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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A escolha do presente tema ocorre em face do desafio que representa essa constante
atualização da doutrina e da jurisprudência em relação às novas problemáticas apresentadas.
O direito ao reconhecimento da filiação sempre foi guarnecido pelo ordenamento jurídico,
desde o Código Civil de 1916, ainda que neste, algumas restrições fossem impostas. Contudo,
com a elaboração e, a partir do momento em que a Constituição Federal de 1988 entro em
vigência, novos princípios serviram de diretriz para que o legislador infraconstitucional
melhor adequasse o Direito às tendências sociais. Foi assim que o afeto passou a ser
valorizado como fundamento das relações familiares.
No decorrer do Século XX, graças aos avanços científicos, a prova pericial nas ações de
investigação de paternidade tornou o trabalho do jurista muito mais simples e seguro. No
início, inimagináveis eram as dificuldades de um processo de investigação de paternidade,
quando muito os exames técnicos poderiam afastar a paternidade, mas era muito difícil de
comprová-la. Era necessário que o juiz analisasse todo um conjunto de fatores probatórios até
chegar à sua decisão. Modernamente, o exame pericial de Ácido Desoxirribonucleico deixou
cair no esquecimento as dificuldades para apontar a paternidade biológica. Todavia, as
relações sociais passaram a se modificar em ritmo mais acelerado do que as leis que vigoram
no país, e uma nova situação foi posta aos nossos Tribunais. O cerne da questão atual é
descobrir qual a melhor solução dentro do contexto da família socioafetiva.
Prevê o artigo 227, parágrafo 6°, da Constituição Federal, que “os filhos, havidos ou
não na relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. Nesse mesmo sentido,
o art. 1.596 do Código Civil em vigor, apresenta a mesma redação, consagrando o princípio
da igualdade entre os filhos e confirmando a influencia constitucional na codificação civil.
O princípio da afetividade é apontado hoje como o principal fundamento das relações
familiares. Mesmo que não mencionado expressamente o termo afeto na Carta Magna, é
possível afirmar que este decorre da valorização constante da dignidade da pessoa humana. 2
Surgiria, assim, uma nova forma de parentesco civil, a denominada paternidade socioafetiva.
1
LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações familiares. Revista brasileira de Direito
de Família. Porto Alegre, n.24, jun./jul. 2004, p.152.
2
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p.
66.
7
3
LOBO, Paulo Luiz Netto. Princípio jurídico da afetividade na filiação. Disponível em:
<HTTP://www.ibdfam.com.br/public/artigos.aspx?codigo=109>. Acessado em 05 jan. de 2011.
8
vigência só reconheciam a família unida pelos laços matrimoniais. Em razão disso, os filhos
extramatrimoniais eram tratados com desprezo, pois eram repudiadas as relações havidas fora
do casamento.
As transformações sociais desencadeadas desembocaram em um importante processo
de renovação do Direito de Família, expurgando a idéia de sociedade patriarcal para
possibilitar a adoção de um novo modelo de organização familiar.
Somente com o advento do Decreto-lei número. 4.7374 foi permitido o
reconhecimento ou a investigação dos filhos adulterinos ou incestuosos, condicionada a
medida ao desquite do genitor. A Lei número 883, de 21 de outubro de 19495 proibiu
qualquer designação quanto à filiação, e ainda foi permitido o reconhecimento do filho
adulterino após a dissolução do matrimônio, incluindo a hipótese de morte, não prevista na lei
anterior.
A Lei número 7.259, de 14 de novembro de 19846 permitiu o reconhecimento do filho
adulterino, também na constância do casamento, desde que o genitor estivesse separado de
fato há mais de cinco anos ininterruptos.
Surgida a concepção de Estado Democrático, iniciou o desaparecimento da antiga
concepção de família, sendo adotado o entendimento de família como um núcleo onde
prevalecem as relações de afeto, buscando a valorização da integridade de seus membros.
Com o advento da Lei número 7.841, de 17 de outubro de 19897, foi assegurada a
igualdade estabelecida pela Constituição da República, conferindo aos filhos, concebidos ou
não da relação de casamento, mesmos direitos e qualificações, proibindo designações
discriminatórias.
4
BRASIL. Decreto-Lei nº 4.737, de 21 de outubro de 1949. Dispõe sobre o reconhecimento de
filhos naturais. Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=152607>. Acesso em: 12 jan.
2011.
5
BRASIL. Lei nº 883, de 21 de outubro de 1949. Dispõe sobre o reconhecimento de filhos
ilegítimos. Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=106903>. Acesso em: 12 jan.
2011.
