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Gustavo Castañon
Doutor em Psicologia e professor de Filosofia na UFJF
gustavocastanon@hotmail.com
Mas não é o baixo salário dos professores que aprova automaticamente, ensina
que falar “os menino pega o peixe” é errado por causa do preconceito da classe
dominante ou fecha as APAEs e o IBC contra a vontade e o interesse dos alunos e das
famílias desesperadas.
A pedagogia do ressentimento
O que se estuda então a maior parte do tempo nos quatro anos de um curso de
pedagogia e nos dois de licenciatura? Doutrinação. Variações pós-modernas e
consequências de duas ideias irmãs: sociologismo (a negação do conceito de indivíduo e
responsabilidade pessoal e a idéia de que todo conhecimento é uma construção social) e
relativismo (a crença de que não existe verdade e que o conhecimento é ideologia).
Esterilizados pela ideia de que é verdade que não existe verdade, a maioria dos
novos pedagogos se forma discursando contra a ciência moderna e contra todo tipo de
avaliação (portanto, de reprovação). Para eles, como o sujeito é uma construção social,
avaliações só serviriam ao propósito de dominação de classe e estigmatização do aluno
pobre, impondo-lhe uma cultura “eurocêntrica” e “fabricando” seu fracasso escolar.
E o pior é que todos sabem disso. O MEC sabe disso. Os políticos sabem disso.
Você sabe disso. E ninguém, à exceção das famílias desesperadas dessas crianças, está
fazendo nada para evitar esse crime.
Nós sabemos que essa anti-pedagogia, esse anarquismo pedagógico, nos levou à
ruína. Sabemos que um diploma público ginasial não atesta mais nem que a pessoa sabe
ler ou somar. A educação brasileira tem um dos piores resultados por recurso investido do
mundo.
Antes de executar ações para reverter esse quadro, temos que deter sua piora. Se
você concorda com alguma coisa que foi dita aqui, por amor a nossas crianças, faça
alguma coisa. Assuma o desgaste. Se exponha. Combata a desconstrução em sua escola
e em sua universidade. Divulgue este artigo. Escreva o seu. Participe das reuniões de
pais. Impeça o fechamento das APAEs e do IBC. Lute pelo fim da aprovação automática.
Pressione seu deputado. Pare de falar mal do Brasil no bar e assuma sua
responsabilidade.
Não podemos mais lavar nossas mãos enquanto a educação pública brasileira se
transforma numa atividade de doutrinação, psicoterapia ineficaz e lazer. Não podemos
nos omitir enquanto o futuro de nossas crianças está entregue a uma legião de Pôncios
Pilatos que, diante da realidade da desgraça educacional brasileira, lavam de suas mãos
os restos do futuro de nossas crianças e perguntam cinicamente: “O que é a verdade?”.