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Contracepção Hormonal e Sistema Cardiovascular

Hormonal Contraception and Cardiovascular System

Milena Bastos Brito, Fernando Nobre, Carolina Sales Vieira


Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, São Paulo, SP – Brasil

Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado uma


Resumo associação clara entre o uso de contraceptivos orais combinados
A contracepção hormonal é o método mais utilizado (COC) e o aumento de risco para trombose venosa e arterial3-5.
para prevenção de gestações não planejadas. A literatura Apesar de as tromboses venosas e arteriais possuírem alguns
tem demonstrado associação entre risco cardiovascular e fatores de riscos em comum para sua ocorrência, sabe-se que
uso de hormonioterapia. A fim de melhorar a orientação a estase sanguínea e a hipercoagulabilidade representam os
contraceptiva para mulheres com fatores de risco para principais fatores etiopatogênicos para o desencadeamento
doença cardiovascular, realizamos uma revisão da literatura do tromboembolismo venoso (TEV), enquanto a lesão do
em relação ao assunto. Esta revisão descreve os dados mais endotélio representa a principal determinante da trombose
recentes da literatura científica acerca da influência dos arterial (TA). Vale ressaltar que a TA é menos frequente na
contraceptivos hormonais em relação a trombose venosa, idade reprodutiva que o TEV (1 caso de TA para cada 5-10
arterial e hipertensão arterial sistêmica, doenças cada dia mais casos de TEV)6.
prevalentes na população feminina jovem. O objetivo desta revisão é a discussão dos principais efeitos
dos esteroides sexuais sobre os fatores de risco para doença
Introdução cardiovascular e expor as evidências científicas disponíveis
para prescrição dos métodos contraceptivos hormonais em
Os contraceptivos hormonais são o método reversível mais
portadoras de trombose venosa e arterial e hipertensão arterial
utilizado pela população feminina brasileira (± 25%) para
sistêmica. A maioria dos artigos publicados sobre contracepção
planejamento familiar1 e consiste da associação entre um
e doenças cardiovasculares é de estudos observacionais
estrogênio (em geral, etinilestradiol) e um progestagênio; ou
ou ensaios clínicos de desfechos intermediários, o que
em apresentações de progestagênio isolado sem o componente
diminui a força de evidência das recomendações; porém,
estrogênico. Estão disponíveis em diversas formulações e vias
atualmente, são as melhores evidências disponíveis para
de administração (oral, intramuscular, implantes subdérmicos,
guiar a prática clínica. O conhecimento dessas informações
transdérmica, vaginal e associado a sistema intrauterino). Agem
pelos cardiologistas é imperativo, já que muitas vezes são
com a finalidade de bloquear a ovulação, ao inibir a secreção
eles que indicam ou contraindicam os métodos hormonais
dos hormônios folículo-estimulante e luteinizante; espessam o
para pacientes com risco cardiovascular a pedido dos
muco cervical dificultando a passagem dos espermatozóides;
ginecologistas. A abordagem será feita de acordo com os
tornam o endométrio não receptivo à implantação e; alteram
critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde
a secreção e peristalse das trompas de falópio2.
(OMS)7 (tab. 1).
Os efeitos dos hormônios sexuais femininos sobre o
sistema cardiovascular têm sido tema de bastante interesse
científico, porque os vasos sanguíneos são alvo dos efeitos Contracepção hormonal e trombose venosa
desses hormônios, uma vez que existem receptores O etinilestradiol (EE) induz alterações significativas no
de estrogênio e progesterona em todas as camadas sistema de coagulação, culminando com aumento da
constituintes dos vasos sanguíneos. geração de trombina. Ocorre também aumento dos fatores
de coagulação (fibrinogênio, VII, VIII, IX, X, XII e XIII) e
redução dos inibidores naturais da coagulação (proteína S e
antitrombina), produzindo um efeito pró-coagulante leve8,9.
Esses efeitos são mais claramente observados em testes que
avaliam globalmente a hemostasia, que mostram resistência
Palavras-chave adquirida à proteína C e aumento de geração de trombina10.
Anticoncepção, anticoncepcionais / contraindicações,
O risco de TEV é dependente da dosagem de EE. A alta
planejamento familiar, trombose venosa, doenças
dosagem de EE (≥50 mcg) está associada a um aumento
cardiovasculares.
de duas vezes no risco de TEV quando comparada à baixa
Correspondência: Milena Bastos Brito • dosagem desse hormônio (<50 mcg)9,11,12. Recentemente,
Av. dos Bandeirantes, 3900 - Campus Universitário - Monte Alegre - 14049- publicou-se que as formulações contendo 20 mcg de EE
900 - Ribeirão Preto, SP – Brasil
foram associadas menor risco trombótico (OR: 0,8; IC95%:
E-mail:milenabastos@usp.br, milenabastos22@yahoo.com.br
Artigo recebido em 30/10/09; revisado recebido em 27/01/10; 0,5-1,2) quando comparadas às preparações com 30 mcg de
aceito em 23/03/10. EE, porém sem diferença significativa11.
Brito e cols.
Contracepção hormonal e sistema cardiovascular

