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Programa de Pós-graduação em Dança – UFBA

Disciplina: Laboratório em Dança


Docente: Dra.ª Daniela Bemfica Guimarães
Discente: Roberto Basílio Fialho

Atividade sobre o parágrafo do texto “Por que denominar como filme aquilo que surge
da interação dança e audiovisual? de Daniela Bemfica Guimarães.

A palavra ‘videodança’, foi escolhida por nós para identificar o tipo de


obra e pensamento que irá nos conduzir no trajeto da pesquisa, entendemos
que também existem outras grafias em português como vídeo-dança, vídeo
dança ou dança para a tela, entre outros.

Neste momento queremos propor que todas estas nomenclaturas possam ser
compreendidas como distintos pontos de vista autoral porque parecem revelar
também o autor e seu ponto de partida para a realização estética.
Para nós é sempre positivo e importante a diversidade na produção de distintas
grafias, diz muito sobre o modo diverso como tem se desenvolvido o campo da
pesquisa entre Dança e Audiovisual, seja na produção estética ou conceitual.

Em outros idiomas essa discussão sobre a nomenclatura também vai longe,


assim, consideramos que para o bem fluxo criativo natural ás artes da
diversidade na produção artística e em respeitos a todos artistas que se
envolvem nesse segmento, acreditamos que essa diversidade deva existir
sempre, como um campo de pesquisa aberto sempre a novas trocas e
experiências.
Todas estas nomenclaturas apontam para a os frutos da convergência
no fazer artístico entre Dança e Cinema, elas pretendem identificar algum tipo
de particularidade no produto estético desta relação que na maioria das vezes
é um filme-dança, filmedança, filme dança, ou seja, um filme de dança. A
artista e pesquisadora Dra.ª Daniela Guimarães reforça essa perspectiva
quando afirma que(..)

O termo “filme” é amplo, engloba todas as necessidades, conversas,


ajustes e encontros possíveis entre a Dança e a linguagem
Audiovisual. É amplo porque abarca a inter-trans-disciplinaridade,
porque não coloca as linguagens uma contra a outra, mas as entende
na interação, na mistura, pelo hibridismo. (Guimarães, p. 23/24. 2020)

Os termos técnicos da linguagem audiovisual postulados pelo Cinema,


foram apropriados e transformados pela estética vídeo, por isso, entendemos
que a videodança é um filme de dança, mas que não se obriga a agregar à
forma narrativa, na qual, o cinema se estabilizou como linguagem artística.
Talvez, a forma como o vídeo se adapta a outras linguagens seja uma das
características mais potentes que o vídeo possibilita, porque ele, o vídeo, tanto
como produto estético ou artefato, nunca é dissolvido por completo nas outras
linguagens, sempre atualizado em seus distintos usos.
Ao nomear de videodança à prática que nos interessa nesta pesquisa,
selecionamos também nossos pares para dialogar e o tipo de conhecimento
com o qual dialogamos para tecer nossas conjecturas.

Esse aspecto, está marcado nas artes em dois períodos históricos


importantes para nós, o primeiro se refere às vanguardas europeias do início
do século XX e posteriormente na erupção da pós-modernidade artística
estadunidense na década de 1960.
Esses movimentos, em seus distintos períodos, criaram novos contextos
e oportunidades para emergisse diferentes configurações estéticas em artes
em que o espaço físico passa a ter um certo protagonismo na obra de arte,
seja por participação interativa ou na fruição da obra, como Instalação Artística,
Performance, Videoarte, Art Land ou Videodança. Todos esses exemplos,
mostram diferentes maneiras de abordar o espaço nas artes que emergiram no
século XX, período importante também para pensarmos na expansão da cena
de dança, de teatro e das artes do corpo em geral; no momento que o edifício
teatral já não era a única opção para abrigar a cena artística, na verdade foi um
movimento priorizou outros espaços para a cena pós-moderna, mas, seja ela
qual for, o pensamento cenográfico é expandido nesse contexto e passa propor
outras relações com o espaço cênico, diferente da relação com a caixa cênica.
Parece que a compreensão de cenografia contemporânea em obras de
videodança que buscamos se localiza na interação dessa relação.

Philippe Dubois1, um importante pensador da imagem audiovisual


contemporânea, questiona em seu livro: Cinema, vídeo e Godard (2004) se
“existe uma estética videográfica?” Ao propor este questionamento ele também
apresenta indiretamente as tensões conceituais e técnicas que estão implícitas
na estética do vídeo. Do ponto de vista da cenografia essas tensões
apresentadas nos estimulam a (re)pensar sobre toda a estrutura de
composição visual da imagem cênica, porque sabe-se que a cenografia, dentre
os elementos visuais da cena, é uma prática com mais de três mil anos e nos
interessa saber como a videodança, um tipo de obra que emerge das novas
práticas deflagradas pela cultura digital, atualiza esse
pensamento/prática/estética, vejamos primeiro o que o diz Dubois:

Comecemos, pois, pela imagem-vídeo, face mais visível deste nosso


Janus. Nos discursos acerca do vídeo, quase sempre se fala de sua
imagem em termos importados de outros domínios. Costuma-se
recorrer ao léxico que caracteriza esta “grande forma”, bem
estabelecida de imagem-movimento que é o cinema. Nas críticas, nas
revistas e nos catálogos, desde que se fale de uma imagem de vídeo,
usam-se termos como plano, montagem, corte (de olhar, de
movimento), espaço off (fora de campo), voz off, close, campo/contra-
campo, ponto de vista, profundidade de campo etc. Todo vocabulário
forjado para se falar de imagem cinematográfica acaba sendo
1
Professor no departamento de Cinema e Audiovisual da Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3 e
membro sênior do Instituto Universitário da França (IUF); um dos principais pesquisadores da atualidade
sobre a estética da imagem audiovisual.
transposto, tal e qual, sem maiores cautelas, como se esta
transposição não apresentasse problema. Como se pudéssemos
pensar a imagem eletrônica por meio dos conceitos (e dos filtros, e da
linguagem em si) do cinema. Como se não houvesse diferença entre
ambos. DUBOIS (p. 74/75, 2004).

Esse trecho do texto de Debois nos chama atenção para o fato de


compreendermos que as práticas em visualidades cênicas devem ser
pensadas de um outro modo e não como no teatro, no cinema ou na televisão
porque estas se fundamentam em seus espaços arquiteturais e artefatos com
objetivos e modos próprios de operar. A cenografia que pretendemos refletir
ganha outros contornos O que estamos propondo é que para pensarmos em
cenografia na cena de videodança, iremos buscar apoio conceitual a partir dos
pressupostos que a imagem videográfica carrega assim como indica Dubois na
citação acima, mas olha que interessante, ao mesmo tempo que reivindica
novos modos de abordagem para produção de imagens videográfica, se utiliza
da linguagem audiovisual para obter êxito na realização de imagens.

Bibliografia

GUIMARÃES, Daniela B. Por que denominar como filme aquilo que surge da
interação dança e audiovisual? (In) Dança e Tecnologia: quais danças estão por vir?/
Sergio Ferreira do Amaral; Maria Fernanda Elisa Volpi; Mônica Cristina Garbin,
Organizadores, - Salvador /; ANDA, 2020, - 292, IL. – (Coleção Quais danças estão
por vir? Trânsitos, poéticas e políticas do corpo, 5);

DUBOIS, Philippe. Cinema, Vídeo, Godard / Philippe Dubois; Tradução Mateus Araújo
Silva – São Paulo: Cosac Naify, 2004 – (Coleção cinema, teatro e modernidade).

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