao ordenamento


jurídico, mas existe vontade. Só que a vontade é conforme um fim aceito pelo direito.

Por que reprovar então os crimes culposos? A reprovabilidade dos crimes culposos não reside
na finalidade eleita pelo agente, mas nos meios, no caminho que o agente utilizou para atingir
o seu fim. Estes meios de exteriorização da culpa são a imprudência, a imperícia e a
negligência.

Na verdade o finalismo aparece como uma sofisticação da teoria causalista, trazendo o


elemento de uma vontade dirigida a um fim.

Segundo Welzel, o causalismo é cego e o finalismo é evidente. O causalismo separa a conduta


humana da vontade.

Teoria social da ação

Criada em 1932 por Eberhart Schmidt.

Pretendeu dar à conduta um conceito valorativo. Dizia que era imprescindível que a ação, ou
que a conduta fosse um comportamento socialmente relevante. Aqui é preciso sempre
analisar o comportamento humano à luz do mundo circundante. Só possuem relevância
jurídico-penal quando são socialmente relevantes. É uma teoria que visa superar o tratamento
antitético do causalismo X finalismo.

Crítica: aqui há conceito valorativo de ação, ou seja, para considerar a conduta tenho que
valorar a sua relevância social. Na teoria social da ação antecipa-se os juízos que devem ser
feitos na tipicidade material e antijuridicidade. Entretanto, a conduta teria que ser elemento
neutro (conforme Cláudio Brandão). O conceito de ação precisa ser valorativamente neutro,
pois é a referência de todos os elementos integrantes.

Conclusões

 Não há crime sem conduta;


 Ninguém deve ser punido por mera suspeita;
 Não se pode punir em um Estado Liberal atividades meramente suspeitas;
 É preciso que haja uma exteriorização da cogitação. Em regra, não se pune a ideação.

Casos de ausência de conduta

 Vis absoluta – coação material irresistível – Em geral há um ato de violência que


provém do mundo exterior e que atua sobre o agente anulando a sua vontade e não
lhe deixando opção. Chamada de coação física irresistível. Neste caso, não há conduta.
O coagido serve tão somente de instrumento. Não há aqui concurso de pessoas.
Obs.: a coação moral irresistível, também chamada de vis compulsiva, é caso de
exclusão de culpabilidade, não de conduta. “Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação
irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior
hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.”
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

 Movimentos reflexos – Nestes casos o movimento corpóreo não é gerado por uma
vontade. Ex.: sonambulismo, hipnose, etc.
 Casos fortuitos e de força maior.

Classificação quanto à conduta

 Crimes Comissivos – fazer o que a norma proíbe;


 Crimes Omissivos – não fazer o que a norma ordena. Os crimes omissivos podem ser:
o Próprios (ou puros) – reconhece-se pela descrição do tipo penal. O próprio
tipo penal descreve uma conduta omissiva. Ex.: “Art. 269 - Deixar o médico de
denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:”; “Art.
135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:”.
Esses crimes não admitem a modalidade tentada. Nos casos citados a omissão
só é relevante porque existe um dever jurídico de agir. A omissão representa
uma violação à uma norma jurídica;
o Impróprios impuros / espúrios / comissivos por omissão – distinguem-se por
serem praticados por aqueles que têm uma obrigação de impedir o resultado.
Possuem o dever de garante ou a posição de garantidor. A omissão só é
valorosa quando é normativamente relevante. Hipóteses previstas no Art. 13,
§ 2º: “§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e
podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha
por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma,
assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento
anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula extra de 20/09/14

CONTINUAÇÃO SOBRE CONCURSO DE PESSOAS

Autoria de escritório – autoria mediata (homem de trás) – teoria funcional do domínio do fato
procura capturar essa situação.

A maior parte da doutrina considera que não é possível a coautoria em crimes culposos. A
coautoria exige um liame psicológico.

Mir Puig entende que é possível tanto a coautoria quanto a participação nos crimes culposos.
De fato, em relação ao resultado, é impossível falar em comum acordo (resultado
involuntário). Mas em relação à conduta imprudente é plenamente possível.

No Brasil, Magalhães Noronha concorda com Mir Puig. Dá o exemplo: se dois pedreiros do alto
de um edifício resolvem lançar um material para baixo e este acaba gerando a morte de
alguém, temos aí o comum acordo para esta ação imprudente que gerou o resultado. Ele
entende que é possível aí a coautoria em crime culposo. Outro exemplo: passageiro que
estimula um taxista a correr ou avançar um sinal de trânsito.

Coautoria sucessiva

A conduta é iniciada por autoria única e finalizada em coautoria. Ex.: Caso de agressão da
UCSAL onde pai começou a agredir funcionário da universidade e filho se juntou à ação do pai
em seguida, depois de já iniciados os atos executórios.

Na coautoria o acordo prévio em geral existe, mas não é requisito.

Para o Nilo Batista, a coautoria sucessiva pode ocorrer também na fase do exaurimento. Ex.:
crime de extorsão previsto no Art. 158 do CP.

No entanto, para a maioria dos autores o exaurimento não integra o iter criminis.

Autoria colateral

A autoria colateral não integra o concurso de pessoas. A e B atiram contra C de modo


concomitante e ambos ignoram a ação um do outro. O resultado se produz de forma
independente. Cada um responde pelo seu crime. Não há concurso de pessoas.

Autoria incerta

Não consegue-se apurar com precisão a autoria do crime. Para o código, a dúvida deve
beneficiar o réu (Direito Penal Mínimo – Luigi Ferrajoli).
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

É possível a coautoria em crimes omissivos?

1ª corrente – Guilherme de Souza Nucci e Cezar Roberto Bitencourt – Para o aperfeiçoamento


da coautoria, basta que dois agentes vinculados por unidade de propósito prestem
contribuição relevante para a produção do resultado. Tanto nos omissivos puros quanto nos
comissivos por omissão. Ex.: “Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
pública:”; Ex.: grupo de taxistas que acordam em não levar para o hospital um idoso ferido.

2ª corrente – não se admite coautoria em crimes omissivos, qualquer que seja sua natureza.
De acordo com essa posição. A coautoria não seria possível nos crimes omissivos porque cada
sujeito detém o seu próprio dever de agir impostos pela lei a todos (crime próprios) ou
pertencentes a pessoas determinadas (garantes – policiais, salva-vidas, etc. – Art. 13, § 2ª).
Para Nilo batista o dever de atuar é indecomponível. Ex.: quando 2 médicos omitem
deliberadamente a notificação compulsória de uma doença, ambos são autores diretos
individualmente considerados (Art. 269). Esta é a posição adotada pela maior parte da
doutrina.

Participação

Participação (em sentido estrito) => conduta secundária, acessória, não fundamental.
Entretanto é uma conduta que tem eficácia causal para o alcance do resultado.

Não se confunde participação com conivência. A participação é punível. A conivência não é


punível.

É preciso que haja consciência de que se está tomando parte da ação criminosa (adesão
subjetiva).

Divide-se em participação moral e em participação especial.

 Participação moral – Se dá por induzimento ou por instigação. Interfere sobretudo na


fase de ideação do crime. Deve-se dirigir sempre a uma pessoa determinada e sobre
um fato determinado. Do contrário, haveria a caracterização da incitação do crime.
Indução é chamada por Nelson Hungria de determinação. É subministrar na mente de
alguém uma ideia não existente. Plantar uma ideia (Inception).
A instigação é um reforço a uma ideia preexistente. É animar, estimular. O meio é
indiferente (aconselhamento, persuasão, etc.). Acalorar uma ideia que já existe.

 Participação material – Auxílio, também chamado de cumplicidade. É aquela que se


opera no mundo exterior (em regra). É sempre uma contribuição material que tenha
eficácia causal para a ocorrência do crime. Em geral é o oferecimento dos meios para
que o crime se realize (ex.: empréstimo da arma).
A participação de menor importância gera uma diminuição de pena prevista no § 1º do
Art. 29, no percentual variável de 1/6 a 1/3.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Apesar da expressão “pode ser”, não se trata de uma mera faculdade, mas de um
direito público subjetivo do acusado. Benefício para o réu que o juiz não pode deixar
de aplicar.

Desvio subjetivo de conduta – cooperação dolosamente distinta

Se A determina a B que lesione C e na hora “H” o executor se excede e mata a pessoa


lesionada.

Norma acrescentada pela reforma penal para afastar a responsabilidade penal objetiva.

“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas,
na medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um


terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a
pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.”

Cezar Roberto Bitencourt e Cleber Masson entendem que a participação de menor


importância não vale para o coautor do crime.

“Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando


elementares do crime.”

Ex.: “Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:

[...]

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio,
valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário”

Controvérsia sobre o infanticídio

Se o pai auxilia, pode responder como partícipe?

(Coautoria em crime próprio)

1ª corrente – Nelson Hungria, Aníbal Bruno e Heleno Fragoso - não seria admitida a coautoria
do pai. O estado puerperal é uma condição personalíssima. Esse tipo tem uma pena
substancialmente reduzida, e por esta razão seria um benefício inextensível às pessoas não
dotadas da mesma circunstância.

