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DOCÊNCIA EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: A FORMAÇÃO EM MINAS


GERAIS - BRASIL

Leonardo Augusto Couto Finelli

Mestre em Psicologia com ênfase em Avaliação Psicológica pela Universidade São


Francisco

Docente da Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI e Faculdades Integradas do Norte de


Minas – FUNORTE

finellipsi@yahoo.com.br

RESUMO: No Brasil, contamos com mais de 500 cursos de graduação em psicologia. O


estado de Minas Gerais com 52 cursos. Cada um apresenta suas particularidades e ênfases
de formação e disciplinas específicas de ensino de técnicas de avaliação psicológica. Não
obstante, as realidades são distintas quanto à alocação de espaço para o funcionamento do
laboratório de avaliação psicológica, adequado à boa prática da avaliação. A
disponibilidade de material para utilização é igualmente precária na maior parte das
instituições, onde o número de cadernos de aplicação e de manuais de correção é
insuficiente para o número de acadêmicos matriculados na disciplina, o que gera a
necessidade de utilização do mesmo material por pequenos grupos e dificulta o
aprendizado. Além disso, a distribuição de carga horária também é distinta, variando de 120
à 240 horas de disciplinas específicas. Além dessas algumas instituições contam também
ensino e treino de instrumentos em outras disciplinas do curso. Considerando a carga
horária de formação proposta nas matrizes, tem-se que a avaliação psicológica ocupa de 3%
a 5,1% do número de horas aula de formação. Tal resultado parece pequeno frente à
demanda de utilização dos recursos ofertados pelas disciplinas, o que leva a reflexão sobre
a qualidade da formação.

Introdução

A psicologia, no Brasil, é reconhecida como campo de formação e atuação


profissional em 1962, quando o então presidente sanciona em 27 de agosto a lei nº
4.119 (BRASIL, 1962). Tal legislação torna-se um marco nacional, pois, apesar do
prévio reconhecimento da psicologia como ciência, e sua educação em cursos e
disciplinas de formação em diversas faculdades não havia uma formalização sobre
como deveriam se dar tais cursos, e nem se podia falar da profissionalização do
psicólogo como um profissional da saúde.

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A referida legislação prevê a que a formação em Psicologia se desse nas


Faculdades de Filosofia, considerando a graduação com ênfases em cursos de
bacharelado, licenciatura e Psicólogo (BRASIL, 1962). Prevê ainda aspectos formais
como a obrigatoriedade do registro dos diplomas no órgão competente do Ministério da
Educação e Cultura; as condições de funcionamento dos cursos; as formas de
revalidação de diplomas expedidos em Faculdades estrangeiras que mantenham cursos
equivalentes; entre outras disposições gerais e transitórias. Em especial, a legislação
determina os direitos conferidos aos diplomados.
Um desses direitos, previsto no art. 13, paragrafo 1º determina que constitua
função privativa do Psicólogo a utilização de métodos e técnicas psicológicas com
diversos objetivos. Em seu 2º parágrafo considera ser da competência do Psicólogo a
colaboração em assuntos psicológicos ligados a outras ciências (BRASIL, 1962).
As repercussões daquela lei avançam pela história da psicologia brasileira até os
dias atuais. A mesma criou uma condição de reserva de mercado, que compreende um
conjunto de atribuições e tarefas de competência exclusiva do Psicólogo. Assim,
qualquer outro profissional, que exercer tais atividades incorre em falta judicial de
exercício ilegal da profissão.
O reconhecimento de tal reserva, que para alguns pode parecer absurdo, assegura
que as atribuições de competência do Psicólogo sejam exercidas por um profissional
com formação adequada para tal. Por mais que possa causar estranheza, o mesmo vale
para uma série de outras profissões, que são compreendidas como especializações em
determinados campos profissionais e que, de forma similar, zelam por uma atuação
adequada e regulamentada em seu campo.
Posta tal situação histórica, não se pode negligenciar que a formação em
Psicologia, assume caráter generalista, que reconhece a atuação em diversos campos.
Atualmente, no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia, reconhece pelo menos 11
áreas de especialização profissional, a saber: Psicologia Escolar/Educacional;
Organizacional e do Trabalho; de Trânsito; Jurídica; do Esporte; Clínica; Hospitalar;
Social; Psicopedagogia; Psicomotricidade; e Neuropsicologia. Não obstante, não reduz
a atuação profissional somente a essas áreas.
Já foi, e ainda é, muito debatida a criação de pelo menos mais uma grande área,
que contemplaria a Avaliação Psicológica. Seus defensores assumem a perspectiva de

