Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
Análise de planos de sequência do Primeiro Capítulo: Era uma vez na França ocupada por
nazistas, do filme Bastardos Inglórios, obra do cineasta contemporâneo Quentin Tarantino, diretor de
diversos filmes aclamados pela crítica e vencedores de prêmios como Django Livre (2012) e Pulp
Fiction - Tempos de Violência (1994). Bastardos Inglórios é um projeto que ele tentava colocar na tela
desde a década de 1990, logo após terminar Jackie Brown e antes de Kill Bill, e é inspirado na
produção italiana Assalto ao Trem Blindado (Cuel Maledetto treno Blindatto, 1978) de Enzo Castellari,
que recebeu o título de "Inglorious Bastards" no mercado anglo saxão. Em 2008, Tarantino decidiu
filmar a obra para estreá-la no festival de Cannes de 2009, ou seja, menos de um ano de prazo para
produção, fato que parece não ter atrapalhado, com um orçamento estimado em 70 milhões de dólares,
foi a maior bilheteria do diretor à época, com uma arrecadação de 321 milhões e 8 indicações ao Oscar.
O enredo é ambientado na Segunda Guerra, dividido em capítulos e apresenta duas histórias que
posteriormente irão se unir, a sequência analisada mostra a visita de Coronel Hans Landa (Christoph
Waltz), o caçador de judeus, a uma fazenda no interior da França ocupada em 1941, lá ele descobre que
o fazendeiro (Denis Ménochet) esconde em seu assoalho uma família judia, uma chacina então ocorre,
porém Shosanna (Mélanie Laurent) consegue escapar.
A montagem é um dos pontos fortes do filme, traça linhas narrativas bem amarradas e
delineadas, mostrando diferentes pontos de vista e fazendo um encontro entre eles no fim do filme, a
Fotografia, também é muito eficiente enquanto linguagem e o aprimorado uso do extra-campo e
profundidade de campo fazem desta uma excelente obra cinematográfica. A trilha sonora, homenagem
ao western ou faroeste norte americano com a inclusão de temas resgatados da carreira do compositor
vencedor de Oscar, Ennio Morricone, dentre outras é surpreendente sua versão western de Für Elisa de
Beethoven: The Veredict. Apesar de ter como base acontecimentos da Segunda Guerra, está longe de
ser um filme de história, com escalpelamentos de nazistas e um final bem diferente da realidade, o que
segundo o diretor "você põe um filme para assistir e sabe como as coisas vão acontecer na maioria das
vezes, mas de vez em quando surge um que não segue as regras. É libertador quando você não sabe o
que vai acontecer em seguida".
O cineasta utiliza muito o recurso metalinguístico do um filme dentro do próprio filme, mostra
detalhes sobre a produção de filmes na década de 1940 e, por fim, com o capítulo final "A Vingança do
Rosto Gigante" faz Shosanna e o cinema se vingarem do nazismo em uma convergência genial dos
objetivos e destinos dos personagens, o encontro da mágoa, desejo de vingança e reparação de todo um
povo com o da própria arte cinematográfica, realizando o desejo de muitas pessoas, inclusive dos
espectadores. No diálogo entre o entretenimento e a violência, o filme é uma catarse de todo um povo,
vinga o Holocausto e coloca o espectador para pensar sobre seu próprio prazer sanguinário. Ao final,
Aldo Raine (Brad Pitt) após realizar uma última”obra” na testa de Hans Landa, olha para a câmera, que
representa o ponto de vista ou a subjetiva do Coronel e diz "Acho que fiz minha obra-prima", uma fala
que pode ser interpretada como sendo do diretor para os espectadores. Tarantino além de várias
homenagens e referências ao cinema, constrói a partir de sua linguagem um tipo de justiça
poética-cinematográfica, o diretor aponta que a ideia do filme poderia ser resumida em uma frase: "o
cinema como elemento capaz de mudar a história e acabar com o III Reich".