2ª corrente – Magalhães Noronha – é possível que responda pela autoria do mesmo crime.
Respaldo na ideia de interpretação mais benéfica no “Art. 30 - Não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.”
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Punibilidade da participação

A conduta do partícipe tem natureza acessória. O Brasil pune na medida que há eficácia causal.

“Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em


contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.”

Teorias que fundamentam a punibilidade do partícipe

 Teoria da Acessoriedade Mínima – é suficiente a punibilidade do partícipe se o fato do


autor for simplesmente típico (teoria exagerada segundo Juliana);
 Teoria da Acessoriedade Limitada (adotada no Brasil) – para que o partícipe seja
punido, basta que o autor tenha praticado um fato típico e ilícito;
 Teoria da Acessoriedade Máxima – o partícipe só pode ser punido se o autor praticar
um fato típico, ilícito e culpável;
 Teoria da Hiperacessoriedade – para a punição do partícipe, é necessário que o autor
pratique um fato típico, ilícito, culpável e punível. Crítica: dificilmente se chegará a
todos os requisitos.

O código não faz a escolha. Tem-se adotado no Brasil a Teoria da Acessoriedade Limitada. A
crítica é que esta teoria desconsidera o estudo da autoria mediata. Ex.: utilização de menor
para a prática de um crime.

RESULTADO

Todo crime tem resultado jurídico (lesão ou exposição a um bem jurídico relevante). Mas nem
todo crime tem resultado naturalístico.

Em geral os crimes materiais exigem a existência de um resultado naturalístico.

Há também os crimes de mera conduta. Ex.: injúria verbal, exposição obscena, etc.

NEXO DE CAUSALIDADE

É um dos elementos do fato típico. É o liame entre a conduta e o resultado.

Disciplinada no Art. 13, § 1º e 2º:

“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,


por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.”

A causa do crime é toda a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Para o legislador, tudo o que contribui para o crime é causa.

Essa análise da causalidade deve ser feita antes da análise da tipicidade. Isto é, a imputação
fática deve ser analisada pelo intérprete antes da imputação normativa. Ou seja, antes de se
apreciar a tipicidade de uma ação ou de uma omissão, é imprescindível que se identifique o
autor material do fato.

Adotada a teoria da equivalência dos antecedentes causais, também chamada teoria da


conditio sine qua non.

Problema da teoria: regresso ad infinitum – tudo aquilo que contribuiu para o resultado é dele
causa.

Como saber qual é a causa?

É preciso fazer um juízo de eliminação hipotética (criado em 1894 por Thyron). Suprimo
mentalmente um fato. Se suprimindo este fato o resultado deixa de acontecer, aquele fato é
causa.

Crítica: para que haja imputação normativa, é preciso que haja uma causalidade psíquica. Para
assim se fazer a imputatio delicti.

Como limitar o regresso? Através da análise do elemento anímico.

Excepcionalmente, o código adota no Art. 13, § 1º a teoria da causalidade adequada


(Johannes von Kries) no tocante ao estudo das concausas.

É preciso que julgador examine se a atividade praticada foi adequada à concretização do


resultado pretendido pelo agente. Ou seja, a causa adequada é aquele que, de fato, tem
idoneidade para gerar o efeito pretendido pelo agente, que deverá ser aferida pelo juiz no
caso concreto a partir do comportamento mediano dos seres humanos.

Nos crimes comissivos a causalidade é naturalística, ou seja, decorre de uma relação natural
das coisas. Há uma ação que produz um resultado. Trata-se de um conceito naturalístico. A
causalidade nos crimes comissivos se insere na órbita material.

Todavia, em se tratando de crimes omissivos, a causalidade é normativa, isto é, decorre de


uma vontade da lei. Isto porque, pelas leis da causalidade natural, o não agir não gerará
nenhuma consequência. O nada, nada gera. Assim, nos crimes omissivos houve uma decisão
de política legislativa para punir alguém que deveria agir e que ficou inerte. Portanto, o
legislador criou um artifício, isto é, a causalidade nos crimes omissivo é normativa.

Concausas

Existe uma convergência de causas externas à vontade do autor. Vários fatores ao mesmo
tempo interferem na prática da conduta delituosa. As concausas podem ser relativamente
independentes ou absolutamente independentes, que por sua vez podem ser pré-existentes,
concomitantes ou supervenientes.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

As causas absolutamente independentes nascem de circunstâncias completamente diversas


da conduta principal. Por esta razão é considerada como se por si só houvesse produzido o
resultado final lesivo. Isto é, existiria o resultado ainda que na eliminação hipotética fosse
retirada a conduta do agente. Desta forma, o agente não será responsabilizado pelo evento
danoso final, mas tão somente pelos atos até então praticados. Esta concausa pode ser em
relação à conduta principal. Tipos:

A) Pré-existente – João atira em Pedro, que vem a óbito um tempo depois. Não em
virtude do tiro recebido, mas porque antes ingerira veneno. Neste caso, a causa morte
não tem qualquer ligação com o comportamento do agente. Assim, a segunda causa (o
tiro) se situa fora do desdobramento da causa primária (envenenamento), que por si
só produziu o resultado. Neste caso, o agente que deu um tiro responderá apenas
pelos atos até então praticados, quais sejam, a tentativa de homicídio;
B) Concomitante – Maria fere João no momento em que ele vem a falecer por um
colapso cardíaco. Neste caso, Maria não responderá pelo resultado morte, mas apenas
pelos atos até então praticados. Pois o resultado morte está fora da linha de
desdobramento físico-causal da conduta;
C) Superveniente – Maria subministra veneno na comida de João e este falece em
consequência de um desabamento. Neste caso, Maria não resultado morte. Apenas
responderá pelos atos até então praticados, isto é, tentativa de homicídio.

Observa-se que em todos esses casos há uma observância da teoria da equivalência dos
antecedentes causais. Imputa-se ao agente apenas os atos até então praticados e não o
resultado lesivo final que está fora da linha de desdobramento causal. O que existe nesses
casos é uma quebra do nexo causal. Como as concausas são independentes, terão o poder
de produzir por si só o resultado material.

Por sua vez, as concausas relativamente independentes originam-se da conduta praticada


pelo agente, mas não se situam entre as suas consequências diretas. Assim, o resultado
lesivo final é produzido apenas pela incidência da concausa. Todavia, a independência não
é absoluta, uma vez que eliminada hipoteticamente a conduta do agente, o resultado
lesivo final não teria acontecido. Também aqui, as concausas relativamente independentes
podem ser:

A) Pré-existentes – José desfere uma facada em Pedro, hemofílico, que vem a morrer em
consequência dos ferimentos, em virtude da condição de hemofílico. Observe-se que
neste exemplo a hemofilia é uma causa relativamente independente que se encontra
dentro da linha de desdobramento físico desenvolvido pelo agente. Assim, José
responderá pelo resultado: morte, uma vez que não existiu o rompimento do nexo
causal entre a conduta e o resultado;
B) Concomitante – José atira em Maria no exato momento em que esta está sofrendo um
ataque cardíaco, sendo que a lesão decorrente do tiro contribuiu para o resultado
morte. Neste caso não se exclui o nexo causal, pois tanto o ataque cardíaco quando à
lesão decorrente do tiro contribuíram para a morte. O agente responderá também por
homicídio;
C) Superveniente – José atira em João que é socorrido e ao ser levado por uma
ambulância sofre um acidente provoca a morte de Pedro. Nesses casos também não
há o rompimento do nexo de causalidade. Agora, pela redação do Art. 13, “§ 1º - A
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si


só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou.” A não responsabilização penal pela incidência da causa relativamente
independente superveniente é uma exceção. Neste caso, o código adotou a teoria da
causalidade adequada.

Aula de 26/09/14

Para casa ⌂ – pesquisar em três livros (Juarez, Greco e Bitencourt):

O que é a teoria do domínio do fato? Fazer análise com base no acordão da AP 470.

TIPO E TIPICIDADE

Evolução histórico dogmática do conceito de tipo

Fato típico é a descrição formal da conduta que o legislador pretende proibir por uma questão
de política legislativa. Nem sempre o direito penal irá elevar à condição de tipo penal todos os
comportamentos desvaliosos (caráter fragmentário/subsidiário do direito penal). O legislador
tem que fazer uma tipificação relativa.

Tudo aquilo que não for fato típico considera-se como condutas atípica, também chamadas de
indiferentes penais.

Tanto a criminalização quanto a descriminalização de condutas dependem de uma


conveniência política. Devem ser escolher políticas orientadas à proteção de um interesse
público.

Funções do tipo penal

Para Juliana, todas se resumem na função de garantir, ou seja, o princípio da legalidade.

Jiménez de Asúa diz que a existência do direito penal gera uma dupla pretensão: 1ª – uma
pretensão para o acusado de não ser invadido na sua esfera de individualidade, senão
naquelas típicas hipóteses; 2ª – pretensão de zelo subjetiva para o estado.

Cláudio Brandão diz que é um dever do estado de punir todas as condutas previamente
catalogadas.

As legitimidades política e filosófica do direito penal repousam na existência de uma lei prévia,
um catálogo prévio de tipos.

