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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Eudler Estevão Souza do Rosário

Análise de Sequência do Filme: Her (Spike Jonze)


Análise da sequência do momento 1:27:55 ao momento 1:32:28

Belo Horizonte - Minas Gerais


2022
A sequência inicia-se com o protagonista Theodore enquadrado em plano
americano e sentado na escada de uma espécie de pátio em seu local de trabalho.
Enquanto ocorre um zoom in, ele dialoga com Samantha, a Inteligência Artificial.À
medida que o plano se aproxima de se tornar um close, o diálogo se torna mais
introspectivo e íntimo entre os dois personagens, sendo que ela fala de forma
complexa a respeitos dos seus sentimentos. Vale ressaltar que o cenário se
encontra completamente deserto em um horário noturno com cores que variam
principalmente entre tons de verde, azul e um incomodante preto, levando o
espectador para dentro da atmosfera triste que ele se encontra. O uso do plano
americano em conjunto com a ausência de outras pessoas na cena deixam em
evidência um dos principais temas do filme: a solidão humana. Haja vista que apesar
de sempre acompanhado pela IA, o protagonista passa boa parte do filme sem
interagir com outras pessoas. O diálogo acaba de uma forma feliz, com ambos
chegando a um consenso e finalmente Theodore esboça um largo sorriso satisfeito
após um momento descontraído em meio à tensão, criando assim um contraste com
as sensações que a cena passava até o momento.
Com um corte abrupto, o filme por elipse muda-se para outra cena:
novamente em plano americano, o protagonista se encontra agora sentado no em
um banco no meio de uma praça dialogando com ela enquanto pessoas em
segundo plano andam normalmente e realizam ações cotidianas, porém ele segue
sozinho em primeiro plano. As cores agora se alteram drasticamente para tons
claros e um laranja bem saturado vestido pelo personagem, trazendo uma atmosfera
mais alegre, aconchegante e familiar que trazem certo conforto apesar do filme se
passar no futuro. Samantha começa então a tocar uma música criada por ela
mesma através dispositivo pelo qual Theodore escuta a sua voz, com o intuito de
gerar uma “fotografia” deles juntos, devido ao fato de ela não possuir um corpo,
todos os sentimentos que eles compartilham poderiam ser escutados e sentidos,
brincando assim os limites da concepção humana e com o próprio espectador ao
mesmo tempo, pois a composição dela se torna um elemento extra diegético ao
passo que seu volume aumenta e ocorrem closes no rosto do personagem. O fato
da música tomar toda a trilha de áudio neste momento e não fazer mais parte
somente da narrativa, captura a quem está assistindo para dentro daquela
“fotografia” e o faz viajar por dentro de todos os sentimentos que Samantha quis
descrever através das cenas a seguir. Com a música ainda tocando, através de
cortes relativamente rápidos e elipses, são mostradas várias cenas do cotidiano do
casal, detal maneira que Theodore sempre é mostrado sozinho interagindo com ela
e sempre utilizando o plano americano: Ele caminhando pela calçada com a câmera
em zoom out, na sacada de seu apartamento observando a cidade ao entardecer
em zoom in, analisando de perto o monumento de um avião, jogando em sua casa à
noite, fazendo compras no mercado de manhã, observando um quadro e discutindo
com a IA sobre ele, vendo um habilidoso dançarino de break, conversando com sua
colega de trabalho Amy em um bar à noite e por fim em um passeio de barco com
seus amigos. Durante todas essas cenas percebe-se uma intencionalidade no uso
das cores secundárias principalmente, deixando quase sempre em evidência os tons
de laranja e amarelo: seja nas luzes dos prédios à noite, na iluminação artificial dos
ambientes internos ou na ofuscante luz do sol. Essa paleta de cores reforça
novamente a sensação de conforto, alegria e ao mesmo tempo a temática vintage,
criando um anacronismo não evidente.
Filmes futuristas tendem a utilizar fortemente cores primárias em destaque,
justamente para criar a sensação de que a narrativa se passa em um tempo muito
distante ao atual. Apesar de ainda se encaixar no gênero de ficção científica, Her
rompe com essa lógica e utiliza uma escolha cromática capaz de aproximar o
espectador daquela realidade mesmo com a presença de inúmeros elementos
artificiais, tornando o futuro que o filme se propõe a retratar algo mais palpável e
concebível e dando todo o principal foco na forma como o ser humano lida com seus
problemas banais nessa nova realidade que o cerca.

HER. Direção de Spike Jonze. Los Angeles: Annapurna Pictures, 2013. 1


DVD (125min).
ANÔNIMO. 7 Curiosidades sobre o filme Ela. TrêsMeiaCinco Filmes, 2021.
Disponível-em: <http://www.blog.365filmes.com.br/2017/05/7-curiosidades-sobre-o-
filme-ela-spike-jonze.html>. Acesso em 24 de Jun. de 2022.

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