ANÁLISE PLANO A PLANO DA SEQUÊNCIA DA EXECUÇÃO DA
FAMÍLIA DE SHOSHANNA
Imagem, Som e Montagem
Plano 1 –
Plano 3 -
Plano 5 –
A escala é um close-up com ângulo frontal, normal. Cor/ Iluminação: Idem Plano 2.
Há um movimento ótico de Zoom-In. Profundidade de campo: Foco no personagem.
A Lente usada é uma Tele-objetiva. Montagem idem ao plano anterior. É criado um
diálogo, onde o Cel. Landa pergunta e o M. LaPadite responde.
Plano 7-
Cel. Landa pede para M. LaPadite apontar a área onde esconde os judeus. Duração:
5’’85’’’.
Plano 9 –
Nesse plano temos a continuação do plano anterior onde M. Lapadite aponta onde
estão escondidos os judeus ,e sendo assim se inicia uma encenação proposta por Cel.
Landa para despistá-los. Duração: 23’’
Aqui, temos o chamado plano conjunto ,onde os personagens dão sequência á sua
conversa intensa com a proposta de se fazer uma encenação para despistar os judeus ,
no mesmo ambiente dos planos anteriores, com um corte em movimento ,
sequenciando o plano antecedente , no momento em que M.Lapadite aponta onde
esconde os judeus. Com a câmera posicionada da esquerda para a direita,
acompanhando a posição em que os personagens estão sentados à mesa (mais ou
menos na diagonal ) obedecendo à regra dos 180o e permanece desse mesmo jeito
quando Cel. Landa se levanta e vai para o fundo do ambiente e se posiciona na mesma
direção de M. Lapadite, a lente grande angular se propõe fazer uma cobertura maior
do local sem alterar o enquadramento e igualmente forma com a regra dos 180o. Já
em relação a composição sonora temos somente o diálogo entre os personagens
acompanhado de uma pausa silenciosa que permite focar somente nas expressões dos
atores , que colabora para a construção de um momento de tensão
Plano 11 -
Plano 12 –
Nessa cena temos outro corte em movimento que dá sequência á encenação da saída
do Cel.Landa vista no plano anterior, e o uso do plano detalhe nos pés , que indicam
que os judeus escondidos no porão estão ouvindo seus passos. Cel. Landa finge estar
chamando as filhas de M. Lapadite , quando na verdade está se referindo a seus
homens. A porta é aberta , e no momento em que os soldados entram na casa há uma
sutil movimentação da câmera para trás e depois da direita para esquerda , ainda em
plano detalhe ,para indicar que Cel. Landa cedeu lugar para a entrada dos soldados. E
desta vez a lente utilizada é uma tele- objetiva . Idem ao plano anterior
Plano 14 -
Composta pelo plano americano e o uso da lente tele-objetiva , esta cena retrata a
entrada dos soldados com fuzis na casa da família Lapadite, a fim de exterminar os
judeus escondidos no porão. Também há uma leve movimentação de câmera da
esquerda para direita para acompanhar o deslocamento do Cel. Landa. Ainda nesse
plano podemos observar, baseado no plano posterior e através da angulação, que essa
cena se trata de um ponto de vista do M.Lapadite. Idem ao plano anterior.
Plano 15 -
Plano 16 -
Os oficiais nazistas se posiciona sobre o porão, local onde os judeus estão escondidos.
Duração: 6’’40’’’
Plano Médio do perfil de Cel. Landa acenando para os nazistas atirarem. Foco no
personagem, ponto central do quadro, em relação a iluminação tanto o interior da
fazenda como as roupas dos personagens estão bem escuras, contrastando um pouco
com o verde no exterior que sobressai pelo canto da janela visível. O som não
diegético composto pelo conjunto de cordas sobe, cada vez mais firme e inflexível.
Combinação de movimento, Cel. Landa acena para os soldados ao mesmo tempo em
que se despede.