O fato típico assume uma função indiciária da ilicitude. Sempre que há um fato típico, em
regra também há ilicitude. Todo fato típico é ilícito (em regra), salvo a existência de uma causa
de exclusão de ilicitude/antijuridicidade/causa de justificação da conduta/normas permissivas.
Elas existem no DP, na CF, no CC, etc.

Ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato típico e a ordem jurídica in totum (como um
todo). A índole da ilicitude é genérica.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

A tipicidade é um dos elementos do fato típico. É analisada através de um juízo subsuntivo,


uma relação de ajuste, enquadramento. Essa relação de encaixe é a tipicidade formal.

Fato típico X Ilicitude

A tipicidade revela um caráter indiciário da ilicitude. (Ernst Mayer)

1ª fase - Antes a tipicidade possuía um caráter puramente descritivo, sem indiciar nada sobre a
ilicitude e a culpabilidade. Esta teoria não foi acolhida pelos tratadistas alemães. Estava
bastante relacionada à teoria causalista.

2ª fase (adotada hoje) – fase do caráter indiciário da ilicitude, ou da ratio cognocendi. A


tipicidade deixa de ter função meramente descritiva, passando a ter caráter indiciário da
ilicitude. Se há tipicidade, em regra também haverá ilicitude, salvo causas de exclusão de
ilicitude/justificante/justificadora/exclusão de antijuridicidade. A tipicidade não é
valorativamente neutra. (Ernst Mayer)

Para esta teoria, existe independência entre tipicidade e ilicitude, mas a tipicidade dá indício
da ilicitude. Quando o agente pratica um fato típico (com todos elementos), provavelmente
será uma prática antijurídica. Esta presunção será relativa.

A tipicidade pode ser traduzida como proibição à priori, um desvalor a princípio.

Na síntese de Figueiredo Dias a tipicidade é o primeiro degrau valorativo na teoria do crime.

3ª fase – Ratio Essendi – Edmund Mezger – Pra Mezger, delito é uma ação tipicamente
antijurídica e culpável. Os elementos não são independentes. Isto é, o estudo da tipicidade não
é feito em um capítulo próprio, está incluída na antijuridicidade/ilicitude. A tipicidade é a base
real da ilicitude. É a sua ratio essendi. Mezger atribuiu ao tipo a função constitutiva da ilicitude.
Se o fato for lícito, será atípico. Isto porque a tipicidade é a razão de ser da antijuridicidade.
Desse modo, o tipo e ilicitude fundiram-se em uma relação indissolúvel. Isto é, não há que se
falar em fato típico se a conduta praticada pelo agente for permitida pelo ordenamento
jurídico. Para esta teoria, fato típico quer dizer antijurídico. É uma teoria não acolhida pelo
Brasil, que adotou a do caráter indiciário. Foi a contribuição de Mezger que permitiu a criação
da teoria dos elementos negativos do tipo.

Hellmuth von Weber – Teoria do Elementos Negativos do Tipo – cria o conceito de tipo total
do injusto: tipicidade + antijuridicidade. Para este autor, é como se as causas de exclusão de
ilicitude fossem elementos negativos do próprio tipo penal. A análise é feita no momento da
tipicidade. É como se as excludentes fossem elementos do próprio tipo penal. Tudo está no
tipo (ilicitude e tipicidade). Passa a ser o chamado tipo total.

Não foi adotada no Brasil. Excludentes de ilicitude estão previstas no próprio código e artigos
específicos.

Elementos estruturais do tipo penal

1 – Objetivos ou Descritivos
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Capacidade do ser humano de perceber os elementos descritos.

São os elementos objetivos que estão no tipo penal. Ex.: “matar alguém” – ‘alguém’ é um
elemento objetivo.

Os elementos objetivos podem ser analisados por um juízo de certeza. Por uma pré-
compreensão.

2 – Elementos Normativos

Tem que se fazer juízo de valor a respeito do tipo. Ex.: no Art. 158, qual o sentido de
“indevido”. Outros exemplos: Art. 151 (“indevidamente) e Art. 166 (“autoridade
competente”).

Elementos caracterizados pela necessidade de valoração. Não há um juízo de certeza.

Podem ser:

Jurídicos – O próprio ordenamento indica a valoração. Ex.: duplicata, cheque, funcionário


público, documento, etc.

Culturais – são extrajurídicos. Permitem uma valoração normativa, cuja hermenêutica é feita
muitas vezes pelo magistrado em função das suas pré-compreensões. Ex.: conceitos de
obscenidade, de pudor, de decoro, etc. Depende de um juízo direto.

3 – Elementos Subjetivos

Derivam da teoria final da ação (teoria finalística).

O elemento subjetivo do crime (esfera anímica) é o dolo.


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 03/10/14

Tipos Penais

Tipo Fundamental => é aquele que aparece no caput do artigo. Ex.: Art. 121 – “Matar alguém”.

Tipo Derivado => em geral a distinção entre o tipo fundamental e o tipo derivado se dá na
circunstância na qual o legislador agrega algo ao tipo fundamental que o torna merecedor de
uma maior ou menor reprovabilidade, ou seja, pode ser um tipo qualificado ou um tipo
privilegiado. Essa censura diferenciada será refletida já na pena.

Isso é definido pelo legislador em abstrato, no momento que comina a pena, diferentemente
da dosimetria da pena, que é feita pelo aplicador no caso concreto.

Ex.:

“Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Receptação qualificada (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,


montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto
de crime: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer


forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. (Redação dada
pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e
o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação dada pela
Lei nº 9.426, de 1996)”

Observa-se que a pena varia de 1 a 4 anos. Quando praticada sob determinadas circunstâncias
o legislador já entende que o comportamento é mais censurável (pena de 3 a 8 anos). A
receptação qualificada é um tipo derivado. No § 3º há o tipo privilegiado (pena de 1 mês a 1
ano).

Não confundir tipos qualificados e privilegiados com minorantes, majorantes, atenuantes e


agravantes, que são avaliados na dosimetria da pena.

Dica: majorantes e minorantes estão geralmente na parte especial (com exceções, como a
tentativa). Atenuantes e agravantes estão previstas na parte geral (art. 61, 62 e 63)(art. 65).
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Obs.: Crueldade para o DP é levar mais dor e sofrimento onde estes já existem. Aumentar o
grau.

Outros exemplos de tipos derivados: Art. 121 (homicídio, homicídio qualificado e homicídio
culposo; Art. 133 (abandono de incapaz) e Art. 135-A.

Tipos fechados e tipos abertos

Tipos fechados – princípio da legalidade, taxatividade ou determinação taxativa => são tipos
que trazem um maior grau de precisão. Advém dos princípios que impõe ao legislador que no
momento de descrever a conduta, que o faça da maneira mais específica possível.

Tipos abertos => não trazem o grau de precisão/detalhamento necessários. A margem para
interpretações do aplicador é muito maior. Ex.: crime de gestão temerária; crime de gestão
fraudulenta; crime de rixa. O que é “temerário”, “fraudulenta”, “rixa”? Observar também que
os crimes culposos são tipos abertos. A culpa é um elemento normativo, pois depende de juízo
de valoração do juiz.

Tipos simples e tipos mistos

Tipo simples => é aquele que tem apenas um núcleo (verbo). Ex.: “Matar alguém”.

Tipos mistos => são aqueles que têm vários núcleos. Podem ser mistos alternativos e mistos
cumulativos.

Os mistos alternativos possuem vários núcleos, mas a prática de vários núcleos não importa na
prática de vários crimes. Ex.: Art. 33 da Lei Antidrogas (11.343/06) – “Art. 33. Importar,
exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:”; Art. 180 do CP – “Art. 180 - Adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de
crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:”. Por definição, aqui
não há concurso de crimes. A prática de diversos núcleos caracteriza um crime único.

Os chamados tipos mistos cumulativos são aqueles plurinucleares cuja prática de vários
núcleos importa em vários crimes. Ex.: Art. 244 do CP – “Art. 244. Deixar, sem justa causa, de
prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o
trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando
os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo:”.

APRESENTAÇÃO DO MONITOR JOÃO LIGUORI

Teoria da Tipicidade Conglobante – Eugenio Raúl Zaffaroni


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

A tipicidade conglobante seria a união da tipicidade material com a antinormatividade.

Assim, nesta teoria a tipicidade penal é o conjunto da tipicidade formal e da tipicidade


conglobante.

Aula de 10/10/14

Dolo

A consciência é a vontade de realizar determinado tipo penal. O dolo é o diretor da vontade


humana.

A culpa é um tipo aberto. É um elemento normativo do crime. Depende de um juízo de


valoração do magistrado naquele caso concreto.

Não há dolo normativo no Brasil. Adotamos a teoria do dolo finalístico (teoria finalista da
ação). Nesta teoria o dolo é visto como elemento típico do crime.

Em regra, os crimes somente são punidos a título de dolo. A punição a título de culpa só ocorre
quando há previsão legal, pois o dolo traduz os elementos da vontade.

Observa-se que o agir com dolo não necessariamente é reprovável (análise feita na
culpabilidade).

Teoria da vontade => a essência do dolo está na vontade de realizar o ato. Defendida por
Francesco Carrara. O dolo é a intenção de praticar um ato contrário à lei. Além da
representação, esta teoria reclama a vontade de produzir o resultado.