Tabela 1 – Critérios de elegibilidade médica para os métodos Outros progestagênios também foram estudados em relação
contraceptivos segundo a Organização Mundial de Saúde ao risco de trombose quando associados ao EE. O estudo mais
recente, coordenado pela Universidade de Leiden, Holanda,
Categoria Classificação Julgamento Clínico
conduzido para avaliar os diferentes progestagênios e risco
Condição para a qual não há para trombose venosa [Multiple Environmental and Genetics
Utilize o método em
1 restrição ao uso do método
quaisquer circunstância Assessment of Risk Factors for Venous Thrombosis (MEGA)]11
contraceptivo.
confirmou associação entre o tipo de progestagênio e risco
Condição quando as vantagens
em utilizar-se o método Utilizar de modo geral o
para trombose, porém evidenciou uma diferença menos
2 pronunciada que previamente descrita entre os diferentes
geralmente superam aos riscos, método
teóricos ou provados. progestagênios. Algumas formulações, contudo, apresentaram
Não é recomendado uso uma amostra pequena para uma conclusão definitiva.
Condição na qual os riscos, Comparado a não usuárias de contraceptivos hormonais,
do método, a menos que,
comprovados ou teóricos,
3 métodos mais adequados o COC contendo levonorgestrel foi associado a um risco
geralmente superam as
não estejam disponíveis para trombose venosa quatro vezes maior (OR:3,6; 95%IC:
vantagens do uso do método.
ou, não sejam aceitáveis.
2,9-4,6). O levonorgestrel foi o progestagênio associado ao
Condição que representa um menor risco para trombose, seguido do gestodeno (OR:5,6;
risco de saúde inaceitável caso 95%IC:3,7-8,4); drospirenona (OR: 6,3; 95%IC: 2,9-13,7);
4 Não utilizar o método
o método anticoncepcional
seja utilizado acetato de ciproterona (OR: 6,8; 95%IC: 4,7-10); desogestrel
(OR: 7,3; 95%IC: 5,3-10). Assim, considerando o risco
Adaptada de WHO7.
de TEV, o levonorgestrel oferece menor risco, enquanto
os demais progestagênios parecem ter riscos semelhantes,
superior a associação com levonorgestrel, provavelmente
Inicialmente, achava-se que a trombose era resultado porque este último é mais androgênico que os demais, uma
apenas da dose de estrogênio utilizado, o que culminou na vez que progestagênios androgênicos (levonorgestrel) estão
redução da dose de EE dos contraceptivos (de 150 mcg para associados a menor resistência à proteína C do que os com
15-20 mcg). Porém, em 1995, demonstrou-se que COC menor potência androgênica (gestodeno e desogestrel) e os
contendo progestagênios de terceira geração (gestodeno, antiandrogênicos (acetato de ciproterona e drosperinona)19.
desogestrel) associavam-se a um risco duas vezes maior
Apesar dos dados apresentados, isso não quer dizer
de trombose do que os que continham progestagênios de
que se deva sempre orientar o uso de COC contendo
segunda geração (levonorgestrel)4,13. Dessa forma, o tipo
levonorgestrel, mas que se conheçam os riscos de TEV,
de progestagênio associado ao estrogênio, e não só a dose
bem como os benefícios adicionais de cada progestagênio,
deste último, tornou-se motivo de estudos sobre o papel dos
