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Trabalho realizado por:

- João Monteiro nº21558216


-Henrique Pinto de Mesquita nº 21541516

1
Índice
Introdução ………………………………………………………………………………………………………………… 3
OEA: ………………………………………………………………………………………………………………………….. 4
O que é? ................................................................................................................ 4
Contexto histórico ................................................................................................ 5
Objetivo ................................................................................................................ 6
Princípios .............................................................................................................. 7
Atuação Política: ............................................................................................................ 10
Diálogo Político ................................................................................................... 10
Cooperação ………………………………………………………………………………………………………… 10/11

Mecanismos de acompanhamento …………………………………………………………………………. 11

Património jurídico …………………………………………………………………………………………………. 11

Estrutura …………………………………………………………………………………………………………………. 12
Conferência de Caracas …………………………………………………………………………………………… 13
Incidente em Cuba …………………………………………………………………………………………….. 14/15
Caso da Venezuela ……………………………………………………………………………………………….… 16
A intervenção da OEA na crise venezuelana ……………………………………….…… 16/18
Conclusão ..................................................................................................................... 19
Bibliografia …………………………………………………………………………………………………… 20/21/22

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Introdução
A fim de concretizar os ideais em que se baseia e cumprir com suas obrigações
regionais de acordo com a Carta das Nações Unidas, a OEA estabeleceu vários objetivos
e princípios pelos quais a organização se rege para que assim consiga cumprir a sua
função.

Esta, procura oferecer soluções e projetos com o objetivo de melhorar o


desenvolvimento social e económico, salvaguardar a paz e a segurança e auxiliar a
resolução de problemas políticos de todos os países do continente americano
pertencentes. Tem como pilares: a democracia, a segurança os direitos humanos e o
desenvolvimento. Através disso, tem uma estrutura capaz de tratar de uma atuação
política e de todas as suas ferramentas como a cooperação, diálogo político e do
património jurídico, utilizando os variados mecanismos de acompanhamento dependo
da situação onde atua.

Este trabalho tem o objetivo de mostrar a influência da Organização dos Estados


Americanos como ator na construção, consolidação e dissipação da democracia como
um modelo de regime político. Numa primeira parte falaremos, essencialmente, da
organização em si (o que é e como funciona) e numa segunda parte dá-mos exemplos
de atuações por parte desta organização.

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OEA – Organização dos Estados Americanos

 O que é?
A Organização dos Estados Americanos (OEA) é o mais antigo organismo
regional do mundo. A sua origem provém da Primeira Conferência Internacional
Americana, exercida em Washington, D.C., entre outubro de 1889 e abril de 1890. Esta
reunião originou a criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, da qual
resultou uma rede de disposições e instituições, nascendo assim o “Sistema
Interamericano”, o mais antigo sistema institucional internacional. (OEA)

A nível teórico, esta organização de fins gerais é vista como uma introdução das
Américas no sistema internacional moderno. Porém, na prática, esta instituição, que
careceria de um multilateralismo, foi no nosso entende apenas um instrumento
utilizado pelos norte-americanos para defesa dos seus próprios interesses. Em vários
momentos da Guerra Fria, a OEA manteve-se imóvel ou simplesmente auxiliou as
intenções do governo dos EUA, mesmo em episódios em que essas ações eram opostas
aos princípios professados por Sólon (democracia). Desta forma, a noção de democracia
foi reinterpretada de modo a que esta pudesse entrar nas orientações ao combate do
idealismo Bolchevique.

Posto isto, nasce então o conceito de “democracia coletiva”, entre outras


estratégias, a condição de autorização para a intervenção armada, suporte a golpes
militares, estímulo a guerras civis, de modo a impedir o começo de governos pró-
soviéticos na América.

Assim, a sugestão do multilateralismo que levou à fundação da OEA, permaneceu


quase sempre na sombra relativamente aos arranjos políticos e à vontade de
cooperação por parte do governo norte-americano. Não obstante essa herança
negativa, a OEA conseguiu escapar ao colapso dos sistemas socialistas que vieram
estabelecer o fim da Guerra Fria.

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 Contexto histórico
A luta pela independência após 1810 entre as nações latino-americanas
evocou um sentimento de unidade, especialmente na América do Sul.
Os Estados Unidos foram vistos como modelo e o reconhecimento das novas repúblicas
era parte da política externa dos EUA.

