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SANTAELLA, Lúcia. Imagem: Cognição, Semiótica, Mídia. São Paulo: Iluminuras, 1998.
“(…) a chave semiótica da computação gráfica não está só na imagem, mas nas ligações
indissolúveis da imagem computacional com a forma de engendramento que é constitutiva
da sintaxe sonora (…) A questão do tempo como passagem, sucessividade, evanescência,
não pertence à lógica da visualidade, mas sim à lógica da narrativa, que é eminentemente
verbal, e muito mais especialmente à lógica da música, que se constitui no território onde o
tempo reina soberano.” ((NÖTH, SANTAELLA, 1998, p.89).
“(…) o que se tem hoje (…) é uma dissolução de fronteiras entre visualidade e sonoridade,
dissolução que se exacerba a um ponto tal que, no universo digital do som e da imagem,
não há mais diferenças em seus modos de formar, mas só nos seus modos de aparição,
isto é, na maneira como se apresentam para os sentidos. (…) ambos dependem de
programas, de valores numéricos, e de procedimentos específicos, algoritmos de simulação
do som ou da imagem, para serem transmitidos nos terminais específicos de efeito sensível
para o olho ou para o ouvido.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 91)
“Quando se menciona a música das formas no cinema e no vídeo, isso não tem por
referência a trilha sonora, mas sim o movimento das próprias imagens, quer dizer, o
movimento plástico no tempo” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 93)
“A música […] porque só pode por fatalidade passar, evanescer, soar e desaparecer, é, tal
como a vida, devir irremediável”. Assim como a imagem eletrônica que, “quanto mais […] se
desprende de qualquer tipo de referencialidade, promessa e nostalgia de um registro do
mundo, mais se aproxima da natureza dos campos sonoros.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p.
95)
“As imagens digitais […] mesmo quando buscam imitar a realidade visível, não são mais
figuras de registro, mas simulações, produzidas pelo cérebro e mediadas por programas
numéricos. É em razão disso que é na simulação de processos dinâmicos puramente
hipotéticos que esse tipo de imagem atinge o limite mais otipizado de seu potencial” (NÖTH,
SANTAELLA, 1998, p. 96)
“Já que tais signos abstratos (ou plásticos) aparecem em todas as imagens, enquanto os
signos icônicos (ou figurativos) só existem como signos na pintura figurativa, não é o nível
icônico do signo, mas sim o abstrato que tem um lugar fundamental na semiótica da
pintura.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p.142)
“Prototipo da imagen icônica não é a pintura figurativa, mas sim a não-figurativa, a abstrata.
Protótipo da imagem indexical são a fotografia e a pintura realista, e protótipo da imagem
simbólica é a pintura codificada iconológica ou iconograficamente.” (NÖTH, SANTAELLA,
1998, p. 144)
“O ícone, de acordo com Peirce, é definido como um signo que possuiu caráter sígnico
simplesmente devido às qualidades (de primeiridade) materiais próprias a ele” (NÖTH,
SANTAELLA, 1998, p. 144) (quali-signo icônico)
Quali-signo icônico: um perceptum “sem referência pode ainda ser interpretado como signo
ou […] um signo sem objeto não representa um paradoxo semiótico?” (NÖTH, SANTAELLA,
1998, p. 145). Para Peirce não há contradição porque pode haver a auto-representatividade
do signo: um signo pode ser signo de sim mesmo. (eis uma possibilidade hipotética a q
Peirce denomina Signo Degenerado, em oposição ao Signo genuíno).
Sin-signo icônico = ícone cujo veículo do signo é singular ou individual (ex: marca do pintor
em sua pintura – action painting – Jackson Pollock – vestígios do meio, dos instrumentos e
da mão. Outro exemplo: objet trouvé, como urinoir de Duchamp, ao retirar do contexto,
percebem-se as marcas da escolha, da seleção)
Legi-signo icônico: veívulo do signo é definido por uma regularidade (qualidade como
regularidade: simetria, harmonia, tensão, contraste, oposição, forma geométrica ou
complementaridade cromática. Ex: construtivismo. Mondrian)
Quali, sin e legi-signos icônicos demonstram como pode haver uma semiótica sem uma
semântica!
Para Peirce, “o objeto de uma representação pode ser qualquer coisa existente, perceptível,
apenas imaginável, ou mesmo não siscetível de ser imaginada (CP2.232)”. (NÖTH,
SANTAELLA, 1998, p. 159)
“no caso da simulação a imagem também é uma representação, ou melhor, é friuto de uma
série de representações.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 160) (ex: equações algébricas –
traduzidas em pontos de luz na tela = representação de modelo; imagem sensível na tela =
tipo de representação indicial da relação ponto a ponto do valor numérico com o pixel;
imagem na tela é uma das representações icônicas possíveis do modelo que a gerou).