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maior regulamentação sobre o campo e demanda de mais formação específica quanto a


construção e utilização de instrumentos de avaliação, noções de psicometria, assim
como reforço quanto a formação no que tange os construtos associados aos processos
psicológicos básicos. Consideram que um profissional especialista será mais capacitado
a seleção e utilização dos instrumentos mais adequados a investigação dos processos
psicológicos, auxiliando seus pares nos processos de tomada de decisão.
Os antagonistas da proposição do titulo de especialista em Avaliação Psicológica,
consideram que tal área é basal em todos os campos da psicologia, e assim, não deve se
constituir como campo de especialização, já que todos os psicólogos, em todas as áreas
de atuação podem e devem se valer da avaliação psicológica em sua atuação. Nesse
sentido, defendem a melhoria na formação, apontando para os mesmos aspectos que
seus opositores, reconhecendo que uma boa formação capacitará qualquer psicólogo a
prática técnica e ética em qualquer área. Ambos, de formas distintas, reconhecem então
a necessidade da formação em Avaliação Psicológica como processo fundamental para
a capacitação de pares.
Faz-se mister considerar que a Avaliação Psicológica “é entendida como o
processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a
respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a
sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e
instrumentos” (CFP, 2003a, p. 3). Nesse sentido, é tomada como processo amplo de
investigação de processos psicológicos que perpassa a utilização de testes psicológicos.
Tal processo reconhece nos Testes Psicológicos “instrumentos de avaliação ou
mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método ou uma técnica
de uso privativo do psicólogo, em decorrência do que dispõe o § 1o do Art. 13 da Lei no
4.119/62” (CFP, 2003b, p. 2).
Ainda assim é importante considerar que o processo de avaliação psicológica
vale-se também de outros recursos técnico-científicos como a Entrevista, Dinâmicas,
Observações, entre outros. Nesse sentido não se resume apenas a utilização dos
instrumentos, considerando sua aplicação e correção. Independente dos instrumentos
utilizados, que são de livre escolha do profissional, e se dá a partir de sua escolha
teórica-técnica tem-se que os “resultados das avaliações devem considerar e analisar os
condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de

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servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na
modificação desses condicionantes” (CFP, 2003a, p. 3).
Considerando a história da Avaliação Psicológica, no mundo e no Brasil, não se
pode deixar de reconhecer que seu desenvolvimento se deu considerando períodos de
grandes avanços, mas também, outros, de estagnação e retrocesso. Independente do país
de formação é possível reconhecer um “nascimento” do campo em 1905 com o teste de
aferição da inteligência Binet. Posteriormente, vários outros instrumentos são criados
para avaliar os mais diversos construtos, e com as mais diversas finalidades. O mercado
de criação e utilização de testes psicológicos começa a se aquecer, e como um mercado
econômico muitos instrumentos são criados. Alguns atendendo a demandas científicas,
outros à mercadológicas, levando a necessidade também de formação de profissionais
para fazerem uso dos mesmos.
O período das grandes guerras e o crescimento industrial posterior aqueceu esse
mercado ao demandar a seleção cada vez mais rápida e precisa para as mais diversas
funções. Com o crescimento do número de instrumentos e de demanda, nem todos se
capacitaram de forma adequada, já que algumas vezes, os profissionais se valiam do
apoio de estagiários ainda não formados (PASQUALI, 2001). Paralelamente iniciam-se
movimentos inadequados de capacitação publica para a aprovação nos processos
seletivos (Mucchieli, 1978), mas essa é uma página da história que desejamos deixar
virada para sempre.
Com a demanda de utilização dos testes em processos seletivos de grande escala,
surgem também questionamentos quanto às capacidades dos profissionais e
instrumentos aferirem de forma adequada e precisa todo o contingente de candidatos.
No Brasil, na década de 1980, emerge uma onde de processos judiciais de candidatos
contra indicados ou inaptados na etapa de avaliação psicológica dos processos seletivos
que não pode ser negada como parte da história do uso de tais instrumentos. Em
especial se se considerar a frequência que os solicitantes apresentavam suas
interposições deferidas pelo poder judiciário. Muitas das vezes tais processos recebiam
ganho de causa em função da baixa qualidade psicométrica (científica) dos instrumentos
que vinham sendo utilizados no país (Cruz, Alchieri e Sardá Jr., 2002).
Frente a tal realidade, o Conselho Federal de Psicologia passa a empreender, na
década de 1990, uma série de ações de incentivo a melhoria dos instrumentos e

