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Sofrimento psíquico promovido pelo consumismo 1

SOFRIMENTO PSÍQUICO PROMOVIDO PELO CONSUMISMO

PSYCHIC SUFFERING PROMOTED BY THE CONSUMERISM

Leonardo Augusto Couto Finelli1


Lays Monike Gomes Vieira2
Sheila Pereira Gonçalves²

RESUMO
O consumismo diz muito da relação dos sujeitos na sociedade atual regida pelo modelo capitalista.
Tal aspecto social está presente no cotidiano das pessoas e influencia diretamente em seu modo de
ser e pensar. As consequências do consumismo são variadas, onde é observável que em grande ou
pequena escala ela pode trazer prejuízos à vida dos sujeitos. Nesse sentido, pesquisou-se na sala de
espera de uma clínica escola de psicologia com 18 participantes mediante entrevista aberta com
questões norteadoras e analisadas a partir do discurso dos sujeitos. Verificou-se que a crença do
consumismo implica em gastos em excesso, onde a maioria não se reconhece como consumista,
mas 94,45% já se sentiram arrependidos após terem realizado uma (ou mais) compra(s). Conclui-se
que o consumismo pode trazer prejuízos a vida dos sujeitos quando estes comprometem de forma
significativa sua renda (por exemplo, contraindo dívidas ou gastando de forma a não dispor de
recursos para suprir necessidades básicas). Observou-se que o consumo de forma exagerada pode
estar associado a emoções negativas. Apesar de consumir trazer bem estar durante e logo após a
compra, esse é momentâneo.

Palavras Chave: Consumismo. Sofrimento psíquico. Sujeito contemporâneo. Capitalismo.

ABSTRACT

Consumerism says a lot about an individual’s relation in the current society governed by the
capitalist model. This societal trait is present in the people’s daily lives and it influences directly
their way of thinking and being. The consequences of consumerism are wide-ranging, and it can be
observed that in large or small scale it may bring harm to subjects’ lives. So, it was investigated in
the waiting room of a psychology school clinical with 18 participants through an open interview
with guiding questions and analyzed from the subjects' discourse. It was verified that the belief of
consumption implies in excess expenses, where the majority of the respondents does not recognize
themselves as consumerist, but 94.45% have already felt regretted after having made one (or more)
purchase(s). It is concluded that consumerism can harm the lives of individuals when they
significantly affect their income (for example, contracting debts or spending in a way that does not
have the resources to meet basic needs). It was observed that exaggerated consumism may be
associated with negative emotions. Although consuming bring well-being during and shortly after
purchase, this is momentary.

Keywords: Consumerism. Psychological distress. Contemporary individual. Capitalism.

1
Mestre em Psicologia. Graduado em Psicologia. Graduado em Pedagogia; Professor adjunto das Faculdades
Integradas do Norte de Minas – FUNORTE.
2
Graduada em Psicologia. Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE.

Humanidades, v. 3, n. 2, jul. 2014.


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INTRODUÇÃO

O consumismo é um comportamento intrínseco à sociedade atual. Consumir se tornou tarefa


cotidiana, já que ao realizar qualquer atividade, como sair com os amigos ou comemorar algum
fato, o sujeito se depara com a necessidade de consumir. Tal fenômeno se tornou parte da condição
humana e é permanente, sendo atemporal e historicamente mutável. Observa-se que o modelo que
se apresenta em determinado período histórico é apenas uma forma renovada do modelo anterior de
consumo de tal maneira que parece ter uma continuidade (BAUMAN, 2007).
A história nos mostra como a forma de consumir muda de acordo com o momento sócio-
histórico-cultural que o sujeito vivência. As relações estão se tornando mais heterogêneas,
comparada a civilizações anteriores. O ser humano pode apreciar o mundo com outros olhares,
sendo deixada de lado a hierarquização das relações. A orientação religiosa, cultural, política e a
liberdade para criações subjetivas é desenvolvida por um processo de grandes reformas
(MANCEBO, 2002). Uma das grandes mudanças da sociedade moderna foi a consolidação do
modelo capitalista, o qual deu aos sujeitos igualdade diante do mercado e afetou pontualmente a
subjetividade dos sujeitos da época (MARX, 1975 apud MANCEBO, 2002).
É possível classificar algumas características como elementos que configuram a sociedade
contemporânea. Tais como os grandes avanços tecnológicos, processos constantes de globalização,
transformação das políticas econômicas, ascensão do poder privado, grandes instabilidades
generalizadas, demasia de imagens como também de informações derivadas de várias fontes. Essas
grandes modificações de caráter social mudam a percepção da temporalidade, da estabilidade e das
antigas garantias que também se transformaram. O papel do sujeito na sociedade estabelece novas
formas de subjetivação, que tem relação direta com o contexto sociocultural no qual é inserido.
Assim são determinados novos modos de relacionamento entre os indivíduos, o trabalho, a família e
a comunidade (CASADORE; HASHIMOTO, 2010).
O consumo é necessário na sociedade capitalista, pois impulsiona a economia, possibilita
também as relações entre as pessoas, o que faz com que participem socialmente e se integrem ao
seu meio social como também no cultural. Consumir tornou-se uma maneira de inclusão, em uma
sociedade individualista e excludente. Os discursos que a mídia impõe escolhem quem fará parte do
grupo selecionado que pode consumir, o que gera exclusão, pois há a ilusão de igualdade e
liberdade. Os produtos devem captar insignificantes mudanças, constituindo o mito da novidade
permanente (OLIVEIRA, 2012).
A sociedade de consumo baseia-se na afirmação de que todos os desejos humanos podem
ser satisfeitos, de uma forma que nenhuma sociedade anterior teve capacidade, ou até mesmo
sonhou. Mas tal promessa de satisfação só se mantém enquanto o desejo continua insatisfeito. A

