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POTENCIAL ENERGÉTICO DA BIOMASSA NO ESTADO DO


PARANÁ

AUTOR:
Ms. HIDALGO, FRANCISCO LUIZ CAMPOS.
ii

SUMÁRIO

1 RETROSPECTIVA DO CENÁRIO ENERGÉTICO BRASILEIRO E


PARANAENSE COM FOCO NA BIOMASSA 7
2 PROJEÇÕES PARA O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL E A
NECESIDADE DE DESCENTRALIZAÇÃO DO FORNECIMENTO 12
3 CARACTERIZAÇÃO DA BIOMASSA NO ESTADO DO PARANÁ 14
3.1 Produção Agrícola e resíduos disponíveis 16
3.2 Produção Florestal da Silvicultura – Florestas Plantadas 22
3.3 Fontes de Biogás 25
4 TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A
PARTIR DA BIOMASSA 29
5 QUANTIFICAÇÃO DO POTÊNCIAL ENERGÉTICO DA BIOMASSA EM
CENÁRIOS FACTÍVEIS BASEADOS NA UTILIZAÇÃO DE PINUS E BIOGÁS 35
6 CONCLUSÕES 37
REFERÊNCIAS 38
7

1 RETROSPECTIVA DO CENÁRIO ENERGÉTICO BRASILEIRO E

PARANAENSE COM FOCO NA BIOMASSA

É notório que o desenvolvimento de uma nação está intimamente relacionado


à disponibilidade de energia para o consumo dos diversos setores que impulsionam
o crescimento econômico.
No passado recente, o crescimento econômico do Brasil foi mitigado por
falhas no fornecimento de energia, em particular energia elétrica. O
deplecionamento dos reservatórios das hidrelétricas no ano de 2001 ocasionou os
indesejáveis apagões, que limitaram o desenvolvimento da indústria e de outros
setores. A crise dos reservatórios no ano de 2015 exigiu o acionamento de
termoelétricas que, em sua maioria, utilizam como combustível o nobre, e caro, gás
natural. Este fato elevou acentuadamente as tarifas de energia elétrica, afetando a
todos os consumidores.
A figura 1 apresenta a evolução da oferta de energia, em tonelada equivalente
de petróleo, e do Produto Interno Bruto no Brasil. Fica evidente o elevado grau de
correlação existente entre as variáveis crescimento econômico e oferta de energia.

Figura 1 – Evolução da oferta interna de energia e do Produto Interno Bruto.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

Conforme exposto no plano nacional de energia 2030 (PNE), na figura 2


verifica-se uma tendência de aumento na produção de energia primária através de
fontes não-renováveis. Destaca-se o aumento na produção de gás natural, a taxas
mais elevadas nas proximidades do ano 2000, e uma descontinuidade na produção
8

de energia hidráulica no mesmo período, ilustrando os efeitos da depleção dos


reservatórios. A figura apresenta ainda a variação na produção de algumas fontes
potenciais de biomassa para energia. Se por um lado verifica-se uma tendência de
queda na produção de lenha, possivelmente for falta de estímulos adequados à
produção, por outro se nota um aumento na produção de produtos de Cana-de-
Açucar.

Figura 2 – Evolução da produção de energia primária.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

A fim de tornar o fornecimento de energia elétrica no Brasil, e


consequentemente o crescimento econômico, menos dependentes dos efeitos
climáticos, que somados à falta de planejamento, ocasionaram a depleção dos
reservatórios das hidrelétricas, e também menos dependentes de fontes de energia
de alto custo, como no caso da geração termoelétrica com gás natural, faz-se
necessário buscar novas alternativas para diversificar e descentralizar o
fornecimento de energia elétrica no país.
Süffert et al (2015) demonstram que a biomassa, em particular a lenha, foi a
principal fonte de energia primaria no Brasil por mais de 450 anos. Conforme
apresentado no PNE, e ilustrado na figura 3, a lenha era responsável por 64,2% da
9

energia primária total na década de 70 e no ano de 2004, a oferta contabilizou 28


milhões de tep, correspondendo a 14,8% do total da produção de energia primária.

Figura 3 – Evolução da estrutura da oferta interna de energia.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.
10

Diversos autores defendem que a utilização de uma maior quantidade de


energia de biomassa (lenha, carvão vegetal, resíduos florestais, cana-de-açúcar,
mamona, biogás etc.) não constitui um retrocesso tecnológico, mas uma
oportunidade de atingir a autossuficiência energética (PNE 2030). A utilização de
biomassa para a energia conduz a uma matriz energética ambientalmente mais
saudável, devido à reciclagem do CO2 promovida pelas plantações, e socialmente
mais justa, considerando o número de empregos gerados na cadeia produtiva da
biomassa para energia.
Devido à sua extensão territorial e condições climáticas altamente favoráveis,
o Brasil possui enorme vocação para a produção de energia da biomassa. Vide
exemplo do bem sucedido programa Proálcool, que foi implementado na década de
70 devido à crise do petróleo e posteriormente foi estimulado pela adição do álcool
anidro a gasolina. Esta medida efetivamente alavancou a tecnologia da indústria
automobilística no Brasil, que hoje disponibiliza os motores bicombustíveis como
praticamente um padrão de mercado.
A década de noventa foi marcada por medidas para estimular o investimento
privado no setor de geração elétrica, com a criação de agências reguladoras e
políticas de desregulamentação. O Programa Prioritário de Termoeletricidade (PPT)
foi criado sem grande êxito, pois previa a criação de 49 termoelétricas (a maioria à
gás natural) das quais poucas foram viabilizadas, e o racionamento de energia
elétrica no início do atual milênio foi inevitável. O PNE 2030 destaca que as
termoelétricas possuem a vantagem de permitir sua instalação próxima às unidades
consumidoras, o que possibilita menores investimentos em distribuição. Em uma
escala menor, esta afirmação também é verdadeira para a geração termoelétrica
distribuída com biomassa, tendo em vista que se for demonstrada a viabilidade
econômica, cada produtor local pode possuir sua unidade de micro ou minigeração.
Os setores industrial e agropecuário são fortemente afetados por falhas no
fornecimento de energia elétrica. Em muitos casos a alternativa usual é investir em
equipamentos de geração à Diesel, que apesar de ser um combustível caro para a
geração elétrica, elimina o risco da falta de energia, e pode ser mais barato que a
energia disponibilizada pelas concessionárias no horário de ponta. A tabela 1
apresenta a evolução no consumo de energéticos no Setor Industrial no período de
1970 a 2004. Nota-se que o consumo de óleo Diesel apresenta uma das maiores
11