Plano 18 -
A trilha sonora iniciada no plano 10 tem seu clímax junto ao momento de extermínio
dos judeus sob o assoalho, seu som aumenta enquanto ouvimos o barulho de tiros de
metralhadora, uma música firme. De repente a tela se ilumina com o brilho dos tiros,
em Plongée os oficiais nazistas metralham o chão, lascas de madeira e poeira voam
para todos os lados. O cinza domina a imagem, presente tanto no uniforme como na
cor da madeira do chão. O som diegético (os tiros), o não diegético (a música) e o
contraste da iluminação constroem a figura do nazista dentro da narrativa como sendo
implacável e cruel. A continuidade ainda é mantida pela narrativa, após o sinal de Cel.
Landa, um plano plongè-ponto de vista dos soldados, simbolizando a fragilidade e a
impotência das vítimas naquele momento.
Plano 19 -
Plano 20 -
Os tiros continuam, voam estilhaços e a sala está sendo preenchida de pó. Duração: 1”
20’’’
Plano 22 -
O meio primeiro plano mostra o personagem se protegendo dos tiros atrás da mesa,
enquadrando-o de um ângulo da esquerda, normal. A fonte de luz, que vem de cima
como as outras cenas passadas na mesa, misturada com as fuligens causa uma
super-exposição o que faz com que as cores da cena fiquem em tons mais claros
porém o interior da sala está bem escuro, criando um forte contraste. A cena toda se
encontra em foco, sendo assim a lente usada é uma normal. Em relação a montagem
há uma continuidade de tempo e espaço que é reforçada pela combinação de
movimento e ruído dos tiros(diegético, de arquivo e off) e da fuligem( diegéticos, de
arquivo e on-dentro da tela) do plano anterior, criando uma ponte sonora, tendo assim
um corte em movimento. Nesse plano temos som não diegético de trilha sonora, esta
que aumenta a tensão da cena.
Plano 23 -
Neste plano temos um meio primeiro plano com câmera alta que transpassa a
sensação de tensão e poder dos soldados. A fonte de luz vem da janela localizada na
diagonal à direita, os pedacinhos de madeira que voaram devido aos tiros esfumaçam
a cena e a deixam super-exposta. A cena se encontra em foco e a lente usada é a
normal. Continuidade espaço temporal, o corte da câmera em ângulo normal para uma
câmera alta tem carga dramática como dito anteriormente. Esse plano estabelece um
contra campo em relação ao plano anterior, introduzindo uma continuidade visual.
Nesse plano há continuidade da trilha sonora (não diegética).
Plano 24 -
Plano 26 -
O Primeiro plano mostra de uma Câmera baixa o rosto do personagem, que anda em
direção à câmera, esse ângulo dá a cena uma carga dramática fazendo com que o
personagem transpasse um ar intimidador e gere tensão na cena. A fonte de luz vem
da lateral direita e o foco está no personagem, lente Normal. Mantêm-se a
continuidade espaço temporal vistas nos planos anteriores e pode-se observar uma
combinação linha de olhar com o plano seguinte. Nesse plano temos apenas o som da
trilha sonora (não diegético).
Plano 27-
A imagem dessa cena é um Plano ponto de vista com Câmera alta da fuga de
Shoshanna que rasteja para o fundo da cena e é seguida por um Tilt (de baixo pra
cima). A personagem esta localizada no porão e só é possível vê-la por entre as tábuas
do chão, de onde sai uma luz forte. Tudo está em foco e a lente é uma Normal. Nesse
plano temos uma combinação linha do olhar, no plano anterior podemos observar o
personagem olhando para baixo e nesse plano vemos o que o personagem via tendo
assim um plano ponto de vista. Continuidade espaço temporal.
Plano 28 -
Cel. Landa aponta para o assoalho e identifica a silhueta vista no plano anterior como
a de Shosanna. Duração: 1’’ 40’’’.
A abertura é estourada com um chute e Shosanna sai para fora. Duração: 4’’ 60’’’.