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sociedade de consumo prospera enquanto torna permanente a insatisfação de seus membros. A


forma de atingir este efeito é desvalorizar os produtos de consumo rapidamente, assim logo
promover no desejo dos consumidores novas necessidades (BAUMAN, 2008).
Observa-se ainda que a mídia impõe ao sujeito uma forma adequada de ser, manipulando
assim o que seria uma identidade ideal. Essa, dita como o sujeito deve fazer uso de seu corpo, alma
e vida. É possível observar esse movimento através de propagandas na mídia que atingem a
subjetivação das pessoas. Através dos meios de comunicação são instaladas representações que
contribuem para a criação da identidade do sujeito. Isso faz com que essas construam um
estereotipo que acreditam que devem se encaixar, seja na forma de se vestir, ser ou a forma de se
relacionar com os outros (GREGOLIN, 2007).
Na sociedade de consumo os sujeitos exercem antes de tudo um papel de consumidor,
orientados principalmente pela sedução. No contemporâneo, a velocidade, a rapidez, a incerteza e a
mudança, fazem com que o sujeito desenvolva sua capacidade de adaptação. Essa instabilidade faz
com que reflita na identidade subjetiva do indivíduo, ou nas suas constantes trocas (CASADORE;
HASHIMOTO, 2010).
Esta sociedade de consumidores promove, encoraja ou reforça a escolha de um determinado
estilo de vida de forma estratégica consumista e rejeita todas as outras opções culturais alternativas.
Uma sociedade onde é prático seguir todos os preceitos determinados pela cultura do consumo e
segui-los estritamente é a única escolha aprovada de forma incondicional, afinal é uma escolha
plausível e viável (BAUMAN, 2008).
A realidade vivenciada nos dias de hoje é resultado de um processo de transformação
socioeconômico-político-social das sociedades capitalistas ocidentais, que marcou profundamente a
vida diária dos indivíduos. As alterações vividas pela sociedade contemporânea, advindas da
expansão da economia de mercado, da introdução do conhecimento científico e tecnológico à
produção industrial, do crescimento da imigração, do crescimento de uma cultura de massa, são
consideradas como processos complicados e atuantes de maneira contraditória, que gera conflitos e
disfunções, incidindo sobre os sistemas sociais em grande escala, assim como, sobre contextos
locais e dos grupos de diferentes regiões do mundo. (GUIMARÃES; CAMPOS, 2008).
Séculos de práticas discursivas que somente sustentam a dominação social do corpo e do
psiquismo tem como resultado o processo de objetificação do sujeito, cedendo a este apenas um
pequeno espaço de manobra e existência. Neste processo de mercantilização que tudo se transforma
em valor de troca, moeda e produção, o corpo, o psiquismo e os sujeitos se tornam prisioneiros das
cultuadas novas tecnologias. Tudo está muito rápido, onde é necessário apreender o máximo de
informação em uma velocidade alta para maior e melhor produção. Tais processos tem um alto