taxas de crescimento, ficando atrás apenas da própria eletricidade. Observa-se


novamente o declínio no consumo de lenha.

Tabela 1 – Evolução dos consumos dos energéticos no Setor Industrial entre 1970 e 2004 (tep)
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

O elevado custo da energia elétrica e do óleo diesel, no atual cenário


econômico brasileiro, contribui para a viabilização de projetos de micro (até 100kW)
e microgeração (até 1000kW) distribuída.
Particularmente no estado do Paraná, a utilização de fontes de energia
renovável tem aumentado nos últimos anos, destacando-se principalmente a
utilização de resíduos de madeira e produtos de cana (Menezes, 2013). A figura 4
ilustra esta tendência.

Figura 4 – Evolução da produção paranaense de energia.


Fonte: COPEL, 2009.
12

2 PROJEÇÕES PARA O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NO

BRASIL E A NECESIDADE DE DESCENTRALIZAÇÃO DO

FORNECIMENTO

O consumo de energia elétrica no Brasil apresenta uma perspectiva de forte


crescimento. O consumo de energia elétrica da região Sul passou de 50.001GWh no
ano de 2000 para 55924GWh no ano de 2004, um aumento superior a 10% no
período de 4 anos (PNE 2030).
O Plano Nacional de Energia 2030 desenvolveu projeções para o consumo de
energia elétrico no Brasil, no período compreendido entre os anos de 2005 a 2030,
para 4 cenários possíveis de crescimento econômico.
A figura 5 apresenta a evolução do consumo final de energia elétrica no Brasil
para os cenários considerados, sendo o cenário A aquele que prevê um crescimento
econômico mais otimista, e C o cenário que prediz o menor crescimento econômico.
Nota-se uma tendência de crescimento geométrico no consumo de energia. O
crescimento médio anual no consumo foi estimado em 5,1%a.a. para o cenário A e
3,5%a.a. para o cenário C.

Figura 5 – Evolução do consumo final de energia elétrica no Brasil, 2005-2030.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

O aumento estimado para o consumo de energia elétrica é atribuído


principalmente à modernização do setor agropecuário, ao aumento no consumo
13

industrial, ao aumento da participação do setor de serviços no PIB e à evolução do


consumo per capita residencial (PNE 2030). As figuras 6 e 7 apresentam a evolução
prevista para o consumo final de energia elétrica na indústria e no setor
agropecuário, respectivamente. Tendo em vista que os setores industrial e
agropecuário são responsáveis por uma grande parcela do consumo de energia
elétrica, a adoção de políticas públicas, que estimulem investimentos de geração
distribuída com biomassa diretamente nas unidades consumidoras, pode aliviar a
necessidade de investimentos pesados em grandes usinas.

Figura 6 – Evolução do consumo final de energia elétrica na indústria, Brasil, 2005-2030.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

Figura 7 – Evolução do consumo final de energia elétrica no setor agropecuário, Brasil, 2005-
2030.
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.
14

3 CARACTERIZAÇÃO DA BIOMASSA NO ESTADO DO PARANÁ

O Brasil reúne varias vantagens que o tornam capaz de atuar como líder no
mercado mundial de produtos agrícolas, agroindustriais e silviculturas, destinados à
geração de energia.
As produções de Soja, Milho, Cana-de-Açúcar, Pinus e Eucalipto no estado
do Paraná representam uma fração significativa do montante produzido no Brasil,
culturas com as quais se obtém resíduos sólidos de biomassa. Algumas culturas
podem ser cultivadas objetivando diretamente fins energéticos, como é o caso do
Pinus e do Eucalipto que podem ser utilizados em termoelétricas, da Cana-de-
Açúcar que é utilizada para a produção de álcool e da soja com a qual pode-se obter
biodiesel.
O estado se destaca também por apresentar um elevado número de
fecularias, frigoríficos e laticínios que são fontes potenciais de biogás, quando os
resíduos da produção são adequadamente processados. Outras fontes de biogás
que valem ser mencionadas são os resíduos sólidos urbanos (RSU) e as estações
de tratamento de esgoto (ETE).
Utilizando a sistemática adotada no PNE 2030, a biomassa pode ser
classificada como recurso energético nas categorias de biomassa energética
florestal, seus produtos e subprodutos ou resíduos; biomassa energética agrícola, as
culturas agroenergéticas e os resíduos e subprodutos das atividades agrícolas,
agroindustriais e da produção animal; e rejeitos humanos.
A biomassa para fins energéticos esta entre as fontes renováveis com
maiores possibilidades em termos de natureza, origem e tecnologia disponível para
a geração elétrica.
Neste ponto, faz-se necessária a introdução de alguns conceitos
fundamentais que caracterizam o potêncial energético da biomassa. O primeiro é o
conceito de Base Umida (BU) e Base Seca (BS). Uma propriedade intensiva do
combustível definida em base úmida esta relacionada à massa total da biomassa
úmida, considerando a parcela mássica do combustível e também da água contida.
Por exemplo, supõe-se que 1kg de resíduo úmido seja a formado 0,4kg de água e
0,6kg de madeira. Este resíduo apresenta uma umidade de 40% em Base Umida
(0,4kg / 1kg). Por outro lado, uma propriedade intensiva do combustível definida em
Base Seca utiliza como base apenas a parcela seca do combustível. Para o mesmo
15