para uma prescrição adequada aos anseios e características
progestagênios na hemostasia e na determinação da trombose.
clínicas da paciente20. Além disso, o ciclo gravídico-puerperal
Os progestagênios formam um grupo de esteroides que, apresenta maior risco de TEV do que qualquer formulação
apesar de possuírem a característica comum de se ligarem contraceptiva apresentada21. Entretanto, quando se estima
aos receptores de progesterona, têm efeitos sistêmicos que há no mundo cerca de 100 milhões de mulheres em
diferentes e que são mediados não só pela afinidade aos uso de contracepção hormonal22, o conhecimento de opções
próprios receptores de progesterona, mas principalmente menos trombogênicas torna-se de grande importância,
pela capacidade de ligação com os receptores de outros especialmente em mulheres com outros fatores de risco
esteroides, como os estrogênios, androgênios, glicocorticoides associados para desenvolvimento de TEV.
e mineralocorticoides14. Essa capacidade de ligar-se a outros Quando administrados isoladamente, os progestagênios
receptores de esteroides, bem como o perfil de afinidade afetam de forma mínima o sistema de coagulação. Um
por cada um desses receptores podem resultar em riscos aumento modesto e não significativo no risco para TEV tem
diferentes para a trombose, a depender do progestagênio sido relatado em usuárias de pílulas contraceptivas somente
associado ao estrogênio. de progestagênio (PP)23,24. Os progestagênios isolados não
Contraceptivos orais combinados com progestagênios de são associados a alterações marcantes nos parâmetros de
terceira geração estão associados ao desenvolvimento de coagulação ou fibrinólise, podendo, por isso, ser indicados
resistência adquirida à proteína C ativada mais pronunciada15 para pacientes com risco para TEV7.
e a uma tendência de produzir níveis mais altos de fatores de Um estudo randomizado, duplo-cego, comparou os
coagulação e níveis mais baixos de anticoagulantes naturais, efeitos no sistema hemostático de duas PP (desogestrel versus
quando comparados a COC contendo progestagênio de levonorgestrel) e mostrou que ambas apresentaram efeito
segunda geração10,16,17. Esses achados poderiam explicar as favorável sobre este sistema25. Outro estudo recente também
observações epidemiológicas de risco aumentado para TEV mostrou resultados favoráveis na hemostasia em usuárias das
em usuárias de COC que contêm progestagênios de terceira PP (desogestrel vs levonorgestrel), com redução da resistência
geração, já que a resistência à ação da proteína C (adquirida à proteína C ativada e aumento da proteína S15. Dessa forma,
ou herdada) é um marcador importante para risco aumentado os efeitos negativos dependentes do tipo de progestagênio
de TEV18. Outro achado é que a hiperfibrinólise é menos provocados pelos COC sobre os parâmetros de coagulação e
acentuada em usuárias de COC com progestagênios de anticoagulação não foram observados com o uso de PP, seja
terceira geração do que aqueles com os de segunda geração16. de levonorgestrel ou de desogestrel.
Brito e cols.
Contracepção hormonal e sistema cardiovascular