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custo, como a densidade própria do ser humano, esgotado de sua capacidade de subjetivar o mundo
e, portanto, de caminhar contra a lógica daquilo que lhe é imposto (HOMEM, 2003).
Muitas vezes o ato de consumir se dá através da influencia dos meios de comunicação, onde
o sujeito não sabe discernir entre o que é necessidade e o que é desejo. O consumismo traz
desconforto a existência do sujeito, já que para sofrer com tal aspecto não é preciso desenvolver
alguma patologia. É clara a importância do significado social e a observação do comportamento do
ser humano diante do consumismo. É de grande relevância compreender este processo social e suas
implicações para o sujeito, tornando o seu ato cada vez mais consciente para a sociedade, dessa
forma reduzindo o sofrimento do sujeito e suas vivencias relacionadas a tal processo. Considerando
que a sociedade tende a aumentar suas estratégias de incentivo ao consumo, fazem-se necessários
estudos que promovam reflexões sobre os efeitos desta influência na vida das pessoas.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, de natureza descritiva, cujo delineamento


utilizado foi a pesquisa de campo. A população escolhida foi de pacientes atendidos pelo serviço da
Psicologia de uma Clínica-Escola do Norte de Minas Gerais. Na época da coleta a clínica contava
com 45 pacientes em atendimento. A proposta inicial foi de realizar uma investigação censitária a
partir dos critérios de inclusão (estar em atendimento pela Psicologia na Clínica-Escola no período
da coleta de dados; ter mais de 18 anos; e possuir renda própria).
A coleta se deu por entrevista aberta com perguntas norteadoras que ocorreu em local cedido
pela instituição onde os entrevistados são atendidos. O procedimento ocorreu em média de 40
minutos e de forma individual, onde foram transcritas as respostas dos sujeitos na íntegra. Os
resultados foram obtidos através da análise de discurso (FIORIN, 2002).
A pesquisa seguiu orientada de acordo com os preceitos definidos pela Resolução CNS –
466/12 que dispõe sobre a pesquisa com seres humanos. Por se tratar de um tema atual observa-se
que a pesquisa poderá trazer benefícios aos sujeitos, onde entendendo melhor seu comportamento
frente ao consumismo, este poderá evitar possíveis sofrimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar do convite a todos os 45 clientes da clínica escola, quatro sujeitos (8,89%) não se
disponibilizaram a participar da pesquisa; 23 (51,11%) não atendiam aos critérios de inclusão em
função da idade, ou de não possuir renda própria. Tratavam-se de crianças e a proposta da pesquisa
foi dirigida a adultos. Assim, a pesquisa se deu, efetivamente, com 18 participantes. Esses contavam

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com idade entre 21 e 53 anos (M = 31,06 anos, DP = 8,51 anos), os quais 83,33% eram mulheres.
Houve dificuldade em encontrar homens para a pesquisa, já que a maioria das pessoas atendidas
pela clínica-escola eram mulheres e crianças. Mesmo dentre essas, poucas se enquadravam no
critério de inclusão de possuir renda própria, o qual exigiu grande tempo de pesquisa para coletar o
número de entrevistados necessário.
Dos respondentes, todos possuíam renda própria, divididos entre 50,00% que eram
autônomos, 38,89% funcionários fichados e 11,11% trabalhavam em regime estatutário. Muitos dos
participantes dividem a renda com sua família totalizando 66,67% dos entrevistados, enquanto
27,78% utilizam sua renda apenas para gastos individuais e 5,56% ajudam familiares que não
moram consigo.
Quando questionados sobre o que acreditam ser consumismo 66,67% responderam que
significava ter gastos em excesso ou sem necessidade (Sujeito 14 “Fazer compras exageradamente
sem ter necessidade, movida pelo capitalismo, pela mídia.” Sic); 27,78% acreditam que seja o gasto
com necessidades (Sujeito 02 “Comprar as coisas que precisa, alimento, essas coisas.” Sic.) e
5,56% classificaram o consumismo como algo bom. Observa-se que a maioria dos entrevistados
corrobora com a ideia de que no consumismo está expressa não a qualidade, mas sim a quantidade
de bens adquiridos, onde as pessoas compram produtos para além de sua capacidade financeira
(OLIVEIRA, 2012).
Já quando questionados se se consideravam consumistas 55,56% responderam que não.
Desses, 40,00% alegam apenas comprar o necessário, já 50,00% dizem pensar antes de comprar
alguma coisa e 10,00% relatam não possuir recursos para ser uma pessoa consumista. Dos que
acreditam ser consumistas, 87,50% admitem comprar por desejo, os quais muitas vezes não pensam
antes de adquirir algum produto (Sujeito 17 “Eu compro muito e não penso antes e muitas vezes
compro sem necessidade.” Sic.), e 12,50% admitem comprar a mais por demandas sociais, como
gostar de andar na moda.
Quando inquiridos sobre os sentimentos após adquirir algum bem, 94,45% dos participantes
dizem ficar alegres, ou satisfeitos (Sujeito 01 “Sentimento de realização. Fico feliz. Sinto prazer.”
Sic.). Não obstante 83,33% disseram que já compraram alguma coisa que ao chegar em casa
perceberam que não era de necessidade.
Esses objetos eram em sua maioria de vestuário, onde 60,00% dos entrevistados relataram
comprar sem necessidade roupas e/ou sapatos, enquanto eletrodomésticos são o segundo item mais
comprado compondo 20,00% da amostra. Outros itens citados foram produtos de beleza com
13,34% e produtos para o lar com 6,66%. Dentre esses que já compraram algum produto que não
era de necessidade 53,84% comprometeram mais de 20% de sua renda total.