combustível com 40% de umidade BU, tem-se uma umidade em base seca de 67%
(0,4kg / 0,6kg).
O segundo conceito importante é o de poder calorífico superior (PCS) e poder
calorífico inferior (PCI). O PCS corresponde à energia que é liberada durante a
combustão da biomassa, sem descontar a energia que pode ser perdida devido à
evaporação e formação de água durante o processo de combustão. O PCI
corresponde à energia líquida que é liberada durante o processo de combustão, e
que fica disponível para o aproveitamento energético. No obtenção do PCI é
descontada a energia perdida no processo de evaporação da água que compõe um
combustível úmido, e também a energia perdida quando o hidrogênio retido no
combustível se combina com o gás oxigênio, formando água que também evapora
utilizando parte do calor gerado na combustão. O PCS e o PCI são propriedades
intensivas dos combustíveis e são usualmente são expressos em MJ/kg ou kCal/kg,
em BU ou BS.
16

3.1 Produção Agrícola e resíduos disponíveis

A região sul do Brasil, e particularmente o estado do Paraná, destaca-se


como grande produtora agrícola do país. A figura 8 ilustra a evolução da participação
da região sul na produção das principais culturas agrícolas. Nota-se a região sul
apresenta a maior parcela de participação na produção do país.
A quantificação dos resíduos agrícolas, que podem ser utilizados para a
geração de energia, é expressa com base nos “índices de colheita” (ou coeficientes
de produção de resíduo) que correspondem à razão entre a massa de resíduo
agrícola gerado e a massa de produto economicamente aproveitável.

Figura 8 – Evolução da produção das principais culturas – grãos, leguminosas e oleaginosas


(103 t/ano).
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.
17

Soja
O estado do Paraná apresentou no ano de 2004 a segunda maior produção
de soja do país, correspondendo a 10.036,5.10 3 toneladas no ano, ficando atrás
apenas do estado do Mato Grosso cuja produção anual correspondeu a 15.008,8.10 3
toneladas. A figura 9 apresenta o mapa de produção de soja no Brasil e os dez
principais municípios produtores, no ano de 2004.

Figura 9 – Mapa de produção de soja – 2004.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

A produtividade da soja na região sul do Brasil atinge valores de até 2,74t/ha


(toneladas por hectare) sendo a média nacional de 2,21 t/ha (PNE 2030). Em
relação aos resíduos agrícolas resultantes da produção de soja, o PNE 2030 aponta
uma produtividade de 3,6% tBbs/tsoja (para cada 1 tonelada de soja, resultam 36 kg de
resíduo seco de biomassa, sem considerar o teor de umidade que pode estar
presente e ser somado à esta massa de resíduo). De acordo com KOOPMANS E
18

KOPPEJAN (1997), a palha de soja apresenta PCI de 14,6MJ/kg Bbs (megajoules por
kilograma de biomassa em base seca). A tabela 2 apresenta a estimativa da
geração de resíduos agrícolas e a energia primária contida nestes resíduos da
cultura de soja do estado do Paraná, no ano de 2004.

Tabela 2 – Estimativa da geração de resíduos agrícolas e energia primária continda na cultura


de soja do estado do Paraná, 2004.
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

Parâmetro Massa de resíduo agrícola Energia primária contida


Unidade (106tBbs/ano) (106GJ/ano)
Valor 36,13 527,5

O PNE 2030 projeta para o ano de 2030, uma produção de soja de


24.823.103 toneladas no estado do Paraná; 2,47 vezes a produção registrada em
2004.

Milho

No ano de 2004, o Paraná também assumiu uma posição de destaque na


produção de milho, sendo o maior produtor do Brasil, atingindo uma produção anual
de 10.934,6.103 toneladas, que correspondeu a 26,1% da produção total do país. Na
figura seguinte é ilustrado o mapa de produção de milho no Brasil e os dez principais
municípios produtores, no ano de 2004.
A produtividade de milho na região sul do Brasil atinge valores de até 3,09t/ha
sendo a média nacional de 2,87 t/ha (PNE 2030). Em relação aos resíduos agrícolas
resultantes da produção de milho, o PNE 2030 aponta uma produtividade de 5%
tBbs/tmilho. De acordo com KOOPMANS E KOPPEJAN (1997), os resíduos do milho
(sabugo, colmo, folha e palha do milho) apresentam um PCI médio de 17,7MJ/kg Bbs.
A tabela 3 apresenta a estimativa da geração de resíduos agrícolas e a energia
primária contida nestes resíduos da cultura de milho do estado do Paraná, no ano de
2004.
19