Estabeleceu-se então o pan-americanismo. Criado por Simón Bolívar, o pan-


americanismo retratou um movimento que tinha por objetivo unificar todos os
territórios da América espanhola, formando um só Estado. (Pan-Americanismo, 2014)

Posto isto, os Estados Unidos declararam, através da doutrina Monroe, uma nova
política em relação à interferência das nações europeias nos assuntos do Hemisfério
Ocidental. (Leão, 1978)

Após a segunda guerra mundial deram-se vários movimentos com o objetivo de


estreitar as relações que, diretamente ou indiretamente, estiveram envolvidas nos
confrontos entre 1939 e 1945. Pode afirmar-se que o objetivo era o de superar as
rivalidades e as disputas regionais. Com o triunfo dos aliados na segunda guerra
mundial, os EUA ganharam uma força tal que permitiu estes serem a força hegemónica
mundial.

A comunidade Internacional, apesar de ainda estar afetada com as feridas


provocadas pela guerra, procurou afastar-se dos vestígios nacionalistas. Entre 1940 e
1960, foi-se construindo o sistema internacional moderno. Durante esta época
emergiram propostas e ideias que, posteriormente, foram corporizadas: com o
aparecimento de instituições como são exemplo a União Europeia, a Organização das
Nações Unidas, etc. Ainda nesse quadrante, os estados Americanos celebraram um
tratado denominado de TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca) - este
visava a segurança coletiva entre os vários países do continente e seguia o artigo 8º da
Carta da Nações Unidas, “onde um ataque contra um dos membros é considerado um

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ataque contra todos os outros” (The Columbia Eletronic Encyclopedia, 2013) – na
celebração deste contrato pôde ser clara a influência hegemónica dos EUA.

Estas bases do pan-americanismo viriam a formar o suporte estratégico para a


criação da OEA. O lema de Monroe passou de “A América para os Americanos” para “A
América é para os norte-americanos” uma vez que a doutrina mais tarde foi vista por
muitas nações latino-americanas como uma máscara para as ambições imperialistas dos
EUA. (Leão, 1978)

A bipolaridade da Guerra Fria facilitou a reafirmação dos Estados Unidos como


força hegemônica no continente Americano. Para assegurar o alinhamento dos países
da região latino-americana nasce, na Colômbia (Bogotá), em 1948, a Organização dos
Estados Americanos (OEA). A criação da OEA pode ser vista como uma forma
diplomática de por um travão à influência soviética no continente.

Carta da OEA, assinada no ato de fundação, entrou em vigor em dezembro de


1951. Posteriormente, a Carta foi retificada pelo Protocolo de Buenos Aires, assinado
em 1967 e que entrou em vigor em fevereiro de 1970; pelo Protocolo de Cartagena
das Índias, assinado em 1985 e que entrou em vigor em 1988; pelo Protocolo de
Manágua, assinado em 1993 e que entrou em vigor em janeiro de 1996; e
pelo Protocolo de Washington, assinado em 1992 e que entrou em vigor em setembro
de 1997. (OEA)

A Organização nasceu com o objetivo de impor nos Estados membros, como


estipula o primeiro artigo da Carta das NU, “uma ordem de paz e de justiça, para
promover a solidariedade, intensificar a colaboração e defender a soberania, a
integridade territorial e a independência” (Carta das Nações Unidas, 1945).

Atualmente, a OEA reúne os 35 Estados independentes das Américas e


estabelece o principal fórum governamental político, jurídico e social do Hemisfério.
Para além disto, a Organização apresenta um estatuto de observador permanente a
69 Estados e à União Europeia. (OEA)

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Para atingir os seus principais objetivos, a OEA baseia-se nos seguintes
principais pilares: a democracia, os direitos humanos, a segurança e o
desenvolvimento. (OEA)

 Objetivo

Para implementar os princípios em que se baseia e para cumprir com as suas


metas locais, a Organização dos Estados Americanos estabelece como motes
essenciais os seguintes propósitos:

a. “Garantir a paz e a segurança continentais;


b. Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o princípio da
não-intervenção;
c. Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução pacífica das
controvérsias que surjam entre seus membros;
d. Organizar a ação solidária destes em caso de agressão;

e. Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos que


surgirem entre os Estados membros;

f. Promover, por meio da ação cooperativa, o seu desenvolvimento económico,


social e cultural;

g. Erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno


desenvolvimento democrático dos povos do Hemisfério;

h. Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que permita


dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimento económico-social dos
Estados membros.“ (OEA)

