A morte é um tema que permeia a escrita de vários poetas, onde é abordado de
muitas maneiras para mostrar como a vida é passageira e se desgasta no andar do
relógio. Consequentemente podemos analisá-los e interpretá-los de diversas formas, isso vai depender da escrita dos mesmos. Cecília Meirelles é um bom exemplo de poetisa que abordou o tema morte na sua escrita lírica. Uma vez que muitas das suas poesias representam a efemeridade da vida, como as coisas são passageiras e reflete sobre a complexidade de viver, assim podemos perceber na sua escrita a reflexão existencial que o eu-lírico faz em torno da vida e por muitas vezes caindo em um fundo filosófico. Ela também apresenta um ecletismo, no qual características do Simbolismo são bem visíveis. Podemos notar isso por causa da musicalidade e da suavidade da sua poesia que se dá pela presença de certos elementos como vento, o ar, o mar, solidão. Mas apesar de ter essas certas características simbolistas, não deixa de ser modernistas. Na sua escrita podemos perceber tais formas modernistas, como a preferencia ao verso e curto e ao ritmo, que assim possibilidade a criação de imagens e fluência na leitura. Alvares de Azedo é outro poeta que escreveu muito sobre o tema morte e fez parte da geração de ultrarromânticos do Romantismo brasileiro, onde essa temática foi bem recorrente. Escrevia muitas vezes para fugir de suas dores e tormentos pessoais. Tratava da morte com ironia e sarcasmo. O poema “O Poeta Moribundo” retrata bem essa característica dele. Seu individualismo deu outro tom à ”morte” quando por vezes a retrata de forma complexa e individualista. No presente trabalho trataremos de fazer uma análise entre esses dois poetas identificando as relações e os contra pontos na escrita de Azevedo e Meireles. Levando, assim em consideração as características dos períodos dos poemas escritos, visto que Cecília faz parte do Modernismo e Álvares da segunda geração do Romantismo brasileiro. Canção Póstuma
Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo. A Morte é um poderoso vento. E é um suspiro tão tímido, a Arte...
É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária. Choro de pomba. E a Morte é uma águia cujo grito ninguém descreve.
Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados para os meus lábios inexatos, — atento a um canto mais profundo.
E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando aquele universo de pranto com a lágrima da sua face.
E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde. E sofro sem saber de que Arte se ocupam as pessoas mortas.
Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga. Talvez dure mais do que a vida. Mas à Morte não diz mais nada.