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7 – Danos e Técnicas de Estimulação de Poços

INTERVENÇÕES EM POÇOS

Ao longo da vida produtiva dos poços, geralmente são necessárias outras intervenções
posteriores à completação, designadas genericamente de workover, com o objetivo de manter
a produção ou eventualmente melhorar a produtividade. Sem instalação de sonda, é possível
realizar uma série de operações com cabo, tais como: abertura ou fechamento de sliding sleeves,
substituição de válvulas de gas-lift, registros de pressão, etc. Quando há necessidade de
intervenções com sonda, geralmente essas intervenções visam corrigir:

1 – Falhas mecânicas na coluna de produção ou revestimento

2 – Restrições que ocasionam a redução da produtividade

3 – Produção excessiva de gás

4 – Produção excessiva de água

5 – Produção de areia

As intervenções de workover costumam ser classificadas como: avaliação, recompletação,


restauração, limpeza, estimulação e mudança de método de elevação e abandono.

AVALIAÇÃO

Avaliação é uma intervenção que tem como objetivo diagnosticar as causas da baixa
produtividade (ou baixa injetividade), ou mesmo avaliar outras zonas que não se encontram em
produção.

RECOMPLETAÇÃO

Visa substituir as zonas que estavam em produção ou colocar novas zonas em produção. Quando
cessa o interesse em se produzir ou injetar em determinada zona, esta é abandonada e o poço
é recompletado para produzir ou injetar em outro intervalo. A recompletação também é
realizada quando se deseja converter um poço produtor em injetor (de água, gás, vapor, etc.),
ou vice-versa.

O abandono da antiga zona de interesse geralmente é feito através de um tampão mecânico ou


através de uma compressão de cimento nos canhoneados. Na sequência, recondiciona-se o
poço para o canhoneio da nova zona produtora.

RESTAURAÇÃO

A restauração é um conjunto de atividades que visam restabelecer as condições normais de


fluxo do reservatório para o poço (eliminação de dano de formação), eliminar e/ou corrigir
falhas mecânicas no reservatório ou na cimentação, reduzir a produção excessiva de gás (alta
razão água/óleo – RAO).

a) Elevada produção de água

A produção de óleo com alta RAO acarreta um custo adicional na produção, na separação e no
descarte desta água. Se a zona produtora é espessa, pode-se tamponar os canhoneados com

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cimento ou tampão mecânico, e recanhonear apenas na parte superior, resolvendo o problema
temporariamente.

Uma elevada RAO pode ser consequência de:

1 – Elevação do contato óleo/água devido ao mecanismo de reservatório (influxo de água) ou à


injeção de água.

2 – Falhas na cimentação primária ou furos no revestimento.

3 – Fraturamento ou acidificação atingindo a zona de água.

O aparecimento de água é normal, após certo tempo de produção, em um reservatório com


influxo de água ou sob injeção desta. Quando há variação de permeabilidade horizontal ao longo
do intervalo produtor este problema se torna mais complexo, devido ao avanço diferencial da
água, conhecido como fingering (figura 6.31).

O cone de água é um movimento essencialmente vertical da água na formação. Não ultrapassa


barreiras pouco permeáveis e ocorre normalmente em pequenas distâncias.

Tanto o cone de água quanto o fingering são fenômenos altamente agravados pela produção
com elevada vazão. Quando a elevada razão água-óleo não é devida a esses dois fenômenos,
pode-se suspeitar ou de dano no revestimento ou de fraturas mal direcionadas.

Um dano no revestimento pode ser solucionado por uma compressão de cimento ou por um
isolamento com obturadores e/ou tampões. Já uma fratura mal dirigida é um problema de difícil
solução.

b) Elevada produção de gás

Uma razão gás/óleo muito elevada pode ter como causa o próprio gás dissolvido no óleo, o gás
de uma capa de gás ou aquele proveniente de uma outra zona ou reservatório adjacente. Esse
último caso é o produto de uma falha no revestimento, de uma estimulação mal concretizada
ou de falha na cimentação.