“[…] trata-se, antes de tudo, de determinar o modo como as imagens são materialmente
produzidas, com que materiais, instrumentos, técnicas, meios e mídias. […] nenhum
processo de signo pode dispensar a existência de meios de produção, armazenamento e
transmissão, pois são esses meios que tornam possível a existência mesma dos signos
[…]”(NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 162)
“O negativo, captação da luz é, paradoxalmente, pura sombra, rastro escuro à espera da luz
que só será restituída na revelação. A imagem revelada, por seu turno, é sempre um duplo,
emanação direta e física do objeto, seu traço, fragmento e vestígio do real, sua marca e
prova, mas o que ela revela, sobretudo, é a diferença, o hiato, a separação irredutível entre
o real, reservatório infinito e inesgotável de todas as coisas, e o seu duplo, pedaço
eternizado de um acontecimento que, ao ser fixado, indiciará sua própria morte. No instante
mesmo em que éfeita a tomada, o objeto desaparece para sempre.” (NÖTH, SANTAELLA,
1998, p. 165)
“Antes de ser uma imagem visualizável, a imagem infográfica é uma realidade numérica […]
A imagem numérica é uma imagem em perpétua metamorfose, oscilando entre a imagem
que se atualiza no vídeo e a imagem virtual ou conjunto infinito de imagens potenciais
calculáveis pelo computador.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 166)
“Embora as imagens que a tela permite visualizar sejam altamente icônicas […] tudo que se
passa por trás da tela é radicalmente abstrato.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 167)
Arlindo Machado (Máquina e imaginário. O desafio das poéticas tecnológicas. São Paulo:
Edusp, 1993) afirma que “A moderna ciência da computação denomina modelo um sistema
matemático que procura colocar em operação propriedaes de um sistema representado. O
modelo é, portanto, uma representação formal – e, como tal, passível de ser manipulado,
transformado e recomposto em combinações infinitas – que visa funcionar como a réplica
computacional da estrutura, do comportamento ou das propriedades de um fenômeno real
ou imaginário. A simulação, por sua vez, consiste basicamente numa ‘experimentação
simbólica’ do modelo.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 167)
MEIOS DE PRODUÇÃO
PRÉ-FOTOGRÁFICO FOTOGRÁFICO PÓS-FOTOGRÁFICO
expressão da visão via mão Autonomia da visão via Derivação da visão via
próteses óticas matriz numérica
Pixels na tela
“[…] o meio de armazenamento nas imagens artesanais coincide exatamente com esse
suporte. […] No paradigma fotográfico […] A imagem passou […] a ganhar em eternidade o
que perdeu em unicidade, pois um negativo é passível de ser revelado, ser reproduzido a
qualquer momento. […] No caso das imagens pós-fotográficas […] entramos, na infografia,
dentro do universo do disponível (Plaza, 1994), um universo que sofre muito pouco as
restrições do tempo e do espaço.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 169).
MEIOS DE ARMAZENAMENTO
NATUREZA DA IMAGEM
IMAGEM E MUNDO
PAPEL DE RECEPTOR
“[…] as imagens videográficas não se soltaram do fotográfico porque são ainda imagens por
projeção, implicando sempre e preexistência de um objeto real cujo rastro fica capturado na
imagem.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 176)
Para que a holografia passasse do pré-fotográfico para o fotográfico seria necessário que
“tivesse se desprendido da servidão ao objeto preexistente, o que ela não fez inteiramente”.
(NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 177). Entretanto, seu modo de armazenamento já evidencia
características pós-fotográficas. “ Mais prudente seria, pois, considerar a holografia numa
zona intersticial entre o fotográfico e o pós-fotográfico.”. (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p.