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 Princípios

Os Estados americanos pertencentes à OEA confirmam os seguintes princípios:

a. “O direito internacional é a norma de conduta dos Estados em suas relações


recíprocas;

b. A ordem internacional é constituída essencialmente pelo respeito à


personalidade, soberania e independência dos Estados e pelo cumprimento fiel
das obrigações emanadas dos tratados e de outras fontes do direito
internacional;

c. A boa-fé deve reger as relações dos Estados entre si;

d. A solidariedade dos Estados americanos e os altos fins a que ela visa requerem
a organização política dos mesmos, com base no exercício efetivo da
democracia representativa;

e. Todo Estado tem o direito de escolher, sem ingerências externas, seu sistema
político, econômico e social, bem como de organizar-se da maneira que mais
lhe convenha, e tem o dever de não intervir nos assuntos de outro Estado.
Sujeitos ao acima disposto, os Estados americanos cooperarão amplamente
entre si, independentemente da natureza de seus sistemas políticos,
econômicos e sociais;

f. A eliminação da pobreza crítica é parte essencial da promoção e consolidação


da democracia representativa e constitui responsabilidade comum e
compartilhada dos Estados americanos;

g. Os Estados americanos condenam a guerra de agressão: a vitória não dá


direitos;

h. A agressão a um Estado americano constitui uma agressão a todos os demais


Estados americanos;

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i. As controvérsias de caráter internacional, que surgirem entre dois ou mais
Estados americanos, deverão ser resolvidas por meio de processos pacíficos;

j. A justiça e a segurança sociais são bases de uma paz duradoura;

k. A cooperação econômica é essencial para o bem-estar e para a prosperidade


comum dos povos do Continente;

l. Os Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa


humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo;

m. A unidade espiritual do Continente baseia-se no respeito à personalidade


cultural dos países americanos e exige a sua estreita colaboração para as altas
finalidades da cultura humana;

n. A educação dos povos deve orientar-se para a justiça, a liberdade e a paz.”


(OEA)

 Estados Membros

Os 35 países independentes do continente americano ratificaram a Carta da


OEA e são membros da Organização.

Países Membros originais:

21 Países reuniram-se em Bogotá, em 1948, para a assinatura da Carta da OEA,


eram eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El
Salvador, Estados Unidos da América, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua,
Panamá, Paraguai, Peru, Republica Dominicana, Uruguai e Venezuela. (OEA)

Países que mais tarde aderiram ao Tratado Internacional:

Barbados, Trinidad e Tobago (1967), Jamaica (1969), Grenada (1975), Suriname


(1977), Dominica (Commonwealth da), Santa Lúcia (1979), Antígua e Barbuda, São
Vicente e Granadinas (1981), Bahamas (Commonwealth das) (1982), St. Kitts e Nevis
(1984), Canadá (1990), Belize, Guiana (1991).” (OEA)

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 Atuação Política

A OEA opera uma estratégia para incutir de forma eficaz esses objetivos
essenciais. Os quatro pilares da Organização (democracia, direitos
humanos, segurança e desenvolvimento) apoiam-se mutuamente e estão
transversalmente interligados por uma estrutura que engloba diálogo político,
inclusividade, cooperação, instrumentos jurídicos e mecanismos de
acompanhamento. Estes, fornecem à OEA as ferramentas necessárias à realização
eficaz do seu trabalho no hemisfério e maximizar os resultados. (OEA).
Observemos cada um:

Diálogo Político

A OEA é o fórum central político da região, trata-se do lugar onde os países da


América do Norte, América Central, Caribe e América do Sul se reúnem com o objetivo
de suplantar as suas diferenças e desenvolver metas em comum. Com a emergência
da globalização, surge a imensa necessidade dos países reunirem-se para debater
problemas comuns. (OEA)

O diálogo político é importante dentro de cada um dos pilares da estratégia.