Nos últimos 20 anos, têm sido desenvolvidos implantes de síndrome metabólica, tabagistas, idade superior a 40 anos
subdérmicos que mantêm liberação de baixas doses de e antecedente familiar de trombose) é preferível o uso de
progestagênios. No Brasil, dispomos do implante liberador de contracepção com progestagênios isolados, apesar de o uso
etonogestrel (Implanon®, NV Organon, Oss, The Netherlands). de EE ser permitido (com exceção de tabagistas com idade
As variáveis hemostáticas analisadas ou não se modificaram, ≥ 35 anos). Nessas pacientes de risco é preferível o uso de
ou sofreram alterações discretas, sempre dentro dos valores contracepção combinada com levonorgestrel, uma vez que
de normalidade para os ensaios realizados26-29. esse progestagênio é o que apresenta menor risco de TEV
Com relação à via de administração, apesar da via quando associado ao EE.
transdérmica em usuárias de terapia de reposição hormonal
(TH), durante a menopausa, parecer não aumentar o risco Contracepção hormonal e trombose arterial
de TEV30, esses dados não podem ser extrapolados para
Apesar de a ocorrência de TA ser infrequente em mulheres
contracepção, especialmente porque em contracepção é
jovens, as mudanças comportamentais – baixa frequência
utilizado o EE, que tem uma potência superior aos estrogênios
de alimentos ricos em fibras, aumento da proporção de
utilizados em TH. Em novembro de 2005, o US Food and
gorduras saturadas e açúcares da dieta, associadas a um
Drug Administration (FDA) divulgou um comunicado de que o
estilo de vida sedentário – têm aumentado os riscos para o
adesivo contendo 0,75 mg + 6 mg de norelgestromin (Ortho-
seu aparecimento durante a vida reprodutiva37. Dessa forma,
Evra® 20 mcg de EE + 150 mg de norelgestrolmin/dia) liberava
em mulheres com fatores de risco para doença cardiovascular
60% a mais do que a quantidade total de EE disponível em um
(DCV) (como fumantes, hipertensas, obesas, portadoras de
COC de 35 mcg de EE31 , o que poderia alterar a frequência
hipercolesterolemia ou diabete melito) os contraceptivos
de eventos adversos sérios, como o TEV. Posteriormente, foi
hormonais devem ser prescritos com cautela.
realizado um estudo que demonstrou que o adesivo com
liberação diária de 20 mcg de EE tem incidência de TEV Assim como para TEV, o uso de COC também está
similar a de um COC com 35 mcg de EE, o que significa que associado à elevação do risco para TA38-40. Esse risco está
não devemos usar esse método para pacientes de alto risco diretamente relacionado à dose do componente estrogênico,
para TEV, ao contrário de TH transdérmica32. Outros métodos porém mesmo em usuárias das pílulas de baixa dosagem
de contracepção hormonal combinada não oral, como o (EE<50 mcg) observou-se aumento desse risco41.
anel vaginal e os injetáveis mensais, foram testados quanto O uso de COC de baixa dosagem (EE<50 mcg) aumenta
aos seus efeitos na hemostasia. O anel (15 mcg de EE + 120 o risco de trombose arterial em aproximadamente duas
mcg de etonogestrel/dia) foi comparado ao COC contendo vezes entre usuárias do método, mesmo após a correção
30 mcg de EE + 150 mcg de levonorgestrel, mostrando das variáveis confundidoras para fatores de risco de doença
alterações similares na hemostasia33. Recentemente, um cardiovascular42. Ao contrário da TEV, o tipo de progestagênio
estudo comparou o efeito das contracepções combinadas associado ao EE não modifica de forma significativa o risco
oral e vaginal sobre as variáveis hemostáticas e observou um de TA38,40,41.
efeito pró-coagulante devido ao EE, independentemente O risco de IAM entre usuárias de COC aumenta com a
da via de administração34. Entretanto, ainda são necessários coexistência de fatores de risco para DCV, como tabagismo,
estudos para avaliar o risco de TEV com esse contraceptivo e esse efeito é mais pronunciado em mulheres acima dos 35
vaginal. Os injetáveis combinados provocaram menor impacto anos de idade. Em mulheres abaixo dos 35 anos e usuárias
na hemostasia que as preparações orais35, diferentemente de de COC, a incidência de IAM em tabagistas (≥ 20 cigarros/
outras formulações não orais (adesivo e anel), provavelmente dia) é 10 vezes maior que em não fumantes (3,5 por 100.000