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regulamentação da atuação profissional. Nessa década se dá em concomitância o


período de amadurecimento dos cursos de formação em psicologia, onde no final da
década anterior iniciam-se a criação dos laboratórios e cursos de pós-graduação com
foco em psicometria e avaliação psicológica (atentando para a construção de
instrumentos ou adaptação/adequação dos já existentes) (Pasquali, 2001).
Tal processo culmina, na década de 2000, no desenvolvimento de uma série de
normativas, regulamentações e resoluções propostas pelo Conselho Federal de
Psicologia que vem a regulamentar o uso, a elaboração e a comercialização de testes
psicológicos, assim como a prática de sua utilização, e a produção de documentos
decorrentes desses. Tais legislações demonstram grande impacto na atuação profissional
e no reconhecimento social da profissão. Não obstante, sua promulgação, avançamos
com o processo de divulgação das mesmas, assim como de seus ajustes as necessidades
e possibilidades impostas pela prática profissional.
Nesse período foi criado o SATEPSI – Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos, que é um banco de dados sistematizado e atualizado com as informações
de Testes Psicológicos realizada no Brasil. Tal avaliação atende as demandas de
determinação de parâmetros psicométricos para instrumentos que possam ser
reconhecidos como Testes Psicológicos. Tal banco é periodicamente atualizado (por
uma comissão de pareceristas) e disponibilizado publicamente via internet de modo a
tornar claro para a população geral, e também para Psicólogos, quais instrumentos são
considerados adequados para uso (CFP, 2003b; CFP, 2004).
Partindo de tais considerações, torna-se importante a reflexão sobre a formação do
Psicólogo, que fará uso desses instrumentos e recursos. O reconhecimento aqui é de que
o Conselho Federal de Psicologia, zelou pelos elementos técnicos e aparatos a serem
utilizados pelo profissionais. Mas permanece o interesse sobre com tem sido a formação
daqueles que valer-se-ão dos mesmos. Nesse sentido propôs-se a presente pesquisa. A
mesma visa reconhecer quantitativamente a carga horária disponibilizada nos cursos de
graduação de Psicologia no Brasil.

Método

O presente trabalho se valeu do delineamento de pesquisa documental,


quantitativo e exploratório (Marconi; LAKATOS, 2003; Gil, 2002). Assim busca

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levantar a partir de documentos, no caso as matrizes curriculares, a oferta de disciplinas


de Testes Psicológicos ou Técnicas de Exames Psicológicos (ou nomes variantes das
mesmas) que são disponibilizadas nos cursos de graduação em Psicologia no Brasil.
Reconheceu-se que tal levantamento comporá base para discussões futuras e
proposição de alterações nas políticas educacionais quanto à forma e duração da
formação de Psicólogos.

Objetivo

Reconhecer nas matrizes curriculares dos cursos de psicologia brasileiros a carga


horária alocada à formação na utilização de instrumentos de avaliação psicológica.

Amostra

A pesquisa assumiu caráter censitário quanto a busca das matrizes curriculares


dos cursos de psicologia reconhecidos pelo Ministério de Educação e Cultura.
Verificou-se que o Brasil conta com 767 cursos de psicologia distribuídos
aleatoriamente pelas 27 unidades federativas (26 estados e o distrito federal). Desses o
trabalho voltou-se para os 52 cursos presentes no estado de Minas Gerais.
Para a coleta das informações, considerou-se a oferta de disciplinas nomeadas
como Testes Psicológicos; Testagem Psicológica, Técnicas de Exame Psicológico
(TEP), Técnicas de Avaliação Psicológica (TEAP) e seus correlatos. Foram também
consideradas as disciplinas que apresentassem sequencia de formação como TEP I, e/ou
TEP II; ou TEP: Inteligência, e/ou TEP: Personalidade; ou ainda TEP: Psicometria;
TEP: Projetivos.