Foi na OEA, por exemplo, que os países da região desenvolveram a Carta Democrática
Interamericana, um plano vital do que significa ser uma democracia. Seja na questão
dos direitos dos povos indígenas, disputas territoriais entre países ou metas regionais
de educação, é na OEA que ocorre o diálogo multilateral. Isso advém de variados níveis,
inclusive no Conselho Permanente, reuniões regionais de ministros e Cúpula das
Américas. (OEA)

Cooperação

A OEA proporciona apoio crucial aos Estados membros na consolidação da


capacidade institucional e humana para enfrentar novos desafios. Por exemplo,
a Secretaria Geral tem trabalhado com os países, a pedido deles, para ajudar a
implementar reformas técnicas do sistema eleitoral. Para além disto, a Secretaria-geral
fornece formação a funcionários do governo em variadas áreas como negociações
comerciais e mitigação de desastres naturais. Estes programas de formação e bolsas

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da OEA fizeram com que muitos habitantes da região tivessem a oportunidade de
desenvolver habilidades que de outra forma não conseguiriam e que lhes pode ser útil
nos seus países. (OEA)

Mecanismos de Acompanhamento

Os Estados membros da OEA prestam contas entre si sobre uma abrangente


série de questões. Estes adquiriram mecanismos inovadores para avaliar a evolução
no que toca ao combate às drogas ilegais, à corrupção e à violência doméstica a. (OEA)

Os diferentes tipos de mecanismos:


- Mecanismo de Avaliação Multilateral (MEM)
- Mecanismo de Acompanhamento da Implementação da Convenção Interamericana
contra a Corrupção
- Mecanismo de Seguimento da Convenção de Belém do Pará (MESECVI)
- Grupo de Revisão da Implementação de Cúpulas (GRIC)
- Sistema de Acompanhamento das Cúpulas das Américas (SISCA)
(OEA)

Património Jurídico

Através da OEA, os países assumiram tratados multilaterais que consolidaram


as relações na região e ajudaram a preparar legislação nacional sobre vários temas
relativos à prevenção do tráfico ilegal de armas e o fortalecimento dos direitos das
pessoas com deficiência. (OEA).

São suporte da OEA as seguintes jurisdições e programas:

- Direito Internacional
- Cooperação Jurídica
- Programas Jurídicos Especiais

Estas representam as mais importantes ferramentas empregues pela OEA de


forma a atuar de forma eficaz na Política regional que alberga. (OEA)

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 Estrutura
A OEA realiza as suas metas através dos seguintes órgãos:

“a) Assembleia Geral;


b) Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores;
c) Conselhos (Conselho Permanente e Conselho Interamericano de
Desenvolvimento Integral);
d) Comissão Jurídica Interamericana;
e) Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
f) Secretaria-geral;
g) Conferências Especializadas;
h) Organismos Especializados e outras entidades estabelecidas pela Assembleia
Geral.” (OEA)

De todos estes órgãos, passamos a explicar o funcionamento de dois que


consideramos terem um papel fundamental na estrutura da organização:

A Assembleia Geral realiza períodos frequentes de sessões uma vez por ano.
Em situações especiais, dão-se reuniões em períodos extraordinários. A Reunião de
Consulta é invocada a fim de refletir problemas urgentes e de interesse comum e para
servir de Órgão de Consulta na aplicação do Tratado Interamericano de Assistência
Recíproca (TIAR).Este tratado representa o principal instrumento de ação solidária em
caso de agressão.

O Conselho Permanente reconhece os assuntos que encarregados pela


Assembleia Geral ou a Reunião de Consulta e põe em prática as decisões tomadas por
ambas, quando a sua efetivação não é confiada a nenhuma outra entidade; dedica-se
à preservação das relações de amizade entre os Estados membros, bem como pela
observação das normas que regulam o bom desempenho da Secretária-geral e,
ademais, atua temporariamente como Órgão de Consulta para a execução do TIAR. A
Secretária-geral apresenta-se como sendo o órgão central e permanente da OEA.
A sede, tanto do Conselho Permanente como da Secretária-geral, situa-se na cidade
de Washington, D.C.

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 Conferência de Caracas de 1954

Em Março de 1954 reuniu-se em Caracas a décima conferência Interamericana.


