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Conceito de Convenções Internacionais PDF
Conceito de Convenções Internacionais PDF
Conceito
I. Importância
As convenções constituem um instrumento cuja importância vem aumentando ao longo dos tempos. Se
até meados do século XIX apenas eram conhecidas cerca de 8.000 convenções, a verdade é que após a II
Guerra Mundial foram recenseadas mais de 50.000, ou seja, são concluídas mais de 1.000 convenções por
ano. O aumento do número tem várias justificações: desde logo em resultado do esforço de codificação que
vem sendo desenvolvido desde então; por outro lado verifica-se ainda o surgimento de inúmeras convenções
Rui Miguel Marrana – Direito Internacional Público – Sumários Desenvolvidos 2003-2004
resultantes da actividade das Organizações Internacionais, finalmente são ainda de salientar os novos âmbitos
do Direito Internacional que se têm desenvolvido essencialmente com base em tratados, como seja a coo-
peração internacional e a integração económica.
II. Noção
Pode avançar-se a seguinte definição de convenção internacional (que nos permitirá analisar separada-
mente os seus elementos essenciais): convenção internacional é um acordo de vontades, em forma escrita,
entre sujeitos de Direito Internacional, agindo nessa qualidade, regido pelo Direito Internacional, de
que resulta a produção de efeitos jurídicos, qualquer que seja a sua denominação.
Vejamos cada elemento separadamente (sendo que colocaremos entre parêntesis os elementos não es-
senciais à noção de convenção):
a) acordo de vontades
Toda a convenção implica um acto voluntário, um acordo, nos termos da teoria geral do negócio jurídico
(cujos princípios por isso se lhe aplicarão subsidiariamente).
Conforme veremos (cfr. Infra - validade das convenções) a afectação - viciação - do carácter voluntário
conduz à nulidade.
As vontades não terão de se manifestar em simultâneo ou paralelo, podendo ocorrer em momentos dife-
rentes (o que constitui aliás uma prática corrente, na medida em que a vinculação de cada Estado surge com
frequência em momentos diferentes, maxime por força da necessidade de ratificação);
Por outro lado, o acordo de vontades exprime-se com frequência através de mais de um instrumento: ao
texto do próprio acordo, acresce normalmente o instrumento que formaliza a vinculação.
b) (em forma escrita)
O art.º 2.º/1 a) da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 (CV) refere a forma escrita
como elemento da noção de tratado para efeitos da mesma convenção. Atente-se todavia ao disposto no art.º
3.º que refere (entre outros aspectos) que a falta de forma não afecta a validade nem exclui a aplicação das re-
gras da CV às quais as partes estariam submetidas independentemente desta. O que significa que se lhes apli-
cam as regras acolhidas na CV que têm um caracter consuetudinário (que eram portanto, obrigatórias antes e
independentemente de serem acolhidas aquando da codificação da matéria). A jurisprudência vem-no aliás
confirmando (cfr. Ac. de 1931, Tráfego ferroviário entre a Lituânia e a Polónia, no qual o Tribunal Permanente de
Justiça Internacional - TPJI - admitiu a apreciação da questão ao abrigo de um acordo verbal).
1Cfr. UN Office of Legal Affairs, Summary of the Practice of the Secretary-General as Depository of Multilateral Treaties, par 73-83.
2V. caso dos empréstimos sérvios e brasileiros, em cujo dictum de 1929, o TPJI afirmou que todo o contrato que não seja um contrato entre Estados
enquanto sujeitos de direito internacional, funda-se no direito nacional. Esta visão dual (que de alguma forma obriga os contratos a caracterizarem-se
ou como convenções ou como contratos de natureza interna) conhece ainda hoje afloramentos (foi p. ex. defendia pela Noruega no caso
dos empréstimos noruegueses, apreciado pelo TIJ em 1957, e conhece um acolhimento assinalável nos países em vias de desenvolvimento.
3 No original em inglês The Convention on the Settlement of Investment Disputes between States and Nationals of Other States. A assinatura desta
cluem todos os países da OCDE com excepção do Canadá, México e Polónia e todos os Estados-membros da UE.
5 Os mecanismos instituídos pela Convenção de Washington integram nos nossos dias uma infra-estrutura central no comércio
internacional, para eles remetendo diversas convenções. Veja-se p. ex. o Acordo entre o governo da República Portuguesa e o Governo da República
Tunisina para a promoção e a protecção dos investimentos, assinado em Tunis em 11 de Maio de 1992 e publicado no DR de 17.11.1994, cujo artº
8º manifesta a aceitação expressa das partes a submeterem qualquer diferendo ao Centro Internacional para o Regulamento dos Dife-
rendos Relativos aos Investimentos [International Centre for Settlement of Investment Disputes], em conformidade com a referida convenção de
Washington.
6 V. tb. a publicação recente - 27 de Junho de 2000 - da OCDE, Guidelines for Multinational Enterprises, que estabelece uma série de
7 Com frequência – as mais das vezes, reconheça-se - a doutrina faz equivaler a expressão ‘efeitos jurídicos’ a ‘efeitos (jurídicos)
vinculativos’, o que não se nos afigura correcto. Assim, por exemplo no caso em apreço (da soft law), é manifesto que se trata de actos que
não pretendem vincular as partes a uma obrigação juridicamente exigível. Mas é também pacífico que esses actos são juridicamente
relevantes, na medida em que produzem (outros) efeitos (que não a vinculação): desde logo, as expectativas criadas autorizam determi-
nadas condutas (nomeadamente a invocação do estoppel); por outro lado, a solicitação do seu cumprimento nunca configura uma ingerên-
cia ou acto inamistoso; reconhece-se ainda que estes actos neutralizam a aplicação de eventuais regras anteriores nas relações mútuas e
finalmente, pode também referir-se que com frequência, contribuem para a formação de convenções.
Diversamente, por exemplo no caso dos actos unilaterais (que de alguma forma são o inverso dos actos concertados, já que, não re-
sultam de um acordo – são unilaterais – mas visam a produção de efeitos vinculativos) a doutrina tende a bastar-se na sua definição com a
referência à produção de efeitos jurídicos (cfr. por todos, a definição que corre nos trabalhos da CDI na matéria – pag. 149 da versão
francesa do Reltório da CDI de 2000).
8 A referência tem a haver com a abordagem que inicialmente se fazia da questão, nomeadamente no âmbito dos contratos
internacionais. Assim, no dictum do TPJI de 1929 anteriormente referido (na nota 2 supra, relativamente aos empréstimos sérvios e brasileiros)
esta instância distingue a natureza internacional ou interna segundo o ordenamento aplicável. A abordagem não nos parece relevante na
identificação dos elementos essenciais das convenções internacionais, já que a aplicação dos direito internacional decorre de se tratar de
uma convenção e não o contrário.
III. Bibliografia
André GONÇALVES PEREIRA, Manual de Direito Internacional Público, 3ª Ed. Almedina, Coimbra, 1993, pp.
171-181.
NGUYEN QUOC Dinh et. al., Droit International Public, 5ª Ed. L.G.D.J., Paris, 1994, pp. 117-121 e 678-688.