porque possuem estrogênios naturais (valerato de estradiol vs. 0,3 por 100.000, respectivamente)38. Em mulheres acima
ou cipionato de estradiol) em sua composição, em vez do dos 35 anos de idade em uso de COC, o risco para IAM é
EE. Em termos de risco para trombose, um trabalho com significativamente maior tanto em fumantes (40 por 100.000)
amostra pequena para esse desfecho mostrou risco pequeno quanto em não fumantes (3 por 100.000)38. Assim, idade
ou ausente de TEV, IAM e AVE36, porém ainda não temos uma superior a 35 anos e tabagismo merecem sempre cuidado
resposta definitiva se os combinados injetáveis apresentam, especial para escolha do contraceptivo. Da mesma forma
de fato, ausência de risco para TEV. que a idade e o tabagismo, outras doenças que aumentam
Normalmente, os eventos tromboembólicos ocorrem risco para DCV (como diabetes, hipertensão) também
dentro do primeiro ano de uso do contraceptivo hormonal, potencializam o risco de IAM em usuárias de contracepção
especialmente após o quarto mês do início do uso3,9,11. hormonal combinada.
Porém, após um ano, o tempo de uso de COC não altera o Dessa forma, pensando em não aumentar de forma
risco para TEV3,9. significativa o risco para IAM, até o presente momento, o
Em resumo, para paciente com trombose prévia ou que importa é a dosagem do EE ser menor que 50 mcg e
trombofilia (herdada ou adquirida) é proscrito o uso de identificar fatores de risco para DCV previamente à prescrição
contracepção hormonal combinada, independente da via do método contraceptivo7,38-41.
administrada. Por outro lado, os progestagênios isolados Acidente vascular encefálico (AVE) é outra doença arterial
(em qualquer via de administração) e os métodos não bastante rara em mulheres na idade reprodutiva43; entretanto,
hormonais (condom e dispositivo intrauterino com cobre) observa-se maior incidência de casos entre usuárias de
são permitidos segundos critérios da OMS (tab. 2). Em COC comparadas a não usuárias44,45. Ao analisar os artigos
pacientes de risco para trombose venosa (obesas, presença epidemiológicos publicados, Heinemann46 concluiu que altas
Brito e cols.
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doses de EE (≥50 mcg) eram associadas a maior risco de AVE os progestagênios de segunda (OR: 2,6; IC95%: 1,4-4,9) e
comparadas às formulações com 50 mcg de EE (OR:5,3; terceira gerações (OR:3,0, IC95%: 1,4-6,6)60.
IC95%: 2,6-11 vs OR: 1,53; IC95%: 0,71-3,31)47. Entretanto, As PP parecem não aumentar o risco para DCV 61,62.
os estudos não demonstraram diferença entre as formulações Uma meta-análise publicada recentemente não encontrou
dos progestagênios de segunda e terceira gerações47,48, assim associação significativa entre contraceptivos contendo apenas
como para IAM. progestagênios e AVE (OR: 0,96; IC95%: 0,70-1,31), apesar
Mais recentemente, foi publicado um estudo multicêntrico, da baixa qualidade dos artigos selecionados62.
caso-controle envolvendo 1.182 mulheres saudáveis entre 18 Dessa forma, em mulheres portadoras de cardiopatia
e 49 anos de idade, que estimou o risco para AVE 2,3 vezes isquêmica, AVE, migrânea com áurea ou com múltiplos fatores
maior entre usuárias de COC contendo < 50 mcg de EE (OR: de risco para DCV (> 35 anos de idade, diabéticas, tabagistas
2,3; IC95%: 1,6-3,3) comparadas a usuárias de métodos e hipertensas), deve-se optar por métodos contraceptivos não
não hormonais40. O risco para AVE, assim como nos estudos hormonais ou contraceptivos apenas de progestagênio (tab. 2).
anteriores, não foi relacionado ao progestagênio associado40,45. Dentre estes últimos, os mais indicados são as PP, o implante
Estudos revelam que a migrânea com aura duplica o risco liberador de etonogestrel e o sistema intrauterino liberador
para AVE comparada à sem aura49. Por ser comum em mulheres de levonorgestrel.
no período reprodutivo50, deve-se estar atento à presença
dessa doença (tab. 2). Após a definição pelo neurologista das
manifestações neurológicas que caracterizam a migrânea, se Contracepção hormonal e hipertensão
houver quadro clínico de aura, os contraceptivos contendo EE arterial sistêmica (HAS)
são contraindicados em qualquer idade da vida reprodutiva As substâncias presentes nos COC tentam reproduzir