Esta viria a ser importante pois nela foram tomadas decisões que iriam a marcar o futuro
da OEA relativamente ao caso de Cuba. Estando o Mundo em plena Guerra Fria, o
secretário de estado americano apresentou uma resolução condenando o comunismo
como um sistema incompatível com os povos da América (RUNRUNES, 2011). A
resolução aprovada, disse:

"O domínio ou o controle das instituições políticas de qualquer Estado americano


pelo movimento comunista internacional que resulte na extensão ao continente
americano de uma potência extracontinental (URSS) constituirá uma ameaça para a
soberania e para a independência dos Estados Americanos. Tal movimento poria em
perigo a paz da América e exigiria uma reunião de consulta para considerar a adoção
das medidas apropriadas de acordo com os tratados existentes " (Convención sobre
Asilo Diplomático, 1954)

As ditaduras da América Latina descobriram no anticomunismo a melhor


desculpa para combater e aniquilar sistemas ou governos democráticos na região. Os
ditadores tornaram-se porta-estandartes do anticomunismo: acusaram todos os
democratas da América Latina de comunistas e refugiaram-se debaixo desse guarda-
chuva durante os anos da Guerra Fria (RUNRUNES, 2011).

Se os Estados Unidos realmente pensassem que, para combater o comunismo, o


caminho era o apoio à democracia e aos direitos humanos, os valores fundamentais dos
países sul-americanos não teriam sido sacrificados. Considera-se que estra aprovação
em Caracas teve muita influência norte-americana devido aos seus interesses à época
em combater o comunismo (RUNRUNES, 2011).

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 O incidente de Cuba
Em 1959, com a revolução e a chegada ao poder de Fidel Castro e Che Guevara,
o país Cubano adotou o socialismo à época professado pelas forças soviéticas.

Em Abril de 1961 o presidente JFK decidiu lançar a “Operação da Baía dos Porcos”
em Cuba. A operação ficou assim denominada porque os soldados americanos
desembarcaram exatamente nessa Baía. Ora, esta consistiu no desembarque de 1400
soldados Americano com o objetivo de estes iniciarem um levantamento popular contra
Fidel Castro. Todavia, o que aconteceu foi exatamente o contrário, sendo os Americanos
capturados.

Cuba foi suspensa da OEA a 31 de janeiro de 1962, após a Revolução Cubana ter
proclamado o socialismo como a doutrina política adotada pelo governo estando,
portanto, aliado à URSS. A decisão foi tomada na 8ª Assembleia em Punta del Este
(Uruguai). Nesta decisão, catorze países votaram a favor da suspensão, Cuba votou
contra e outros seis países abstiveram-se. Contudo, na verdade, tratou-se de uma
exclusão do governo de Cuba e não do estado em si. Tudo isto é possível afirmar pois os
termos da resolução ditam o seguinte:

1. A adesão por qualquer membro da OEA ao marxismo-leninismo é incompatível


com o sistema interamericano e o alinhamento de qualquer governo com o
bloco comunista quebra a unidade e a solidariedade do continente;
2. O presente governo de Cuba, que se identificou oficialmente como marxista-
leninista, incompatibilizou-se com os princípios e objetivos do sistema
interamericano;
3. Esta incompatibilidade excluiu o presente governo de Cuba da participação no
sistema interamericano.

Quer isto dizer, portanto, que, tecnicamente, o estado cubano continuava a ser
membro da organização, porém sem qualquer “voz” dentro da organização isto depois
de lhe ter sido retirado o direito de representação e de participação nas reuniões em
todas as outras atividades realizadas pela organização. A posição da OEA face à
suspensão de Cuba foi questionada por vários membros da organização, uma vez que as

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obrigações do país em relação à Carta da OEA, à Declaração Americana de Direitos e
Deveres do Homem, entre outras, continuavam a ser praticadas. Exemplo disso, eram
os vários relatórios publicados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos
sobre a questão dos direitos humanos cubanos (Inter-American Comission of Human
Rights, 1979). Acerca dos vários pedidos de explicações por parte da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, a circunstância de Cuba foi exposta em nota oficial
à OEA como “simples cortesia”, pelo seu ministro de negócios estrangeiros, Dr. Raúl Roa
García, a 4 de Novembro de 1964. Na nota, estava expresso que Cuba havia sido
ocasionalmente excluída da OEA e que a organização não possuía jurisdição, nem
autoridade jurídica ou moral sobre um estado em que a própria organização havia
ilegalmente privado dos seus direitos. (Inter-American Comission of Human Rights,
1983)

A suspensão foi anulada em 2009, na 39ªa Assembleia Geral da Organização dos


Estados Americanos (Jardim, 2009)

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 Caso da Venezuela
Desde 2013 que a Venezuela vem passando por uma crise socio económica que
se iniciou nos fins do mandato de Hugo Chavéz e que se entendeu até aos tempos
contemporâneos sob a presidência de Nicolás Maduro (Turrer, 2016).