Figura 10 – Mapa de produção de milho – 2004.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

Tabela 3 – Estimativa da geração de resíduos agrícolas e energia primária continda na cultura


de milho do estado do Paraná, 2004.
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

Parâmetro Massa de resíduo agrícola Energia primária contida


Unidade (106tBbs/ano) (106GJ/ano)
Valor 54,67 967,7

O PNE 2030 projeta para o ano de 2030, uma produção de milho de


23.670.103 toneladas no estado do Paraná; 2,16 vezes a produção registrada em
2004.
20

Cana-de-Açúcar
O Paraná também desponta como segundo maior produtor de cana-de-açúcar
do Brasil, com produção de 32.643.10 3 toneladas no ano de 2004, no entanto
apresenta produção bem inferior ao maior produtor, o estado de São Paulo, cuja
produção em 2004 atingiu 239.528 .10 3 toneladas. Na figura 11 é apresentado o
mapa de produção de cana-de-açúcar no Brasil e os dez principais municípios
produtores, no ano de 2004.

Figura 11 – Mapa de produção de cana-de-açúcar – 2004.


Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

A produtividade da cana-de-açúcar na região sul do Brasil atinge valores de


65,2t/ha sendo a média nacional de 73,9 t/ha (PNE 2030), que notadamente é
influenciada pelo maior estado produtor. Em relação aos resíduos agrícolas
resultantes da produção de cana-de-açúcar, o PNE 2030 aponta uma produtividade
de 14% tBbs/tCana. O PNE 2030 adota um PCI de 16,0MJ/kg Bbs para os resíduos de
21

cana-de- açúcar (folhas e ponteiros), para as estimativas de potêncial energético. A


tabela 4 apresenta a estimativa da geração de resíduos agrícolas e a energia
primária contida nestes resíduos da cultura de cana-de-açúcar do estado do Paraná,
no ano de 2004.

Tabela 4 – Estimativa da geração de resíduos agrícolas e energia primária continda na cultura


de cana-de-açúcar do estado do Paraná, 2004.
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.

Parâmetro Massa de resíduo agrícola Energia primária contida


Unidade (106tBbs/ano) (106GJ/ano)
Valor 4,57 73,12

O PNE 2030 projeta para o ano de 2030, uma produção de cana-de-


açúcar de 74.764.103 toneladas no estado do Paraná; 2,29 vezes a produção
registrada em 2004.
22

3.2 Produção Florestal da Silvicultura – Florestas Plantadas

A silvicultura é a atividade destinada ao estabelecimento, desenvolvimento e


da reprodução de florestas, visando múltiplas aplicações como a produção de
madeira, carvoejamento, produção de resinas e proteção ambiental (IBGE, 2005a).
Exemplos típicos de produção da silvicultura são espécies exóticas como o
eucalipto, o pinus americano, a acácia-negra, a teca, etc (PNE 2030).
No ano de 2004, o Paraná foi o segundo maior produtor florestal de
silvicultura do Brasil, atingindo um volume anual de produção de 22.193.10 3 dentre
carvão vegetal, lenha e madeira em tora. Neste ano, a produção paranaense
correspondeu a 16,4% do volume total produzido no país. A figura 12 apresenta o
mapa da produção de madeira em tora da silvicultura, para papel, celulose e outros
fins, destacando o munícipio de Telêmaco Borba como um dos 10 maiores
produtores do país.

Figura 12 – Mapa da produção de madeira em tora da silvicultura para papel, celulose e outros
fins – Brasil, 2004.
Fonte: Plano Nacional de Energia 2030.
23

De acordo com Menezes (2013), no estado do paraná há ampla distribuição


da produção de toras para lenha, exceto nos núcleos regionais de Londrina e
Paranagá, conforme ilustrado na figura 13. Menezes (2013) ainda salienta que do
total de lenha produzido no Brasil no ano de 2009, 27% foi consumido pela indústria
nacional (cerâmica, alimentos, bebidas, papel e celulose). As florestas plantadas são
atualmente a principal fonte de matéria-prima florestal, em substituição ao
extrativismo vegetal. O PNE 2030 destaca que apesar do potencial brasileiro, em
2005 apenas 21% da produção florestal do país foi utilizada para fins energéticos, na
produção de carvão para a indústria siderúrgica.

Figura 13 – Distribuição da produção de toras para lenha no Paraná.


Fonte: Menezes, 2013.

Em relação a área plantada com florestas de pinus e eucalipto, o paraná


possuía a terceira maior área do país em 2005, totalizando 792.768ha que
correspondem a 15,1% da área total dedicada a este fim no país (PNE 2030).
No Brasil altas taxas de produtividade em florestas plantadas tem sido obtias,
devido ao baixo preço da terra, ao baixo custo da mão de obra e a escolha de
espécies como o Pinus e Eucalipto. Enquanto que no Brasil a produtividade
aproximada de folhosas (eucalipto) é de 34m³/ha.ano (metros cúbicos por hectare a
cada ano), em Portugal a produtividade é de apenas 13m³/ha.ano (PNE 2030).
24

Pinus
O pinus pode apresentar níveis de produtividade acima de 30m³/ha.ano.
Notadamente as taxas de crescimento são fortemente influenciadas pelas condições
do solo e clima de cada região, e pelas técnicas de silvicultura adotadas.
No ano de 2005 a produção estimada de pinus no Paraná foi de
18.978.10³m³, que correspondeu a 36,8% do volume total produzido no Brasil (PNE
2030).
Os valores de densidade básica e PCI adotados para o pinus no PNE 2030,
são de 480kg/m³ e 20MJ/KgBbs, respectivamente.

