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Exercício 1 do capítulo 7 do livro “Language, Mind and Culture” (KÖVECSES, 2006), p.

112 (adaptado).

Por Morgana de Abreu Leal

Procure as metonímias LUGAR PELA INSTITUIÇÃO, CONTROLADOR PELO


CONTROLADO e CONTROLADO PELO CONTROLADOR em manchetes do jornal Meia
Hora. Que fatos importantes as metonímias revelam sobre as instituições políticas do
país?

Antes de chegar às metonímias encontradas, é necessário um breve


esclarecimento acerca da metonímia conceptual. Relacionada à questão do frame, “na
metonímia usamos um elemento de um frame para proporcionar acesso mental a outro
elemento do mesmo frame, ou MCI [modelo cognitivo idealizado]” (KÖVECSES, 2006,
p. 112). Enquanto a metáfora conceptual apresenta um mapeamento entre domínios
distintos, na metonímia temos mapeamentos dentro do mesmo domínio cognitivo, nos
quais uma entidade é mapeada em outra entidade dentro do mesmo frame, ou MCI.
Uma entidade corresponde a outra, como no exemplo dado por Kövecses (2006, p. 98):

(1) Nixon bombardeou Hanoi.

Observamos, no exemplo (1), que Nixon, ex-presidente dos EUA, não


bombardeou Hanoi pessoalmente, nem sozinho. Ele ordenou o ataque. Esse é um
exemplo de metonímia: Nixon corresponde à Força Aérea dos EUA. Temos uma
entidade que corresponde à outra; neste caso, Nixon é veículo para compreendermos o
alvo Força Aérea Americana. O frame de CONTROLE, no qual encontramos essa
correspondência entre os elementos, nos permite entender o CONTROLADOR
(presidente) PELO CONTROLADO (a Força Aérea), a metonímia que ocorre no exemplo
(1).
O exercício propõe, então, que se pesquise as metonímias LUGAR PELA
INSTITUIÇÃO, CONTROLADOR PELO CONTROLADO e CONTROLADO PELO
CONTROLADOR em manchetes políticas em jornais, sobre os países Estados Unidos e
Reino Unido. Para ambientar a pesquisa em metonímias mais próximas da nossa
realidade, escolhi as capas do Meia Hora e suas manchetes, que frequentemente dão o
que falar por conta de suas piadas e jogos de palavras. O jornal Meia Hora nos
concede, diariamente, metáforas, metonímias, mesclagens e mapeamentos complexos
dentro e entre domínios cognitivos, sendo assim uma promissora fonte de pesquisa
para a Linguística Cognitiva.
Começamos a pesquisa em ordem cronológica reversa, do mais atual para o
mais antigo, a partir da data de 20 de setembro de 2016. O foco do Meia Hora são as
notícias relacionadas a futebol e crimes na região metropolitana do Rio de Janeiro,
apresentando, por isso, pouquíssimas notícias relacionadas à política nacional ou
internacional. Mas isso não impede de encontrarmos as metonímias propostas pelo
exercício. Apresentamos os exemplos (2), (3), (4) e (5):

(2) Santos Dumont virou Aerofla (16/09/2016)


(3) Com dedo de Tite, Brasil vence a Colômbia: 2 a 1 (07/09/2016)
(4) [...] Caiu na Arena, que pena! (02/09/2016)
(5) Dilma sai de Brasília (01/09/2016)

As manchetes (2), (3), (4) e (5) apresentam metonímias LUGAR PELA


INSTITUIÇÃO. No exemplo (2), Santos Dumont se refere ao aeroporto de mesmo nome
no Rio de Janeiro. No (3), Brasil e Colômbia se referem às suas seleções nacionais de
futebol, e não aos países. Na manchete (4), Arena se refere ao Estádio Luso-Brasileiro,
que, por causa de um empréstimo ao Botafogo de Futebol e Regatas, agora está sendo
chamado Arena Botafogo. E, finalmente, no exemplo (5), o único sobre política, Brasília
se refere à Presidência da República. Cabe aqui um comentário: sem os frames de
futebol e de política atual brasileira, a compreensão dessas manchetes se torna difícil,
pois essa compreensão depende de fatores culturais inerentes a esses MCIs.
Manchetes de jornais, em especial, contam com um conhecimento prévio do público a
que se destina, devido à própria característica do gênero discursivo, de se apresentar
em um texto pequeno e carregar o máximo de sentido possível.
No dia 28 de agosto de 2016, temos a manchete (6):
(6) Poliçada canta de galo em baile funk na Galinha.

Metáforas à parte, pode-se observar um exemplo da metonímia CONTROLADO


PELO CONTROLADOR, pois entende-se que poliçada se refira a alguns membros da
polícia militar, que invadiram um baile funk em uma comunidade chamada Galinha. As
manchetes (2) a (6) revelam-se bons exemplos das metonímias propostas pelo
exercício, mas um exame mais profundo poderia trazer à tona diversos tipos de
metonímias. Um dos mais produtivos seria a metonímia TODO PARA PARTE, como nos
exemplos:

(7) Civil deixa ladrão de celular fora da área de cobertura (15/09/2016)


(8) Gata promete tirar tudo se o Mengão for hepta (18/09/2016)

Compreende-se com facilidade que o “civil” era apenas uma pessoa, e que por
“tudo”, a “gata” vai tirar a roupa se o time dela for campeão. Frames constituídos como
“inteiros com partes” são ativados nessas expressões. Kövecses (2006, p. 100)
argumenta que esse tipo de frame e essas configurações parte-todo e todo-parte são
uma grande fonte de metonímias cognitivas. Esses foram apenas alguns exemplos para
ilustrar como a metonímia, muito além de ser recurso linguístico, é dispositivo cognitivo,
fortemente baseada em práticas culturais.

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