A crise teve impacto na vida quotidiana dos venezuelanos em várias vertentes,


prova disso é o constante aumento de desemprego que vigora no país, que culminou na
emergência de movimentos sociais que têm por objetivo a mudança económica e num
modelo económico produtivo. Outro aspeto reivindicado pelos revoltantes trata-se de
uma exigência de um modelo realmente democrático. (Saiz, 2014)

O principal movimento social é o “movimento estudantil”, que emergiu,


principalmente, devido às instáveis condições económicas. A corrupção política, a
insuficiência de produtos essenciais, o encerramento de empresas, o agravamento da
produtividade e da competitividade e a alta dependência petrolífera são outros
impasses que também tiveram um papel fundamental para o agravamento da crise
(BBC, 2014).

Esta instabilidade ficou notada por diversos protestos ao longo da administração de


Maduro. Todavia, as manifestações começaram a ganhar impacto em Março de 2017
depois do Tribunal Superior de Justiça venezuelano ter retirado os poderes à Assembleia
Nacional por esta estar sob o domínio da oposição. Os protestos foram bloqueados com
extrema violência pelo governo populista (Portal Terra, 2017).

Intervenção da OEA na crise venezuelana:


 Enquadramento:

Com a guerra fria terminada, o Conselho de Segurança das Nações Unidas


relacionou desde logo os crimes efetuados em larga escala dentro de um estado paz
e segurança internacionais (OEA, 2017).
O Estado venezuelano faz parte do Estatuto de Roma. Por este motivo, o Tribunal
Internacional é autorizado a agir se o considerar necessário. (OEA, 2017)
O secretário-geral no seu relatório emitido em 19 de Julho de 2017, estabeleceu que
há provas de que “aponta para o uso sistemático, tático e estratégico de

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assassinatos, prisões, tortura, estupro e outras formas de violência sexual, como
ferramentas para aterrorizar venezuelanos " (Almagro, 2017). Isto pode consistir em
crimes contra a humanidade, portanto, por esse motivo, o Tribunal Penal
Internacional deve ter conhecimento da situação. (OEA, 2017)

 Investigação:

Para o cargo de líder do processo de revisão da ocorrência de violência e repressão


venezuelana, o Secretário-Geral da OEA intitulou um Conselheiro Especial de Crimes
contra a Humanidade, o Dr. Luis Moreno Ocampo, que já havia sido o primeiro
Procurador do Tribunal Penal Internacional (2003-2012). Dr. Moreno Ocampo ficou
encarregue de projetar e lançar o processo (OEA, 2017).
Para além deste, o Secretário-Geral da OEA nomeou outros três peritos
internacionais para que concluíssem o processo de avaliação de se a ocorrência na
Venezuela deveria, ou não, ser levada a Tribunal Penal Internacional para
consideração (OEA, 2017).
O processo da OEA consiste em angariar informações a fim de auxiliar o Procurador
do Tribunal Penal Internacional para que promova este a inicie uma investigação da
situação da Venezuela. (OEA, 2017)

 Processo de avaliação:

Em Setembro e Outubro, as audiências públicas tiveram lugar na sede da OEA a fim


de julgar a ocorrência na Venezuela preenchiam os requisitos do artigo 53.1.a e
5.1.c do Estatuto de Roma para que, desta forma, se instaurasse uma investigação
por parte do Tribunal Penal Internacional. (OEA, 2017)
Ocorridas nos dias 14 e 15 de Setembro, as primeiras audiências tiveram lugar na
sede da OEA em Washington, DC. No dia 14 estiveram presentes representantes da
sociedade civil venezuelana, já no dia 10 estiveram nas audiências os membros das
forças armadas venezuelanas (OEA, 2017).
Já as segundas audiências ocorreram no dia 16 e 17 de Outubro. No dia 16
estiveram presentes representantes que abordaram o tema do poder judicial da
Venezuela enquanto no dia 17 estiveram presentes venezuelanos provenientes de

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variados níveis de governo. A 16 de Novembro decorreram ainda audiências
adicionais (OEA, 2017).