Instrumentos

A pesquisa valeu-se de busca de documentos relativos a matriz curricular e


distribuição de carga horária dos cursos de graduação em Psicologia que se
encontrassem disponíveis on line no site dos cursos investigados. Os que se
encontravam disponíveis, no período da pesquisa, foram reunidos e arquivados para
consultas e tabulação off line.

Procedimentos

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Foram buscadas informações relativas aos cursos nos site http://emec.mec.gov.br/


do Ministério de Educação e Cultura. Este apresenta todos os cursos, cadastrados e
reconhecidos, contendo uma série de informações sobre os mesmos. Dentre elas ano de
fundação, nota no Índice Geral de Cursos – IGC (que indica o desempenho da
Instituição de Ensino Superior que oferece o curso), Conceito Preliminar do Curso –
CPC; Conceito do Curso – CC; e outras como contato virtual e site da Instituição de
Ensino Superior.
Com base nesses dados buscaram-se nos sites das Instituições de Ensino Superior,
as matrizes curriculares dos cursos de Psicologia. Essas, quando disponíveis
publicamente, foram salvas em formato PDF ou DOC para a análise dos dados.

Resultados

Inicialmente verificou-se que dos 52 cursos de formação em Psicologia, situados


no estado de Minas Gerais, apenas dois (3,84%) não apresentaram um site institucional
disponível na plataforma de busca. Das 50 instituições que apresentam um site de
acesso, sete (14,00%) o site não funciona ou não tem o curso no estado de Minas
Gerais; 11 (22,00%) não apresentam a matriz curricular; duas (4,00%) apresentam
matriz, porém sem considerar a carga horária) e 30 (60,00%) apresentam a matriz com
carga horária para as disciplinas.
Considerando as 30 matrizes curriculares encontradas, os dados foram tabulados e
analisados indicando que as cargas horárias dos cursos variam de 3.860 horas à 4.880
horas. Tal dado se faz relevante ao se considerar a legislação (CFP, 1999; Feitosa e
cols., 1999) que considera a carga horária mínima de 3.000 horas para Bacharel (ou
Licenciado) em Psicologia, e pelo menos 4.050 horas para a formação de Psicólogo.
Considerando tal carga horária verificou-se que 14 (46,67%) dos cursos não oferece a
carga horária mínima para a formação de Psicólogo.
Analisando todos os cursos verificou-se ainda que as cargas horárias variam de
2.596 horas à 8.320 horas, indicando grande discrepância entre o tempo de formação.
Desses, 24 (46,15%) também não apresentam a carga horária mínima para a formação
de Psicólogo e ainda um (1,92%) não apresenta a carga horária mínima para a formação
em psicologia em qualquer nível de formação.

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Retornando os 30 cursos que apresentam matrizes curriculares, a análise dessas


demonstrou uma variação de duas a quatro disciplinas que atendessem ao critério da
investigação; isto é, ser nomeada como Testes Psicológicos; Testagem Psicológica,
Técnicas de Exame Psicológico (TEP), Técnicas de Avaliação Psicológica (TEAP) e/ou
seus correlatos. Tal limitação se deu por reconhecer que nessas a apresentação de testes
psicológicos far-se-á obrigatória, enquanto que é possível, mas não condição que tais
instrumentos sejam também vislumbrados em outras disciplinas.
Tais disciplinas contemplam de 120 à 240 horas previstas dos cursos, ocupando
cerca de 3,00% à 5,10% do número de horas aula de formação. Tal resultado parece
pequeno frente à demanda de utilização dos recursos ofertados pelas disciplinas, o que
leva a reflexão sobre a qualidade da formação.