feminina. Em relação aos progestagênios isolados e migrânea, as propriedades dos esteroides endógenos. Entretanto,
os estudos são muito escassos e a maioria não distingue o EE, pela sua elevada potência biológica comparado ao
as formulações orais, se combinada ou de progestagênio estradiol (mil vezes mais potente), exacerba a produção
isolado51. Mas, na ausência de outros fatores de risco para de angiotensinogênio hepático, que, por sua vez, causa
AVE, a OMS libera seu uso em mulheres com migrânea, com elevação da pressão arterial pelo sistema renina-angiotensina-
exceção àquelas que apresentarem a doença durante o uso aldosterona63. Além disso, o progestagênio associado ao EE
desse contraceptivo, quando esse deve ser suspenso7 (tab. 2). presente nos COC é similar, porém não reproduz todas as
Apesar da baixa incidência de TA durante a vida características da progesterona natural64.
reprodutiva, o que dificulta conclusões fidedignas acerca Apesar do desenvolvimento de novos
dos estudos disponíveis, não há dados que indiquem a via progestagênios somente a drospirenona mantém o
mais segura52. efeito antimineralocorticoide65 da progesterona natural;
Já no caso dos progestagênios isolados, a OMS é cautelosa mesmo assim, ainda não é possível determinar efeitos
na prescrição desses na via injetável para mulheres com TA benéficos na PA em usuárias hipertensas dessa formulação
prévia (tab. 2). O acetato de medroxiprogesterona de depósito anticonceptiva66. Essa conclusão difere da observada para
(AMPD) inibe a ovulação e ocasiona um declínio nos níveis TH na pós-menopausa, em que o composto (drospirenona
de estradiol, induzindo hipoestrogenismo53; dessa forma, e estradiol) foi associado à redução nos níveis pressóricos
quando administrado de forma prolongada, pode alterar a em hipertensas67, o que não se aplica para associação da
função vascular54,55. Além disso, foram observadas em estudos drospirenona com EE na anticoncepção. Em contracepção,
longitudinais e transversais elevação nos níveis de LDL e um artigo em normotensas mostrou que a PA reduziu 4
redução do HDL colesterol em usuárias de AMPD, alterações mmHg nas usuárias de EE+drospirenona em avaliação
epidemiologicamente associadas a DCV. Entretanto, essas pontual após seis meses de uso da medicação68. Outro artigo
alterações no lipidograma não foram relacionadas a eventos também em avaliação pontual de 160 mulheres normotensas
clínicos adversos56. Já o implante, o sistema intrauterino comparou os COC contendo drospirenona versus gestodeno
liberador de levonorgestrel e PP não foram associados a efeitos mostrou redução da PA no grupo drospirenona ao longo
adversos sobre o perfil lipídico7,57-59. do trabalho, porém sem diferença entre os grupos na
Outra complicação vascular arterial rara durante a vida avaliação final, após 12 meses69. Não há, contudo, dados
reprodutiva, porém com prognóstico ruim, é a doença de segurança desse contraceptivo em hipertensas. Dessa
periférica arterial (DPA), com elevada incidência de oclusão forma, a drospirenona é melhor para PA, porém seu uso com
vascular, amputação e morte. Observou-se um risco três vezes EE carece de dados de segurança em portadoras de HAS.
maior para DPA entre usuárias de COC comparadas a não Podemos concluir que, até o presente momento, não há
usuárias (OR:3,8; IC95%: 2,4-5,8)60; e esse risco foi maior, diferença de segurança entre os progestagênios em relação
assim como nas demais doenças arteriais, na presença de à PA em contracepção.
outros fatores de risco para DCV. Quando comparadas as Lubianca e cols70. avaliaram, em estudo transversal, 171
três gerações das pílulas contraceptivas separadamente vs mulheres com diagnóstico de HAS e observaram elevação de
não usuárias de contracepção hormonal, encontrou-se um na pressão arterial diastólica (PAD), mesmo após correções das
risco muito elevado nas formulações com progestagênios variáveis confundidoras70. Os mesmos autores supracitados
de primeira geração (linestrenol e noretisterona) (OR:8,7, conduziram uma coorte com o objetivo de avaliar se a
IC95%:3,6-21,3) e uma elevação em torno de três vezes para interrupção dos COC interferia nos níveis de PA. Encontraram
Brito e cols.
Contracepção hormonal e sistema cardiovascular

