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Questão Dubois

Aluna: Mariana Corrêa.

1 - Explicar porque o autor percebe uma perda do “discurso ontológico”, ou seja, da


identidade de origem, do cinema com o surgimento dos fenômenos de escrita do vídeo e
das demais tecnologias da imagem. Para tanto, lembre das formas que constituem o
discurso cinematográfico: planos, atores, elipses, cortes, mise-en-scène e outros e também
do suporte original do cinema, a película.

R: Para entender o que o autor compreende como discurso ontológico, é importante


saber que ontologia, na filosofia, é o ramo que estuda a natureza do ser. Logo ao aplicar
este conceito no cinema, o estudo é em relação à natureza do cinema e de sua linguagem.
É importante perceber o cinema e o vídeo não necessariamente como linguagens que se
opõe, mas como interpenetrações (fusão, combinação). Para justificar a linguagem
cinematográfica ainda “pura”, Dubois cita o cinema dos anos 20, que seguia a vertente do
burlesco (leveza do ser, defasagem dos corpos, relativa inocência) e a vertente das
vanguardas (pesquisa expressiva, inventividade formal e experimentação total com os
materiais mesmos do cinema). Este cinema era movido pela pesquisa de dispositivos de
escrita, pois logo no início a linguagem ainda não havia sido normatizada nos códigos
clássicos hollywoodianos.
As décadas de 50 e 60 representam o fim do cinema clássico e início do cinema
moderno. Neste período que a televisão se instala e começa a buscar suas marcas,
inventar seus próprios dispositivos. A televisão necessitava de um número maior de
câmeras e encenações “ao vivo”, o cinema adapta alguns destes dispositivos para sua
linguagem, e desta forma sua ontologia (estado puro) acaba se quebrando.
Dubois cita o travelling como movimento "propriamente cinematográfico” (DUBOIS,
2008, p. 185), “O cinema não só mostra o movimento como também o encarna. Estaria aí
sua identidade”. Nesse caso, a identidade visual foi definida a partir do movimento do olho
do espectador com a coerência da escolha de movimento para com a cena do filme. Este
cinema oitentista, considerado a fase “pós-vídeo” recria um ritmo já existente, cuja visão do
espectador reconhece. Os conceitos estéticos do cinema interagem com a linguagem do
vídeo e juntos eles criam uma “base orgânica (segundo Dubois). Ao pensar nos efeitos de
escrita no vídeo e no cinema pode se pensar em dois grupos principais: Trabalho da
Imagem e Encenação da Linguagem. Neste sentido o cinema contemporâneo se
transformou, de certa forma em um “efeito vídeo”, que retorna com algumas estéticas como
a câmera lenta, a imagem congelada, deformações ópticas e cromáticas, referências visuais
à outras artes (principalmente música e pintura). A relação da câmera com o espaço se
altera, por conta da maior liberdade dos realizadores. A partir deste momento, além do
espectador observar a imagem de uma maneira realista, é possível entrar nela, fazer parte
do movimento.

2 - Citar e comentar exemplos de filmes que você conhece onde é flagrante a presença dos
dois efeitos de escrita entre cinema e vídeo apontados pelo autor: da ordem do trabalho da
imagem e da retórica televisiva.
R: As linguagens do cinema, do vídeo e da televisão formam diferentes produtos, para
todos os tipos de públicos. Todos já deixaram sua “forma pura”, já sofreram alterações, mas
muitas das características da forma clássica permanecem. Mesmo que sejam constituídos
de linguagens diferentes, e que tenham diferentes propostas, muitas vezes essas três
formas audiovisuais se encontram, principalmente por terem a mesma origem. A retórica
televisiva constitui nesse conceito, filmes atuais que possuem a narrativa própria do cinema
e não abusam de cortes bruscos e efeitos, como Projeto Flórida (2017), dirigido por Sean
Baker, que contém uma última cena gravada em um iPhone. Já Tangerina (2015), do
mesmo diretor, mostra uma quebra com os dispositivos tradicionais, sendo filmado
inteiramente com um iPhone, um exemplo da ordem do trabalho da imagem. O
curta-metragem night fishing do diretor sul coreano, Park Chan-wook é outro exemplo de
produto gravado inteiramente com um iPhone; ele apresenta uma série de recursos
videográficos (principalmente no início em que apresenta uma música e seus
instrumentistas, como em um videoclipe), mas no geral a linguagem é muito híbrida,
apresentando até mesmo planos em preto e branco e cenas com linguagem bem
semelhante à do cinema clássico.

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