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Esta é uma forma abreviada e popular para indicar o corpo de dança estável do Teatro Castro Alves,
ou seja, o Balé do Teatro Castro Alves.
o cinema e traz situações que remetem ao cotidiano da cidade de Salvador, mais
especificamente à memória da cidade impregnada naqueles corpos. O filme aborda
a cidade como local/cenário de sonhos, devaneios, corporalidades, historicidades,
religiosidades, urbanidade, realidades e diversidade, a partir das memórias e
experiências vividas por aqueles corpos. São danças que transitam entre o cotidiano
da companhia e a individualidade dos corpos, em imagens que só o audiovisual é
capaz de produzir, por conta dos ângulos, trajetos e recortes. Trata-se de uma obra
coreográfica e documental que celebra os quarenta anos de atividades ininterruptas
do grupo e a volta ao ofício, o dançar junto, coletivamente, num momento incerto
sobre o final da pandemia.
A terceira obra se chama “RESTO no tempo, no silêncio, na escuta”. Trata-se
de uma obra coreográfica que aconteceu no dia 8 de dezembro de 2021, por meio
da plataforma Zoom. Conforme relato da coreógrafa dessa obra, Daniela Guimarães
(que também é orientadora desta pesquisa), a obra foi pensada como solução de
criação de uma obra de dança no momento pandêmico. Essa obra foi realizada por
dezesseis dançarinos de várias cidades brasileiras, mas cada um deles estava em
sua casa e de lá enviavam imagens que eram selecionas durante os quarenta
minutos em que acontecia a obra. Sem nunca deixar apenas um dançarino em
destaque, a edição selecionava duplas, trios, quartetos ou o grupo inteiro e, assim, a
obra ia acontecendo. Como foi uma obra produzida para ser vista em tempo real 2,
todos os dançarinos estavam atuando durante todo o tempo de quarenta minutos, e
a edição fazia a composição da obra ao selecionar a cena que foi mostrada. Sobre
essa obra foi importante saber que, durante os ensaios, os próprios dançarinos
escolheram em que ângulo suas câmeras iriam se posicionar para mostrar o espaço
cenográfico, conformado a partir de suas próprias residências. Para organizar essa
obra no tempo e espaço, a coreógrafa propôs aos dançarinos transformarem suas
casas num set3 de filmagem. Ela também explica que os artistas já tinham câmera
filmadoras e que, em uma das casas, havia seis aparelhos celulares em transmissão
simultânea. Ao todo, foram usadas, simultaneamente, quarenta e oito câmeras. A
edição da seleção das cenas que foram ao ar também foi feita em tempo real. Então,
os espaços cenográficos das casas eram as salas, cozinhas, corredores, banheiros
2
Tempo em que a obra é realizada.
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Ambiente específico preparado e produzido para que aconteçam filmagens cinematográficas ou
videográficas.
e quartos, e os ensaios servia mais para buscar uma luz cinematográfica e o
posicionamento do ângulo de captura das imagens.
Nestas três obras o espaço cenográfico tem um papel importante na
concepção do corpo, da dança e da dramaturgia presente na obra. Elas foram
selecionadas para o corpus de pesquisa por apresentarem tipos de espaços
possíveis para a criação em dança, no momento em que a Organização Mundial de
Saúde recomendou o distanciamento/isolamento social por causa da pandemia da
Covid-19. Os espaços que aparecem nestas obras são: a paisagem com ênfase na
natureza ao ar livre; a cidade com máscaras e tensões próprias da urbanidade; a
casa como um lugar de particularidades e intimidade.
É prioridade deste projeto de Dança refletir sobre as relações entre espaço
cenográfico, dramaturgia, o corpo e audiovisual para propormos estratégias de
compreensão sobre a cenografia em obras de videodança.
Neste momento não tenho muitas certezas, mas me desloco da premissa de
que é por meio de um entendimento específico de dramaturgia como um possível
modo de organizar a cena em videodança poderá dar sentido ao espaço cênico para
nossa compreensão de cenografia. As configurações que surgem da relação da
dança com o audiovisual são processos de uma dança expandida, em que corpo e
ambiente estão co-implicados – é a partir dessa co-implicação, então, que propomos
pensar a dramaturgia. (2012, p.16), “trata-se de um entendimento de Dramaturgia
revisitado e expandido pelos pressupostos contemporâneos de corpo, tempo e
espaço, que se articulam pelas novas ações no mundo e na cena” Guimarães (2012,
p.16).
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