Teoria da representação => para esta teoria, o dolo exige apenas a previsão da realização do
resultado. Portanto, o que interessa é o aspecto intelectual do agente de poder antever as
consequências dos seus atos. Não há uma preocupação do agente querer o resultado ou
assumir o risco. Basta que este resultado tenha sido previsto/antevisto.

Teoria do consentimento ou do assentimento => não basta a mera representação intelectual


para o que o dolo se configure. É necessário que o cidadão consinta, isto é, preste anuência
àquele resultado que ele antevê, demonstrando um grau de indiferença do sujeito me relação
ao bem jurídico tutelado. Assim, não há dolo apenas quando o agente prevê o resultado, mas
quando o agente assume o risco da produção do resultado. Ex.: fazer um racha. Não há
intenção de matar, mas assume-se o risco de produzir o resultado, ainda que não seja
diretamente querido.

Disciplina do dolo no CP

O dolo está normatizado no art. 18, inc. I, parte 1 - “Diz-se o crime: [...] I - doloso, quando o
agente quis o resultado [...]” (teoria da vontade). Chamado dolo direto. O legislador identificou
dolo com intenção neste primeiro momento.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Num segundo momento o legislador adotou a teoria do assentimento, ou do consentimento.


Quando o agente representa mentalmente o resultado, e anui, assente, consente com o
resultado. Art. 18, inc. I, parte 2 - “[...] ou assumiu o risco de produzi-lo”.

O alemão Reinhard Frank criou uma frase para identificar quando há esta assunção do
resultado (Teoria do conhecimento positivo): “dê no que der, haja o que houver, não deixo de
praticar o ato.” Em qualquer caso eu não deixo de agir. Revela indiferença em relação ao
resultado.

Obs.: Não é possível prisão em homicídio culposo, em qualquer momento (qualquer crime
culposo).

Para Jiménez de Asúa, a análise do dolo eventual deve considerar o psiquismo do sujeito,
representações mentais, as motivações que interferiram no psiquismo do sujeito.

Para o finalismo o dolo encontra-se inserido na ação, que por sua vez está no tipo penal. Para
o finalismo a ação humana é sempre final, ou seja, é sempre voltada para um fim. Para o
finalismo, o dolo é neutro. Quem deseja matar age com dolo. Quem age em legítima defesa
também age com dolo, porque deseja produzir um resultado.

O dolo normativo, por sua vez é aquele carregado da consciência de ilicitude. No nosso
sistema, a consciência da ilicitude é elemento da culpabilidade.

Espécies de dolo

Dolo direto => o agente deseja o resultado representado como o fim da sua ação. Ou seja, o
agente visualiza de forma clara o resultado que quer produzir e age com vistas a isso.

Dolo eventual => o agente prevê o resultado que poderá ser causado pelo seu agir e mostra-se
indiferente quanto à sua ocorrência.

Distinção entre a culpa consciente e o dolo eventual

Na culpa consciente em nenhum o momento o agente assume o risco de produzir o resultado.


O agente antevê o resultado, que pode ser originado a partir do seu agir, porém não se mostra
indiferente quanto à sua ocorrência, ao revés, deseja sinceramente que tal não ocorra, pois
acredita que as suas habilidades evitarão a ocorrência do resultado. É justamente porque o
agente antevê o resultado que a culpa consciente é chamada de culpa com previsão, pois o
agente deixa de observar a diligência à que ordinariamente estava obrigado.

A indiferença completa e absoluta presente no dolo eventual é a nota distintiva entre este e a
culpa consciente. Enquanto no dolo eventual o agente adere com tranquilidade e indiferença
ao bem jurídico e à possibilidade de ocorrência do resultado, na culpa consciente, embora o
agente esteja consciente de que o resultado pode ocorrer, ele não aceite tal possibilidade, pois
“torce” para que ele não ocorra.

Dolo direto de segundo grau


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Os efeitos colaterais imaginados como necessários são abrangidos pela vontade consciente do
agente. A produção necessária dos efeitos colaterais situa a conduta do agente animada pelo
dolo direto.

Segundo Bitencourt, ainda que o agente lamente a ocorrência do resultado, se ele representa
mentalmente como possível, isto é, como uma parte inevitável da ação típica, constitui objeto
do dolo direto o chamado dolo direto do segundo grau.

Dolo de ímpeto

Aquele que se verifique nos crimes passionais. Não houve premeditação, praticado no calor da
emoção. Não é nada refletido.

Art. 121, p. 1º, diminuição de pena de um sexto ao um terço.

“Art. 121. Matar alguem: [...] § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.”

Delitos de tendência

O crime só se configura se o propósito/ânimo do agente for verificado no caso concreto. Ex.:


“Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas”, onde há o propósito de ultrajar; nos crimes
contra a honra dos artigos 138, 139, 140 deve estar presente o propósito de ofender.

Questão do dolo na lei de contravenções penais

Pela redação do Decreto Lei 3.688/41 o legislador contentou-se com a mera voluntariedade da
conduta. Como se bastasse uma conduta voluntária.

“Para a existência da contravenção basta a ação ou omissão voluntária”.

IMPORTANTE: Apesar do legislador ter se contentado com a expressão “voluntariedade”, em


relação às contravenções penais também deve se analisar se houve o dolo do agente
(elemento anímico).

Crimes de intenção ou delitos de intenção

Por vezes, o próprio legislador requer uma intenção adicional do sujeito obter um resultado
ulterior distintos da realização do tipo penal. Trata-se de uma finalidade transcendente, um
especial fim de agir.

Essas chamadas “intenções” especiais integram a própria estrutura subjetiva dos tipos penais.
Nesses casos, para o oferecimento de denúncias, o ministério público também deverá
demonstrar a presença desta “intenção adicional” sob pena de o crime não se configurar.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Registre-se por oportuno que, ainda que este resultado ulterior não se realize, a intenção pode
estar configurada de forma a justificar a intervenção penal. Ex.: “Art. 131 - Praticar, com o fim
de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o
contágio:” (crime de intenção). Outros exemplos nos artigos 180, 157, 159. Geralmente
existem expressões como “com o fim, com o propósito, com a intenção”, etc.

Crimes Preterdolosos ou preter-intencionais

Para Nelson Hungria são aqueles que traduzem o dolo no antecedente e a culpa no
consequente.

O prefixo “preter” significa “além”. Nesses casos o resultado extrapola o fim pretendido pelo
agente.

A intenção permanece aquém do resultado.

Ex.: “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

[...]

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem
assumiu o risco de produzí-lo:”

Culpa

Para o Direito Penal, a culpa é a inobservância de um dever objetivo de cuidado manifestada


ou exteriorizada pela imprudência, imperícia ou negligência que produz um resultado não
querido, mas objetivamente previsível.

Trata-se de um tipo aberto que depende de uma análise da conduta que foi efetivamente
praticada e aquela que deveria ter sido praticada.

Welzel entende que a culpa sempre ocupou um papel secundário na teoria do delito, até
porque historicamente a punição a título de culpa sempre foi feita de forma excepcional.

O conceito surge com os romanistas, como um fato de um resultado imprevisto, embora


objetivamente previsível.

Observa-se que só é punível o atuar doloso, a menos que a lei ameace expressamente com
pena à ação “culposa” (também previsto no CP alemão).

Generalidades dos crimes culposos

1. Tipo residual, ou seja, de punição excepcional;


2. Tipo aberto/elemento normativo/juízo de valor do magistrado;
3. Impossibilidade dogmática de compensação de culpas – em direito penal não se
compensa as culpas recíprocas do ofensor e do ofendido. Eventual “culpa” da vítima
não exime a responsabilidade do autor do fato. Obviamente que a contribuição da
vítima para a ocorrência do crime deverá ser levada em consideração na dosimetria da
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

pena (vide art. 59 do CP). Cada um responderá de forma autônoma. A culpa de um não
exclui a culpa do outro, ainda que o crime praticado seja o mesmo;
4. Ver distinção entre dolo eventual e culpa consciente.

Espécies de culpa

Culpa inconsciente => trata-se de uma ação praticada sem previsão do resultado previsível. No
caso concreto, ressalve-se, era plenamente possível antever o resultado culposo. O que se
recrimina aí é o defeito na formação da vontade. Segundo Francesco Carrara há culpa quando
o agente omite-se em calcular as possíveis, previsíveis consequências da sua conduta.

Culpa consciente => a culpa consciente, por sua vez, é aquela em que o agente prevê a
realização de uma conduta típica, mas confia plenamente que este resultado não ocorrerá,
faltando ao seu dever objetivo de cuidado. É também chamada de culpa com previsão. A
distinção com o dolo eventual se dá com o grau de indiferença ao bem jurídico.

FUDEU (culpa consciente) X FODA-SE (dolo eventual)


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula extra de 11/10/2014

Ilicitude

Breves digressões

A ilicitude é uma relação de contrariedade entre a conduta humana e o ordenamento jurídico


como um todo (in totum), não somente contra o direito penal.

Para Paulo Queiroz, não existe uma ilicitude tipicamente penal. A índole de ilicitude é genérica.
A diferença em relação à ilicitude frente aos outros ramos do direito é a resposta. O que
distingue o DP não são os bens defendidos, mas a resposta.