Plano 30 -
Plano 31-
Plano 33 –
Plano 34 –
Shosanna foge ensanguentada da casa onde se escondia com sua família. Duração:
2”31”’
Neste plano podemos ver pela primeira vez o rosto da personagem Shosanna com
detalhes devido ao plano médio e ângulo perfil alto utilizados. A personagem corre da
esquerda para a direita, sempre enquadrada. A câmera acompanha seu movimento em
carrinho, sua fugida. A luz utilizada para o plano é ambiente e uma luz de
preenchimento que funciona para acrescentar os detalhes da personagem. O foco está
na personagem. Na cena o som diegético dos passos da personagem enquanto ela
corre na grama pode ser ouvido apesar de bastante abafado pela música que continua
firme e intensa.
Plano 35 –
Shosanna foge chorando, ensanguentada, da casa onde se escondia com sua família.
Duração: 2”48”’
Neste plano seguimos com a mesma fuga da personagem Shosanna, sempre
enquadrada com a câmera seguindo-a em um carrinho. Entretanto, neste plano a
escala usada é a de primeiríssimo plano, recurso utilizado para dar mais enfoque às
emoções da personagem, que chora com o rosto ensanguentado e para aumentar a
sensação de tensão da cena, que o perigo está mais perto. O foco está na personagem e
a iluminação segue o padrão do último plano, a luz ambiente e de preenchimento.
Com a aproximação do plano, dando mais detalhes ao rosto da personagem, acontece
simultaneamente uma aproximação sonora. Com a trilha sonora ainda intensa como
no corte anterior, podemos escutar melhor os passos da personagem e também seu
desespero e respiração afobada.
Plano 36 –
Cel. Landa abaixa a arma que mirava em Shosanna e diz que os mesmos se
reencontrarão. Duração: 2”35”’
Neste plano, o rosto do Cel. Landa é enquadrado em close-up com uma angulação
normal e frontal - quase como se o mesmo estivesse apontando sua arma para a
câmera - ocupando quase que a tela inteira, recurso utilizado para enfatizar a mira do
coronel. O foco está no personagem e a arma encontra-se fora de foco. A iluminação
utilizada cria um lado para a direita do enquadramento mais iluminada e um outro
mais escuro para representar o lado escuro de onde o coronel veio, de dentro da casa.
No plano em questão, a importância sonora é mais que evidente. O som não diegético
da música que até então servia para criar um ambiente de tensão e fuga é bruscamente
interrompido em sincronia com os movimentos do personagem Cel. Landa que abaixa
sua arma. A carga dramática que tal feito apresenta para a narrativa é grande, de
forma que entende-se que por enquanto a tensão passou e que Shosanna vai conseguir
fugir.
Plano 37 -
Neste plano ocorre uma quebra da tensão com relação aos últimos planos, isso porque
o coronel já abaixou a sua arma. O enquadramento em plano geral e frontal transpassa
a sensação de que a personagem vai conseguir ir para longe da casa onde se escondia
antes. A mesma segue correndo em direção à câmera até sair de enquadramento,
como se tivesse conseguido finalmente fugir.
E aqui se comprova o que ficou entendido do plano anterior, Shosanna vai sim
conseguir fugir. Estão presentes o som diegético de seus passos pela grama e também
logo ao final do plano (no momento do corte), o som em off da fala do personagem
Cel. Landa que grita: "Au revoir".
Plano 38 –
Mais uma vez um plano de enquadramento com o personagem Cel. Landa semelhante
ao plano 36, demonstrando que o mesmo continua no mesmo lugar, apenas
observando a fuga da personagem Shosanna. O enquadramento é feito em close-up
com uma angulação da câmera com relação ao personagem normal e frontal. O
Coronel grita se despedindo de Shosanna.
O corte foi feito em meio à fala do Cel. Landa. O som diegético de sua fala agora é
mais audível uma vez que está em close-up com seu falante e em quadro.
Plano 39 –
Giulia Alves
FICHA TÉCNICA DO FILME
Gênero: Ação
Ano: 2009
Cor: Colorido
Classificação: 18 anos