Você está na página 1de 4

UFF- Universidade Federal Fluminense

Professora: Joice Scavone


Disciplina: Estética e Cultura I
Aluno: Pedro Henrique Braz

Leitura do subcapítulo ​O terceiro tipo de ato de fala, ato de tabulação​ do


texto ​Cinema 2: Imagem-Tempo,​ de Gilles Deleuze

Nessa parte do texto podemos observar que o autor está nos indicando a real
diferença entre o cinema dito como moderno e cinema clássico; o cinema moderno
não surge apenas com a chegada do som, mas sim com a forma em que este é
utilizado nas obras cinematográficas. Ou seja, é considerado “moderno” por sua
maneira de aplicar as falas, trilhas sonoras e outros, o que também possibilita a
quebra da constante superexposição de imagens que possuíam a finalidade de
demonstrar cada acontecimento; agora o som também é uma forma de transmitir a
história para o espectador.
Deleuze apresenta os discursos opostos presentes no cinema mudo e falado; o
primeiro possui discurso indireto, onde seu ato de fala era lido através de interlúdios.
E, ao contrário de seu predecessor, o cinema falado possuía em seu cerne um estilo
direto, com a interação entre fala e imagem visual. Já no cinema moderno
encontramos um discurso que pode ser caracterizado como indireto livre,
ultrapassando o direto e indireto e nota-se que é uma passagem entre esses dois
discursos, porém não sendo uma mistura dos dois, mas sim uma “dimensão original
e irredutível”. O autor cita que os ​Contos morais​ de Rohmer como exemplo de
textos inicialmente escritos de forma indireta, mas que depois passaram a diálogos.
O texto nos transmite a ideia de que o som agora possui independência, não
sendo mais coadjuvante em relação à imagem, ganhando maior importância no
cinema moderno. Pode-se utilizar filmes de fantasia para melhor explicar os escritos
de Deleuze. Em​ Jurassic Park​ (1993), temos os diálogos dos personagens que, ao
demonstrar surpresa, fazem também uma união com a trilha sonora e os ruídos dos
dinossauros engrandecendo a cena, ou seja, o impacto da cena seria infinitamente
menor com a presença exclusiva das imagens.
Antigamente as imagens eram o objeto principal do filme, possuindo grande papel
na interação entre espectador e história, mas atualmente o som também ganhou
sua independência e importância. Para evidenciar tal afirmação, em filmes como ​Um
lugar ​silencioso ​(2018), de John Krasinski podemos ver até uma inversão, onde o
som vira o principal na película. A imagem da ameaça principal poucas vezes é
revelada, fazendo com que atmosfera de suspense presente no mesmo seja
construída através de ruídos, falas e do silêncio em si.
Acredito que de fato o som ganhou sua dependência e importância; nota-se que o
público memoriza seus diálogos favoritos e até mesmo trilha sonora de filmes,
principalmente em caso de filmes musicais ou dos já mencionados filmes de
fantasia. Entretanto, não significa dizer que o som superou a imagem pois ainda
presenciamos a busca por novas tecnologias de captação de imagem e até uma
busca do público por novas maneiras de receber aquilo que lhes é exibido
visualmente, como por exemplo as sessões 3D ou salas D-Box. Há filmes onde som
ou imagem possui maior relevância em relação ao outro e há filmes onde essa
importância é equilibrada. Ainda que estejamos no momento em que som e imagem
possuam sua independência, não há um afastamento entre ambos; essas duas
vertentes ainda podem facilmente completarem-se sem ser necessário que haja
uma perda da autonomia que apresentam.

Você também pode gostar