6
BRASIL. Lei nº 7.259, de 14 de novembro de 1984. Acrescenta parágrafo ao art. 1º da Lei nº 883,
de 21 de outubro de 1949, que dispõe sobre o reconhecimento de filhos ilegítimos. Senado Federal,
Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=129090.>. Acesso em: 12 jan.
2011.
7
BRASIL. Lei nº 9.278, de 17 de outubro de 1989. Revoga o art. 358 da Lei nº 3.071, de 1º de
janeiro de 1916 - Código Civil e altera dispositivos da Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de
1977.Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=133228>. Acesso em: 12 jan.
2011.
9
8
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1992. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente, e dá outras providências. Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102414>. Acesso em: 12 jan.
2011.
9
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e
imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição,
observado o segredo de Justiça. [...].
10
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 1992. Institui o Código Civil. Senado Federal, Brasília,
DF. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=234240>.
Acesso em: 12 jan. 2011.
11
PENA JUNIOR, Moacir Cesar. Direito das pessoas e das famílias: doutrina e jurisprudência. São
Paulo: Saraiva, 2008. p. 1.
12
Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
13
Art. 1.610. O reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento.
10
14
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. v. 6. p.
244.
15
Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção
júris tantum de paternidade.
16
LOBO, Paulo Luiz Netto. Paternidade socioafetiva e o retrocesso da súmula n. 301/STJ. In
PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson,
2006, p. 805.
11
Cabe concluir, portanto, que o reconhecimento biológico não pode prevalecer sobre a
paternidade construída na convivência familiar, o que ocorre nos casos em que a mãe
registrou o filho e outro homem, com quem casou ou estabeleceu união estável, assumiu os
encargos da paternidade.
Nesse sentido é a jurisprudência:
Quem, sabendo não ser o pai biológico, registra como seu filho de
companheira durante a vigência de união estável estabelece uma
filiação socioafetiva que produz os mesmos efeitos que a adoção, ato
irrevogável. O pai registral não pode interpor ação negatória de
paternidade e não tem legitimidade para buscar a anulação do registro
de nascimento, pois inexiste vício material ou formal a ensejar sua
desconstituição. Embargos rejeitados, por maioria. 18
Da análise da decisão supra, é importante ficar claro que não prescinde para a
validade do reconhecimento voluntário a presença de descendência biológica, mas sim o ato
de despender esforços e tratar o menor como se seu filho fosse, caracterizando a verdadeira
17
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Código civil comentado. São Paulo: Atlas, 2003, v. 16, p. 144.
18
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Embargos Infringentes n. 599.277.365, da 4° GCC.
Relatora Maria Berenice Dias. Julgado em 21 out. 1999. Disponível em:
<http://www1.tjrs.jus.br/busca/index.jsp?pesq=ementario&as_q=&as_epq=&as_oq=&as_eq=&sort=d
ate%3AD%3AS%3Ad1&btnG=Buscar&tb=jurisnova&partialfields=NumProcesso%3A599277365&re
quiredfields=>. Acesso em 14 maio 2011.
12
relação familiar. Se comprovado o carinho entre pai e filho e o atendimento das necessidades
para o desenvolvimento da personalidade do menor, não poderá o interesse da criança ser
prejudicado pela inobservância da forma prevista em lei para o procedimento da adoção,
impedindo ao pai biológico que obtenha êxito em eventual ação negatória de paternidade.
Feitas tais considerações, cabe observar que a ponderação e a análise do contexto
fático devem ser analisadas conjuntamente, de modo que, uma vez não configurada a posse do
estado de filho, deve-se conceder primazia ao exame de ácido desoxirribonucleico. Todavia, a
contrario sensu, o papel do afeto nas relações familiares não pode mais ser ignorado,
observada a nova conceituação de família, com suas modalidades implícitas, para assegurar o
direito do cidadão.
13
19
BARROS, Sérgio Resende de. A ideologia do afeto. Revista Brasileira de Direito de Família.
Porto Alegre, v. 4, n. 14, p. 5-10, jul./set. 2002. p. 8-9.
20
LOBO, Paulo Luiz Netto. Direito ao estado de filiação e direito à origem genética: uma distinção
necessária. In: ENCONTRO DE DIREITO E FAMÍLIA DO IBDFAM/DF. 2. Ed, 2004, Brasília.
Disponível em: <http://www.cfs.jus.br/revista/numero27/artigo06.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2010.
14
21
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípio jurídico da afetividade na filiação, in Direito de Família: a
família na travessia do milênio. Rodrigo da Cunha Pereira (Coord.), Belo Horizonte, IBDFAM, Del
Rey, 2000, p. 250.
22
ALMEIDA, Maria Cristina de. Op. Cit., p. 458.