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Ainda entre aqueles que compraram algum objeto sem necessidade, 46,66% alegam que
costumam comprar apenas quando acreditam sentir necessidade, enquanto 20,00% declararam
raramente comprar alguma coisa sem necessidade. Já 13,34% alegaram comprar alguma coisa
quando tinham acesso a sua renda (Sujeito 01 “Quando recebo pagamento e vejo alguma loja.” sic),
13,34% compram quando a oportunidade é confrontada (Sujeito 04 “Ás vezes dá vontade quando
alguém te oferece.” Sic.), e 6,66% compram para melhorar a autoestima (Sujeito 08 “Quando a
autoestima está baixa eu compro alguma coisa para ficar melhor.” Sic.).
Considerando a frequência dos comportamentos consumistas, 80,00% dos respondentes
dizem que pouco frequente ou raramente compram algum objeto que não seja necessário.
Atualmente 33,33% dos entrevistados alegam estar endividados, onde destes 66,66% possuem uma
dívida de longo prazo.
Quando investigados se já se sentiram mal emocionalmente devido a alguma dívida, 61,11%
dos participantes responderam que sim (Sujeito 13 “Fiquei preocupado, já acordava pensando na
dívida.” Sic.). Ao serem solicitados para que explicassem sobre como foi este sentimento 44,46%
sentimentos de preocupação ou ansiedade, 18,18% revelaram ter sentimentos de arrependimento,
18,18% sentimentos de culpa, 9,09% sentimentos de vergonha e 9,09% sentimentos de raiva.
Dos entrevistados 61,11% alegaram que já se sentiram mal emocionalmente por não poder
comprar algo que desejavam. Dentre estes 81,82% afirmaram considerar desnecessário o bem
desejado, onde 81,82% classificaram o objeto como de pouca necessidade, 9,09% alega que o
objeto não adquirido apresentava média importância em sua vida e 9,09% alegou o desejar muito
(mesmo sem descrever se o mesmo era importante ou não).
Observou-se que 66,67% dos entrevistados não têm o costume de realizar compras quando
estão se sentindo mal emocionalmente, 22,22% realizam compras nessa situação (Sujeito 17 “Eu
sinto necessidade de comprar quando estou triste, ansiosa, serve para preencher. Me sinto bem
quando compro.” Sic) e 11,11% compram apenas ocasionalmente. Dentre aqueles que compram
quando se sentem mal 83,33% manifestaram sentir sensação de alívio ao realizarem compras
quando estão se sentindo mal emocionalmente, os demais alegaram que não houve mudança em
seus sentimentos apesar da compra.
A mídia através da propaganda direta e indireta das vias atuais de comunicação como
televisão, internet, rádio, imprensa, convence o seu público-alvo, anunciando o modo de ser, estilo
de vida, marca, etc, manipulando-o assim de forma explicita. Muitas vezes o produto se apresenta
mais envolvido por suas características e qualidades do que o seu valor real de uso, algumas
características agregadas ao produto como a marca, o modelo, a garantia de satisfação engrandecem
o produto fazendo com que ele se torne mais desejado e necessário, mesmo não sendo a realidade.