Eucalipto
O eucalipto apresenta elevada produtividade quando adequadamente
implantado, atingindo valores superiores à 60m³/ha.ano.
No ano de 2005 a produção estimada de eucalipto no Paraná foi de
4370.10³m³, que correspondeu a 3,3% do volume total produzido no Brasil (PNE
2030).
O PNE 2030 apresenta uma estimativa do volume excedente de floresta
plantada que poderia ser utilizado para fins energéticos. Esta estimativa é obtida
através da quantificação teórica da produção potencial em áreas ocupadas pela
silvicultura, descontando-se o consumo de madeira em tora para uso industrial.
O volume excedente de eucalipto no estado do Paraná, estimado para o ano
de 2005, foi de 50.000 toneladas. Este volume possui um conteúdo energético de
aproximadamente 9,8.106GJ, que equivalem a 310MW considerando um fator de
capacidade 1. É importante notar que este cálculo não considera perdas nos
processos de transformação da energia em energia elétrica, como no caso de a
biomassa apresentar umidade ou devido à eficiência dos equipamentos mecânicos e
elétricos, que apresentam irreversibilidades.
No caso do Pinus, esta estimativa não foi conduzida, tendo em vista que as
florestas plantadas de pinus encontram-se no seu patamar máximo de produtividade
para as técnicas de silvicultura atualmente disponíveis (PNE 2030).
Os valores de densidade básica e PCI adotados para o eucalipto no PNE
2030 são de 500kg/m³ e 19,4MJ/KgBbs, respectivamente.
25

3.3 Fontes de Biogás

As instituições Oeste em Desenvolvimento, Sebrae, SebraeTec e AGX


Engenharia desenvolveram em 2015 um estudo denominado Mapeamento e Análise
das Energias Renováveis do Oeste do Paraná, com o objetivo de identificar e
mapear possíveis fontes de energias renováveis com foco no uso do biogás.
Doravante, no presente texto, este estudo será referenciado como MAERO-PR
(2015). Bley (2015) também publicou um extenso estudo, fomentado pela Itaipu
Binacional, denominado Biogás, a energia invisível.
Estes estudos indicam o recente interesse e fazer uso deste tipo de energia,
face à grande disponibilidade de fontes de geração de biogás existentes no estado
do Paraná.
O estudo de MAERO-PR (2015) identificou as seguintes fontes potencias de
resíduos que podem ser processados para a obtenção de biogás: fecularias,
frigoríficos, laticínios, aterros, Ceasa e Estações de tratamento de esgoto (ETE).
Cabe mencionar ainda a potencialidade dos resíduos sólidos urbanos (RSU).
Além de potenciais fontes de biogás, o estudo identificou um grupo de
instituições denominado cadeia produtiva, que compreende possíveis parceiros para
o desenvolvimento de tecnologias de utilização do biogás. A figura 14 identifica 301
regiões no oeste do Paraná, dentre possíveis fontes de biogás e possíveis parceiros
pertencentes ao grupo cadeira produtiva.
26

Figura 13 – Possíveis fontes de biogás ou parceiros em potencial que compõem o


grupo denominado cadeira produtiva.
Fonte: MAERO-PR, 2015.

No estudo MAERO-PR (2015), dos 301 pontos identificados, 73 eram


possíveis fontes de biogás que fizeram parte da pesquisa.
O biogás é um produto da decomposição de matéria orgânica, conduzida por
bactérias. O biogás para fins industriais pode ser obtido com equipamentos
disponíveis no mercado nacional, denominados Biodigestores Anaeróbicos. Nestes
equipamentos, os efluentes (fezes de animal, por exemplo) são confinados na
ausência de oxigênio, o que favorece as reações químicas que liberam gás metano
(CH4) e dióxido de carbono (CO2). Estes gases são os principais constituintes do
biogás.
O biogás apresenta um PCI que depende do efluente processado. Neste
estudo será adotado o PCI aproximado de 6,8kWh/m³ (Biogas Renewable Energy,
2016).
27

Fecularias
Todas as fecularias que participaram do estudo MAERO-PR (2015) possuíam
biodigestores. A capacidade de produção de biogás informada variou de 1.200m³/dia
a 21.000 m³/dia. Das sete fecularias entrevistadas, apenas uma apresentava um
sistema de geração de energia elétrica com biogás, para complementação do
consumo interno (sem conexão com a concessionária de energia).

Frigoríficos de Aves
Dos quatro frigoríficos de aves mapeados no estudo MAERO-PR (2015),
apenas um possuía biodigestores, com capacidade total de produção de biogás de
35.000m³/dia. Este frigorífico produtor de biogás também possuía um sistema de
geração de energia elétrica com biogás, para complementação do consumo interno.

Frigoríficos de Suínos
Quatorze frigoríficos de suínos foram identificados no estudo MAERO-PR
(2015). Dois frigoríficos possuíam biodigestores com capacidade de produção de
biogás de 2.500m³/dia e 4.600m³/dia, dos quais um possuía sistema de geração
elétrica para consumo próprio.