15
23
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Paternidade socioafetiva e o retrocesso da Súmula 301/STJ. In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Família e dignidade humana. São Paulo: IOB Thomson,
2006, p. 796.
24
Art. 1.626 do Código Civil: situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os
pais e parentes consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para casamento.
25
Art. 4°, do Estatuto da Criança e do Adolescente: “É dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Art. 227 da
Constituição Federal de 1988: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda e qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”.
26
Art. 242, do Código Penal; “Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem;
ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: Pena
16
Será função do juiz verificar, no caso concreto, todos os fatos relevantes apresentados,
de modo a compreender a adoção à brasileira sob o viés da filiação e localizá-la na natureza
constitutiva da posse do estado de filho, a fim de consolidar uma realidade fática calcada no
afeto e no amparo.
Nestes casos, o Supremo Tribunal Federal decidiu ser nobre o motivo que levou o
agente a registrar em seu nome o filho de outrem, afastando-se o dolo específico previsto no
artigo 299 do Código Penal. Insta destacar, ainda, que as decisões exaradas vêm considerando
a relevância do fenômeno denominado paternidade ou maternidade social, o qual cria o estado
afetivo, social e familiar e que, a princípio, não deve ser desfeito. 28
Pela análise da fundamentação do Relator, é possível observar que, uma vez
verificada a história construída pelos filhos como se descendentes genéticos fossem do de
cujos, e reconhecida a relação afetiva consolidada pela convivência no tempo, não pode
prevalecer a pretensão de desconstituição da paternidade afetiva em razão da ausência de
vínculo biológico, com finalidade eminentemente patrimonial, a fim de retirar dos adotados
sua vocação hereditária.
A segunda espécie de paternidade socioafetiva está relacionada aos casos de
reprodução assistida heteróloga. Nesses casos, estar-se-á diante da hipótese de um terceiro
agir como doador do material genético, desde que com prévia autorização do marido. 29
Com base no Enunciado 111, da 1ª Jornada de Direito Civil, na “reprodução assistida
heteróloga sequer será estabelecido o vínculo de parentesco entre a criança e o doador do
material fecundante”.30 Não pode ser considerado genitor o ascendente biológico de mera
– reclusão de dois a seis anos. Parágrafo único. Se o crime é praticado por motivo de reconhecida
nobreza: Pena – detenção, de um a dois anos, podendo o Juiz deixar de aplicar a pena”.
27
Art. 2° da Lei dos Registros Públicos (6.015/73). “Os registros indicados no § 1º do artigo anterior
ficam a cargo de serventuários privativos nomeados de acordo com o estabelecido na Lei de
Organização Administrativa e Judiciária do Distrito Federal e dos Territórios e nas Resoluções sobre
a Divisão e Organização Judiciária dos Estados, e serão feitos:
I - o do item I, nos ofícios privativos, ou nos cartórios de registro de nascimentos, casamentos e
óbitos;
II - os dos itens II e III, nos ofícios privativos, ou nos cartórios de registro de títulos e
documentos;
III - os do item IV, nos ofícios privativos, ou nos cartórios de registro de imóveis”.
28
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n.° 119.346 – GO, da 4ª Turma. Relator: Ministro
Barros Monteiro. Julgado em: 01 abr. 2003. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&processo=119346+&b=A
COR>. Acesso em: 14 maio 2011.
29
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
[...]
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
30
CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS. Enunciados da I Jornada de Direito Civil. Brasília:
Conselho de Justiça Federal, 2002. Disponível em:
HTTP://daleth.cjf.gov.br/revista/enunciados/IJornada.pdf, acessado em 12 mar. 2011.
17
concepção, apenas por ter fornecido o material biológico para o nascimento do filho, que
nunca desejou criar. 31
A terceira e última espécie diz respeito à posse do estado de filho. A afetividade e a
posse do estado de filiação são elementos indissociáveis, porém, deve ser considerado ainda
um terceiro elemento, a posse do estado de pai. A posse do estado de filho e a posse do estado
de pai exprimem reciprocidade, uma não existe sem a outra, pois é necessária a existência de
afetividade nos dois pólos da relação, sob pena de não se confirmar os laços parentais.
É possível extrair que a idéia de estado de filho afetivo não ocorre com o nascimento,
mas sim com a manifestação de vontade. Maria Berenice Dias destaca que a noção de posse
do estado de filho estabelece em um ato de vontade que sedimenta no terreno da afetividade,
questionando tanto a verdade jurídica, quanto a certeza científica no estabelecimento da
filiação.
Todavia, importante ressaltar que a posse do estado de filiação possui três elementos
caracterizadores que de certa forma concretizam a relação proveniente da vontade de assumir
a responsabilidade paterna, bem como a vontade de ser tratado como filho e fazer parte
daquele seio familiar. O nome, o tratamento e a fama. Nos dizeres de Rodrigo da Cunha
Pereira, “é esse tripé que garante a experiência de família e o pressuposto do afeto”.