O debate nas audiências abordaram as seguintes matérias:

 A privação ilegal de liberdade física, tortura e violação significativa de um


molde que tende a comprovar que foram cometidos como parte de um
ataque generalizado ou sistemático contra os civis (OEA, 2017).

 Homicídios indicativos de um padrão que tende a ostentar que a sua prática


foi cometida como parte de um ataque generalizado ou sistemático contra os
civis (OEA, 2017).

 Reconhecimento das pessoas ou grupos responsáveis pelos atos criminosos


(OEA, 2017)

 Indício da existência na Venezuela de investigações judiciais dos indivíduos


identificados (OEA, 2017).

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Conclusão
Vários países da América têm ultrapassado múltiplos conflitos e guerras civis que
infelizmente faziam parte do ADN da região ao longo de muitos anos. Atualmente, muito
por culpa da OEA, apenas uma nação ainda passa por conflitos dentro do seu território.
Também a consolidação da democracia e o impulsionar da boa governabilidade dentro
dos países membros são extrema responsabilidade por parte desta organização.

É possível perceber que a OEA é tem uma vasta importância no continente


americano já que lhe compete a função de representação dos seus instrumentos
políticos e jurídicos no que toca à democracia no continente, tanto por via de normas e
regras como por via da realização de reuniões, conferências e outras atividades.

Podemos concluir que a OEA se trata de uma burocracia internacional, com nível
de autoridade e autonomia de influência em relação aos Estados a ela pertencentes.
Trata-se de uma organização com ideias, interesses e personalidades próprias, bem
como detentora de poder no que toca à construção da realidade social.

Após a realização deste trabalho é também percetível a grande influência


exercida pelos EUA naquilo que é o funcionamento desta organização e,
consequentemente, o quão os interesses norte-americanos são defendidos.

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Bibliografia
 Almagro, Luís. 2017. “TERCER-INFORME-VENEZUELA-SPANISH-Final-signed”.
OEA, 19 de Julho de 2017. Disponível em: http://bit.ly/2vFdQfs [Consultado em
27 de Novembro de 2017]

 BBC, 2014. “Movimento estudantil desafia o chavismo na Venezuela”. BBC, 14


de Fevereiro de 2014. Disponível em: http://bbc.in/1LuAUC2 [Consultado em
27 de Novembro de 2017]

 Carta das Nações Unidas, 1945. ”Carta das Nações Unidas”. ONU, 26 de Junho
de 1945. Disponível em: http://bit.ly/2BqyOCS [Consultado em 17 de Dezembro
de 2017]

 Convención sobre Asilo Diplomático, 1954. “Convención sobre Asilo


Diplomático”. Convención sobre Asilo Diplomático, 1954. Disponível em:
http://bit.ly/2k9Oza3 [Consultado em 17 de Dezembro de 2017]

 Inter-American Comission of Human Rights, 1979. “SIX REPORT ON THE


SITUATION OF POLITICAL PRISONERS IN CUBA“. Inter-American Comission of
Human Rights, 14 de Dezembro de 1979. Disponível em: http://bit.ly/2oxhZ6A
[Consultado em 27 de Novembro de 2017]

 Inter-American Comission of Human Rights, 1983. “THE SITUATION OF HUMAN


RIGHTS IN CUBA SEVENTH REPORT “. Inter-American Comission of Human
Rights, 4 de Outubro de 1983. Disponível em: http://bit.ly/2kBxEfQ
[Consultado em 27 de Novembro de 2017]

 Jardim, Cláudia. 2009. “OEA revoga suspensão a Cuba depois de 47 anos”. BBC,
3 de Junho 2009. Disponível em: http://bbc.in/2zjesfe [Consultado em 27 de
Novembro de 2017]

 Leão, Aquino. 1978. “Historia das sociedades: das sociedades modernas as


sociedades atuais”. Historia das sociedades: das sociedades modernas as
sociedades atuais, 1978. Disponível em: http://bit.ly/2Bprl71 [Consultado em
27 de Novembro de 2017]

 OEA. “Assembleia Geral”. OEA. Disponível em: http://bit.ly/2po4tS5


[Consultado em 12 de Novembro de 2017]

 OEA. “Conselho Permanente”. OEA. Disponível em: http://bit.ly/2B55sx7


[Consultado em 12 de Novembro de 2017]

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