Laticínios
Vinte e um laticínios foram entrevistados no estudo MAERO-PR (2015) e
apenas dois respondentes afirmaram possuir biodigestores com capacidade de
produção de biogás de 3.000m³/dia e 6.000m³/dia.

Potencial energético das fontes de biogás

O estudo MAERO-PR (2015), que contemplou apenas a região oeste do


Paraná, identificou 73 possíveis fontes de biogás para a produção de energia
elétrica, que participaram da pesquisa.
Na região oeste existem ainda fontes potenciais que não participaram da
pesquisa, e nas demais regiões do estado certamente existe potencial para a
exploração do biogás como recurso energético.
Dentre os entrevistados na pesquisa MAERO-PR (2015), poucos produtores
possuíam biodigestores para a geração de biogás, e um número menor ainda
28

apresentava sistemas de geração de energia elétrica baseados na queima deste


combustível. Neste sentido, nota-se que o biogás é uma alternativa para a geração
distribuída de energia pouco explorada.
A quantificação da energia elétrica possível de ser obtida, com as tecnologias
existentes para a geração de eletricidade, para um determinado volume diário de
biogás disponível, será apresentada no capítulo 5 na forma de um estudo de caso.
29

4 TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS PARA A GERAÇÃO DE

ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA BIOMASSA

Apesar da pouca familiaridade dos potenciais produtores de biomassa com as


tecnologias existentes para a geração de energia elétrica com este combustível, os
sistemas de geração de energia para tal aplicação já estão disponíveis no mercado,
e inclusive são fornecidos por fabricantes paranaenses. Este capítulo tem o objetivo
de elucidar as tecnologias que tornam possível o aproveitamento da energia da
biomassa.
As tecnologias de geração se dividem basicamente em dois grupos. O
primeiro é a implantação de pequenas centrais termoelétricas para microgeração
(até 100kW), minigeração (até 1000kW) ou até centrais maiores dependendo da
disponibilidade de biomassa. De maneira simplista, as centrais termoelétricas são
compostas por um equipamento destinado à combustão do resíduo sólido ou gasoso
(caldeira), por equipamentos destinados à geração de potência (turbina e gerador), e
por equipamentos auxiliares que serão brevemente descritos nas seções
posteriores.
O outro grupo de tecnologias de geração engloba os motores de combustão
interna (CI) adaptados para a utilização de biogás. No caso de resíduos sólidos, faz-
se necessário ainda um equipamento para gerar gases (inflamáveis), a partir da
biomassa sólida, que então são admitidos no motor.

Queima e Gaseificação de Biomassa


A energia é extraída da biomassa através de processos de combustão do
material sólido ou gasoso.
A biomassa sólida possuí duas alternativas, a primeira é a combustão direta
do material sólido e a segunda é a obtenção do chamado gás de síntese a partir do
material sólido. Neste sentido, esta seção se inicia com a explicação do processo
para obtenção do gás de síntese.
O gás de síntese a partir de biomassa sólida é obtido por um processo
denominado gaseificação, que ocorre em um equipamento específico para este fim
denotado gaseificador. O primeiro processo para a obtenção do gás de síntese é a
secagem da biomassa (que pode ocorrer no próprio gaseificador). Em seguida,
30

ocorre o processo de Pirólise, que consiste no aquecimento do material seco a


temperaturas mais baixas que a temperatura de combustão, com quantidade de
oxigênio controlada (baixa). E finalmente o último processo é o da gaseificação
propriamente dita, quando o carbono e os hidrocarbonetos do combustível reagem
com oxigênio. Estes processos liberam o gás de síntese a partir da biomassa sólida.
A operação do gaseificador requer energia térmica, portanto pode ser
utilizada como fonte de energia a própria biomassa, o gás de síntese resultante ou
os subprodutos do processo de gaseificação (resíduos sólidos). O gás de síntese
(assim como o biogás) é inflamável e pode então ser utilizado para a obtenção de
energia térmica. Salienta-se que existem diferentes tecnologias de gaseificação,
algumas não são baseados no processo de pirólise.
No caso da geração termoelétrica, a energia térmica é obtida através da
combustão da biomassa sólida, do gás de síntese ou do biogás em um equipamento
denominado caldeira, que é amplamente utilizado na indústria para diferentes fins.
A caldeira consiste basicamente de dois circuitos, um para a condução dos
gases resultantes da combustão e outro para o aquecimento de água e geração de
vapor saturado ou superaquecido. O combustível (biomassa sólida, gás de síntese,
biogás) é queimado em uma fornalha e desta reação resultam gases a altas
temperaturas. Estes gases trocam calor com o circuito da água, que é
gradativamente aquecida até formar vapor de alta pressão e elevada temperatura.
O vapor saturado ou superaquecido, possuí diversas aplicações na indústria,
tais como: aquecimento, propulsão de máquinas de fluxo ou de deslocamento
positivo, geração de vácuo com injetores, atomização, etc.
A figura 14 ilustra um equipamento de gaseificação baseado no processo de
pirólise. A capacidade de geração de gás de síntese para um equipamento com
estas dimensões não foi informada. A figura 15 apresenta uma caldeira de baixa
pressão para a geração de vapor saturado.
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Figura 14 – Exemplo de gaseificador baseado no processo de pirólise, capacidade não


informada para as dimensões ilustradas na figura.
Fonte: w2ebioenergia.com.br, acesso em 28/02/2016.