A produção excessiva de gás pode ser contornada temporariamente recanhoneando-se o poço


apenas na parte inferior da zona de interesse.

Um cone de gás é mais facilmente controlado pela redução da vazão do que o cone de água. Isto
se deve à maior diferença de densidade entre o óleo e o gás do que entre o óleo e a água. O

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fechamento do poço temporariamente é uma técnica recomendada para a retração do cone de
gás ou água.

c) Falhas mecânicas

Detectando-se um aumento da razão água/óleo e se suspeitando de um provável vazamento no


revestimento, a água produzida deve ser analisada e comparada com a água da formação,
confirmando ou não, a hipótese de furo no revestimento. Entre as falhas mecânicas pode-se
citar: defeitos na cimentação, vazamento no revestimento, vazamento em colar de estágio, etc.

A localização do vazamento pode ser feita com: perfis de fluxo, perfis de temperatura ou testes
seletivos de pressão usando obturador e tampão mecânico recuperável.

d) Vazão restringida

Um poço que esteja produzindo abaixo do seu potencial pode necessitar de uma restauração.
As restrições ao fluxo podem estar na coluna, nos canhoneados ou no reservatório, nas
proximidades do poço. Geralmente as restrições são causadas por incrustações ou deposições
de parafinas ou asfaltenos, ou ainda por migração de sedimentos do reservatório. Quando a
baixa produtividade é causada pela redução da permeabilidade original é necessário remover
ou ultrapassar o dano. Os métodos mais usuais são o recanhoneio, a acidificação e o
faturamento de pequena extensão.

LIMPEZA

A limpeza é um conjunto de atividades executadas no interior do revestimento de produção


visando limpar o fundo do poço ou substituir os equipamentos de subsuperfície, objetivando
um maior rendimento. Como exemplos de problemas geradores de intervenções de limpeza
podem ser citados: deposição de sólidos no fundo do poço tamponando os canhoneados, furos
a coluna de produção, vazamento no obturador, necessidade de reposicionar componentes da
coluna de produção, vazamentos em equipamentos de superfície, entre outros.

MUDANÇA DO MÉTODO DE ELEVAÇÃO

Quando a vazão está sendo restringida devido a um sistema de elevação artificial inadequado
ou com defeito, é necessário substituí-lo. Normalmente os poços são surgentes durante o
período inicial de sua vida produtiva, passando a requerer um sistema de elevação artificial após
algum tempo de produção.

ESTIMULAÇÃO

A estimulação é um conjunto de atividades que objetiva aumentar o índice de produtividade ou


injetividade do poço. Os métodos mais utilizados são o faturamento hidráulico e a acidificação,
embora este último possa ser considerado como atividade de restauração.

a) Fraturamento hidráulico

Pode ser definido como um processo no qual um elevado diferencial de pressão, transmitido
pelo fluido de faturamento, é aplicado contra a rocha-reservatório até a sua ruptura. A fratura,
que é iniciada no poço, se propaga através da formação pelo bombeio de um certo volume de
fluido, acima da pressão de faturamento. Para se evitar que a fratura induzida feche ao cessar o
diferencial de pressão aplicado, um agente de sustentação (normalmente areia) é bombeado
com o fluido de fraturamento. Assim, se cria um caminho preferencial de elevada condutividade,
o qual facilitará o fluxo de fluidos do reservatório para o poço e vice-versa.

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Nos fraturamentos de rochas calcárias, em que são utilizadas soluções ácidas como fluido
fraturante, muitas vezes é dispensável o uso de agentes de sustentação. Nesses casos, a
dissolução irregular das faces da fratura formará os canais de alta capacidade de fluxo.