Tabela 2 – Uso contraceptivos hormonais em mulheres de risco para DCV e/ou TVP
Condição Progestagênio Isolado Contraceptivo combinado

Oral Oral
Implante Injetável Vaginal Injetável
SIU-LNG Transdérmico
TVP / EP
a) Antecedente de TVP/EP 2 2 4 4
b) TVP/EP agudas 3 3 4 4
c) TVP/EP em uso ACO 2 2 4 4
d) Antecedentes familiares 1 1 2 2
e) Cirurgia maior
I. Com imobilização prolongada 2 2 4 4
II. Sem imobilização prolongada 1 1 2 2
f) Cirurgia menor sem imobilização 1 1 1 1
2 se I 3 4 4
Doença cardíaca isquêmica (atual ou pregressa)
3 se C
2 se I 3 4 4
AVC
3 se C

Obesidade (IMC≥ 30 Kg/m ) 2 1 1 2 2


Tabagismo
a) Idade < 35 anos 1 1 2 2
b) Idade ≥ 35 anos 1 1 3/4* 3
Cefaléia

a) Não migrânea (leve ou intensa) 1 1 1 se I / 2 se C 1 se I / 2 se C


b) Migrânea
Sem aura
Idade < 35 anos 1 se I / 2 se C† 2 2 se I / 3 se C 2 se I / 3 se C
Idade ≥ 35 anos 1 se I / 2 se C† 2 3 se I / 4 se C 3 se I / 4 se C
Com aura 2 se I / 3 se C 2 se I / 3 se C 4 4

Múltiplos fatores de risco para DCV 2 3 3/4 3/4

HAS
a) História de HAS, quando PA não pode ser aferida 2 2 3 3
b) HAS controlada, quando PA pode ser aferida 2 1 3 3
c) Níveis elevados de PA (mmHg):
PAS: 140-159 ou PAD:90-99 1 2 3 3
PAS ≥160 ou PAD≥100 2 3 4 4
d) Doença vascular 2 3 4 4
e) História HAS na gravidez 1 1 2 2
(Adaptada de WHO7,33. ; TVP – trombose venosa arterial; EP – embolia pulmonar; SIU-LNG – sistema intrauterino liberador de levonorgestrel; ACO – anticoagulante
oral; AVC – acidente cerebrovascular; HAS – hipertensão arterial sistêmica; PA – pressão arterial; C – continuidade; I – início; * Muda para categoria 4 se fumar
≥ 15 cigarros/dia; † O implante de etonogestrel é classificado como categoria 2 tanto para iniciar como continuar o método.