Figura 15 – Caldeira para geração de vapor saturado. Vazão de 500 a 7000kg/h, pressão
máxima 10Bar(g).
Fonte: www.beneck.com.br, acesso em 28/02/2016.
32

Sistemas de Geração Termoelétrica– Ciclos de Vapor com Turbinas de


Condensação

Os sistemas dedicados exclusivamente à geração de energia elétrica utilizam


turbinas a vapor de condensação. Estes sistemas são descritos pelo ciclo Rankine
de potência. O ciclo Rankine de potência engloba os principais componentes de uma
termoelétrica e permite estabelecer uma análise global dos parâmetros de operação
de cada equipamento da usina, quais sejam: caldeira (com desaerador ou tanque de
condensado), turbina, gerador elétrico, condensador, torre de resfriamento. O ciclo
Rankine de potência, com os principais equipamentos do sistema dedicado à
geração, é ilustrado na figura 16.

Figura 16 – Sistema dedicado à geração termoelétrica com vapor.


Fonte: www.solidda.com.br, acesso em 28/02/2016.

Conforme descrito pelo fornecedor paranaense de sistemas de geração,


Solidda (acesso em 28/02/2016), estes sistemas são usualmente empregados na
geração de energia elétrica em uma faixa de potência de 250kW até 3000kW. No
entanto, salienta-se que não há limite superior, do ponto de vista tecnológico, para a
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potência de um sistema de geração termoelétrica com biomassa, que dependerá


apenas da disponibilidade de combustível.
Em relação ao ciclo Rankine de potência, seu funcionamento pode ser
suscintamente descrito da seguinte forma:
1) A biomassa é queimada na fornalha da caldeira, obtendo-se gases
quentes que aquecem a água, que é transformada em vapor de água
saturado ou superaquecido;
2) O vapor é admitido na turbina movimentando um rotor, o que resulta em
trabalho mecânico de eixo. Esta energia mecânica é transmitida ao
gerador elétrico, que através dos efeitos do eletromagnetismo converte a
energia mecânica do seu eixo em energia elétrica;
3) Na exaustão da turbina o vapor é transferido a um trocador de calor
denominado condensador, que transforma o vapor novamente em água no
estado líquido. Este trocador de calor utiliza água fria proveniente de uma
torre de resfriamento para a troca térmica com o vapor;
4) A água em estado líquido proveniente do condensador é bombeada para
um tanque de condensado (ou desaerador) e depois é bombeada
novamente para a caldeira, completando o ciclo.

Sistemas de Cogeração Termoelétrica– Ciclos de Vapor com Turbinas


de Contrapressão ou Condensação com Extração

A cogeração pode ser definida como a obtenção de energia térmica a partir


da biomassa, e a utilização simultânea desta energia em processos industriais e na
geração de energia elétrica.
A energia térmica é usualmente obtida com uma caldeira, conforme descrito
na seção anterior, e o vapor resultante é utilizado no processo industrial e em uma
turbina a vapor.
A forma mais eficiente de um sistema de cogeração consiste na geração de
vapor a uma pressão mais elevada do que a necessária aos processos industriais. O
vapor gerado na caldeira é então admitido diretamente em uma turbina.
A este ponto existem duas opções para o sistema de cogeração. A primeira é
a utilização de uma turbina de Condensação com Extração, que é um sistema
similar ao ciclo Rankine exposto anteriormente. Neste caso, uma parcela do vapor
34

admitido na turbina, será extraída em determinada região máquina (após ter gerado
potência), fornecendo vapor nas condições de pressão e temperatura requeridas
pelo processo industrial. A parcela de vapor que não foi extraída continua seu
processo de expansão na turbina gerando potência adicional.
A segunda opção é a utilização de uma turbina a vapor de contrapressão.
Este sistema de geração não requer o condensador e a torre de resfriamento. Em
uma turbina de contrapressão o vapor é admitido, gera a potência de eixo e na
exaustão da máquina, todo o vapor é descartado na pressão de operação dos
processos industriais.
É importante destacar que nos sistemas de cogeração, a potência gerada
oscila em função da demanda de vapor dos processos industriais, enquanto que nos
sistemas dedicados a geração elétrica (seção anterior) a potência gerada é
constante.

Motores de Combustão Interna Adaptador para Biogás e Gás de Síntese


Outra opção para a geração de energia elétrica a partir do biogás ou do gás
de síntese é a utilização de motores de combustão interna (CI). Conforme exposto
no estudo de Bley (2015), “motores a gasolina precisam de poucas adaptações para
usar o biogás”.
Certamente os investimentos nesta alternativa de geração são muito
inferiores aos relacionados à geração termoelétrica. No entanto, tendo em vista que
os motores CI são concebidos para operar com gasolina e etanol, que são
combustíveis menos agressivos que o biogás ou gás de síntese, existe uma
tendência de desgaste prematuro dos componentes dos motores CI, mesmo com a
filtragem dos gases.
35

5 QUANTIFICAÇÃO DO POTÊNCIAL ENERGÉTICO DA

BIOMASSA EM CENÁRIOS FACTÍVEIS BASEADOS NA

UTILIZAÇÃO DE PINUS E BIOGÁS

O presente capítulo apresenta uma estimativa para o consumo de biomassa,


em termoelétricas dedicadas a geração de energia, visando o fornecimento de uma
potência elétrica 350kWe no gerador elétrico. Este estudo é baseado em tecnologias
disponíveis no mercado nacional e paranaense para a geração termoelétrica, no
qual se considera a eficiência energética de todos os equipamentos que compõem o
sistema, inclusive as perdas associadas à evaporação da água contida na biomassa
sólida.
Neste estudo introdutório, não foi efetuada uma análise detalhada do
consumo elétrico da planta de geração. Este consumo será assumido, de maneira
conservadora, como sendo de 50kWe. Neste sentido, a potência elétrica líquida
gerada, disponível para o consumo do produtor ou exportação para concessionária,
será de 300kWe, resultando em uma energia mensal de 216.000kWh/mês.