O fraturamento não altera a permeabilidade natural das rochas-reservatório. Faz aumentar o


índice de produtividade dos poços pelas seguintes razões:

1 – Modifica o modelo do fluxo do reservatório para o poço. O fluxo passa a ser linear dentro da
fratura e nas proximidades e “pseudo-radial” mais distante da fratura. Como se pode deduzir,
uma área maior do reservatório é exposta ao fluxo para o poço. O fluido passa a percorrer
caminhos de muito menor resistência ao fluxo.

2 – Quando há dano à formação, a fratura ultrapassa a zona com permeabilidade restringida,


próxima ao poço.

3 – Existe ainda a possibilidade de a fratura atingir uma área do reservatório, mais distante do
poço, com melhores condições de permoporosidade.

4 – Em reservatórios lenticulares (seções produtoras de pequenas espessuras, intercaladas por


folhelhos) a fratura criada poderá atingir zonas não previamente conectadas ao poço,
colocando-as em produção.

5 – Em reservatórios naturalmente fraturados, uma fratura induzida hidraulicamente também


poderá interconectar fissuras naturais em quantidade suficiente para aumentar a produção.

Além de incrementar o índice de produtividade dos poços, o fraturamento pode contribuir para
o aumento da recuperação final das jazidas.

Os fluidos utilizados nas operações de fraturamento hidráulico normalmente são gelificados e


devem possuir características especiais para permitir o bombeio da areia (ou outro agente de
sustentação), de modo a garantir um tratamento econômico e eficaz.

Outros processos de fraturamento das formações já foram pesquisados. Inicialmente foram


feitas experiências com a utilização de explosivos líquidos e, mais tarde, com o emprego da
energia nuclear. Devido aos altos riscos e custos envolvidos, até agora nenhum outro método
se mostrou competitivo. O fraturamento hidráulico em conjunto com a acidificação continuam
sendo os mais eficazes métodos de estimulação de poços empregados na indústria petrolífera.

b) Acidificação

Acidificação de matriz é a injeção de um ácido com pressão inferior à pressão de fraturamento


da formação, visando remover o dano de formação. Logo após uma acidificação o ácido deve
ser recuperado da formação, com o objetivo de prevenir a formação de produtos danosos a esta
(precipitados insolúveis).

Os tratamentos com ácido são variados: além dos tratamentos matriciais em carbonatos e
arenitos, pode-se efetuar a limpeza de canhoneados obstruídos, limpeza e lavagem de colunas
de perfuração e produção, etc. O fraturamento com ácido também pode ser realizado com
sucesso em formações calcárias.

Geralmente são utilizados o ácido clorídrico e o ácido fluorídrico. O Mud Acid Regular (12% HCl
+ 3% HF) e o HCl a 15% são os mais utilizados.

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A acidificação de matriz somente é efetiva em formações de permeabilidade regular a boa,
obviamente quando a restrição ao fluxo é causada por material solúvel em ácido. Para
formações de baixa permeabilidade, o mais indicado é o fraturamento.

ABANDONO

Quando um poço é retirado de operação, ele deve ser tamponado, de acordo com normas
rigorosas que visam a minimizar riscos de acidentes e danos ao meio ambiente. Se houver a
previsão de retorno ao poço, no futuro efetua-se o abandono temporário. Por exemplo: ao
terminar a perfuração dos poços marítimos, geralmente eles são avaliados e em seguida
abandonados temporariamente até a instalação da plataforma de produção, quando os poços
são completados e colocados em produção.

Quando não se prevê o retorno ao poço, é realizado o abandono definitivo. Exemplos: ao final
da vida produtiva do poço ou quando ele é avaliado como sub-comercial ou seco, logo após a
perfuração. Tanto os abandonos temporários como os definitivos são realizados através de
tampões de cimento (figura 6.32) ou mediante o assentamento de tampões mecânicos (bridge
plugs permanentes – BPPs). A diferença básica é que no abandono definitivo todo o
equipamento de superfície é retirado, enquanto que no abandono temporário o poço
permanece em condição de aceitar futuras intervenções.

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