Discussão e Conclusões

As informações disponíveis na plataforma do site do Ministério da Educação e


Cultura são de domínio público. Essas apresentam dados importantes sobre os cursos de
graduação reconhecidos como, por exemplo, a Carga Horária Total, IGC, CPC e CC.
Reconhece-se que esses indicadores podem auxiliar na tomada de decisão frente à
escolha do curso/instituição a se matricular. Assim, as instituições que apresentam
dados de cadastro incompletos, em especial o site institucional, podem estar sendo
prejudicados quanto a busca de maiores informações pelos candidatos ao curso. O
mesmo ocorre com as Instituições cujos sites não funcionam ou que não apresentam
matrizes curriculares.
Considerando as cargas horárias oferecidas pelos cursos é importante considerar
que quase metade dos cursos não apresentam a carga horária mínima para a formação
como Psicólogo. Não obstante, parece que o Conselho Regional de Psicologia não
reconhece sua própria legislação reconhecendo e credenciando todos os formados
nessas instituições atribuindo-lhes as responsabilidades e atribuições de Psicólogos.
Fica então a dúvida quanto a aprovação de alguma legislação posterior que não tenha
sido encontrada publicamente para se fazer tal credenciamento de profissionais.
Observou-se que as proporções não diferiram muito para cursos que apresentaram, ou
não, matrizes on line, quanto a oferta de carga horária mínima para a formação de
Psicólogo.

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A revisão das legislações promove o entendimento de que apenas a formação com


grau de Psicólogo habilita o profissional ao completo e irrestrito exercício da profissão,
nos mais diversos âmbitos, para os quais o mesmo se capacitou. Vale relembrar que a
formação de caráter generalista assume uma série de particularidades e ênfases de
formação considerando elementos dos diversos campos de especialização, ou não, de
acordo com o interesse da Instituição de Ensino Superior proponente do curso, desde
que atendidos aos parâmetros curriculares mínimos e questões de regionalidade quanto
da instalação dos cursos. Retomando então a Lei nº 4.119/62 compreende-se que
somente o formado com o grau de Psicólogo está habilitado ao exercício profissional
com a utilização de métodos e técnicas psicológicas (em especial, os testes
psicológicos).
Avançando para a análise propriamente dita do objetivo proposto para essa
pesquisa, a proporção de disciplinas e carga horaria verificadas para a formação de
Psicólogo é pequena frente as responsabilidades que a habilitação concede.
Considerando que a graduação é o momento impar da formação para o contato,
aprendizado, e familiarização com a mais diversa gama de instrumentos reconhece-se
que tal formação parece estar debilitada. Tal dado se confirma na literatura conforme os
estudos de Noronha e cols. (2002) que investigou os instrumentos psicológicos mais
conhecidos por 122 estudantes de Psicologia do Sul de Minas Gerais e verificou o
reconhecimento e conhecimento de apenas 21 dos 167 apresentados; ou o de Noronha e
cols. (2003) que identificou os instrumentos psicológicos mais conhecidos por 82
estudantes do último ano de formação e 52 profissionais de psicologia que verificou o
conhecimento de 74 instrumentos para os estudantes e 84 para os profissionais (de uma
lista de 169 testes).
Faz-se mister considerar ainda que considerando as dimensões geográficas do
estado (que cobre uma área total de 586.528,29 km2) consideram grandes diferenças de
regionalidade, assim como discrepâncias econômicas e sociais. Nesse sentido, verificou-
se que há diferenças também quanto a oferta dos cursos, assim como a custos de
mensalidades e qualidade dos mesmos. Apesar de tais dados não contemplarem os
objetivos desse trabalho, a experiência docente, migrando por diversas instituições do
estado, demonstrou também que há realidades distintas quanto à alocação de espaço
para o funcionamento do laboratório de avaliação psicológica, adequado à boa prática

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da avaliação. A disponibilidade de material para utilização é igualmente precária na


maior parte das instituições, onde o número de cadernos de aplicação e de manuais de
correção é insuficiente para o número de acadêmicos matriculados na disciplina, o que
gera a necessidade de utilização do mesmo material por pequenos grupos e dificulta o
aprendizado.
Por fim, mas não menos importante, considera-se o resultado parcial da
investigação que ainda em andamento contemplou apenas uma das 27 unidades
federativas. E mesmo nessa, conseguiu cobrir, nas análises, informações de a apenas 30
(57,69%) das 52 Instituições de Ensino Superior que oferecem graduação em
Psicologia. Ficam ainda várias questões a serem contempladas, analisadas e discutidas
para o futuro.

Referências bibliográficas

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formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo.
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