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Filme: Hostiles

Direção: Scott Cooper

Nota: 4/5

Há um tom de poesia melancólica neste western do diretor de Crazy Heart, Scott


Cooper. É um conto intenso, de sangue e poeira, povoado por personagens que se
expressam mais eloquentemente através de gestos do que de palavras,
acompanhados por uma excelente trilha sonora composta por canções tristes
contrastando com paisagens emblemáticas.

Em 1982, no Novo México, a remota fazenda de Rosalie (Rosamund Pike) é cercada


por invasores Comanches que queimam sua casa e matam seu marido e filhos.
Enquanto isso, o Capitão Joseph Blocker (Christian Bale) captura e atormenta uma
família Apache, reunindo-os como gado para aprisionamento no isolado Fort Berringer.
"Somos todos prisioneiros", diz Blocker, que tem "uma bolsa de guerra de razões"
para odiar "selvagens" e uma reputação brutal de reivindicar "mais couro cabeludo do
que o próprio Bull Sitting". Mas essas guerras territoriais estão acabando, e o capitão
que está perto da aposentadoria é ordenado a escoltar seu oponente, o chefe Yellow
Hawk (Wes Studi), até o lar do Vale dos Ursos em Montana. No caminho eles pegam a
traumatizada Rosalie, que fica aterrorizada com a visão da família acorrentada de
Yellow Hawk, mas cujas relações mudam quando o grupo encontra invasores
Comanches e perigosos caçadores de pele, onde todos acabam lutando juntos.

O filme demonstra paralelos entre “os maus-tratos que oferecemos aos nativos
americanos” no passado e “o que está acontecendo na América hoje com raça e
cultura”. Ainda assim, esse sombrio western, lembra mais especificamente a culpa
existencial de Unforgiven, na qual William Munny, de Clint Eastwood, considera: “É
uma coisa infernal, matar um homem.” Essas palavras pairam como nuvens negras
sobre essa odisseia revisionista americana, que também tem influência de John Ford,
mais particularmente do clássico de 1956 “The Searchers”, no qual John Wayne
interpretou outro ex-soldado em uma perigosa jornada pelo território de Comanche.

A fotografia é um espetáculo a parte, que consegue captar a beleza áspera das


paisagens que mudam de rochas irregulares e desfiladeiros perigosos para grandes
vales verdes.

Acredito ainda que esse filme diz muito sobre mortes, mas não a morte física, mas a
morte que acontece quando nos transformamos e deixamos velhos sentimentos para
trás, quando encaramos um desafio de frente e não pensamos em fugir dele. Nessa
longa e violenta jornada, todos os personagens passam por uma grande
transformação interna. As atuações são incríveis e, mesmo sem muitos diálogos,
conseguimos sentir a dor e o peso que cada um carrega consigo.

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