CENÁRIO 1 - Geração Termoelétrica Com Silvicultura de Eucalipto


Considera-se uma silvicultura de eucalipto, destinada exclusivamente a
geração de energia. Adotou-se um teor de umidade de 30% (BU) para a biomassa,
que será diretamente queimada na caldeira, eliminando a necessidade de secagem
prévia. Para este valor de umidade, o PCI resultante do eucalipto é de 2861 kCal/kg
(BU).
Conduzindo a simulação termodinâmica, obtêm-se um consumo de biomassa
de eucalipto de 30.35m³/dia. Para abastecer continuamente este volume de
biomassa, faz-se necessária uma plantação de 184.7 ha, que equivale a uma área
de formato quadrado, cujos lados possuem 1,36 km comprimento. Salienta-se que
esta área plantada é suficiente para abastecer continuamente o consumo diário da
termoelétrica, sem excesso ou falta de madeira, obtendo-se a energia mensal de
216.000kWh/mês.
36

CENÁRIO 2 - Geração Termoelétrica Com Biogás de Fecularia


Considera-se uma fecularia como fonte de biogás, cujo gás apresenta PCI de
6,8kWh/m³. Utilizando o estudo MAERO-PR (2015) como referência, adota-se a
relação de que para cada litro de efluente da fecularia, gera-se 0,63L de biogás.
Conduzindo a simulação termodinâmica, obtêm-se um consumo de biogás de
7.453 m³/dia para sustentar uma geração contínua de 300kWe líquido
(216.000kWh/mês). Esta vazão de biogás corresponde a uma fecularia com vazão
de efluentes de 11.830m³/dia.
37

6 CONCLUSÕES

O presente estudo apresentou um breve panorama do grande potencial que o


estado do Paraná possui para a geração de energia elétrica com biomassa.
Demonstrou-se que o atual cenário econômico e energético do país é favorável para
investimentos na geração distribuída com este tipo de energia renovável. Cada vez
mais a biomassa para energia se torna viável, tendo em vista o alto custo da energia
fornecida pelas concessionárias e a necessidade de expansão descentralizada das
fontes geradoras.
O estudou ilustrou a grande vocação do Paraná para a produção de energia da
biomassa, notando que o estado é um grande produtor agrícola, de silvicultura e
também se destaca nas atividades que podem se tornar fontes de biogás. Foi
apresentado o potencial de aproveitamento das principais culturas agrícolas do
estado (soja, milho e cana de açúcar); das principais produções de silvicultura (pinus
e eucalipto), e das principais fontes de biogás (fecularias, frigoríficos e laticínios).
O estudo elucidou do ponto de vista técnico, as tecnologias existentes para a
geração elétrica a partir da biomassa, ao abordar a geração termoelétrica, os
sistemas de cogeração e os motores de combustão interna adaptados para o uso do
biogás.
Por fim, foi apresentado um estudo teórico, baseado no formalismo
termodinâmico e fundamentado por tecnologias atuais, com o objetivo de traçar uma
equivalência entre as variáveis de produção, conhecidas pelos produtores de
biomassa (área plantada em hectares, no caso da silvicultura, e vazão de efluentes
em m³/dia, no caso de fecularias), e a energia mensal gerada (kWh/mês).
Estudos futuros serão focados no estabelecimento desta relação de equivalência
para outros produtores de biomassa em potencial, como laticínios e frigoríficos,
pretendendo-se apresentar uma gama maior de cenários factíveis de geração e
também de cogeração. Serão apresentados ainda estudos de impactos ambientais e
avaliações dos benefícios sociais da geração descentralizada com biomassa.
Finalmente, pretende-se também conduzir um criterioso estudo de viabilidade da
implantação de centrais termoelétricas com biomassa, apresentando a taxa e o
tempo de retorno de investimento.
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REFERÊNCIAS

AGX ENGENHARIA, OESTE EM DESENVOLVIMENTO, SEBRAE, SEBRAETEC.


Mapeamento e análise das energias renováveis do oeste do Paraná. 2015.
BLEY JR, CÍCERO. Biogás – a energia invisível. ITAIPU BINACIONAL, 2015.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Plano nacional de energia 2030. 2007.
IBGE. Produção da extração vegetal e da silvicultura. Volume 19. 2005a.
KOOPMANS, A., KOPPEJAN, J. Agricultural and forest residues – generation,
utilization and availability. Malaysia, 1997.
MENEZES, MARTA JULIANA SCHMATZ. Poder calorífico e análise imediata de
pinus e araucária de reflorestamento como resíduos de madeireira.
Dissertação. UNIOESTE, 2013.

www.biogas-renewable-energy.info - acesso em 28/02/2016.


www.copel.com.br - acesso em 28/02/2016.
www.solida.com.br - acesso em 28/02/2016.
www.benecke.com.br - acesso em 28/02/2016.
www.w2ebioenergia.com.br - acesso em 28/02/2016.

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