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Apresentação.

Geralmente se utiliza o silêncio em filmes de terror como um elemento que antecede o susto,
isso por criar uma tensão e expectativa no público. A câmera acompanha de forma objetiva o
personagem, em completo silêncio, em uma casa, em uma floresta, em uma lagoa... E de
repente, de forma abrupta, o vilão, geralmente monstruoso, aparece, e isso vem
acompanhado de uma trilha sonora musical ensurdecedora, em efeitos sonoros cortantes.
Esse é o famoso jump scare.

Mas, por mais que esse filme aborda o silêncio como elemento principal para o
desenvolvimento da trama, o “jump scare” não é o foco, apesar de ser consequente. Isso, e
vários outros elementos, tornam Um lugar silencioso uma subversão do gênero e dos
elementos primordiais que o compõe.

Somos apresentados a uma família que tratam de ter o maior cuidado para fazer menos
barulho possível. Isso, por que a cidade foi invadida por criaturas ameaçadoras que possuem
um instinto assassino quando despertado com qualquer tipo som. Assim, temos um filme sem
muitos diálogos sonoros, eles apenas se falam com gestos e utilizam a linguagem de sinais.

O filme já começa no meio dos acontecimentos que mudaram a vida dessa família. Diferente
de filmes com a mesma premissa, esse filme não explica o que são, e muito menos de onde
vieram esses monstros assassinos, nos deixando pensar que podem ser extraterrestres, ou a
consequência de uma mutação genética, seres intraterrenos... Em algumas cenas, através de
jornais espalhados pela cidade e pela casa, são mostradas algumas notícias sobre o
acontecimento, mas nada que explique claramente.

O filme não está interessado em explicar isso por que também não é foco. A criatura
ameaçadora, por mais que seja interessantíssima, uma mistura de “Alien” com “demogorgon”
infectado pelo vírus de “The Last of Us”, e por mais que seja o que movimenta toda a história,
ela não é foco do filme. Ela deixa de protagonizar o vilão, e entrega esse papel para “qualquer
barulho que você fizer”. Então não ficamos com medo da criatura em si, ela é só a
consequência, temos medo de fazer barulho. Genial ou não? Algo tão corriqueiro em nossas
vidas pode ser tornar o ponto nevrálgico que desperta o instinto mortal dessa criatura.

O diretor optou, por, mesmo sendo um filme de terror, e de como o silêncio é importante para
a sobrevivência dos personagens, mesmo assim ele colocou uma trilha sonora musical, não
obstante, a maior parte do filme os efeitos sonoros diegeticos se isolam da trilha musical e dão
maior abertura para a sensação de tensão que toma toda a sala do cinema.

A mixagem de som é algo que coopera pra essa sensação, sendo um componente muito
importante pra imersão do público em relação a tudo que está acontecendo dentro do quadro.
O cinema é imagem e som, principalmente, e esse filme utiliza todos os recursos desses
elementos da melhor maneira possível. O barulho dos pés na água, no mato, no chão, o
encostar das mãos em objetos, os abraços, os beijos, a respiração profunda, todos esses
pequenos momentos são detalhados tanto na imagem quanto no som.
E acho que por conta disso, esse filme pra mim ganhou uma carga dramática romântica muito
maior que qualquer outro filme desse gênero. Não que isso seja ruim, acho que foi essa
mesma a intenção.

Ultimamente estamos vendo vários filmes de terror, que ao invés de nos assustar ou causar
repulsa e medo, que geralmente é o que pretendem, nos causa um sentimento de
identificação e preocupação com os personagens. Eu acho que esses filmes tomaram uma
direção muita mais realista em relação ao ser humano, e como ele é de verdade, como ele
reagiria a essas situações. E isso é incrível, por que o terror desse filme, por exemplo, vai se
transformando, ainda sendo terror, ainda possuindo elementos tão característicos desse
gênero, como a monstruosidade como vilã, o silêncio perturbador, a sobrevivência como foco,
o ambiente devastado, e um mistério que pode ser revelado, ou não.

Como o silêncio faz parte da sobrevivência dessa família, coisas muito simples como, gritar
debaixo da cachoeira ou ouvir música no fone de ouvido, se tornam momentos extremamente
significativos para os personagens e de certa forma, muito sensível aos olhos do público. Pelo
menos pra mim, que me emocionei em vários momentos parecidos.

Esse é aquele famoso filme que te prende, e que te emociona, e te faz ficar feliz de ter
assistido algo feito com tanta engenhosidade e genialidade, tão raro nos dias de hoje onde
cada vez mais são produzidos filmes mais comerciais, rasos, com personagens
unidimensionais, e com profundidade psicológica de uma porta. É claro, que no meio de tantos
filmes rasos aparecerem verdadeiras obras de arte, e devemos aproveitar isso.

Mas e você, o que você achou desse filme?

Bom, eu vou ficando por aqui e a gente se vê, até a próxima!

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