Denominação

O termo ilicitude geralmente é mais empregado pelos autores italianos, espanhóis e


português.

No Brasil não há distinção entre os termos, mas Juliana prefere o termo “ilicitude” ao termo
“antijuridicidade”.

Francisco de Assis Toledo critica o termo antijurídico, pois o crime também é fato jurídico que
gera consequências. Para Juliana esta é uma discussão irrelevante.

“Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se


inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a


consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa
consciência.”

Conceito

É a contradição da conduta com o ordenamento jurídico.

Para o Giuseppe Bettiol, o juiz faz uma valoração do caráter lesivo da conduta humana à luz da
ordem jurídica.

Ilicitude formal/material

Segundo Fernando Capez, ilicitude formal é o contraste do fato ao ordenamento, sem


qualquer preocupação com a permissiosidade social da conduta. O fato é considerado ilícito
tão somente porque inexistem normas permissivas, ao passo que a ilicitude material, para
Capez, seria o injusto, que contraria o sentimento de justiça do homem médio.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Juliana não vê relevância nessa discussão.

Ilicitude objetiva/subjetiva

A ilicitude objetiva representa a análise do comportamento sem levar em consideração a


capacidade do agente saber aquilo que está fazendo.

No sistema finalista, no entanto, a ilicitude tem que sempre ser subjetiva. O agente tem
alguma consciência de que está fazendo algo reprovável. Ainda que esta capacidade de
avaliação do agente seja “profana”.

Ilícito civil/ilícito penal

Inexiste distinção ontológica, de substância. Ambos são comportamentos “desvaliosos”.

O tipo de resposta é que é diferenciado.

Ilícito X Injusto

Capez coloca injusto como sinônimo de ilicitude material.

Para uma corrente minoritária o injusto estaria na tipicidade + ilicitude, ideia parecida com a
da tipicidade conglobante e a do tipo total do injusto.

Causas de exclusão de ilicitude

Também denominadas causas de justificação, causas de exclusão de antijuridicidade, causas


justificantes ou descriminantes.

Na classificação jurídica são normas permissivas.

Quanto ao requisito subjetivo (conhecimento, consciência), a lei não é expressa, mas é uma
decorrência lógica da teoria finalista. É necessário que o sujeito tenha consciência de que está
agindo sob o seu manto.

O fundamento, segundo Sebastián Soler, resulta ou da lei, ou da necessidade ou da falta de


interesse do titular do bem jurídico.

No caso do Brasil, as causas de justificação são tanto legais (direito positivo) quanto
supralegais.

Condutas enquadradas nas normas permissivas são condutas lícitas.

Causas de exclusão

i. Constituição Federal
ii. Código Civil
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

1. Desforço incontinente. Art. 1.210, § 1º


iii. Código Penal
1. Parte geral
a. Estado de necessidade
b. Legítima defesa
c. Estrito cumprimento do dever legal
d. Exercício regular do direito
2. Parte especial
a. Art. 128, I e II, CP
b. Art. 142, I, II, III, CP
c. Art. 146, p. 3º, I e II
d. Art., 150, p. 3º

Excludentes supralegais

Crítica às excludentes supralegais: Feriria o princípio da legalidade.

No entanto, para Juliana não há lógica em utilizar este princípio em desfavor do acusado.

Há um livro de Francisco de Assis Toledo trata desta suposta controvérsia.

Para o Toledo, o legislador não tem como prever todas as múltiplas possibilidades em que se
pode afastar a ilicitude do comportamento, todas as “mutações” das condições materiais e dos
valores ético-sociais. Pra ele, a criação de novas causas de justificação ainda não traduzidas em
lei torna-se uma imperiosa necessidade para a correta e justa aplicação da lei penal.

Observa-se aí que a doutrina entende que é plenamente possível a existência das causas
supralegais de excludentes de ilicitudes. O rol dado pelo legislador é meramente
exemplificativo.

A relação das causas não é taxativa, não constitui numerus clausus.

Existiria então colisão com o princípio da reserva legal?

A resposta é não, pois a excludente é uma norma não incriminadora, serve para favorecer.

Exemplo: Consentimento do titular do bem jurídico (caso este seja um bem disponível).

Requisitos

 Bem jurídico esteja disponível;


 Conduta tenha sido praticada dentro daquilo que foi solicitado;
 Conduta não importe a uma violação à ordem pública e aos bons costumes;
 Consentimento prévio ao ato lesivo (em alguns casos concomitante). Posição
doutrinária (Pietro Perlingieri).

Exercício regular do direito

Previsão legal => Art. 23, inc. III.


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Nesta espécie devem haver os elementos subjetivos (consciência) e objetivos (conduta


autorizada legalmente).

Observa-se que o exercício abusivo do direito faz desaparecer a licitude do comportamento.

Deve ser lido como um direito subjetivo em sentido amplo (penal e extrapenal).

Exemplos:

- Intervenções médicas e cirúrgicas de um modo geral correspondem ao exercício regular de


direitos;

- Violência esportiva (dentro da proporção aceita de acordo do com tipo de atividade);

- Ofendículos => São artefatos de defesa (cercas elétricas, muros com cacos de vidros, etc.).
Chamadas de defesas predispostas. Vinculados ao direito de autoproteção (Posicionamento de
Bitencourt e majoritário). Já Damásio entende como legítima defesa preordenada. Luiz Flávio
Gomes entende como exercício regular de direito. Para os que entendem como legítima
defesa há uma reação a uma injusta agressão;

- Palmadas nos filhos. O animus corrigendi pode ser causa supralegal de exclusão (é uma tese
de defesa);

No Código Civil:

“Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores.

Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta
ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.

[...]

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:

I - castigar imoderadamente o filho;

II - deixar o filho em abandono;

III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.”

No Código Penal:

“Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:”

Estrito cumprimento do dever legal

Art. 23, inc. III.

O dever é o imposto por lei àquele agente que pertence à administração pública.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Existem os requisitos objetivos e os subjetivos.

Quem pratica ação em cumprimento do dever legal não comete crime.

Para Zaffaroni, esta situação poderia ser resolvida na tipicidade (tipicidade conglobante).

Exemplos:

- Oficial de justiça que cumpre um mandado de busca e apreensão subtraindo coisa alheia
móvel sem o consentimento do titular;

- O policial que encarcera o assaltante;

- Auditores/fiscais da receita que apreendem pertences;

Obs.: Policiais que revidam a tiros/agressões de bandidos foragidos não se enquadram como
estrito cumprimento de dever legal, mas como legítima defesa.

Obs. 2: O Art. 301 do CPP diz que “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.” (flagrante delito
também consta na CF). Se for realizada por agente da segurança pública, estará no
cumprimento de dever. Se for particular é exercício legal de direito.

Nada obsta que os cidadãos comuns possam invocar esta excludente de forma analógica.
Exemplo (defendido por Bitencourt): Art. 231, IV, CC. Os pais têm o dever de guarda, educação
e vigilância dos filhos. Algum constrangimento que o pai submeta ao filho em função de sua
educação (sem excessos) pode ser enquadrado como estrito cumprimento do dever legal.

Obs. 3: Ao agir com excesso, o agente responde pelo fato praticado dolosamente. Responderá
pelo chamado excesso doloso.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 17/10

LEGÍTIMA DEFESA (monitor Felipe)

É uma autotutela. Excepcionalmente o Estado permite que o indivíduo se auto-proteja. A


legítima defesa é uma das formas de autotutela permitidas.

Nem todos os bens são passíveis de legítima defesa (como o patrimônio público, conforme
doutrina).

Em princípio, ninguém é obrigado a suportar o injusto exercício arbitrário das próprias razões.

1 NATUREZA JURÍDICA

Causa de exclusão de antijuridicidade prevista no art.

2 REQUISITOS

2.1 AGRESSÃO INJUSTA

Deve haver uma lesão ou uma ameaça de lesão a um bem jurídico proveniente de uma
conduta humana. A agressão não precisa ser necessariamente um ilícito penal. A injusta
agressão já é contrária ao ordenamento.

Obs.: a) Agressão é algo “pior” do que uma provocação; b) Uma ação cega (desprovida de
vontade/deliberação) não gera agressão.

2.2 MEIOS NECESSÁRIOS

São os meios suficientes e indispensáveis para repelir uma agressão injusta. Devem ser
proporcionais à agressão, na medida do possível. “Não se abatem pardais com canhões.”

Ao analisar a proporcionalidade, também observa-se se o meio utilizado seria o único


disponível.

2.3 USO MODERADO DOS MEIOS NECESSÁRIOS

Não deve haver excessos na utilização do meio necessários. Ex.: Revidar tentativa de agressão
armada com 8 tiros.

2.4 ATUALIDADE E IMINÊNCIA DA AGRESSÃO

Agressão atual é aquela que está acontecendo; iminente é aquela que, embora não ocorrendo,
irá suceder quase que imediatamente, está preste a sobrevir.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

2.5 DEFESA DE DIREITO PRÓPRIO OU DE TERCEIRO

Pode-se agir em legítima defesa de bem jurídico próprio ou de qualquer terceiro (não precisa
ser de alguém próximo).

