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NÚCLEO DE TEATRO DE BARUERI

MAIRA NEVES PIMENTEL

ANÁLISE ATIVA - A INVASÃO

BARUERI
NOVEMBRO DE 2022
PLANO EXTERNO DOS FATOS: A peça "A Invasão" de Dias Gomes conta a
história de moradores de uma favela num morro do Rio de Janeiro que, por terem
seus barracos levados por uma enchente, invadem uma propriedade privada - um
prédio - para não morarem na rua e declinarem à mendicância. Em relação ao
protagonismo - quem move a ação - as famílias envolvidas é quem detém esse
posto, já o antagonismo - quem provoca o conflito - fica por conta dos personagens
Deodato, polícia e Mané Gorila.

PLANO DA SITUAÇÃO SOCIAL: O grande conflito dessa história é justamente a


invasão ilegal dos protagonistas e o desdém do Estado, que não oferece nenhum
tipo de auxílio ás necessidades básicas de moradia desses cidadãos
desamparados. E a luta é de conseguirem a permanência legal no prédio, com
direito de fazerem dali suas residências permanentes.
Em relação à personagem que eu interpreto - Malu em sua segunda fase - seu
conflito é o de permanecer na ocupação com honra ou fazer tudo o que pode para
ter a vida que sempre desejou para si. Sua luta é arcar com as consequências de
suas escolhas e continuar tendo a situação de vida pela qual ela batalha tanto na
história.

PLANO LITERÁRIO: As palavras desse texto abrangem muita musicalidade quando


pensamos nas diferentes regiões que os personagens se originam, como por
exemplo o sotaque nordestino quase que imediatamente é ouvido pelo leitor ao se
deparar com as peculiaridades de fala dessa região do Brasil presentes na escrita
de Dias Gomes. Também quando percebemos o gingado nas falas dos personagens
como Bola Sete e Bené, que trazem um certo alívio cômico ao texto.

PLANO ESTÉTICO: Quando pensamos num provável cenário dessa adaptação é


possível concluirmos que se faz necessário itens simples e de fácil manuseio pois
os personagens precisam carregar os itens de cena, pois chegam ao prédio que vão
ocupar após uma tragédia - caixotes, lençóis, roupas, pratos, copos e colchonetes
são boas opções. Os figurinos também precisam mostrar simplicidade já que os
personagens são pobres e com pouquíssimos recursos. A iluminação básica
também pode ajudar no clima mais tenso em que vivem essas personagens, talvez
uma luz amarelada e o uso do foco de luz em alguns momentos possa ser útil. A
sonoplastia pode ser variada principalmente se for possível o uso de músicas. No
caso da apresentação final da turma de sábado vamos usar músicas cantadas pelos
próprios atores em cena.

PLANO FÍSICO: A peça foi escrita na década de 1960 e retrata a situação social de
um grupo de favelados que perde residência após uma tragédia natural e se instala
em um prédio abandonado e precisam de respaldo legal para permanecerem ali e
para viverem com dignidade. São marginalizados e esquecidos pelo Estado e
buscam seus direitos cívicos. Isso faz com a narrativa da peça seja, ainda nos dias
de hoje, super atual. Ela aborda questões que ainda hoje são necessárias e até
mesmo urgentes.

PLANO PSICOLÓGICO: A peça traça uma rota impossível de não se sensibilizar.


Ainda que o leitor/espectador nunca tenha vivido algo semelhante àquilo que as
personagens da peça vivem, diversos sentimentos e sensações se tornam vivos à
medida que a história é contada. Como por exemplo, como não se emocionar na
cena em que o bebê se Santa e Justino, na família dos retirantes nordestinos, morre
de fome? E como não sentir angústia quando os pais dessa criança encaram essa
morte como um livramento e alívio para a própria criança? E como não sentir revolta
quando a personagem Mané Gorila tenta extorquir ainda mais essa família que mal
tem o comer e ainda precisa pagar pelo espaço da favela que nem chegaram a
ocupar?!
Durante toda a peça é possível notar mudanças no ritmo dessa história e elas
afetam diretamente o público.

PLANO DOS SENTIMENTOS CRIADORES: O que justifica as atitudes das


personagens de "A Invasão"? A impotência de não ter sequer um teto sob suas
cabeças e ter de invadir uma propriedade privada para não ficar na rua? A
recorrente exploração por parte dos mais fortes? A fome, a miséria, o desespero? A
vontade pulsante de mudar de vida? O desejo crescente por justiça social? Todas
essas questões estão corretas e fazem parte do superobjetivo da peça.

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