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CAPÍTULO 01
1) A ILUSÃO AUDIOVISUAL
Para iniciar a discussão, Chion fala sobre a cena de abertura de Persona, do Bergman e como
o som é fundamental nesta cena para espacializar e temporalizar as imagens que são
mostradas. Elas têm um poder de dar sentido e valor às imagens, criando uma ilusão
cinematográfica. O cinema é a arte da ilusão imagética e sonora e a relação de ambos se dá
pela adição de valores.
1) Em casos de imagens estáticas, sem nenhuma espera de ação, não torna possível haver
animação temporal, nem de vetorização. Exemplo, uma imagem parada de um reflexo, neste
caso, o som é que temporaliza a imagem.
2) Em casos de cenas com imagens que dão uma ideia de temporalidade, o som se une a ela e
se combinam na temporalização, seja seguindo o mesmo fluxo, ou indo contrário a ela.
3) Os tipos de som influenciam no tipo de percepção temporal, como qualidade, quantidade,
tons e texturas, contribuindo com maior ou menor intensidade na temporalização.
4) A natureza da sustentação do som (o tempo que ele um som se mantém na mesma nota,
sem ser preciso tocá-la de novo) é muito importante. Um som com uma sustentação lisa e
contínua, como o som de um violino, é menos animador do que uma nota trêmula e
acidentada, como troque rápidos de acordes (tremolo).
5) Previsibilidade ou imprevisibilidade do desenvolvimento sonoro. Um som repetitivo e com
uma pulsação regular, como o som de um relógio, tende a ser mais previsível e ter menos
animação temporal que um som irregular e imprevisível, que nos remete a um estado de
alerta.
6) O papel do tempo também é algo a ser levado em consideração, pois, “a animação
temporal da imagem pelo som não é uma questão mecânica do tempo: uma música mais
rápida não acelera necessariamente a percepção da imagem. Na verdade, a temporalização
depende mais da regularidade ou irregularidade do débito sonoro do que do tempo no sentido
musical do termo” (CHION, 2011, P. 20).
7) Definição do som: Trilhas ricas em sons agudos geram maiores tensões e deixam os
espectadores em alerta.
8) “A temporalização depende também do modelo de ligação entre o som e a imagem e da
distribuição dos pontos de sincronização. Também aqui, o som ativa mais ou menos uma
imagem conforme introduz pontos de sincronização mais ou menos previsíveis ou
imprevisíveis, variados ou monótonos. De uma forma geral, a antecipação controlada é um
fator importante de temporalização” (CHION, 2011, P. 20).
1.1) Definição:
Existem três formas de escutar um som. O “Casual Listening” (escuta casual), o “Semantical
Listening” (Escuta semântica) e “reduced listining” (escuta reduzida). A causal, é a mais
comum entre elas, mas também a mais influenciável e enganadora.
Basicamente, a escuta causal é aquela que utilizamos para saber a causa da fonte sonora. Esta
fonte pode ser visível e nós retiramos informações sobre o objeto a partir deste som, ou pode
ser invisível e a partir da fonte sonora nós deduzimos o que se trata. Ela nunca surge do zero.
3.1) Definição
A escuta reduzida é o estudo das particularidades do som por si só, sem pensar no seu
significado ou na fonte sonora. Desenvolvido por Pierre Schaeffer, ele considerava esse som
como meio de observação.
Este tipo de escuta envolve escutar o mesmo som várias vezes, percebendo suas
particularidades sonoras físicas, sem se importar com a fonte ou significado. Também
envolve um processo que Schaeffer chama de “intersubjetividade”, partindo de uma
subjetividade extrema de quem escuta este som.
“O inventário descritivo de um som na escuta reduzida não se pode contentar apenas com
uma apreensão. É preciso voltar a escutar e, para isso, ter o som fixado num suporte. Porque
um instrumentista a tocar à nossa frente ou um cantor é incapaz de repetir sempre o mesmo
som: só pode reproduzir a sua altura e o seu perfil geral, não as finas qualidades que
particularizam um acontecimento sonoro e o tornam único” (CHION, 2011, P. 30).
“A escuta reduzida implica, portanto, a fixação dos sons, que acendem ao estatuto de
verdadeiros objetos". (CHION, 2011, P. 30).
4) Escutar/ouvir e ver/olhar
Apesar de ser importante separar e definir os tipos de escutas, é importante lembrar que no
mundo misturado e múltiplo, essas três escutas se sobrepõem e se misturam.
“A questão da escuta e inseparável da do ouvir, tal como a do olhar está ligada a visão. Por
outras palavras, para descrever os fenômenos perceptivos, somos obrigados a ter em conta o
facto de que a percepção consciente e ativa é apenas uma escolha num dado mais vasto que
se apresenta e se impõe”. (CHION, 2011, P. 32).
No cinema, o olhar é uma exploração, simultaneamente espacial e temporal, num dado a ver
delimitado que se mantém no quadro de um ecrã. Ao passo que a escuta é uma exploração
num dado a ouvir e até num imposto a ouvir muito menos delimitado em todos os aspectos,
com contornos incertos e mutáveis. (CHION, 2011, P. 32).
Nós não controlamos o som que escutamos. Os ouvidos não têm pálpebras. Assim, existe
uma cultura da imposição sonora, onde a diferenciação do som se faz quando os ouvimos de
maneira consciente ou inconsciente.
“As consequências para o cinema, são que o som é, mais do que uma imagem, um meio
insidioso, de manipulação afetiva e semântica. Quer o som nos trabalhe fisiologicamente,
(ruídos de respiração); quer, pelo valor acrescentado, interprete o sentido da imagem e nos
faça ver aquilo que sem ele não veríamos, ou que veríamos de outra forma”. (CHION, 2011,
P. 33).
(mostrar música “études aux torniquetes” de schaeffer e pedi para eles analisarem por
meio de uma escuta reduzida e acusmática).
CAPÍTULO 3