2.6 ELEMENTO SUBJETIVO: “ANIMUS DEFENDENDI”.

O sujeito que age em legítima defesa é movido por uma defesa contra uma conduta reprovável
de terceiro. Isto significa que o agente possuir consciência de que irá atuar em defesa de um
bem jurídico.

Segundo Bitencourt a reação legítima autorizada pelo Direito somente se distingue da ação
criminosa pelo seu elemento subjetivo: o propósito de defender-se. Atua o agente com animus
defendendi.

Relação com o finalismo de Welzel.

3 ESPÉCIES

3.1 REAL X PUTATIVA

Putativa => Na legítima defesa putativa, o indivíduo imagina estar em legítima defesa,
reagindo contra uma agressão inexistente. Trata-se de discriminante putativa: há erro quanto
à existência de uma justificante para a conduta.

Consequências: A conduta continua sendo antijurídica. No entanto, deve-se analisar se o erro


era evitável ou inevitável.

Se for inevitável, a conduta é exculpável, ou seja, pode-se excluir a culpabilidade.

Caso seja evitável, o erro influenciará na dosimetria da pena, que será diminuída.

3.2 RECÍPROCA

Não há legítima defesa recíproca. Não é legítima defesa quando a agressão é justa, ou seja,
não é possível duas legítimas defesas simultâneas (legítima defesa contra legítima defesa).

3.3 SUCESSIVA

Havendo o excesso do sujeito durante a conduta de legítima defesa, passando a haver aí uma
agressão injusta em função do exagero, a outra parte passa a ser legitimada para utilizar-se da
legítima defesa.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

COMPLEMENTAÇÕES FEITAS POR JULIANA SOBRE LEGÍTIMA DEFESA

Em regra, quando há ataque de irracional, configura-se o estado de necessidade e não a


legítima defesa.

A agressão é sempre um ato de terceiro. Essa agressão não é necessariamente crime.

A atualidade e a iminência constam expressamente no CP.

“Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”

Não cabe legítima defesa de agressão passada (vingança) ou de agressão futura.

Pode ser defesa própria ou de terceiros.

Commodus Discessus (possibilidade de fuga cômoda e pacífica do local, de modo a evitar a


agressão) – o direito penal tutela a covardia? Obriga a fuga nos casos de legítima defesa? Não,
o DP não exige a fuga. Se o bem jurídico é agredido, o sujeito está autorizado a agir, mesmo se
no caso concreto houver condições materiais de fuga.

Na legítima defesa não existe conflito de interesses, ou seja, um ataque a dois bens jurídicos
simultâneos. Já no estado de necessidade isto é possível.

É possível legítima defesa contra agressão de inimputáveis? É plenamente possível, pois os


inimputáveis lato sensu também podem praticar atos antijurídicos.

Também é admitida a legítima defesa contra qualquer ato acobertado por causa de exclusão
de culpabilidade.

ESTADO DE NECESSIDADE

“Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.”

No estado de necessidade existe uma pluralidade de bens jurídicos valiosos em conflito.

Observa-se que não pode alegar estado de necessidade quem tem o dever legal de enfrentar o
perigo.

Teorias fundamentadoras do Estado de Necessidade

No Brasil o estado de necessidade é uma justificante no direito penal.

O código penal brasileiro filiou-se à chamada teoria unitária. Nela não importa se o bem
jurídico a ser salvaguardado é de valor superior ou igual ao bem jurídico que vai sofrer a
ofensa. Ou seja, para garantir a integridade física, eu posso destruir uma coisa de igual ou
menor valor. Para garantir uma vida, posso suprimir outra vida.

No estado de necessidade o commodus discessus é uma exigência. Se houver opção de fuga,


esta deve ser adotada, pois não houve agressão pretérita. A saída cômoda é exigível no estado
de necessidade.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Para a teoria diferenciadora, não adotada no Brasil, existe uma divisão interna quanto aos
bens jurídicos protegidos. O estado de necessidade pode ser justificante ou exculpante. É
adotada no código penal alemão. Foi adotada no Brasil no código penal miliar.

Em resumo:

Teoria Unitária => Existe estado de necessidade quando o bem protegido é de valor igual ou
superior ao bem sacrificado. Caso contrário não estaria cumprido o requisito final do estado de
necessidade. Ainda assim, neste caso há a possibilidade de causa de diminuição de pena 1/3 a
2/3 (Art. 24, § 2º).

Teoria Diferenciadora => Só existe estado de necessidade justificante quando o bem protegido
é de valor superior ao bem sacrificado. Caracterizar-se-á o estado de necessidade exculpante
se o bem protegido for de valor igual ou inferior ao bem jurídico sacrificado (CPM, Art. 39 e
Art. 43).

Alguns critérios para ponderação de interesses:

 Valores da personalidade têm preferência diante de bens jurídicos patrimoniais;


 A proteção à vida e integridade física têm preferência sobre os demais.

Requisitos

Perigo atual => O código trata de “perigo atual”, mas a doutrina diz que este perigo também
pode ser iminente. Para Nelson Hungria e Francisco de Assis Toledo não serve a culpa grave,
ou seja, a situação de perigo deve ser alheia à vontade do agente, não tendo sido provocada
por este intencionalmente, por grosseria, por leviandade ou por inadvertência. Entretanto,
prevalece o entendimento de que esta provocação do perigo pelo próprio agente deve ser
dolosa para que não se configure o estado de necessidade.

Sacrifício Inevitável => Deve haver uma lesão necessária na medida da necessidade para salvar
o bem ameaçado. Se possível fuga, não é legítimo o sacrifício. A razoabilidade será ponderada
no caso concreto. Se não for razoável haverá apenas uma redução de pena.

O estado de necessidade pode ser de interesse próprio ou de terceiros.

Pode ser agressivo ou defensivo. É agressivo quando o agente sacrifica bens de um terceiro
inocente não provocador da situação de perigo. Pode ser defensivo quando a ação volta-se
contra quem criou a situação de perigo.

Também está previsto nos artigos 188, 929 e 930 do Código Civil.

ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA


Perigo atual Agressão atual ou iminente
Atuação contra pessoa diversa que criou o Reação contra a pessoa que coloca o bem
perigo / terceiro jacente jurídico em perigo
Ação em razão do perigo Reação contra agressão
Conflito entre titulares de interesses Agressão contra bem jurídico
jurídicos lícitos
Ação Reação (defesa)
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

O perigo pode advir de conduta humana, Só há legitima defesa contra agressão


força da natureza ou ataque de irracional humana
(animal)
Atuação contra terceiro inocente Atuação contra o agressor
Conflito de interesses, ambos legítimos Conflito de interesses: apenas um interesse
é legítimo
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 14/11/14 (1ª aula da 2ª unidade)

Teoria da Imputação Objetiva

É uma matéria não positivada no código atual, mas o novo CP (proposto) positiva esta teoria.

Desenvolvida na Alemanha, inicialmente por Heigel e depois depois Karl Larenz (1927), que
trouxe o conceito de imputação objetiva para o Direito. Richard Horig (1930) foi um dos
precursores modernos da teoria, com destaque para o trabalho “Causalidade e imputação
objetiva”. Em 1970, Claus Roxin publicou a obra “Reflexões sobre a problemática da imputação
objetiva”.

Não se trata de um estudo que objetiva fazer uma substituição conceitual da causalidade pela
imputação. Essa teoria não nega os estudos já feitos sobre o nexo de causalidade. Pretende-se,
na realidade, fazer uma correção, ou seja, passamos a ter uma causalidade não meramente
naturalística, mas uma causalidade normativa (observando que é teoria limitada aos crimes
materiais).

Causalidade (esfera ontológica) => Imputação (esfera normativa)

Ela surge com a finalidade de limitar o alcance da chamada teoria da equivalência dos
antecedentes causais, ou seja, uma limitação da responsabilidade penal, de modo que a
atribuição de um resultado a uma pessoa não é determinada pela relação de causalidade, mas
sim pela realização de um risco proibido pela norma.

Contribuições de Claus Roxin

Desenvolveu a Teoria Geral da Imputação Objetiva

Aplicabilidade da teoria: crimes materiais / crimes de resultado

Relação de causalidade => imputação objetiva

Níveis de imputação para Roxin

1. Criação de um risco relevante e proibido


a. São irrelevantes os “riscos gerais” da vida
b. Existem riscos permitidos, dotados de alguma utilidade social, que implicam na
atipicidade da conduta. Viver em sociedade pressupõe a assunção de
determinados riscos, assumidos pela utilidade que geram. Ex.: tráfego de
automóveis, exercício da medicina, prática esportiva (sem atuação excessiva)
c. Riscos irrelevantes/permitidos ou diminuição de riscos não sujeitam o cidadão
à responsabilidade jurídico-penal
d. Consultar HC 68871 PR (é um HC profilático/trancativo) e REsp 822517 DF

2. Princípio da confiança
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

a. Não se pune quem pratica o fato na confiança de que terceiro, de quem se


espera atitude subsequente, realizará um ato conforme o direito. Quando
pessoa age na confiança de que quem lhe antecedeu agiu em conformidade
com o direito.
b. Exemplos (?)
3. Realização do risco não permitido no resultado concreto.
a. Verificar se o risco produzido se reflete no resultado ou se foi produto de
outros fatores. As causas imprevisíveis ou os cursos causais extraordinários são
analisado para se afastar a imputação
4. Examinar se o risco gerado está compreendido no alcance do tipo
5.

