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Som e Tempo

Som e Tempo
Tempo

Os físicos às vezes dizem medir o tempo. Servem-se de fórmulas


matemáticas nas quais o tempo desempenha o papel de um quantum
específico. Mas o tempo não se deixa ver, tocar, saborear
nem respirar como um odor. Há uma pergunta que continua à
espera de resposta: como medir uma coisa que não se pode
perceber pelos sentidos? Uma “hora” é algo invisível. (Elias, 1998:
7)
Som e Tempo
Presente - Instante

Todo instante é um desafio: exige que eu tome posição em relação às


coisas que sobre mim se precipitam. Todo instante exige que eu
compreenda e apreenda as coisas para escolher dentre as
oportunidades quase infinitas que elas oferecem, uma única,
recusando todas as demais... (Pelegrini, 2005: 131)
Som e Tempo
Tempo Objetivo

A expressão “tempo” remete a esse relacionamento de posições ou


segmentos pertencentes a duas ou mais sequências de acontecimentos em
evolução contínua. Se as sequências em si são repetíveis, relacioná-las
representa a elaboração dessas percepções pelo saber humano. Isso
encontra expressão num símbolo social comunicável – a ideia de
“tempo”, a qual, no interior de uma sociedade, permite transmitir de um ser
humano para outros imagens mnêmicas que dão lugar a uma experiência, mas
que não podem ser percebidas pelos sentidos não perceptivos. (Elias, 1998: 13)
Som e Tempo
Tempo Objetivo

nasce da necessidade de superação do tempo da sensação, do


presente perceptivo: “a morte é a limitação do tempo subjetivo. Sobre
essa interferência do 'de todo diferente' criamos uma realidade
ordenadora, um sistema simbólico capaz de relativizar o caos e
transformar a entropia numa ordem natural digerível.”
(Pelegrini, 2005: 131)
Som e Tempo
Tempo Objetivo > Origem no Mito

para Morin: nas primeiras culturas neandertais: “suas concepções mítico-


religiosas ajudaram a grafia do tempo como textos culturais
mais adequados para o propósito básico de sua criação”. (Pelegrini,
2004: 2)
Som e Tempo
Tempo Objetivo > Tempo Cíclico (Circadiano)

A capacidade de decifrar o tempo natural dá origem ao tempo


cíclico dos primeiros calendários e das primeiras formas de
organização temporal. Tempo como percepção de ritmos
relativamente repetíveis.
Som e Tempo
Tempo Objetivo

algumas invenções humanas foram essenciais na evolução do tempo objetivo:


- o alfabeto e sua versão escrita (criando unidades uniformes para descrição
de toda e qualquer coisa existente);
- a roda (e sua capacidade de percorrer maiores espaços e demarcar
territórios);
- o relógio mecânico (que associado ao sino da igreja, passa a ditar o ritmo
comunitário da vida na Europa Ocidental). (Mcluhan, 1971: 168)
Som e Tempo
Tempo Objetivo

Considerado do ponto de vista sociológico, o tempo tem uma função de


coordenação e integração. (Elias, 1998: 45)

a sincronização de seu comportamento com relógios e calendários foi


levada a tal ponto que, efetivamente, eles passaram a sentir sua
consciência do tempo como um componente misterioso de
sua própria natureza, ou a sentir o tempo reificado como um dom
divino. (Elias, 1998: 68-69)
Som e Tempo
Tempo Objetivo

forte camada de abstração entre o ritmo humano e os ritmos


biológicos e naturais:
- maior precisão e uniformidade temporal cria um universo
numericamente quantificado e mecanicamente acionado > fruto das
unidades visualisáveis e uniformes de tempo
- criação da linha de montagem
- grande surto de impaciência humana > sécs. XX e XXI
(McLuhan, 1971: 168)
Som e Tempo
Tempo

é difícil pensar e falar de um modo que não implique tacitamente que o


tempo físico, o tempo biológico e o tempo social ou
experiencial existem lado a lado, sem nenhuma ligação natural.
(Elias, 1998: 79)
Som e Tempo
Tempo Subjetivo

a experiência do tempo subjetivo se dá com a “recusa à futuração, tem a ver


com a experiência do homem como presença que se lança contra o futuro para
transformá-lo em passado” (Flusser apud Pelegrini, 2004: 5)