178)
“[…] o percurso da arte moderna, que se estendeu, pelo menos, de Cézanne a Mondrian,
no seu objetivo progressivamente perseguido de ruptura da dependência da imagem aos
objetos do mundo, fez a transição do paradigma fotográfico ao pós-fotográfico.” (NÖTH,
SANTAELLA, 1998, p. 178)
“[…] podemos ver que, quando os artistas da arte moderna [Melevich, Braque, Duchamp,
Magritte] obstinada e progressivamente buscaram a independência da imagem dos objetos
do mundo, eles estavam radiografando o futuro.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 183)
“[…] o significado da palavra síntese, nas imagens de síntese, pode certamente apresentar
duas acepções: de um lado, a idéia de modelagem e síntese numérica, de outro, a idéia de
síntese dos três paradigmas. De fato, o que caracteriza o paradigma pós-fotográfico é sua
capacidade de absorver e transformar os paradigmas anteriores. Não há hoje imagem que
fique à margem das malhas numéricas.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 186)
Para cada paradigma, há 4 níveis de que depende todo e qualquer tipo de processo sígnico
ou de linguagem: (1) meios de produção, (2) meios de conservação ou armazenamento, (3)
meios de exposição, transmissão ou difusão, (4) meios e modos de recepção (percepção,
contemplação, observação, fruição ou interação)
Tem sido muito discutida a transposição do discurso psicanalítico para fora de seu próprio
campo: o do inconsciente ou do sujeito inconsciente (Lacan). Entretanto, “Lacan literalmente
afirmou que esses três registros […] são os registros essenciais da realidade humana,
chamando-os também de categorias conceituais, com o que ele parece ter fornecido um
argumento para a postulação de uma universalidade desses registros. […] Numa outra
passagem […] Lacan (apud Balat 1988) citou C. S. Peirce, dizendo que é dentro da mesma
visão da lógica relacional e triádica peirceana que seus registros se definem” (NÖTH,
SANTAELLA, 1998, p. 188)
“O imaginário é, sem dúvida, o registro que mais proximamente se localiza dos problemas
da imagem. Esse é basicamente o registro psíquico correspondente ao ego (ao eu) do
sujeito, cujo investimento libidinal foi denominado por Freud de narcisismo. ‘O eu é como
Narciso: ama a si mesmo, ama a imagem de si mesmo […] que ele vê no outro” (QUNINET
apud NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 189)
“[…] As analogias da imagem pré-fotográfica com o imaginário estão […] expressas […] na
relação, quer idílica, quer conflituosa, que a imagem artesanal mantém com a natureza do
corpo. […] essa imagem implica a co-presença do corpo […] e do objeto ou coisa a ser
projetada em uma superfície através da imaginação do artista. Entre o espelho e a
miragem, ela é sempre fruto de um olhar transfigurador, capaz de projetar uma imagem de
mundo: algo disperso que se configura numa unidade ideal, numa totalidade unificada.”
(NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 190)
“[…] o real lacaniano […] emerge como aquilo que do imaginário inevitavelmente sobra
como resto e que o simbólico é impotente para capturar. […] [Então,] como se efetua para o
ser falante a adequação do mundo imaginário com o mundo real na economia psíquica?
Ora, é exatamente esse entrechoque entre o imaginário e o real que o paradigma
fotográfico inaugurou. […] Há um descompasso, uma defasagem entre o ritmo do mundo,
matéria vertente do vivido, e a capacidade do registro. A febre da vida não cabe em
imagens. Sob as vestes da imagem, algo cai. Esse algo é o real, que resiste na sua
irredutibilidade” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 190)
“A diferença entre uma verdadeira simulação ilusória, uma genuína mentira visual e uma
mera brincadeira está na dimensão pragmática da mensagem fotográfica.” (NÖTH,
SANTAELLA, 1998, p. 200)
“Na língua, somente sentenças, e não palavras individuais, podem ser verdadeiras ou
falsas” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 200)
“Em sua busca de um equivalente pictórico para as proposições verbais, Fodor comete o
erro de projetar a linearidade da linguagem no domínio visual, onde, ao contrário, a
simultaneidade é o princípio estrutural que relaciona os elementos remáticos em questão.”
(NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 202)
Gombrich e Fodor usam o argumento da vagueza dicente para dizer que “as mensagens
pictóricas são tão ambíguas, vagas e polissêmicas que elas não servem para provar
qualquer verdade ou falsidade.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 204)
“Sempre que signos possam ser usados para asseverar a verdade, também podem ser
usados para enganar. […] tanto as mensagens verbais quanto as pictóricas devem ser
interpretadas dentro de seu contexto mais amplo.”
“Sebeok (1986), por exemplo, mostrou que mentir não está, de maneira alguma, restrito à
semiose verbal, uma vez que isto acontece mesmo entre os animais, e a semiótica das
imagens tem feito avanços ao investigar imagens como um sistema de signos autônomo em
relação à linguagem verbal.” (NÖTH, SANTAELLA, 1998, p. 208)