Autocolocação dolosa em risco (ou em perigo) – exclui-se a reponsabilidade do terceiro. Ex.:


quem tem relação sexual com alguém com DST, tendo conhecimento e sem proteção.

Heterocolocação consentida em perigo – quando se autoriza de forma consciente que alguém


o coloque em uma situação de perigo. Ex.: aceitar carona de alguém que está visivelmente
embriagado.

O objetivo do de Roxin seria corrigir algumas deficiências do causalismo e do finalismo que não
dariam respostas satisfatórias a algumas questões.

Ao se dizer que não há imputação objetiva, têm-se a ausência do fato típico.

TIPO COMPLEXO = tipo objetivo + imputação objetiva + tipo subjetivo

Observações sobre a teoria (também dadas por Rogério Sanches)

1. A análise da imputação objetiva antecede a qualquer discussão sobre dolo ou culpa;


2. Essa avaliação pressupõe uma análise do comportamento do agente e do resultado;
3. Foi criada não com o objetivo de negar a teoria do nexo de causalidade, mas ao se
empregar a teoria, deixa-se de fazer uma análise meramente de causalidade material.
A relação de causalidade material é a condição mínima para a análise da imputação. A
esta deve-se agregar a outra, de natureza jurídica;
4. Cria um conceito de causalidade jurídica ou normativa e não meramente causalidade
material.

Em síntese, esta teoria pretende ser um corretivo ao nexo de causalidade, corrigindo-o em


algumas insuficiências (do finalismo).

Artigo no Jus Navigandi sobre a teoria da imputação objetiva:


http://jus.com.br/artigos/22749/a-teoria-da-imputacao-objetiva-no-direito-penal

O papel da teoria da imputação objetiva para Günther Jakobs

Vai restringir o alcance do nexo causal (imputação objetiva do comportamento). É um freio à


relação de causalidade.

Para Jakobs:
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

1. A imputação objetiva é vinculada a uma sociedade concretamente considerada;


2. O contrato social gera riscos;
3. A imputação objetiva deve focar apenas comportamentos que violam o papel social.
Jakobs afirma que o próprio contrato social é um risco. Mas como somos sociáveis,
cada indivíduo exerce um papel na sociedade. Mas aquele que viola o seu papel social
ou o administra de maneira deficiente responderá jurídico-penalmente. Só a própria
vítima viola o seu papel. Ela deve assumir o dano por si mesma. Se num caso analisado
todos andaram em conformidade com o seu papel, o ocorrido será mera fatalidade e
como tal não imputável. Isso é válido para os crimes culposos.
A questão do papel social é o que diferencia as teorias de Roxin e de Jakobs.
Para Jakobs, no objetivo deverá ser acrescido um elemento: a violação do papel social,
só assim cabendo a responsabilização.

Instituições delimitadoras da imputação objetiva

1. Risco permitido – não é papel de ninguém eliminar todos os riscos da vida em


sociedade;
2. Fatos socialmente adequados – tudo o que é adequado não é criação de risco. Fatos
realizados de acordo com a lei.
3. Princípio da confiança – permite a vida em sociedade. É um pacto mínimo para
sustentar as relações se travam. Assim, alguém que agiu de forma lícita com alguém, e
esse alguém não age conforme o princípio da confiança, aquele não pode ser
penalizado.
4. Proibição do regresso – motorista de taxi conduz passageiro até o seu destino, mas no
meio do caminho descobre que está levando um traficante a um local para mercancia:
o ato subsequente (traficar) não pode ser atribuído a quem desenvolveu atividade
lícita. Não constitui participação em risco não permitido.
5. Competência ou capacidade da vítima – eutanásia (quando o paciente quer). O médico
vai agir dentro da margem legal da sua profissão (causa supralegal de exclusão de
ilicitude => vontade da vítima, que se desfez do seu bem jurídico, abdicando de sua
autoproteção).
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 21/12/2014 (por Larissa Magalhães)

CULPABILIDADE

1. Imputabilidade (capacidade de imputabilidade) - art. 26, CP -> critério biopsicológico (regra)

- Entender -> intelectivo

- Determinar-se -> volitivo

* Bio:

1. Doença mental

2. Desenvolvimento mental:

- Incompleto

- Retardado (oligofrenia - debil mental (suave); imbecilidade (moderada);


idiotia (profunda) ).

Art. 26. (...)

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terçosn, se o agente, em


virtude de pertubação de saúde mentl ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramento capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acrdo com esse entendimento.

* Psicológico:

- Ação humana intencional, incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de


determinar-se de acordo a esse entendimento.

- O crtitério biológico é adotado para a menoridade penal: o legislador brasileiro presume que
até os 18 anos incompletos o indivíduo é incapaz de entender o caráter ilícito do fato
(presunção absoluta (art. 228 da CF e art. 27, CP).

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas
da legislação especial. (Constituição Federal)

Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando


sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Código Penal)

- Em regra, a embriaguez não exclui a imputabilidade. O ciddão que se coloca em situação de


embriaguez não tem sua culpabilidade excluída, ao contrário, é uma agravante, na segunda
fase da dosimetria da pena (art. 61, II, l - em estado de embriaguez preordenada).

Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal:

(...)

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos.


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Parágrafo 1.º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente
de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo 2.º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não posuía, ao tempo da ação ou da
omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito o fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

* Embriaguez preordenada - quando o sujeito se embriaga para cometer um crime (art. 61, II,
l).

* Embriaguez patológica ou crônica - equipara-se a uma doença mental; gera efeitos, inclusive,
continuados; aplica-se o art. 26, CP, onde o agente, por essas circuntâncias, é inimputável.

* Embriaguez voluntária - onde existe a intenção de embriagar-se; o agente responde


penalmente pelos seus atos; não se aplica a exclusão de culpabilidade.

* Embriaguez culposa - quando o agente tem apenas a vontade de beber, não tendo a vontade
de embriagar-se, como na embriaguez voluntária, mas, por negligência, acaba embriagando-
se. Não exclui imputabilidade penal.

* Embriaguez acidental - o legislador isenta de pena o indivíduo quando a incapacidade for


completa e aplica-se a minorante quando não tiver plena capacidade (art. 28, parágrafos 1º e
2º):

- Decorrente da força maior - quando o indivíduo é obrigado a beber.

- Decorrente de caso fortuito - quando o indivíduo desconhece o efeito inebriante da


substância que ingere.

- A emoção e a paixão não são excludentes de imputabilidade penal. A emoção é um


perturbação transitória da afetividade, um fenômeno afetivo subito, intenso, que acaba se
refletindo no mundo exterior. A paixão é uma perturbação permanente da afetividade, não é
ransitória, é um embotamento afetivo permanente, sentimentos intelectualizados, de grande
intensidade, que podem gerar sentimento exagerado e prolongado.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Aula de 28/11/14

Potencial Conhecimento Da Ilicitude

Está na base da reprovabilidade da matéria. Doutrinariamente pode ser classificado em


consciência da ilicitude formal.

É a consciência do autor de que seu ato ataca uma norma jurídica que protege um bem
jurídico.

Claúdio Brandão diz que a presunção do conhecimento da lei é uma mentira. São tantas
informações que apenas juristas poderiam cometer crimes.

Consciência da ilicitude material – é suficiente o conhecimento da anti-sociabilidade da ação. A


consciência da ilicitude como consciência ética. Hegel diz que todo ser humano traz em si uma
consciência ética que permite que façamos uma distinção entre o que é certo e o que é errado.
Por isso que a culpabilidade é sempre relacionando com a personalidade (culpa da
personalidade). Nesta concepção, aquele que age com má consciência ética teria o maior
potencial de conhecimento da ilicitude.

Também pode ser entendida como uma valoração paralela na esfera do profano.

Edmund Mezger diz que uma boa política criminal é uma boa política social.

É necessário que o autor saiba que faça algo proibido (não necessariamente pelo direito). É a
valoração que se faz na esfera do profano, na vida mundana, a consciência do que é certo e
errado.

Observar que o desconhecimento da lei também pode ser enquadrado no inc. II do Art. 65 do
CP, como atenuante:

“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

[...]

II - o desconhecimento da lei; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

No entanto, há como sustentar teses de erro de proibição para afastar este elemento da
culpabilidade, e consequente o crime.

Consiste no potencial que o agente tem de conhecer, mediante algum esforço de consciência,
a ilicitude da sua conduta. Não é necessário que o agente conheça o tipo legal. É suficiente a
consciência material, “de natureza meramente profana”. Que o fato é errado, é antissocial, é
censurável. O critério formal é defendido por Karl Binding, por Franz von Liszt. O critério
material é defendido por Ernst Meyer.

O Brasil não é partidário de uma teoria ou outra. Na nossa prática este elemento é aferido
através dos mecanismos de provas e da análise do caso concreto.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Excludentes de culpabilidade (quanto potencial conhecimento da ilicitude)

ERRO DE DIREITO (hoje tratado como Erro Sobre a Ilicitude do Fato)

Se o erro era escusável, exclui a culpabilidade.