A presença do nome não é de grande relevância, uma vez que nem sempre a criança
portará o sobrenome de seus pais. No entanto, é indispensável que o filho seja tratado como
tal, ou seja, que seus pais garantam sua educação, cainho e assistência e que essa relação
paterno-filial seja notável perante a sociedade.
Diante do caso concreto, deve ser observado o melhor interesse da criança, já que esta
é detentora de proteção especial, conforme prevê o artigo 227 da Magna Carta e o artigo 3º do
Estatuto da Criança e do Adolescente.32 Esses pressupostos servirão como guias para dirimir a
delicada questão que envolve a verdade estampada pelo registro civil.
Todo esse cuidado pelo aplicador do Direito é necessário, pois a desconstituição do
registro civil de uma relação consolidada no tempo implica muito mais em prejuízos do que
em benefícios, haja vista sua carga de desprezo e desconsideração à segurança jurídica das
relações já consolidadas. Seria um retrocesso, pois se estaria assistindo a derrota do afeto em
31
MADALENO, Rolf. Novos horizontes no Direito de Família. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
p. 93.
32
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
18
razão da adoração dos critérios meramente biológicos. Agir desse modo seria ignorar os
princípios defendidos pela legislação, de proteção ao melhor interesse da criança, da
convivência familiar e de valorização da dignidade da pessoa humana em detrimento dos
interesses simplesmente patrimoniais.
19
33
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 260.079 - SP, da Segunda Turma. Relator: Min.
Fernando Gonçalves. Julgado em 17 maio 2005. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=334885>. Acesso em: 14 maio
2011.
34
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 260.079 - SP, da Segunda Turma. Relator: Min.
Fernando Gonçalves. Julgado em 17 maio 2005. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=334885>. Acesso em: 14 maio
2011.
21
A destinação do patrimônio de uma pessoa, após sua morte, é regulada pelo Direito
Sucessório, podendo ser disposta pelos ditames legais ou pela via testamentária, de acordo
com o artigo 1.786 do Código Civil. 35
Com base no princípio da igualdade entre os filhos, e com fulcro no artigo 1.593 do
Código Civil, cabe observar que o parentesco não se funda apenas pelo critério da
consangüinidade, devendo ser acolhida a tese de paternidade socioafetiva, diante do
reconhecimento da posse do estado de filho.
Por conseguinte, a não consideração da paternidade socioafetiva apenas pela ausência
de reconhecimento expresso caracteriza um equívoco. No que tange à investigação de
paternidade biológica, ou à ação negatória de paternidade, com desconstituição do vínculo,
com fins exclusivamente sucessórios, torna-se descabido o pedido.
O falecimento de pessoa adotada exclui a possibilidade de chamamento dos pais
biológicos, reconhecendo apenas seus ascendentes adotivos como legalmente sucessíveis. Os
parentes consangüíneos são totalmente alijados da herança, em razão da capacidade do
instituto da adoção em romper os vínculos com a família biológica, exceto os matrimoniais.
Entretanto, o direito ao conhecimento da origem biológica é personalíssimo,
imprescritível e indisponível, podendo ser exercitado sem qualquer restrição, quando ausente
o constrangedor propósito econômico de requerimento do quinhão hereditário em virtude da
matriz genética.36
35
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.
36
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 70004510483, da Oitava Câmara
Cível. Relator: Rui Portanova, julgado em: 31 out. 2002. Disponível em:
<http://www1.tjrs.jus.br/busca/index.jsp?pesq=ementario&as_q=&as_epq=&as_oq=&as_eq=&sort=d
22
ate%3AD%3AS%3Ad1&btnG=Buscar&tb=jurisnova&partialfields=NumProcesso%3A70004510483&
requiredfields=>. Acesso em: 14 maio 2011.
37
GIORGIS, José Carlos Teixeira. A investigação da paternidade socioafetiva. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=304>. Acesso em: 10 abr. 2011.
23
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Brasília, DF, 1 jan. 1916. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102644>. Acesso em: 23
mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 1992. Institui o Código Civil. Senado Federal,
Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=234240>. Acesso em: 23
mar. 2011.
27
BRASIL. Lei nº 4121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da mulher
casada. Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/sicon/ListaReferencias.action?codigoBase=2&codigoDocument
o=11397>. Acesso em: 23 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 9.278, de 17 de outubro de 1989. Revoga o art. 358 da Lei nº 3.071, de 1º
de janeiro de 1916 - Código Civil e altera dispositivos da Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de
1977.Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em:
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