Essa vivência depende de um empirismo que nega o planejamento, o a priori, a


futuração - traço marcante do tempo mecânico que “aniquila o futuro, porque
elimina o terreno da experiência imprevisível, e portanto elimina o
sentido da vida.” (Pelegrini, 2004: 5).
Som e Tempo
Som como movimento

O ouvido, grosso modo, analisa, trabalha e sintetiza mais depressa que a


vista. (...) Em um primeiro contato com uma mensagem audiovisual, a
vista é mais hábil espacialmente e o ouvido
temporalmente. (...) O ouvido escuta por pequenas amostragens,
e o que é percebido e memorizado consiste em breves sínteses de
dois a três segundos da evolução do som, formando Gestalt globais.
(Chion: 2007, 21 a 23)
Som e Tempo
Som no Audiovisual

em muitos casos os ritmos da montagem, dos movimentos


dentro da imagem, e do som não existem separadamente. O
som geralmente acompanha movimentos e com freqüência continua
ao longo dos cortes. O som pode motivar o movimento de
figuras ou mesmo da câmera. Portanto, existe um considerável
potencial de interação entre estes três tipos de ritmo. Nenhuma
combinação “apropriada” existe. (Bordwell & Thompson: 1985)
Som e Tempo
Som no Audiovisual

[Um] exemplo de coordenação próxima entre o movimento na tela e o


som vem dos filmes em animação de Walt Disney nos anos 1930;
Mickey Mouse e os outros personagens com freqüência se movem
em sincronização exata à da música, mesmo quando não
estão dançando. (Esta combinação não-dançante de movimento com
música na verdade ficaria conhecida como Mickey Mousing.”)
(Bordwell & Thompson: 1985)
Som e Tempo
Som no Audiovisual

- tempo de visão: a duração física do filme – o tempo que a película


leva sendo projetada.

- tempo de história: o tempo presumido para se passar a ação do


filme. Os eventos podem cobrir alguns anos na vida dos personagens
(tempo de história). (Bordwell & Thompson: 1985)
Som e Tempo
Três aspectos da temporalização

- animação temporal da imagem: a percepção do tempo da


imagem se faz, pelo som, mais ou menos fina, detalhada, imediata,
concreta ou, pelo contrário, vaga, flutuante e ampla;

- linearização temporal dos planos: sucessão (ou não) temporal-


cronológica;

- vetorização: orientação em direção a um futuro, um objeto, criação


de um sentimento de iminência e expectativa. (Chion:2007, 24)
Som e Tempo
Som, tempo e espaço

Diegése Deslocada – flashback e flashforward

Som antes da imagem: “O som diegético fora de lugar pode nos


lembrar uma cena anterior através da repetição do som daquela cena
enquanto as imagens na tela permanecem no presente.”

Som à frente da imagem: “O som diegético fora de lugar também


pode ocorrer à frente das imagens. Provavelmente o uso mais familiar
desta categoria é o narrador que conta uma história acontecida no
passado.” (Bordwell & Thompson: 1985)
Som e Tempo
Som, tempo e espaço

Diegése Deslocada – som de ligação

Sons de ligação criam transições, uma vez que vemos uma imagem,
digamos, de um rosto de uma pessoa, mas escutamos o que parece
um som inapropriado, talvez o de uma banda tocando. Então um corte
revela um novo local e tempo, e logo percebemos a banda que
era a fonte de música. Uma vez que o som pertence à cena futura, o
momento antes do corte utiliza som não-simultâneo. (BORDWELL &
THOMPSON: 1985)
Som e Tempo
Eixos Temporais: Horizontal vs Vertical

- Relação de Harmonia ou Contraponto entre som e imagem

- Dissonância Audiovisual

- Não existência de uma unidade específica de montagem sonora (a


imagem possui unidades razoavelmente bem definidas: plano, cena,
sequência)

- Fluxo sonoro: lógica interna e lógica externa. (Chion:2007, 41 a 50)


Som e Tempo
Referência Bibliográfica
CHION, Michel. La audiovisión: Introducción a un análisis conjunto de la imagen y el sonido.
Barcelona: Paidós Comunicación, 2007.

BORDWELL, David & THOMPSON, Kristin. Fundamental Aesthetics of Sound in the Cinem a –
Theory and Pratice. New York, Columbia University Press, 1985.

ELIAS, Norbert. Sobre o Tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

PELEGRINI, Milton. O tempo como mídia na cultura, Revista Grebh-. São Paulo: v. 5, 2004.

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Ed.
Cultrix, 1971.

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