Digressões necessárias:

Erro X Ignorância: tecnicamente existe distinção entre ignorância e erro. O erro é a falsa noção
da realidade. A ignorância é a ausência de conhecimento da realidade. Erra quem não percebe
a realidade como ela é. É ignorante quem não conhece a realidade.

Consequências dogmáticas da ignorância: art. 21, caput, “O desconhecimento da lei é


inescusável [...]”. Existe uma presunção de que todos conhecem a lei penal. O art. 3º da Lei de
Introdução ao Código civil diz que ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a
conhece. Existe uma presunção sistêmica de que todos a conhecem. No entanto, é possível
que alegar ignorância gere repercussão:

1. Art. 65, inc. II (atenuante genérica);


2. Na LCP, o art. 8º autoriza o perdão judicial: “Art. 8º No caso de ignorância ou de errada
compreensão da lei, quando escusaveis, a pena pode deixar de ser aplicada.”

ERRO DE PROIBIÇÃO

O erro de proibição pode ser escusável ou inevitável.

Neste caso o erro isenta o sujeito de pena.

Está no art. 21, caput: “[...] O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.”

O erro de proibição não tem correlação imediata com o desconhecimento da lei, nunca exclui
o dolo.

Erro de proibição direto: incide diretamente quanto ao conteúdo proibitivo da norma jurídica.

Erro de proibição indireto: descriminante putativa por erro de proibição. Aqui o agente
conhece a ilicitude do fato e ele acredita de forma equivocado que está autorizado a agir nas
circunstâncias.

Erro de proibição mandamental: se aplica nos crimes comissivos por omissão (omissivos
impróprios). Ocorre quando nas situações descritas no art. 13, § 2º (dever de garante), o
garantidor equivocadamente acredita que não tem o dever de agir para evitar o resultado.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Inexigibilidade De Conduta Diversa

Surgiu no século XX. Só posso censurar alguém quando eu puder exigir em um contexto de
normalidade das circunstancias fáticas um comportamento diferente. A normalidade das
circunstancias fáticas é um fundamento concreto da exigibilidade de conduta diversa,
conforme o direito.

Situações anormais podem ensejar situações de exculpação.

A inexigibilidade de conduta diversa como causa supralegal de culpabilidade.

...

Duas causas legais de inexigibilidade de conduta diversa:

Obediência à ordem hierárquica não manifestamente legal

É a coação moral irresistível. A coação física irresistível (vis absoluta) exclui a própria conduta,
ao passo que a coação moral irresistível exclui a culpabilidade. Existe uma margem de escolha,
que no entanto não é exigível. Para o reconhecimento desta causa de exculpação é preciso que
o perigo seja atual e inevitável, pois se puder ser evitado, ou pelo próprio sujeito ou por
autoridade, não se pode falar em dirimente (algo que exclui culpabilidade). A ameaça também
precisa ser irresistível. É a promessa de um mal injusto e grave. Toda ameaça precisa ser séria.
Tanto pode ser dirigida à pessoa do coagido quanto a algum terceiro. Em geral a casuística
coloca que este terceiro é alguém próximo.

Efeito - afasta a responsabilidade criminal do coagido, mas não afasta a responsabilidade do


coator (aquele que realiza a coação). É uma forma de autoria mediata. Além do crime
“forçado”, o coator também pode responder por tortura.

Quando a coação é resistível, o que deve ser reconhecido em favor do coagido é uma
atenuante. Ao passo que para o coator, a pena será agravada.

“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

[...]

III - ter o agente:

[...]

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de


autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da
vítima;”

“Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:

[...]

II - coage ou induz outrem à execução material do crime;”


Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

IMPORTANTE: Não se confunde temor reverencial com coação irresistível.

Aula de 05/12/2014

Excludentes legais de culpabilidade (exculpantes)

“Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem”

Qual o fundamento do art. 22? É a própria inexigibilidade da conduta diversa. Não é possível
existir uma motivação normal. É a anormalidade das circunstâncias que justifica.

Obediência hierárquica a ordem não manifestamente legal

Caracteriza-se sempre a partir de uma relação de direito público. A ratio do legislador foi
justamente caracterizar a exculpante em situações de subordinação de direito público. Alguém
tem que ter o poder de ordenar algo e deve estar em posição hierarquicamente superior a
outro, também devendo ter alguém com competência passiva (dever de se subordinar ao
poder ordenado por um funcionário público). A manifestação de vontade pode ser um ato
decisório, sentença, decisão, comando, etc.

Em regra uma autoridade pública tem que agir dentro da legalidade. A ordem não deve ser
manifestamente ilegal.

Ex.: pode-se ordenar a alguém a prática de um crime, o que é uma ordem manifestamente
ilegal, mas ninguém está obrigado a se sujeitar a isso.

Existem dois fundamentos:

1. Inexigibilidade de conduta diversa


2. Só se aplica quando no caso concreto a pessoa não tem condições de conhecer a
ilegalidade da ordem

Existem dois requisitos:

1. Que a ordem seja não manifestamente ilegal


2. A ordem precisa partir de alguém que tenha competência.

Obs.: a príncipio não se aplica nas relações privadas. Segundo Juliana, pode-se defender a
aplicação por analogia, uma vez que beneficiaria o réu.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Situações de exculpação supralegais (apenas em dois livros - Juarez Cirino dos Santos e René
Ariel Dotti)

Argumentos contrários

1ª crítica

Jeschek diz que essa causa deveria ser abolida, pois enfraquece uma função importante da
pena, a função de prevenção especial.

O DP tem função retributiva e função preventiva (geral e especial). A prevenção geral é o


comando que se manda para toda a comunidade jurídica com o objetivo de dissuadir. A
prevenção especial é um comando para aquele que sofre o processo penal, uma pessoa
específica.

2ª crítica

Pode ensejar aplicação desigual do direito. Acaba ficando a cargo do arbítrio do julgador.

Para Jescheck, mesmo nas situações difíceis da vida, o DP deve servir para criar consciência da
obrigatoriedade, e a comunidade deve reclamar a obediência ao direito. Poderia ser
fundamento de outras excludentes, mas não exculpante.

Para Welzel, a vagueza e a indeterminação dessa causa conduziriam a uma situação de


insegurança jurídica.

3ª crítica

Roxin diz que quando é aberta uma política criminal generalizadamente, atenta-se contra a
divisão de poderes.

Argumentos a favor

Heleno Fragoso admite aplicação analógica.

Francisco de Assis Toledo entende quevo juiz não tem como prever todas as situações
concretas possíveis. Não admitir o emprego das causas supralegais é violar o princípio da
culpabilidade.

Causas supralegais de exclusão de culpabilidade

FATO DE CONSCIÊNCIA

O art. 5, inc. VI da CF/88 garante a liberdade de consciência. Existem “deveres internos


incondicionais” por um motivo de consciência (Joaquim Cirino). Para Roxin é “estado de
necessidade psíquico”. É uma decisão pessoal de ordem moral.
Direito Penal II – 2014.1
Profª.: Juliana Damasceno
Fabrício R. O. Dias

Ex.: a recusa do pai Testemunha de Jeová de submeter filho em estado grave a transfusão de
sangue (escolha moral); recusa do médico (por motivo de consciência) em realizar aborto
necessário.

Claus Roxin acha que o fato de consciência não pode exculpar ações contrárias à segurança do
Estado ou ações de traição à pátria.

Para Joaquim Cirino, o fato de consciência não abrangeria lesões a direitos fundamentais,
como a vida.

DESOBEDIÊNCIA CIVIL

Conforme René Ariel Dotti, “é uma forma particular de rebeldia”. Bobbio distingue entre
desobediência comum (a ser prevenida e reprimida, que desintegra a ordem jurídica) e a
chamada desobediência civil, que tem um caráter inovador, que visa mudar a ordem de
valores de um modelo societário, mais inovador do que destruidor. Ex.: bloqueios de estrada,
ocupações de prédios públicos, presidiários que (em tese) causam danos ao patrimônio
público.

Para Roxin, a exculpação neste caso só é admissível quando fundamentada na proteção de


direitos fundamentais e se o dano for irrelevante. Pra ele, essa desobediência deve ser
animada pelo bem comum, sem violência. Para Juliana é uma posição “covarde” de Roxin.

Segundo Álvaro Mayrink da Costa, deve ser uma preocupação com o bem comum, um ato de
protesto e sem violência. Ex.: movimentos pacifistas, ambientalista, etc.

Conforme Cirino, essas pessoas possuem dirigibilidade normativa, são capazes de agir
conforme o direito. Se exculpa o crime porque se entende que a censura é mínima.

CONFLITO DE DEVERES

Caso da comunidade do perigo na Alemanha nazista. Morte dos doentes mentais como forma
de selecionar um maior número de vítimas para salvar uma maioria. Critérios que surgem
casuisticamente. Qualquer pessoa agiria daquela forma nas mesmas circunstâncias.

Também pode defender como estado de necessidade (excludente de ilicitude). Não aplicando-
se, pode-se defender esta exculpante.

Roxin considera inexculpável corrigir o destino com a vitimização de inocentes.

CO-CULPABILIDADE (René Ariel)

“A mão vil que afaga é a mesma que apedreja”.

Você também pode gostar