um declínio na PAS (- 15,1 ± 2,6 mmHg) e na PAD TH na pós-menopausa, em que não há alteração negativa
(- 10,4 ± 1,8 mmHg) após seis meses de suspensão do COC dos níveis pressóricos em mulheres climatéricas hipertensas
significativamente maior quando comparado a mulheres que usuárias de TH transdérmica comparadas ao placebo72.
continuaram em uso do contraceptivo combinado71. Apesar de os COC induzirem uma elevação média nos
A via de administração na contracepção hormonal não níveis da PA entre 2 a 3 mmHg em mulheres saudáveis,
interfere na pressão arterial7. Ao contrário do observado para na maioria dos casos não se faz necessária terapia anti-
Brito e cols.
Contracepção hormonal e sistema cardiovascular

hipertensiva73. Entretanto, em mulheres com diagnóstico que contêm o levonorgestrel possuem o menor risco de TEV.
prévio de HAS, deve-se evitar a prescrição de contraceptivo Para trombose arterial, o tipo de progestagênio não altera o
contendo EE, pelo risco de piora de prognóstico dessa doença risco de trombose; assim, em mulheres saudáveis não há uma
e aumento de risco de TA. opção que produza menores riscos;
Os estudos desenhados para avaliar alterações na PA Os contraceptivos somente de progestagênio e os não
e progestagênios isolados são poucos, porém consistentes hormonais não estão associados a aumento de risco para TEV,
de que não há associação entre seu uso e hipertensão em sendo dessa forma indicados para pacientes de risco para TEV
mulheres saudáveis durante seguimento por dois anos7,74. ou história pessoal prévia de TEV;
Em resumo, em mulheres hipertensas devemos orientar Em pacientes com história prévia ou múltiplos fatores de risco
o uso de métodos contraceptivos não hormonais, ou para TA opta-se pelos contraceptivos não hormonais ou somente
hormonais que contenham somente progestagênio (tab. 2). com progestagênio (excetuando-se o injetável trimestral);
Os contraceptivos combinados, por qualquer via, além de O risco para TEV ou TA independe da via de administração
interferirem na PA, potencializam o risco de TA em pacientes já
do contraceptivo hormonal combinado;
predispostas. Em pacientes hipertensas bem controladas, com
menos de 35 anos, pode-se usar o contraceptivo combinado, Os contraceptivos hormonais combinados, por conterem
porém observando os critérios da OMS, as opções anteriores o etinilestradiol, sempre alteram a PA, mesmo em baixas
têm mais respaldo científico e são mais seguras75. doses. Em mulheres saudáveis, essa alteração não traz
repercussões clínicas, porém deve-se evitar o seu uso em
hipertensas. Assim, em mulheres com HAS, preferir os
Resumo das recomendações não hormonais ou somente com progestagênio, pois o
Os benefícios do uso dos contraceptivos hormonais EE potencializa o risco para trombose arterial e altera o
ultrapassam os riscos associados a esses medicamentos. Um bom controle da PA nessas pacientes.
aconselhamento contraceptivo às mulheres deve incluir todos
os aspectos benéficos e possíveis eventos adversos para, nesse
contexto, proporcionar uma escolha informada mais apropriada Potencial Conflito de Interesses
para cada caso. A seguir, o resumo de algumas recomendações Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.
que devemos sempre levar em consideração na escolha
contraceptiva de mulheres com fatores de risco para DCV:
Fontes de Financiamento
Os COC aumentam risco de trombose venosa e arterial
O presente estudo não teve fontes de financiamento
mesmo em mulheres sadias, porém esse risco é baixo;
externas.
As preparações disponíveis atualmente (EE<50 mg) são
consideradas de baixo risco para trombose venosa e arterial
em pacientes sem risco; Vinculação Acadêmica
O componente progestagênico associado altera o risco de Não há vinculação deste estudo a programas de pós-
TEV de um COC, as evidências atuais sugerem que aqueles graduação.

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