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Dessa forma o sujeito se convence que além do produto irá também adquirir algumas vantagens e
compra uma ilusão (CASADORE; HASHIMOTO, 2010).
O Sujeito 04 relata: “Tem época, compro pra compensar o físico, porque sou gorda, né!”
(sic). E ainda completa: “Compro achando que vai melhorar o físico, mas ai quando olho no
espelho não mudou nada.” Sic. O Sujeito 10 conclui: “Me sinto melhor comprando alguma coisa
que queria.” Sic.
Ainda dentre aqueles que compram quando estão se sentindo mal emocionalmente 16,66%
dos entrevistados revelaram comprar de forma recorrente e 83,34% apenas ocasionalmente. Foi
possível perceber que 72,22% levam em consideração a qualidade e o preço ao adquirir algo,
enquanto que 27,78% compram apenas no impulso do seu desejo (Sujeito 05 “O importante é se é
parcelado. Compro muito no impulso.” Sic).
Questionados se acreditavam que o consumismo poderia trazer algum tipo de sofrimento a
sua vida 83,33% dos entrevistados responderam sim. Quando explicaram o motivo da resposta
positiva, alguns dos entrevistados apresentaram razões variadas que levam a mais de uma categoria
os quais 38,88% acreditam que a dívida seria um algo negativo promovido pelo consumismo
(Sujeito 06 “Acabaria gastando muito e ficando endividado mais do que posso.” Sic.), enquanto
27,78% alegam que o sentimento de falta, de desejar e não poder comprar, causaria desconforto em
sua vida (Sujeito 15 “Principalmente quando você quer comprar e não pode.” Sic.), 16,67% falam
que sendo consumistas deixariam de comprar aquilo que é necessário, o que seria prejudicial
(Sujeito 13 “Iria gastar compulsivamente e deixaria de gastar com os filhos, com a escola e gastaria
com outras coisas que não tem necessidade.” Sic.), 11,11% definem o sentimento de culpa como
resultado do consumismo (Sujeito 10 “Porque só ter não faz bem, faz bem só na hora, depois você
vê que não é bom e a consciência pesa.” Sic.) e 5,56% relatam que o consumismo poderia acarretar
problemas familiares.

CONCLUSÃO

Os resultados mostram que a maioria dos entrevistados entende o que é consumismo e não
se consideram como pessoas consumistas, apesar de associarem o ato de consumir a um sentimento
bom e já terem adquirido algo sem necessidade. Ainda que a maior parte dos entrevistados tenha
relatado se sentir mal emocionalmente ao não poder adquirir algo que deseja e/ou quando
reconheciam alguma dívida que possuíam. Predominou-se a opinião dos entrevistados de que o
consumismo poderia trazer prejuízos a suas vidas.
Conclui-se que o consumismo pode trazer prejuízos a vida dos sujeitos quando estes
comprometem de forma significativa sua renda (por exemplo, contraindo dívidas ou gastando de

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forma a não dispor de recursos para suprir necessidades básicas). Observou-se que o consumo de
forma exagerada pode estar associado a emoções negativas. Apesar de consumir trazer bem estar
durante e logo após a compra, esse é momentâneo. Posteriormente tal sensação tende a se
transformar em mal estar, quando esta atitude é feita de forma impensada, levando o sujeito a
dívidas e a enfrentar dificuldades financeiras.
Puderam-se conhecer as implicações psíquicas que o consumismo traz aos entrevistados,
assim como levantar informações sobre o sofrimento psíquico promovido pelo consumismo. Tais
aspectos foram observados nas falas dos sujeitos e sustentados pela bibliografia. Homem (2003) já
havia verificado que cada vez mais a separação sujeito-objeto deixa de existir, onde o sujeito está
imerso na cultura do consumo continuo e que não pode parar. A partir disto o sujeito passa a ter a
necessidade de dar um fim a sua falta e instaurar o novo objeto e assim bloquear o acesso ao vazio.
Este é o aspecto mais árduo da descartabilidade, o qual o sujeito fica preso a vários objetos e acaba
por não exercer seu desejo, que fica perdido.
O Sujeito 17 relata: “Eu sinto necessidade de comprar quando estou triste, ansiosa, serve
para preencher. Me sinto bem quando compro.” Sic. O Sujeito 08 declara: “Comprar funciona como
um alívio, uma válvula de escape.” Sic.
Observou-se, por fim, que, mesmo os sujeitos entendendo do que se trata o consumismo,
muitas vezes a realização de atos consumistas passa despercebido. É de grande importância que
cada vez mais os sujeitos entendam sobre tal aspecto social, para que o sofrimento associado ao
consumismo seja amenizado.
Longe de esgotar o assunto, a presente pesquisa acredita ter contribuído quanto a construção
da ciência no que tange a explicitação da percepção dos sujeitos sobre o que venha a ser o
consumismo. Espera-se que tais resultados possam contribuir para pesquisas futuras e auxiliar na
compreensão do fenômeno.

REFERÊNCIA

BAUMAN, Z. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.

CASADORE, M. M., HASHIMOTO, F. À procura da felicidade plena na cultura consumista


contemporânea. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 7, n. 1, jan./jun. 2010.

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MANCEBO, D. Modernidade e produção de subjetividades: breve percurso histórico. Psicologia,


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